segunda-feira, 28 de abril de 2008

Memória 38 (Escolinha da Faz. Marques)

Escolinha da Fazenda Marques - 10 de janeiro de 1946
Em 1937 o pioneiro José Pereira da Silva (conhecido como Zé Rafael) alugou sua casa na cidade para a instalação da primeira escola, e mudou-se para a Fazenda Marques, onde instalou uma escolinha para as crianças da fazenda.
Em pé: Luiz Marques Neto, Idir Pereira da Silva, Diomásio José Marques, Luiz José Marques, Zé Rafael, Manoelina Marques, Geraldina Marques e Idetildes Pereira da Silva.
Sentados: Genésio Marques, Antonio (filho adotivo de Pedro Marques), Milton Marques, Ivo Pereira da Silva, Idevaldo Pereira da Silva, Valdemar Marques, Mário Marques, Alvina Marques, Adélia Josina Marques e Alzira Marques.
Em 1947 José Rafael foi eleito vereador na primeira eleição do município.
Auxiliaram na identificação dos retratados: Alzira e Valdemar Marques.
(foto: Acervo da Família Marques)

Futebolísticas

Seu Domingos de Almeida foi zagueiro de respeito defendendo alguns times da região do Córrego do Lajeado. Ao seu lado jogavam outros de seus irmãos: os laterais Agostinho e Azenclever e o meio-campista Ademázio.

Os “filhos do seu Álvaro” como eram conhecidos, vestiram os uniformes de vários times das cercanias: Major Prado, Nova Palmira, Fazenda Almeida Prado, e outros. Fui capaz de vê-lo jogando – já quase veterano – pelo time de Nova Castilho, ao lado de outros craques do local em fase final de carreira: Gumercindo Pereira, Miro Carapina, Caracu e outros.

À medida que foi encerrando a carreira de boleiro papai foi passando a ajudar na administração dos times e organização dos jogos. Era comum aos times dos distritos convidarem jogadores da cidade para reforçar seus elencos.

Foi assim que, ainda vivendo em Nova Castilho fiquei conhecendo de perto os craques salgadenses da época, que de vez em quando vestiam o uniforme do esquadrão castilhense.

Por uma incrível coincidência, os principais atletas formavam grupos familiares de irmãos: os Mendonça (Banana, Mick e Vande), os Prado (Edmar e Gilmar), e os Gasques (Camisada e Tiquinho). Estes eram os que mais comumente reforçavam a equipe castilhense.

Cresci ouvindo os mais velhos tecendo loas sobre os antigos craques da cidade. Nos anos 50 o time tinha uma defesa muito sólida, formada pelo goleiro Tanabi, o jovem lateral Zé Afonso, Cido Prado, Rolinha, Joaquim Fernandes.

No meio de campo Arnaldo Regula (cunhado dos irmãos Bernabé) era o craque da época, tinha um estilo elegante e apurado. Ao seu lado brilharam os meio-campistas Ieron Ribeiro, Fiúla, Paschoal Pompílio e os atacantes Ramonzinho, Paraguai e Caxambu.

Mais adiante, nos anos 60, começou a aparecer para a torcida o futebol vistoso de Piau Rodrigues, que formava a meia-cancha do time com Zé Frota e Tica. A defesa tinha Dega, Orlando Prestes e Zé Afonso. No ataque, Amilton e o jovem Caruaru ao lado do infernal Caxambu.

Nos anos 70 surgiu a geração que eu vi jogar, com os goleiros Italianinho e Val (irmão do Tião Pelé), e os meio-campistas Banana, Edmar e Gilmar Prado, Amauri Cruzeiro e Poloni.

Os mais antigos dizem que Caxambu e Piau foram os melhores dentre todos os atletas que envergaram a camisa salgadense. Não os vi jogar, mas imagino que se eles foram melhores que Poloni é porque jogavam muito.

Chamava-se Laurício, era um policial militar que veio da vizinha cidade de Poloni e, por isso ficou assim conhecido. Camisa 10 típico, clássico, de passadas largas, ótimo domínio de bola e dribles desconcertantes. Seu futebol enchia os olhos da torcida.

Nessas três décadas a direção da equipe passou por vários treinadores, dentre eles: Perez, Cri, João Longhini, Durval Saxoni, Zé Afonso, Tião Pelé, Márcio Teixeira da Rocha, este último dando preferência à garotada.

