quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Memória 11 (Laurindo, Salustiano e Pedro Marques)

Laurindo Luiz Marques (filho de Luiz José Marques), casou-se com a prima Maria Narciza (filha de Narciza e Norberto Luiz Marques), com quem teve quatro filhos: Aparecido, Joaquim (casou-se com Maria Marques), Manuelina (Adil Melo Cavalheiro) e José Ramos Marques. De um segundo casamento teve outro filho, de nome Sebastião Luiz Marques.


Salustiano Luiz Marques, Pedro Salustiano Marques e sua mulher Altina Maria Marques
. Salustiano e seu filho Pedro chegaram em 1922. Dos filhos de José Luiz Marques Neto, Altina foi a primeira a nascer em General Salgado. Pedro e Altina tiveram três filhos: Neusa (casou-se com José Mendes Ancem), Juvenir (Elza Gonçalves) e Nelson (Rute Pereira).
(fotos: Álbum da Família Marques)

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A Italianada do Gabriel

No início da década de 50 a Fazenda Açoita Cavalos, no bairro conhecido como Córrego do Gabriel, era dividida em pequenos sítios, quase todos pertencentes a descendentes de imigrantes italianos.

Ali viveram os clãs Giamatei, Ondei, Boiati, além de outros. Dali foram se esparramando para outros cantos e outras cidades da região. Tutti bonna gente, muito esforçada e trabalhadora, que criou, educou e estudou muitos filhos tirando sustento de propriedades pequenas, 10 alqueires em média.

Do Gabriel até a cidade tinha vinte e um mata-burros e porteiras. A família Giamatei era das mais numerosas. A lenda local contava que havia uma parteira especial só para atender às grávidas do bairro, para trazer os italianinhos ao mundo. A fartura era tanta que criança com menos de cinco quilos – dizia-se – a parteira jogava no mangueirão para os porcos comerem. Pedrinho, Picinha Giamatei e alguns outros mais raquíticos só vingaram porque nasceram numa época em que a balança estava quebrada.

Para distrair a molecada os pais inventavam brincadeiras simples, modestas. Na falta de recursos para comprar algum brinquedo as mães lambuzavam os dedos das mãos da molecada de mel e grudavam num dedo uma pena de galinha. Naquilo de tentar tirar a pena de um dedo e ele grudar no outro, a criançada ficava entretida o dia inteiro, e enquanto isso os pais metiam a cara no trabalho.

Quando iam à cidade era uma festa, vestiam as melhores roupas e formavam uma fila imensa para atravessar trilhas, matas, mata-burros e porteiras. Num desses dias a fila dos Giamatei era puxada pelos mais velhos: Nicola, Gregório, Nico, Antonio; mulheres e crianças completavam a longa fieira. Andavam a passo largo, o dia findava e pretendiam alcançar a missa das sete. De repente o líder do grupo deu um pulo pra trás e apontou para uma moita:

- Porca miséria! Cuidado que é uma cobra! Para todo mundo.

O grupo estancou o passo enquanto os mais velhos procuravam algo para matar a cobra. Um deles encontrou um porrete de guatambu e avisou aos demais.

- Arreda que eu vou matar essa marvada!

De longe se via o vulto escuro, como se a serpente estivesse enrodilhada, acomodada no centro da moita. A curiosidade fez com que todo mundo formasse uma roda em volta do local, queriam assistir a morte da peçonhenta. O matador levantou a pesada vara de guatambu e usando de toda a força possível disparou certeiro golpe que atingiu em cheio o vulto da serpente. Com a pancada os pedaços do bicho se esparramaram, atingindo a todos que assistiam a cena.

Aí foi que descobriram que não era cobra, era uma bosta de vaca!

Como em toda família italiana que se preza, no Córrego do Gabriel também existiam as matronas, as mulheres que mandavam em tudo inclusive nos maridos. Uma das mais bravas era dona Lambarina, mulher do Nico, assim apelidada por causa de seu gênio explosivo e exigente. Grávida de vários meses disse ao marido que queria comer pamonha.

- Madonna Mia, muié de Deus! Aonde que vou arranjar milho nesta época do ano! Tentou argumentar o Nico.

- Nem quero saber. Eu quero pamonha senão esse moleque vai nascer com cara de boneca de milho, pamonha igual ao pai!

