terça-feira, 29 de março de 2011

Saudade...

Domingos Rodrigues de Almeida (29.01.1939 - 22.03.2011)

"Os ventos que às vezes tiram algo que amamos,

são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar...

Por isso não devemos chorar

pelo que nos foi tirado e sim,

aprender a amar o que nos foi dado.

Pois tudo aquilo que é realmente nosso,

nunca se vai para sempre..."

(Bob Marley)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Nossa Chácara Encantada

  • Manoel Afonso (especial para o Proseando)

Na década de 50 a cidade terminava na esquina do terreno da atual creche. No prédio que hoje abriga uma padaria funcionava a "Máquina de Arroz” e a serraria do João Borges, vendidas ao Luiz Zocal. Um vapor comandado pelo João Barulho produzia energia para o consumo próprio. Dalí até o cemitério era pasto dos dois lados. Do lado esquerdo as chácaras do Geraldo Rodrigues, do Juvenal Coelho, Otávio Fantini e do João Gica, vendida ao João Pimenta. Do lado direito havia um pequeno piquete do Toninho Giamatei, a chácara do Nelo Afonso e depois aquela do Turíbio Castilho. A rua era uma estrada de “areião” ,onde os carros pequenos ficavam constantemente encalhados.

Boiadeiro, meu pai tinha arrendado invernada na Fazenda do Leôncio Viana, do Ricardo Geraldo, perto de Nova Castilho e do Álvaro Rodrigues de Almeida, no “Lambari”. Dinâmico e exagerado transformou a chácara num local aprazível para se viver e adequado as suas lides rurais.

Além de reformar a casa, aquela mesmo onde hoje mora o Antônio de Castro, introduziu alguns melhoramentos: cercou o quintal com lascas de aroeira (hoje seria crime), plantou 10 mudas de jabuticabeiras “Sabará”, 10 pés de côco da Bahia, laranjas, tangerinas, mangueiras (ainda estão lá) e muitas outras árvores frutíferas. Ao lado da varanda coberta, meu pai plantou uma parreira de uvas deliciosas que encantavam os visitantes. Minha mãe, dona Santina – hoje com 97 anos - tratou logo de cultivar uma bela horta ao lado da casa.

Para manter a tradição de cafeicultor, iniciada na Colônia Ponte Torta – entre Rio Preto e José Bonifácio – meu pai plantou 1.600 pés de café naquele local que hoje é pasto, ao lado direito da rua, no sentido cidade-cemitério. Ainda menino, ajudando no plantio, ouvia a conversa dele com os cavaleiros que passavam na estrada. Todos elogiavam admirados sua iniciativa. Meu pai ficava orgulhoso ao mostrar o cafezal aos amigos! O café produzia bem e nas ruas internas plantávamos milho para o consumo interno, inclusive as deliciosas pamonhas da dona Santina e da minha irmã Nair. O Expedito – que hoje mora em Araçatuba – morou conosco muitos anos e era o responsável pelo cafezal.

Mas a fartura não acabava aí. Perto do cafezal plantamos mudas de banana, batata doce, quiabo e um canavial de cana de qualidade. Perto do curral meu pai instalou uma moenda que a gente usava todo santo dia na hora da apartação dos bezerros. Ele caprichou no paiol, no chiqueiro de engorda – e no curral com barracão ( ainda pode ser vista parte do que sobrou). Minha mãe é quem tirava o leite das vacas mansas que resultava em queijos, requeijões e manteiga, cujo excedente eu vendia na cidade, junto com laranjas, verduras, frangos e ovos.

Em 1958 – quando o caminhão boiadeiro virou febre na região, seu Nelo Afonso construiu um embarcadouro, o único da cidade. Era eu quem cobrava por embarque, sob alegação de que o gado estragava as tábuas. Meus irmãos José e Toninho eram boiadeiros de verdade. Viajavam dias e dias à cavalo para buscar o gado que meu pai comprava. Ir à Nova Castilho era “café pequeno”.

Nossa chácara era muito freqüentada pelos jovens da época como mostra nosso algum de fotografias. Nelas aparecem, entre outros, o Zé Frota, o Lílácio da Exatoria, o Toninho Fernandez, o Pedrinho Giamatei, o Nino, professor Yano, Cri, Maria Rosa Fernandez e a Inocência Carvalho (residente em Paris).