Os dirigentes eram dedicados torcedores que colocavam seus veículos à disposição para o transporte dos atletas pela região. Um dos mais abnegados, que fornecia transporte e chegava a pagar as despesas da equipe do próprio bolso era Luiz Zoccal.

Os times salgadenses sempre foram respeitados na região talvez porque os treinadores aproveitassem jogadores dos diversos bairros rurais. O Dr. Orides Boiati, membro do Ministério Público paulista, moleque crescido no Córrego do Gabriel, conta que o time do bairro era praticamente imbatível nos duelos que travava com os vizinhos: Colônia Braga, Água Vermelha, Ouro Branco, Macaúba Velha (como era conhecido o distrito de Vicentinópolis), Olaria da Paula, Generoso, Nova Palmira, Nova Castilho. Vários jogadores que brilharam no escrete principal do Salgadense saíram dos times de bairros.

Outro atento leitor desta nossa prosa pela Internet, o salgadense e hoje paulistano Aparecido Rubens da Silva (o famoso boleiro Chapa, muito conhecido lá pelas bandas da Vila Minhoca como Cidinho do Saad), conta que por volta de 1966, um dos grandes clássicos interbairros era o embate entre Nova Palmira (a famosa Vila Minhoca) e a Fazenda Zocal.

Um dos jogos mais marcantes foi o que festejou a inauguração do campo da fazenda. No sábado a turma se reuniu para preparar o campo, aparar o gramado, deixar tudo nos trinques. De repente surgiu um problema: no meio do campo havia um enorme cupinzeiro, daqueles que só se arranca com trator, e a única máquina existente na fazenda estava no conserto. A solução foi realizar a partida com o imenso tacuru na meia-cancha.

Parece que o jogo terminou sem abertura de contagem, mas a grande sensação do dia foi o show que os craques (Quica, Zé Afonso e o goleiro Marião entre eles) tiveram que dar driblando os adversários e também o murundu.

Quando mudamos para a cidade, no início de 1976, seu Domingos passou a acompanhar de perto o time que representava a sede do município, então chamado de Flamengo e comandado por Durval Saxoni com o auxílio do veterano lateral direito Zé Afonso, que ainda corria atrás da pelota.

O time não tinha meio de transporte e se locomovia até as cidades vizinhas em diversos carros colocados à disposição pelos torcedores mais fanáticos (Domingos de Almeida, Anésio Arruda, Zezinho Fernandes, entre outros).

Era comum no domingo logo depois do almoço encontrar os automóveis estacionados defronte a Prefeitura Municipal aguardando os jogadores. Era uma das minhas diversões de criança acompanhar os jogos nas cidades vizinhas.

Ainda guardo na lembrança um domingo chuvoso em que o time se reuniu para ir enfrentar o escrete da vizinha Poloni, um dos adversários mais temíveis. Nosso carro foi o último a chegar lá, quando o time já estava nos vestiários. Havia um problema grave, por conta da chuva alguns jogadores acharam que o jogo não aconteceria e não apareceram. O técnico Zé Afonso contou os presentes: nove incluindo dois goleiros, Italianinho e Márcio Aurélio Cruzeiro.

O jeito era improvisar e por incrível que pareça deu-se um jeito: o treinador Zé Afonso se escalou numa lateral, botou o goleiro reserva Márcio Aurélio noutra ala e arrumou chuteiras para o torcedor Domingos de Almeida, improvisado na ponta-esquerda.

Nunca esqueci a escalação do timaço: Italianinho, Zé Afonso, Grilão, Gilmar Prado e Márcio Aurélio; Banana, Edmar Prado e Amauri Cruzeiro; Vande Mendonça, Caruaru e Domingos de Almeida. Vencemos por 2x0, gols de Edmar e Vande.

A re-inauguração do Estádio Paulo Posseti aconteceu no mesmo ano de 1976 e íamos assistir aos treinos na maior expectativa para o grande jogo da estréia. O time era muito bom, não sei como alguns craques daquela época não deram certo em times profissionais, apesar de alguns terem tentado.

O time-base: Italianinho, Saponga, Ilsinho Pissioli, Banana e Cabo Onório; Gilmar Prado, Edmar Prado e Poloni; Chocolate, Caruaru e Tiquinho. Na reserva: Val, Grilão, Zé Afonso, Oscar Garbatti, Amauri Cruzeiro, Mick e Vande Mendonça, Camisada, Cela, Márcio. Apesar da festa o time perdeu para um grande time da região, se não me falha a memória o Fernandópolis (o famoso Fefecê) que disputava uma das divisões de base do campeonato paulista.