O pai saiu escarafunchando por aqueles arrabaldes até conseguir o milho, mas na semana seguinte lá vinha um desejo diferente. Num dia queria paçoca, no outro amendoim de bugre, jaca, rã... E o coitado do Nico correndo pra cima e pra baixo para atender os desatinos da Lambarina. Até que um dia ela extravasou:

- Nico! Quero comer titica de galinha!

O marido não acreditou, era só o que faltava, a mulher endoidara, perdera o senso, o juízo e a compostura.

- Ocê tá louca muié? Comer aquela nojeira, cáspita!

- Não quero saber. Deu vontade eu quero comer, estrupício! Senão o moleque pode nascer com pena pelo corpo. E tem que ser titica fresca Nico!

Foi o coitado do marido para o quintal, debulhou uma espiga de milho e ficou vigiando o fiofó das penosas. De repente uma delas se agachou e o italiano saiu correndo com a mão estendida. Entrou em casa ostentando a meleca na mão, nariz virado, avisando a patroa:

- Tá aqui ó, agora come.

Ela pensou um pouco e jogou a bomba no colo do infeliz:

- Prova Nico, vê que gosto tem.

- Eu? Comer essa merda?

- Só um pouquinho, experimenta!

Com o saco cheio dos desmandos da mulher, mas sem outra saída o Nico passou o dedo na meleca, fechou os olhos, colocou na ponta da língua e fez cara feia para dizer:

- Pelo amor de Dio, muié, você vai comer essa nojeira? Isso fede, é amargo, nem o capeta come!

Aí ela se convenceu e se acalmou:

- Ah! Nico. Então eu não quero mais!

Enquanto o Nico lavava a língua e as mãos, pensava num jeito de fazer o moleque nascer de cinco meses...

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Memória 10 (Martiniano e Salustiano Marques)

Martiniano Alves Marques - Martiniano sempre viveu em MG, mas três de suas filhas se tornaram salgadenses: Maria (esposa de José Luiz Marques Neto), Rita (esposa de Jeremias Luiz Marques), e Conceição (esposa de Antonio Aureliano). Na foto aparece ao lado da filha Maria José.

Salustiano Luiz Marques e Joana - O casal chegou à região em 1922. Na foto aparece com os filhos: Pedro (casou-se com a prima Altina Maria), Antonio (casou-se com Lourdes), Geraldo (Maria Thomaz), Mário (Regyna Marques), Alvina (Nelson Constantino), Olimpia (Onofre Oliveira), Geraldina (Hipólito de Camargo) e Claudina (Wilson Gonçalves).
Os dois mais novos, Helena (Pedro Camargo Sobrinho) e Armindo (Maria Valdir Borghi) ainda não eram nascidos.
(fotos: Álbum da Família Marques)

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Memória 9 (José Luiz Marques Neto)

José Luiz Marques Neto, Oswaldo José Marques, Maria Marques e Maria Cândida Marques

Maria e José Luiz Marques Neto - Chegaram à região em 1922, trazendo os filhos Maria Marques (que se casou com Domingos Fantini) e Oswaldo (casou-se com Alzira Anastácio). Os outros filhos do casal nasceram em General Salgado: Altina Maria (casou-se com o primo Pedro Salustiano), Luiz (Guiomar Rodrigues), Diomásio (Marta de Lima), Manoelina (Natalino Constantino), Valdemar (Alzira Marques) e Milton (Maderlei dos Santos).
(fotos: Álbum da Família Marques)

A Origem dos Marques Salgadenses

No início do Século XIX o casal de portugueses José Luiz Marques e Prodenciana Antonia de Santa Anna chegou ao Brasil e instalou-se em Bom Jardim de Minas (MG), uma pequena cidade fundada em 1770 na divisa de Minas Gerias com o Rio de Janeiro. Ele se tornou negociante de ouro e fumo.

Localizada numa rica região de mineração, a cidade era rota de passagem do ouro que saia de Minas Gerais em lombos de burros, e era embarcado para a Europa nos portos do Rio de Janeiro.O casal tinha dez filhos: Primo, José Luiz, Manuel, Antonio Luiz, Jeremias, Luiz José, João Luiz, Rita, Maria e uma terceira mulher de nome desconhecido.

Fortalecida economicamente por conta da mineração, Minas Gerais era a província mais populosa do Império. Porém, em meados daquele século o garimpo entrou em declínio e as migrações se aceleraram para o sul, em direção ao Estado de São Paulo, onde começaram a surgir fazendas de policultura (café, cana-de-açúcar, arroz, milho, feijão, algodão e trigo). A região sul de Minas se fortaleceu com a abertura de fazendas de pecuária.