A descaracterização da chácara começou com a perfuração do poço arteziano perto da nascente do córrego, da qual nosso gado se servia. Cortou o coração ver os caminhões entrando no pasto e violentando aquele recanto sagrado aos nossos olhos ingênuos de criança.

Foi um período feliz, gratificante dentro do contexto social que vivíamos na época. Mas minha mãe, com sua memória incrível, lembra sempre que trabalhava muito para dar conta do recado ao lado da Nair.

Pouco sobrou da chácara, mas ela permanece intocável em minha memória. Até o cheiro do cafezal em flor ficou impregnado apesar dos anos. Como não há volta, e não devemos nos prender ao passado, apenas registro aqui essa fase importante para todos nós da Família Afonso. Fica o aperto no coração, a saudade, mas e minha energia otimista de tocar em frente fala mais alto.

E continuo feliz na estrada... feito “menino passarinho com vontade de voar.”

Memória 96 (Bloco PB 1990)


Bloco PB! (Março/1990) - uma parte do grupo de adolescentes que fundou o Bloco Carnavalesco PB!: Heros Lima, Roçadeira, Escadinha, Reinaldo Aguiar, Aricê Renato, Priscila Cabrera, Marquinhos Carvalho, Emerson Vieira (Tiozinho) e Eduardo Mendonça.
(Foto: Álbum do PB)

quarta-feira, 16 de março de 2011

A história da Família Marino

  • Nildemar Marino (especial para o Proseando)

Em 1910, aos 18 anos de idade, o italiano Marino Giuseppe chegou ao Brasil na companhia do pai. Em terras brasileiras passou a ser chamado de José Marino.

José Marino, pioneiro da família, chegou a General Salgado em 1939.

O pai decidiu retornar à Europa e ele ficou numa colônia italiana da Fazenda Santa Rosa em Pirassununga (SP), onde, algum tempo depois, casou-se com Maria Atisano, italiana da Calábria. Tiveram dois filhos: Paschoalina Rosita Marino (Rosa, nascida em 1912) e Rafael Marino (1913). Foi então convocado para retornar à Itália e servir como sargento na Primeira Guerra Mundial.

Na Itália nasceram mais três filhas do casal: Concheta e as gêmeas Maria Carmela e Maria Cristina (ambas viveram em G.Salgado, nas avenidas principais, Av. Diogo Garcia Carmona e Av. Antonino José de Carvalho). Cristina tornou-se uma benzedeira conhecida na região, vizinha de muro do Sr. João Marques. Concheta foi a última filha que nasceu na Itália.



Casa onde José Marino nasceu em Morcone, na Itália.

Tendo voltado ao Brasil em 1918, passou a trabalhar em lavouras de café nas regiões de Descalvado, Ibitinga, Novo Horizonte e Borborema até chegar em General Salgado (na época Vila Palmira), por volta de 1939. Morou, inicialmente, na Fazenda de Zézinho Toledo, na estrada velha de Nova Castilho, fazendo fundo com a Lagoa do Bicho, trabalhando na cultura de algodão, milho e arroz.

Depois a família se mudou para a “Colônia Torta”, na Fazenda do seu Joaquim Manoel Dias, que fazia divisa com a cidade na região do Estádio Paulo Posseti. Após décadas como arrendatário tornou-se proprietário ao comprar um sítio no Córrego da Lagoinha.

Dos treze filhos do casal José e Maria, a maioria continua estabelecida em General Salgado, como Gegondino, Orlando e Guerino Marino. Outros já falecidos: Antonio, Carmela e Cristina moraram e constituíram famílias na cidade.

Rosa (falecida em 2007) mudou-se para Monte Aprazível para as filhas estudarem na Faculdade Dom Bosco, hoje professoras aposentadas. Olga vive em Paranaiba (MS), depois de morar muitos anos em Auriflama e Pereira Barreto. Jerêmia, já falecida, morava também em Auriflama. Leontina, que faleceu em 2009, morou também em Auriflama, São Sebastião do Pontal e Iturama (MG). Concheta, apesar de casar com um descendente italiano de General Salgado, dos Tofanelli, tornou-se o ramo paulistano dos Marinos, vivendo em São Paulo por muitas décadas até mudar-se para São Carlos (SP) onde faleceu há mais de 10 anos.