Nos anos 80 surgiu a minha geração, outra leva de craques salgadenses. Muitas outras surgiram depois e assim continuará acontecendo. Do nosso grupo, formado ainda na faixa dos 12 a 14 anos pelo incansável Márcio Teixeira da Rocha, auxiliado por Zezinho Soldado e pelo dentista Josafá Barcelos, também despontaram bons valores. Dentre eles um baixinho enfezado e atrevido com a bola nos pés que acabou se tornando o mais conhecido salgadense no futebol profissional: meu xará Carlos José de Oliveira, o Negão, que fez sucesso no América rio-pretense.

Finalizo com uma historinha futebolística daqueles bons tempos. Os irmãos Edmar e Gilmar Prado desde cedo mostraram grandes dotes para o futebol. Ainda moleques eram requisitados pelos times dos bairros rurais.

Certa feita Edmar foi convidado para jogar pelo time dos Tamborlin, no Bairro da Água Vermelha, nas proximidades de Nova Castilho, outro conhecido reduto de famílias italianas: Tamborlin, Bonetto, Marchiafave, Colombo e Borghetti dentre outras.

Edmar apresentou ao dono do time, o Sr. Tranqüilo Tamborlin, o irmão mais novo como sendo um craque. O italiano olhou para o menino Gilmar – que já era baixinho – e não acreditou que aquele frangote poderia jogar futebol entre os mais velhos. Mas, acreditando na palavra do irmão mais velho, deu-lhe a camisa 10, para que formassem a dupla de ataque do time da casa.

O juiz comandou a saída do jogo, os dois irmãos saíram tocando a bola e engatilharam uma tabelinha, aproveitando o grande entrosamento que possuíam.

Em meia dúzia de toques chegaram à cara do gol e sem que o adversário sequer tocasse na bola Gilmar inaugurou o placar. A torcida delirou e durante a comemoração do gol os jogadores perceberam que o dono do time saíra correndo para os lados da casa, pois o campo dos Tamborlin era praticamente no quintal.

O jogo foi adiante com a dupla infernizando a defesa adversária, protagonizando uma sonora goleada. Na margem do gramado o velho Tamborlin exultava e pulava a cada jogada dos dois jovens. Ao término do embate o italiano procurou os irmãos para agradecer e elogiar o pequenino Gilmar que havia arrebentado com o jogo.

Não se conteve ao narrar a cena que viveu com o primeiro gol do time, explicando com seu forte sotaque:

- Rapazinho, quando você saiu tabelando e fez o primeiro golo eu não me agüentei. Me caguei tudo nas carça...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Memória 37 (Vista aérea 1953)

Vista aérea de Gen. Salgado - 09 de setembro de 1953
(clique sobre a foto para ampliar)

Foto obtida pelo Coronel Aviador André Marques, filho do pioneiro Hipólito Ludgero Marques.

1 - Estrada Estadual (atual Rodovia Feliciano S. Cunha)
2 - Atual bairro Vila Maria (onde está a Praça 101)
3 - Esquina das Ruas Diogo Garcia x Leoncio C. Viana
4 - Esquina das Ruas Antonino J. Carvalho x Dr. Bruno Martins
5 - Esquina das Ruas João Garcia x José Desidério, nessa quadra vê-se a primeira escola da cidade, onde hoje existe o Clube de Regatas Salgadense.
6 - Esquina das Ruas Plinio R. do Val x Nadir Garcia
7 - Praça N. Sra. das Dores
8 - Posto de Antonio Bernabé (esquina das Ruas Euflauzino Castilho x Antonino)
9 - Estrada Municipal (atual Avenida Orlando Prestes)
10 - Terreno onde hoje existe a Escola Angelo Scarin
(foto: Coronel André Marques, enviada por Miltinho Castilho)

terça-feira, 22 de abril de 2008

Memória 36 (EE T. Barão - Anos 1970)