José Luiz e os filhos decidiram deixar Bom Jardim de Minas e comprar terras no sul de Minas Gerais. A cidade escolhida foi Carmo do Rio Claro. A Freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Monte do Rio Claro foi criada em 1810. A fecundidade de suas terras proporcionou o surgimento de prósperas fazendas agrícolas e atraiu grande número de migrantes.

A família de José Luiz e Prodenciana chegou a Carmo do Rio Claro mais ou menos na metade do século XIX, e a história dessa chegada é até hoje lembrada pelos moradores mais antigos da cidade. Todos andavam descalços, montavam cavalos e vestiam trajes simplórios. Percorreram o vilarejo procurando terras para comprar, mas não inspiraram confiança nos carmelitanos. Ficaram conhecidos como “homenzinhos de pés-no-chão”. Só conquistaram o apreço do povo do lugar depois que exibiram o interior de pequenos embornais que cada um deles carregava atado à cabeça do arreio: dinheiro vivo! Assim, compraram e pagaram à vista, 8.000 alqueires de terras.

Primo Luiz Marques, o filho mais velho, casou-se com Maria Delminda de Jesus, conhecida como Mindinha. O casal teve 9 filhos: José Luiz Marques Sobrinho (Zé Mindinha), Sebastião Luiz Marques (Nhô), Firmino Luiz Marques, Altina Maria de Jesus, Alberto Luiz Marques, Maria (Cota), Salviana, Rita Amélia e Cândido. Primo faleceu e a viúva se casou com José Bento, tendo outros 3 filhos: Antonio Bento, Ana (Sinhana) e Antonia.

Maria, conhecida como Mariinha, filha de José Luiz e Prodenciana, se casou com Laurindo Alves Fernandes. O filho do casal: Martiniano Luiz Marques esposou a prima Altina Maria de Jesus, filha de Primo e Mindinha. Martiniano e Altina tiveram 10 filhos: José Cândido Marques, Pedro Martiniano Marques, Antonio Martiniano Marques, Maria Cândida Marques, Maria Conceição Marques, Maria de Lourdes Marques, Maria Delminda de Jesus, Maria José de Jesus, Rita Marques Freire e Laurindo Martiniano Marques.

Por volta de 1900, Firmino Luiz Marques, um dos filhos de Primo e Mindinha, se casou com Maria Cândida de Jesus. Narciza Cândida de Jesus, irmã de Maria Cândida, casou-se com Norberto Luiz Marques, filho de José Luiz Marques Filho. Os dois primos se tornaram concunhados.

Em Minas Gerais nasceram os dois primeiros filhos de Firmino e Maria: Luiz Firmino Marques e Izaura Maria de Jesus. Também em Carmo do Rio Claro, nasceram os dois primeiros filhos de Norberto e Narciza: Augusto Luiz Marques e Luiz Norberto Marques.

Em 1906, após receber de João Cândido da Silva (avô de sua esposa) notícias sobre o franco desenvolvimento do Estado de São Paulo, Firmino decidiu deixar Minas Gerais.

Em 1896 o carmelitano João Cândido da Silva havia deixado Minas Gerais com destino ao interior paulista. Com ele seguiram os filhos João Cândido da Silva Filho, José Cândido da Silva, Justina Cândido da Silva e Vicência Cândido da Silva. Vicência era viúva de Luiz José da Silva e mãe de Maria e Narciza, esposas de Firmino e Norberto, respectivamente. Firmino decidiu então seguir o caminho trilhado pela família da esposa, e convidou o primo e concunhado Norberto.

A partir de 1860 a expansão da cultura do café encontrou na província paulista o solo ideal. A abolição da escravatura (1888) provocou a chegada de imigrantes e a imediata ocupação do interior. A partir da Proclamação da República (15/11/1889) o interior paulista se alargou e o desenvolvimento das cidades transformou o estado na economia mais dinâmica do país.

O processo migratório para São Paulo ganhou força a partir de 1901 e o maior fluxo veio da vizinha Minas Gerais. A construção de ferrovias permitiu a colonização de novas áreas interioranas, o chamado “Oeste Pioneiro” desenvolveu-se pela expansão da pecuária suína e bovina, fazendo surgir pequenos contingentes populacionais, principalmente de mineiros.