Os muitos descendentes do casal Marino se tornaram profissionais autônomos, funcionários públicos, comerciantes, produtores de pequenas propriedades, professores, fisioterapeutas, arte-educadores, administradores, economistas, advogados, engenheiros, nutricionistas, entre outras profissões.

São importantes conquistas de uma família muito trabalhadora. Na área de ensino, um destaque, após obter o título de doutora, Neuseli Marino Lamari recentemente conquistou o título de Livre Docente da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, uma das poucas fisioterapeutas no mundo a alcançar este feito.

Gostaria de acrescentar um fato interessante ocorrido. Enquanto José Marino lutava na Primeira Guerra Mundial, sua esposa permaneceu com os filhos na casa da sogra num sítio em Morcone (Itália), aproximadamente a 100 Km de Nápolis.






Imagens atuais da cidade de Morcone, origem da Família Marino.

Como meu avô não dava notícias, pois o correio era precário em tempo de guerra, temendo que ele estivesse morto, minha avó resolveu voltar com seus filhos para Pirassununga, onde viviam seus pais.


A matriarca Maria Atisano com os filhos Rosa, Concheta, Carmela, Cristina e Rafael ao retornarem da Itália após a 1ª Guerra Mundial.

No entanto, José havia desertado e estava vivo. Embarcou em Gênova para Buenos Aires (Argentina), onde vivia seu irmão Domênico Marino. Outro irmão, Rocco Marino, partiu para Nova Yorque tendo falecido durante a II Guerra Mundial. José Marino permaneceu alguns meses em Buenos Aires antes de voltar ao Brasil. Lá obteve uma identidade de estrangeiro.

Meu avô não era muito de contar histórias, mas ocorreu a coincidência do casal se reencontrar no Porto de Santos, quando um procurava pelo outro. Acredito, na pior das hipóteses, que o fato se deu na quarentena da Hospedaria dos Imigrantes do Brás em São Paulo, onde chegavam todos os imigrantes provindos de Santos.

José Marino nunca mais saiu de General Salgado, cidade que adotou e onde viveu até abril de 1973, numa chácara na antiga Rua Boiadeira, próximo da caixa d'água da Sabesp, atualmente chamada Avenida Orlando Prestes.

Eu, Nildemar José Marino, fui o neto, que mais permaneceu ao seu lado ouvindo suas histórias. Este fato sempre me motivou a conhecer a parte da família que permaneceu na Itália. Morando em São Paulo, ao lado do Patronato Italiano (um escritório de auxilio do Consulado aos italianos), consegui a segunda via de sua certidão de nascimento. Assim descobri a cidade em que ele nasceu e residiu na Itália.

Minha irmã Neuseli estava residindo na França em 1987. Foi incentivada por mim a encontrar a família com o dados obtidos até então. Ela partiu para a Itália em busca dos parentes, chegando até Benevento, próximo de Morcone, onde começou a buscar informações na Estação Ferroviária. Os italianos locais, muitos gentis como os italianos daqui, telefonaram para Morcone pedindo ajuda. Souberam que lá existiam muitos moradores com o mesmo sobrenome. Ao chegar ao local um grande grupo deles a esperavam. Nenhum deles, no entanto, provinha do mesmo ramo familiar. Então partiram num cortejo em busca dos verdadeiros parentes da brasileira, separados há quase 70 anos.

Com a ajuda de uma antiga moradora do local, Neuseli conseguiu localizar o sítio (o mesmo onde José Marino havia nascido), e os parentes perdidos, ocasião muito comemorada por todos.

O primo Vitório Marino, que vive na Itália.

Minha motivação aumentou e resolvi morar na Europa, na Inglaterra. Planejei a viagem para junho de 1991, comprando uma passagem de trem para 21 dias corridos pela Europa e no décimo dia estava em Morcone, onde fui informado pelos parentes sobre uma tia-avó com 92 anos, vivendo na região da Toscana, Norte da Itália.

Fui ao encontro dela. Caminhamos entre as videiras existentes no sítio e ouvi muitas histórias da família Marino na Itália. Ainda bastante disposta, ela subia e descia as escadas do sobrado onde vivia, dizendo que até alguns anos atrás ainda pedalava sua bicicleta. Uma característica de disposição física frequentemente observada na família Marino brasileira.