EE Tonico Barão - Anos 70
Mais uma foto com ex-alunos: Zé Luiz Desidério, Maria, Picinha Giamatei, Profa. Lúcia Secches, Rose Prado, Godê Giamatei, Nice Perez de Oliveira e Edna de Souza.
Agradecimento aos que colaboraram para a identificação: Ivani Cabrera, Pedrinho Giamatei e José Luiz Desidério Fernandes.
Atualização em 05/07/2010 - Zé Luiz Desidério enviou um email para dizer que o antepenúltimo não é o Godê Giamatei, e sim, Darci Guerra Andretto.
(foto: Acervo do Cinquentenário da EE Tonico Barão)

Meu Violão em Seresta

No ano 2000 as estatísticas oficiais diziam que o município de Nova Castilho, criado em 1997, tinha 991 habitantes. Fundado entre 1910 e 1915 e inicialmente chamado de Japiúba, foi em 1948 que o vilarejo recebeu o nome que homenageia com justiça a família Castilho, doadora das terras onde se instalou o arruado.

Tenho absoluta certeza que no início dos anos 70 a população do local era imensamente superior, possivelmente o dobro. A cidadezinha fervia de gente, era imenso o número de pessoas que residia nas mais de duzentas propriedades rurais existentes na área do município.

Os espetáculos eventuais, como circos, touradas, quermesses e festas religiosas eram freqüentados pela grande maioria da população, e nestas ocasiões as famílias se reuniam num congraçamento festivo.

Os grandes feriados como Natal e Ano Novo também eram motivos para grandes reuniões, com a turma indo de casa em casa obrigando os moradores a fazerem parte do cordão. Numa das comemorações de Ano Novo, me lembro que o Sr. Raniel Aleixo puxava a fila do grupo pelas ruas da cidade batucando no fundo de uma grande bacia de alumínio, cantando e intimando os transeuntes para que entrassem no bloco. No pescoço levava um comprido fio de barbante que trazia atado na ponta um pescoço de frango assado.

As crianças (eu entre elas) eram colocadas mais cedo na cama para que os pais pudessem festejar e uma das diversões prediletas eram as serenatas. A casa do Professor Paulo Camargo era das preferidas e ele costumava convidar alguns artistas da cidade para o evento.

Por conta destes encontros fiquei conhecendo alguns músicos salgadenses: Márcio Teixeira, Odair e Marão (que anos depois se tornariam Romano e Romeu), Fio, João e Natal de Melo (hoje conhecidos como Divaney e Deni-Rey). Não é preciso dizer que o violão me fascinou desde o primeiro instante.

Quando a presença dos músicos era impossível a turma improvisava: armava uma mini-vitrola movida a pilha na janela do visitado e soltava um pequeno compacto de vinil. A primeira música era oficial: João de Barro. Os visitantes se espremiam nos corredores ou alpendres das casas e se esgoelavam para acompanhar Sérgio Reis: “o João de Barro / pra ser feliz como eu / certo dia resolveu / arranjar uma companheira...”.

De vez em quando um menos avisado empurrava outro lá atrás e o efeito acabava prejudicando o desempenho do pequeno aparelho. A velocidade da música diminuía, o cantor desafinava, a agulha corria pulando trechos da música. Mas nada disso era capaz de atrapalhar a animação. Em questão de minutos os donos da casa abriam as portas da morada e da geladeira para receber os convivas e o festejo se aprofundava na madrugada.

Mudamos para a cidade e o animado grupo de castilhenses foi se esfacelando, outros também tomaram novos rumos. Enturmado com os citadinos, um dia alguém me convidou para participar de uma serenata, alguns amigos queriam homenagear uma salgadense que aparecia de vez em quando na cidade e nestas oportunidades desbaratava o coração dos adolescentes salgadenses. A família se hospedava no Hotel São Joaquim.

A homenageada recebeu a cantoria com certa indiferença, por timidez ou por não ter apreciado o intento dos admiradores não deu o ar da graça. Por uma incrível coincidência, vinte anos depois a reencontrei em Chapadão do Sul (MS), casada com o então prefeito do município. Seu nome: Maria das Dores Zoccal.

Nossa turma gostou tanto da aventura que decidiu promover serestas quase todo final de semana. O fato de ninguém saber tocar violão não foi empecilho, arrumamos um toca-fitas portátil. Avisávamos antes as moças para não assustar os familiares e nem errar de janela. Alguém tinha que ficar segurando o gravador no rumo da janela, enquanto isso os demais tentavam fazer silêncio.