Em 1852 João Bernardino de Seixas fundou São José do Rio Preto. Em 1904 teve início a construção da ferrovia que fez surgir Araçatuba em 1908. Em 1906 a Família Cândido da Silva estava instalada no Oeste Paulista, na região conhecida como “Macaúba Velha”, próxima ao Rio Tietê.

Firmino e Norberto deixaram o sul de Minas no dia 25 de setembro de 1906, numa comitiva formada por dois carros-de-bois e alguns animais de montaria. Para alimentar as crianças trouxeram algumas vacas de leite. Sebastião (Nhô), Alberto e Martiniano ajudaram na viagem e depois retornam a Minas. Para também se instalar em São Paulo, integrou a comitiva José Luiz da Silva, irmão de Maria e Narciza.

Depois de 60 dias de viagem chegaram à fazenda de João Cândido na Macaúba Velha. Procurando terras os primos chegaram à região do Ribeirão Açoita Cavalos. Firmino trocou 14 juntas de bois de carro por 110 alqueires. Norberto adquiriu 150 alqueires do outro lado do Ribeirão.

Os primeiros anos foram de muitas dificuldades, as famílias viviam em pequenos ranchos de pau-a-pique, plantando roças de milho e cana-de-açúcar. A criação e venda de porcos e o engenho de rapadura eram pequenas fontes de renda. Por volta de 1910 surgiu nas proximidades o povoado de Nova Castilho, em terras do fazendeiro José Castilho.

As famílias aumentaram. Maria Cândida deu à luz Altina, João Firmino, Antonio (falecido ainda criança), Julieta e Braz Firmino, e adotou Wilson Gonçalves. De Narciza nasceram Antonio Luiz, Braz Norberto, Maria Narciza, João Norberto e Pedro Norberto, e houve a adoção de Maria Borges.

Enquanto isso, a maior parte dos descendentes de José Luiz e Prodenciana permanecia em Minas. Do casamento de Luiz José Marques com Laurinda Alves Fernandes nasceram José Luiz Marques Neto, Salustiano Luiz Marques, Laurindo Luiz Marques, João Luiz Sobrinho, Jeremias Luiz Marques, Rita Marques de Jesus e Isidoro Luiz Marques.

José Luiz Neto casou-se com prima Maria Cândida, filha de Martiniano e Altina. Os dois primeiros filhos do casal nasceram em Carmo do Rio Claro: Maria e Oswaldo.

Salustiano casou-se com Joana Fausta de Paiva e três filhos do casal nasceram em Minas: Geraldo, Luiz e Pedro Salustiano.

Da união de João Luiz Marques (outro filho de José Luiz e Prodenciana) com Maria Madalena Diniz, nasceu Hipólito Ludgero Marques.

Em 1921 Luiz José e João Luiz resolveram conhecer a região paulista onde estavam vivendo os sobrinhos Firmino e Norberto. Luiz José comprou 1.500 alqueires de terras entre o Ribeirão Açoita-Cavalos e o Rio São José dos Dourados.

Os irmãos voltaram a Minas e em 1922 organizaram outra comitiva que, depois de 40 dias de viagem sobre carros-de-bois, chegou ao interior paulista. Nesta comitiva vieram Luiz José e Laurinda com todos os filhos; José Luiz Neto e Maria com as crianças Maria e Oswaldo; Salustiano e Joana com os filhos Geraldo, Luiz e Pedro; Hipólito, filho de João Luiz; os empregados José Aureliano da Silva, Ezequiel Magro e Antonio Francisco.

A comitiva era formada por vários carros de bois, um deles só com mantimentos. Anos depois Antonio Francisco retornou a Minas e seu filho Pedro Antonio Alves (Pedro Chico) foi adotado pela família Marques.

Em 1923 Hipólito Ludgero Marques casou-se com Izaltina Cândido da Silva, filha de José Cândido da Silva e Donância Castilho. Os filhos do casal nasceram em solo paulista: José, João, Ambrósio, Sebastião, Maria Antonia, Braz, Izaltina, Hipólito, Apparecida, André, Manoel, Manoelina, Adolares, Efigênia, Simão e Wagmar.

