Em 1910, aos 18 anos de idade, o italiano Marino Giuseppe chegou ao Brasil na companhia do pai. Em terras brasileiras passou a ser chamado de José Marino.
José Marino, pioneiro da família, chegou a General Salgado em 1939.
O pai decidiu retornar à Europa e ele ficou numa colônia italiana da Fazenda Santa Rosa em Pirassununga (SP), onde, algum tempo depois, casou-se com Maria Atisano, italiana da Calábria. Tiveram dois filhos: Paschoalina Rosita Marino (Rosa, nascida em 1912) e Rafael Marino (1913). Foi então convocado para retornar à Itália e servir como sargento na Primeira Guerra Mundial.
Na Itália nasceram mais três filhas do casal: Concheta e as gêmeas Maria Carmela e Maria Cristina (ambas viveram em G.Salgado, nas avenidas principais, Av. Diogo Garcia Carmona e Av. Antonino José de Carvalho). Cristina tornou-se uma benzedeira conhecida na região, vizinha de muro do Sr. João Marques. Concheta foi a última filha que nasceu na Itália.
Casa onde José Marino nasceu em Morcone, na Itália.
Tendo voltado ao Brasil em 1918, passou a trabalhar em lavouras de café nas regiões de Descalvado, Ibitinga, Novo Horizonte e Borborema até chegar em General Salgado (na época Vila Palmira), por volta de 1939. Morou, inicialmente, na Fazenda de Zézinho Toledo, na estrada velha de Nova Castilho, fazendo fundo com a Lagoa do Bicho, trabalhando na cultura de algodão, milho e arroz.
Depois a família se mudou para a “Colônia Torta”, na Fazenda do seu Joaquim Manoel Dias, que fazia divisa com a cidade na região do Estádio Paulo Posseti. Após décadas como arrendatário tornou-se proprietário ao comprar um sítio no Córrego da Lagoinha.
Dos treze filhos do casal José e Maria, a maioria continua estabelecida em General Salgado, como Gegondino, Orlando e Guerino Marino. Outros já falecidos: Antonio, Carmela e Cristina moraram e constituíram famílias na cidade.
Rosa (falecida em 2007) mudou-se para Monte Aprazível para as filhas estudarem na Faculdade Dom Bosco, hoje professoras aposentadas. Olga vive em Paranaiba (MS), depois de morar muitos anos em Auriflama e Pereira Barreto. Jerêmia, já falecida, morava também em Auriflama. Leontina, que faleceu em 2009, morou também em Auriflama, São Sebastião do Pontal e Iturama (MG). Concheta, apesar de casar com um descendente italiano de General Salgado, dos Tofanelli, tornou-se o ramo paulistano dos Marinos, vivendo em São Paulo por muitas décadas até mudar-se para São Carlos (SP) onde faleceu há mais de 10 anos.
Os muitos descendentes do casal Marino se tornaram profissionais autônomos, funcionários públicos, comerciantes, produtores de pequenas propriedades, professores, fisioterapeutas, arte-educadores, administradores, economistas, advogados, engenheiros, nutricionistas, entre outras profissões.
São importantes conquistas de uma família muito trabalhadora. Na área de ensino, um destaque, após obter o título de doutora, Neuseli Marino Lamari recentemente conquistou o título de Livre Docente da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, uma das poucas fisioterapeutas no mundo a alcançar este feito.
Gostaria de acrescentar um fato interessante ocorrido. Enquanto José Marino lutava na Primeira Guerra Mundial, sua esposa permaneceu com os filhos na casa da sogra num sítio em Morcone (Itália), aproximadamente a 100 Km de Nápolis.
Imagens atuais da cidade de Morcone, origem da Família Marino.
Como meu avô não dava notícias, pois o correio era precário em tempo de guerra, temendo que ele estivesse morto, minha avó resolveu voltar com seus filhos para Pirassununga, onde viviam seus pais.
A matriarca Maria Atisano com os filhos Rosa, Concheta, Carmela, Cristina e Rafael ao retornarem da Itália após a 1ª Guerra Mundial.
No entanto, José havia desertado e estava vivo. Embarcou em Gênova para Buenos Aires (Argentina), onde vivia seu irmão Domênico Marino. Outro irmão, Rocco Marino, partiu para Nova Yorque tendo falecido durante a II Guerra Mundial. José Marino permaneceu alguns meses em Buenos Aires antes de voltar ao Brasil. Lá obteve uma identidade de estrangeiro.
Meu avô não era muito de contar histórias, mas ocorreu a coincidência do casal se reencontrar no Porto de Santos, quando um procurava pelo outro. Acredito, na pior das hipóteses, que o fato se deu na quarentena da Hospedaria dos Imigrantes do Brás em São Paulo, onde chegavam todos os imigrantes provindos de Santos.
José Marino nunca mais saiu de General Salgado, cidade que adotou e onde viveu até abril de 1973, numa chácara na antiga Rua Boiadeira, próximo da caixa d'água da Sabesp, atualmente chamada Avenida Orlando Prestes.
Eu, Nildemar José Marino, fui o neto, que mais permaneceu ao seu lado ouvindo suas histórias. Este fato sempre me motivou a conhecer a parte da família que permaneceu na Itália. Morando em São Paulo, ao lado do Patronato Italiano (um escritório de auxilio do Consulado aos italianos), consegui a segunda via de sua certidão de nascimento. Assim descobri a cidade em que ele nasceu e residiu na Itália.
Minha irmã Neuseli estava residindo na França em 1987. Foi incentivada por mim a encontrar a família com o dados obtidos até então. Ela partiu para a Itália em busca dos parentes, chegando até Benevento, próximo de Morcone, onde começou a buscar informações na Estação Ferroviária. Os italianos locais, muitos gentis como os italianos daqui, telefonaram para Morcone pedindo ajuda. Souberam que lá existiam muitos moradores com o mesmo sobrenome. Ao chegar ao local um grande grupo deles a esperavam. Nenhum deles, no entanto, provinha do mesmo ramo familiar. Então partiram num cortejo em busca dos verdadeiros parentes da brasileira, separados há quase 70 anos.
Com a ajuda de uma antiga moradora do local, Neuseli conseguiu localizar o sítio (o mesmo onde José Marino havia nascido), e os parentes perdidos, ocasião muito comemorada por todos.
O primo Vitório Marino, que vive na Itália.
Minha motivação aumentou e resolvi morar na Europa, na Inglaterra. Planejei a viagem para junho de 1991, comprando uma passagem de trem para 21 dias corridos pela Europa e no décimo dia estava em Morcone, onde fui informado pelos parentes sobre uma tia-avó com 92 anos, vivendo na região da Toscana, Norte da Itália.
Fui ao encontro dela. Caminhamos entre as videiras existentes no sítio e ouvi muitas histórias da família Marino na Itália. Ainda bastante disposta, ela subia e descia as escadas do sobrado onde vivia, dizendo que até alguns anos atrás ainda pedalava sua bicicleta. Uma característica de disposição física frequentemente observada na família Marino brasileira.
As histórias da tia italiana eram as mesmas que nos contava a tia Rosa, a mais velha, verdadeiro arquivo vivo brasileiro da família, que foi fundamental para construir esta prosa salgadense.