Não foi possível evitar que alguns pais se assustassem com a brincadeira, principalmente porque a turma não conseguia manter silêncio durante todo o tempo. Numa das vezes em que a visita homenageava Regina Cervantes, o grupo de amigos se reuniu no quintal da casa, defronte à janela. De repente olhamos para o lado e nos deparamos com o seu Chico Cervantes, pai da moça, do nosso lado, verificando de perto a identidade dos barulhentos. A sorte é que ele conhecia todo mundo e relevou a algazarra.

De outra vez cometemos o erro de concordar que uns dois ou três mais avançados na cachaça fizessem parte do grupo; foi a maior besteira. Os bêbados não se aquietavam e acabamos passando vergonha na casa da amiga Milene Bertochi, pois os exaltados começaram a chamar seu Miguel de sogro assim que ele pôs a cara na porta da frente para conferir a presença dos farristas.

Da vez seguinte, quando tentamos impedir que os alcoolizados participassem foi pior. Emburrado e dizendo que a partir de então faria suas serenatas por conta própria, João Duran liderou um pequeno grupo dissidente, armou-se de um rádio AM e invadiu o alpendre da casa de Angélica Castilho. Sintonizou uma emissora, aumentou o volume e aproximou o aparelho da janela. Quando a música terminou, ele tentou localizar outra, e na correria achou um daqueles noticiários da madrugada:

- A Rádio Nacional de Cuba informou hoje que o Presidente Fidel Castro...

Decidi que o melhor era aprender a tocar violão. Tomei umas poucas aulas com o amigo Márcio Teixeira, comprei um instrumento à prestação nas Pernambucanas e passei a treinar diariamente. Aprendi umas duas ou três músicas e achei que já dava para o gasto. Avisei a turma e saímos na noite para a primeira aventura.

Ao saber da proposta a amiga Cláudia Cunha avisou que, se fosse a primeira homenageada nos presentearia com um litro de uísque. Para tornar mais emocionante a nossa estréia, convidou algumas amigas para dormir na casa dela. Se não me engano as amigas eram: Eliana Marques e Ângela Cavenage.

Assim que começamos a primeira música ela abriu a janela e passou o litrão de Old Eigth. A gente só sabia três músicas, mas achamos que ia ficar muito chato cantar as três e sair dali levando o litro. Então repetimos umas três vezes cada música. Lá pelas tantas percebi que o som do violão não estava bom e então descobri que enquanto a gente cantava o Mineirinho (Osvaldo Marques Junior) ia distorcendo as cordas. No escuro do corredor da casa do Zé Frota, ninguém percebeu e só quando a afinação desandou de vez foi que notamos a travessura.

Depois que o litrão foi devidamente esvaziado arriscamos entrar noutra casa, corredor apertado, fila indiana, eu puxando na guia e alguém deu um empurrão lá atrás. Quase perco o violão novo em folha, sobre o qual desabamos.

Houve vezes em que o pessoal da casa abria as portas e nos recebia. De vez em quando a gente errava a janela e o pai da moça abria uma fresta para dizer, com cara de sono: “é na janela do outro lado!”.

Algumas janelas se tornaram cativas e passaram a ser locais onde a gente não podia deixar de aparecer, porque as moradoras apreciavam a cantoria. Pelo menos era o que elas diziam: Fabíola Belletti, Uta Garcia, Claudia Cunha, Angélica Sbroggio, Maria Adélia Sirotto, Vânia Mendonça, Ângela Cavenage, Potô Chaves, Alessandra Mendonça, Cristiane Neves, Cláudia Oliveira.

De vez em quando a gente arriscava sair pela zona rural e visitava as casas das primas Eliana, Cleone e Neiva Marques.

Em muitas dessas noites de andança e cantoria aconteceram trapalhadas. Uma noite cantávamos na janela de Uta Garcia e ia passando pela rua outra turma, liderada por Lúcio Fernandes. Sem que percebêssemos acenderam uma bomba, dessas de festa junina, e soltaram no quintal da casa. No meio da música a bomba explodiu, saiu todo mundo correndo e, acho que o Dr. Ayres até hoje acredita que fomos nós quem acordamos todos da casa.

Para chegar à janela da Fabíola Belletti tínhamos que entrar no portão frontal, dar a volta nos fundos da casa e retornar pelo corredor do lado contrário. O caminho era comprido e o Gappa, para atalhar, costumava pular o muro no canto dos fundos. Em seguida ficava dentro do quintal aguardando a chegada do resto da turma.