As histórias da tia italiana eram as mesmas que nos contava a tia Rosa, a mais velha, verdadeiro arquivo vivo brasileiro da família, que foi fundamental para construir esta prosa salgadense.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Memória 95 (Salgadense x Milionários FC)

Estádio Paulo Posseti (Março/1979) - Mais um flagrante do grande jogo em que Mané Garrincha (de camisa azul, no centro) foi a principal atração. Foram identificados na foto: Branco Cunha, Paulo Pateta, Carlão Vicente, Ivan de Moraes, Dureti, Valdir Avequi (Farinha), Edinho (Carriola), Paulinho Batista, Celso Testa, Tuim, Leriano, João Roberto de Carvalho e Wagner (Bigode).
Reconhecendo alguém mais, mande um e-mail para o nosso embornal.
(foto: Álbum de Ivan de Moraes)

Professora Julieta Farão

  • Manoel Afonso (especial para o Proseando)

Elegante no vestir, lábios carnudos adornados com batom, cabelos pretos e um corpo de violão. Essa era a professora Julieta Farão, natural de Itajobi (SP), que durante alguns anos foi professora no curso Primário – ainda quando o Grupo Escolar funcionava no prédio que hoje abriga a sede social do Clube de Regatas Salgadense. Dela guardo boas recordações: era acessível no relacionamento com os alunos e zelosa quanto à redação, da qual herdei muitos ensinamentos na 4ª. Série, em 1958.

Nos eventos sociais da cidade ela era paparicada pela sua beleza carismática e postura simpática. Essas manifestações de carinho eram freqüentes também na escola, com os alunos presenteando-a com flores, frutas e quitutes preparados em casa. Aliás, naquela época, professora era vista como a “segunda mãe”, mais que respeitada: reverenciada até.

Pois bem! Agora vem a parte interessante do texto. No ano de 2006, bateu uma saudade danada da professora Julieta. E fiquei matutando: “onde ela estará?”. Recorri ao Suplemento Feminino do jornal “O Estado de São Paulo”, que trazia uma seção de relacionamento pessoal. Mandei uma carta dizendo apenas que tinha sido seu aluno, que ela tinha familiares residindo em Itajobi e que gostaria de saber notícias suas.

Pois bem! O anúncio foi publicado no Domingo e nunca imaginei que a repercussão fosse tamanha e tão rápida. Naquela mesma noite, recebi vários telefonemas de professoras residentes na capital paulista que tinham sido colegas e amigas da Julieta. Todas ficaram impressionadas com o objetivo do meu anúncio e questionaram as razões do mesmo. Algumas até interpretaram minha iniciativa segundo a doutrina espírita, alegando que talvez “ela estivesse precisando de orações”. Mas aqui não cabe discutir esse aspecto, concordam?

E agora vem a parte ruim dos telefonemas: a professora Julieta havia falecido há alguns anos, vítima de um aneurisma cerebral. Tudo leva a crer, segundo as conclusões, de que ela – morando sozinha num apartamento – tivesse caído e batido a cabeça. O corpo da mestra querida foi sepultado na sua pequena Itajobi, sendo que as colegas de escola alugaram um ônibus e estiveram presente no funeral.

Nos dias seguintes ao anúncio recebi também várias cartas belíssimas postadas por ex-colegas dela. Além da caligrafia belíssima, de inconfundível característica professoral, todas continham promessas de orações em intenção a alma de Julieta.

Inesquecível também o telefonema que recebi de um dos dois irmãos de Julieta. Comerciante antigo em Itajobi, falou emocionado da irmã e fez a “intimação” para que eu o visitasse. Promessa eu fiz, mas até aqui não consegui concretizá-la, por comodismo e falta de oportunidade.

Vale anotar que – em reconhecimento aos seus excelentes serviços prestados à educação, o Governo do Estado de São Paulo, por decreto, denominou oficialmente a escola da Vila Cardoso, na capital paulista, como “Escola Estadual Professora Julieta Farão”.

Assim, estou resgatando aqui a figura desta professora que passou pela nossa General Salgado, mostrando um pouco mais de sua trajetória entre nós e certamente provocará comentários e reflexões entre aqueles que a conheceram. Assim, a professora Julieta merece ficar incrustada por todo e sempre em nossos corações saudosos. Até...

Manoel Afonso (mcritica@terra.com.br)