segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A Morte de Tonico Barão

O carreiro Bento Barbosa havia levantado muito cedo naquele dia, atrelado os animais ao carro-de-bois e tomado o caminho da Macaúba Velha, como era conhecido o povoado que depois passou a chamar-se Vicentinópolis.

Incumbia-lhe buscar um carro de milho.

Ao deixar o pequeno vilarejo de Nova Castilho o horizonte começava a mostrar os primeiros raios de sol que se apresentavam para iluminar mais aquele dia de labuta.

O velho Bento vinha desatento pelo caminho, os bois conheciam bem o rumo a seguir. Logo alcançaria a Olaria da Paula, onde muitos carreiros buscavam tijolos e telhas para vender na região. Naquela época o interior paulista se havia enchido de desbravadores e muitos vilarejos surgiam, demandando grande quantidade de material de construção.

O dia já se mostrava por inteiro quando o velho carreiro tomou um susto. Os bois da guia refugaram num repente, obrigando o condutor a juntar forças para estancar a marcha.

Numa primeira observação avistou dois cavalos arreados, amarrados a uma cerca. Ao descer do carro para melhor observar, o susto redobrou: tombados à margem da estrada havia dois corpos ensangüentados.

Um deles tinha um ferimento na boca; o outro tinha o braço decepado. Só depois de atentar bem para a cena foi que identificou os mortos: o carpinteiro Chico Lobo e o fazendeiro Tonico Barão.

Antonino José de Carvalho, conhecido como Tonico Barão, provinha de uma família de fazendeiros de Barretos. Em 1928 adquiriu terras no município de Monte Aprazível, numa região compreendida entre os Rios Tietê e São José dos Dourados, conhecida como Pau Ferrado ou Fazenda Limoeiro.

Com o passar dos anos foi adquirindo e tomando posse de outras áreas de terras. Era um homem rude que, na ânsia de expandir seus domínios angariou diversos inimigos. Os conflitos pela posse da terra alastraram-se.

Em meados de 1928 escolheu uma área e deu início a um pequeno povoado que recebeu o nome de Palmira, nome de sua filha. O Padre Missionário Jorge Germeinder celebrou a primeira missa no vilarejo, no local onde se ergueu um cruzeiro e, em 1936 surgiu a primeira igreja. Palmira pertencia ao antigo distrito de Paz de Sebastianópolis, no município de Rio Preto, hoje São José do Rio Preto, e foi elevada a categoria de Vila em 05 de dezembro de 1928.

No início dos anos 30 os moradores da região fizeram um mutirão para desmatar e expandir a área reservada para a construção de casas, em face do aumento do número de moradores.

Em 7 de janeiro de 1937, quando a sede do distrito de Paz de Sebastinópolis foi transferida para Vila Palmira, já se podia dizer que ali existia uma pequena cidade.

O decreto lei que regulamentou a transferência deu-lhe a denominação de General Salgado, em homenagem ao General Júlio Marcondes Salgado morto na revolução de 1932.

Francisco Lobo era carpinteiro, fazedor de cercas, porteiras e currais. Desentendeu-se com o fazendeiro dizendo ter sido desapossado de uma área de terras que adquirira. Remoeu por vários meses o desentendimento dizendo ter sido enganado. Narrou detalhadamente o desacerto para o pioneiro Firmino Luiz Marques, contando-lhe o desapreço que nutria pelo desbravador.

De certa feita, quando prestava serviços de carpintaria na fazenda de Firmino, foi visto pelo fazendeiro amolando um facão numa grande pedra de amolar; pedra essa, inclusive, que cheguei a conhecer muitos anos depois. Nela amolei meus primeiros canivetes antes de alcançar dez anos de idade.

Quando inquirido sobre o tamanho da arma, não se fez de rogado:

- Desse aqui aquele ladrão não escapa...

O menino Wilson Gonçalves, filho adotivo do bisavô Firmino contava aproximadamente 12 anos de idade no dia em que assistiu a cena em que o carpinteiro jurou de morte o fundador da cidade.

Pouco tempo decorreu entre o diálogo com Firmino e o fatídico final encontrado pelo carreiro Bento Barbosa. Nunca se soube ao certo o que aconteceu entre os dois.

Da cena encontrada entendeu-se que Chico Lobo cercou Tonico Barão na estrada e o ameaçou com o facão. O fazendeiro acertou-lhe um tiro na boca e recebeu, em contrapartida, pesado golpe contra o braço que empunhava a arma.

A força do golpe foi capaz de amputar o membro. O carpinteiro ainda conseguiu desferir outro golpe que atingiu o abdome do oponente. Mortalmente atingidos, não resistiram aos ferimentos.

Tonico Barão foi sepultado em Barretos, Chico Lobo em Nhandeara.

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