Ficamos algum tempo sem aparecer por lá e ninguém nos avisou que o Zé Belletti fizera algumas reformas. No dia em que resolvemos voltar ao local, lá foi o Gappa pegar o atalho no cantinho do muro dos fundos. Subiu no muro e pulou para o quintal, no escuro. Caiu dentro da piscina que o Belletti havia mandado construir.

Mas a pior de todas foi protagonizada pelo meu primo Alcir Marques, o Cilinho. Começou a namorar uma garota salgadense e, não sei por que motivo, o pai da moça não gostou da história, ficou botando empecilhos. Um dia ele nos convidou pra fazer serenata na casa da namorada.

Altas horas da noite, depois de umas músicas românticas o pai da moça aparece no alpendre, com cara de insatisfeito. A gente já tinha tomado todas e, naquela altura do campeonato, ninguém estava mais ligando para compostura. Diante da cara feia do sogro Cilinho não titubeou e pediu uma música especial: Jorge Maravilha do Chico Buarque.

Para nossa segurança, a melhor parte da letra foi cantada já na saída do portão: “E como já dizia Jorge Maravilha prenhe de razão / mais vale uma filha na mão / do que dois pais voando / você não gosta de mim, mas sua filha gosta / ela gosta do tango, do dengo, do Mengo, domingo e de cócega / ela pega e me pisca, belisca, petisca, me arrisca e me enrosca / você não gosta de mim, mas sua filha gosta...”.

Foi a vingança perfeita, mas preferimos não esperar para ver a reação do pai da moça.

Ainda bem que estava escuro!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Memória 35 (EE T. Barão - Anos 1970)


EE Tonico Barão - Anos 70
Edy Cabrera, Prof. Yassushi Yano, Profa. Márcia, Prof. Basílio Gonzales de Almeida, Profa. Sildelei Alves, Claudio Marques, Marilda Fochi, Euclides Marques, Marcelo Scarin, Prof. Lucia Secches, Marino Secches, Prof. Maria Antonia, Prof. Olavo Correia e Prof. José Bernabé.
Agradecimentos especiais aos que contribuíram para a identificação: Ivani Cabrera, Simão Marques, Miltinho Castilho e Leonço Alencar.
(foto: Acervo do Cinquentenário da EE Tonico Barão)

Na Beira do Rio

Os salgadenses adeptos da pescaria sempre tiveram várias opções para molhar a minhoca: o Córrego do Talhado, próximo a São João do Iracema, a Lagoa do Bicho, em Nova Castilho, o Ribeirão Açoita Cavalos, a Represa Municipal, os ranchos de Auriflama e Santo Antonio do Aracanguá que proliferaram depois do alagamento do Rio Tietê.

Nossa turma gostava de freqüentar algumas cachoeiras que ficaram famosas. Uma nos fundos do sítio do Sr. Anésio Arruda, outra na fazenda do Bob Pompílio, eram as preferidas. A gente chegava bem cedinho, quase madrugada, e só retornava quando o sol baixava no horizonte.

Num dos embalos no sítio do Pedrinho Arruda, no meio da festa o amigo Gustão Cervantes contou aos demais que recentemente havia prestado vestibular e aguardava o resultado com ansiedade. O estado etílico estava tão elevado que todo mundo entendeu ter ele sido aprovado no concurso e, na mesma hora, promoveram um trote no calouro. Quase lhe tiraram o escalpo.

Os irmãos Vande e Mick Mendonça sempre foram fanáticos por pescaria. Professor na grande São Paulo, Mick aparecia de vez em quando na cidade e nestas oportunidades fazia de tudo para levar sua turma à beira do rio. O porta-malas do seu Passat branco era o que se podia chamar de armário ambulante.

Tinha tralha de pesca completa, material de futebol (incluindo bola, chuteira, tênis, meias, caneleiras, faixas, calção...) até ferramentas para a roda-de-samba: surdo, pandeiro, tamborim, timba.

Numa manhã que sucedeu a um dia bastante chuvoso - as poças d’água ainda resistiam sob os raios da aurora radiosa - Mick reuniu outros pescadores para irem até o Barreiro, próximo a Auriflama. Dentre eles: Vande, Gilmar Prado, Valdir Cardoso, Marquinhos Secches e Acir Vieira. Levaram a tralha de pesca, alguns apetrechos de cozinha, muita cachaça, e adivinhando a fartura de peixe, sal e arroz.

Arrumaram o acampamento e partiram para a pesca. Vinha peixe de todo lado e a turma foi enchendo o embornal ao mesmo tempo em que enchia a cara, emborcando a cervejinha gelada. De tão animados se esqueceram da fome e ninguém se animava em preparar o almoço. Depois de muita discussão Vande se alistou como cozinheiro e partiu para o acampamento.

O resto da turma ficou bebericando e molhando a minhoca. De longe viam a movimentação do cozinheiro limpando os peixes, arrumando as panelas, atiçando o fogo. Depois de algum tempo um grito avisou:

- A bóia tá pronta!

Ao botarem os olhos no vistoso rango, quase não acreditaram, pois a fome cutucava forte e o aroma do peixe frito se harmonizava com o visual do arroz, temperado com massa de tomate. Em minutos todos degustavam a iguaria com avidez.

De repente alguém estrilou: a comida tinha um gosto estranho. Outro concordou: parece que tem areia!. Surgiram alguns palpites diferentes, mas a conclusão era só uma, havia algo muito estranho, o sabor não combinava com o visual da gororoba. O arroz foi praticamente deixado de lado enquanto o peixe foi todo consumido.

Então alguém se lembrou de um pequeno detalhe e inquiriu o cozinheiro:

- Vande, como é que esse arroz tá assim temperado, vermelhinho, se ninguém trouxe massa de tomate?

- Ué! É que pra cozinhar o arroz eu usei água da enxurrada!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Memória 34 (EE Tonico Barão - 1982)

EE Tonico Barão (1982)
Ex-alunos e professores celebrando o 25º Aniversário da escola.
No alto: Dirce Trindade, Elza Castilho, Maria José Rodrigues Zoccal, Luzia Rodrigues, Felizarda Borges Guimarães, Efigênia Marques, Izaltina Marques, Neuza Garcia, Irene Belleti, Inocência Carvalho, Maria Antonia Castilho e Cida Martins.
Em pé: Pedro Joaquim de Lima, Simão Marques, Ivo Pereira da Silva, Orides Boiati, Guilherme Zoccal Filho, Norival Cabrera, Ivani Cabrera, Joaquim Castilho, Dionirce Damin, Edson de Oliveira, Wagmar Marques e Evaldo Martins.
Sentados: Yassushi Yano, Vanderlei Garcia, Prof. Miguel da Silva, Profa. Celina Guimarães da Silva, Lucia Secches e Edivaldo Rodrigues.
Contribuíram para a identificação dos retratados: Ivani Cabrera, Simão Marques e Inocência Carvalho.
(foto: Acervo do Cinquentenário da EE Tonico Barão)

Antonio Bernabé

Antiga bomba de combustíveis do Posto de Antonio Barnabé, decorando um dos trevos da Rodovia Feliciano Sales Cunha.

Num dos entroncamentos da Rodovia Feliciano Sales Cunha, aquele que acessa à Destilaria Generalco, há uma antiga bomba de gasolina utilizada como elemento decorativo.

Poucos sabem que aquela velha bomba de combustíveis por muitos anos esteve instalada no Auto Posto do seu Antonio Bernabé, o primeiro da cidade, que funcionava na esquina da Avenida Antonino de Carvalho com a Rua Euflauzino Castilho, mais ou menos onde está localizado o jardim da casa do Dr. Kleber Sales.

Conheci o velho Bernabé e pude confirmar a veracidade de muitas “artes” por ele praticadas, não economizava nas gozações, nas armações e na alegria.

Morava no sobrado ainda existente na esquina da Rua Euflauzino com a Avenida Diogo Garcia e freqüentava todas as tardes o bar de seu irmão Elizeu, o antigo Bar do Okuyama, onde hoje se acha a agência do Banco do Brasil.

Ali ele se reunia com os amigos: Milton Renda, Professor Edinei Plazza e outros que aproveitavam o fim de tarde para colocar as histórias em dia, acompanhados de diversas doses de cachaça. Só tomava uísque e tinha que ser da marca Drury’s.

Quando era proprietário do único Posto de combustíveis da cidade, logo pela manhã os comerciantes do centro se reuniam para tomar café no Bar da Rodoviária, pertencente ao Toninho Mendonça e já comandado pelo seu Lau Mendonça.

Bernabé adorava aprontar com o Sr. Orozimbo Barão, filho do fundador da cidade Tonico Barão. Seu Orozimbo – avançado nos anos – era praticamente surdo e só ouvia quando as pessoas gritavam com ele.

Encostado ao balcão tomando seu café matinal, assim que avistava o velho sentado numa das mesas do bar, Bernabé lhe exibia – à distância – a xícara de café e dizia:

- Quer tomar no cú seu Orozimbo?

Inocente e acreditando que a oferta era de um simples cafezinho, a resposta do velho provocada gargalhada de todos:

- Muito obrigado seu Bernabé, já tomei hoje!

Certa vez um fazendeiro de São José do Rio Preto, proprietário de terras em São Luiz do Japiúba, estacionou sua camionete no pátio do Posto e ficou aguardando o abastecimento.

Amarrado na caçamba do veículo havia um gordo carneiro que, certamente seria abatido e enviado às brasas nos festejos de Fim-de-Ano. Ninguém percebeu que, enquanto o fazendeiro conversava com alguns conhecidos Bernabé resolveu aprontar uma das suas artes.

O golpe só foi descoberto quando o dono do carneiro chegou em casa, foi descer o animal e tomou um susto: ao invés do ovino a corda trazia seguro pelo pescoço um enorme cachorro vira-latas que Bernabé havia apanhado no meio da rua e trocado pelo carneiro, aproveitando a distração do dono.

Lógico que para comemorar a troça ele convidou os amigos para o churrasco, especialmente aqueles que ajudaram no golpe.

Bastante avançado nos anos ainda participava das festas que os filhos (Fernando, Pote e Tita) e sobrinhos (Batata, Maninho, Márcio Aurélio e Amauri Cruzeiro) faziam no Bar do Elizeu. Chegava anunciando a todos a sua presença através de um grito forte: “Popó!”.

Lá pelas tantas, todos insistiam para que cantasse e ele até inventava umas músicas. Ficou famosa entre todos uma que começava assim: “Chora bananeira, bananeira chora...”. Parte da letra trazia, para variar, muitos palavrões e algumas rimas impublicáveis.

Mas a melhor de todas as aprontadas por seu Bernabé, até hoje considerada como a mais audaciosa, envolveu o seu cunhado Mauro Cruzeiro, casado com dona Leonor Bernabé. Esta história, com certeza, revela que ele podia perder a amizade até dos parentes, mas não perdia a piada.

Ficou muito tempo convencendo o cunhado a levá-lo até a ZBM, a famosa zona do meretrício. Mauro relutava, se dizia incapaz de trair a patroa e achava a proposta um cúmulo: “onde já se viu Antonio, nós dois na zona!”.

Tanto atentou e insistiu que o convenceu: “a gente vai lá, conversa com as moças, se diverte um pouco, depois vem embora, não vai acontecer nada demais!”.

Entraram no local, ocuparam mesa e pediram cervejas. De repente Barnabé bateu no bolso: “Mauro, esqueci o dinheiro, vou buscar”. O cunhado ainda tentou argumentar dizendo que tinha dinheiro: “Eu te convidei, então eu vou pagar a conta”, arrematou saindo porta afora.

Naquele tempo a Cantina do Papai funcionava no Posto São Paulo, na principal entrada da cidade. Bernabé entrou correndo na casa da irmã, esbaforido, muito sério:

- Leonor, vem comigo que eu vou te mostrar quem é o teu marido!

Dona Leonor não entendeu nada, mas o irmão insistia:

- Você pensa que o teu marido é um santo, mas vou te mostrar que ele não presta.

Botou a irmã no carro, tomou o rumo da zona e fez com que ela olhasse pela janela. Dona Leonor rodou a baiana quando deu de cara com o marido belo e formoso rodeado de mulheres, tomando cerveja. E o dono da armação ainda botava fogo, apontando para o cunhado com um dedo acusador:

- Não falei que o teu marido era um safado?

Enquanto o casal acertava as contas o velho Bernabé rolava de rir.

Nem é preciso dizer que ele mesmo se encarregou de espalhar a história pela cidade.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Agradecimento

Em aproximadamente três meses recebemos mais de 4.000 visitas.

Para um blog despretensioso sobre uma pequena cidade do interior paulista, é um número significativo.

Muito obrigado.

Voltem sempre.