Há uma curiosidade familiar que merece menção. Todos os descendentes de Firmino, Norberto e Hipólito também são descendentes de João Cândido da Silva, outro pioneiro vindo de Carmo do Rio Claro que chegou ao interior paulista em 1896 e se instalou na Fazenda Macaúba, próxima ao Rio Tietê (atualmente Vicentinópolis). Isso por causa do parentesco existente entre as esposas: as irmãs Maria Cândida e Narciza eram tias de Izaltina. Todos, portanto, são parentes consangüíneos da grande família Cândido da Silva existente em General Salgado.

Os demais filhos de José Luiz Neto e Maria nasceram em São Paulo: Altina Maria, Luiz, Diomásio, Manoelina, Valdemar e Milton.

Salustiano e Joana também aumentaram a família: Olímpia, Claudina, Antonio, Geraldina, Mário, Alvina, Helena e Armindo nasceram no interior paulista.

Em 1928 Antonino José de Carvalho, o Tonico Barão, adquiriu na região a Fazenda Limoeiro, onde fez surgir o povoado de Vila Palmira. Os Marques participaram ativamente na abertura das ruas e na construção das primeiras casas do vilarejo. Wilson Gonçalves e Pedro Chico, ainda crianças, ajudaram conduzindo carros-de-bois. Em 1935 o arruado se transformou em povoado e recebeu o nome de General Salgado.

Anos depois João Luiz Marques veio viver com o filho Hipólito em solo salgadense. Martiniano e Altina sempre viveram em Carmo do Rio Claro.

Em 1938 as irmãs Rita e Conceição, filhas de Martiniano e Altina, vieram a General Salgado visitar a irmã Maria, casada com José Luiz Marques Neto. No dia 24/09/1938 Rita se casou com Jeremias Luiz Marques, irmão de José Luiz Neto. Dessa união nasceram Regyna, Celso e Alcina Marques.

Conceição, viúva e mãe de Adélia, conheceu Antonio Aureliano, com quem se casou alguns anos depois. O casal teve quatro filhos: Maria Helena, Ironê, Edegar e Neide.

A árvore genealógica da família, portanto, possui cinco ramos principais:

1. Firmino Luiz Marques (casado com Maria Cândido)
2. Norberto Luiz Marques (casado com Narciza Cândido)
3. Luiz José Marques (casado com Laurinda Fernandes)
4. João Luiz Marques (Maria Madalena Diniz)
5. Martiniano Luiz Marques (casado com Altina Marques, irmã de Firmino).

Essa é a saga da Família Marques de General Salgado, cuja história precede a da cidade. Em 2006 comemorou-se o centenário da chegada dos pioneiros ao interior paulista e a família passou a reunir-se anualmente para celebrar sua história.

Firmino, Norberto, Luiz, João e Martiniano, certamente foram homens de fé. Tiveram fé na busca de melhores condições de vida, acreditaram no futuro e não se deixaram vencer pelas dificuldades.

Não fosse essa força, esse entusiasmo, não teriam começado uma história tão bonita e tão vitoriosa.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Reencontro

A secretária anuncia um novo cliente. Adentra minha sala, acompanhado por uma mulher, um senhor avançado nos anos, muito lúcido, com um característico ar de preocupação. Diz-se muito amolado porque, donatário de dois pequenos terrenos urbanos, necessita regularizá-los em nome da companheira. Teme que na sua falta os filhos do primeiro casamento possam prejudicá-la. Logo ela que ao longo de doze anos fora inseparável comparte, única a zelar por sua sobrevivência.

Analiso os seus documentos e descubro que ele havia se casado em General Salgado, portava inclusive, uma recente segunda via da certidão de casamento, assinada pela Escrivã Ruteli Cardoso.

- Que coincidência - anuncio - somos conterrâneos, também sou de General Salgado.

Ele me olha como se buscasse algo nos escaninhos da memória:

- Lá vivi por muitos anos até a juventude. Casei em 1945 e vim-me embora pra esse mundão de Mato Grosso. Nunca mais voltei.

Calculo por alto que ele conhecera a General Salgado dos anos 30 e 40. Aos poucos me conta daqueles dias, do pequeno arruado, um vilarejo, das pessoas que chegavam. Pergunto se ele conheceu alguém da Família Marques e seus olhos brilham:

- Conheci muito, fui muito amigo do Jeremias Marques, João Firmino...

Nesta altura quem se surpreende sou eu, e minha curiosidade o conduz à narrativa de fatos acontecidos há mais de 50 anos. Conto-lhe que sou neto de Braz Firmino Marques e ele exulta com a coincidência.

- Quem diria eu encontrar aqui um parente de meus amigos da juventude. Fui carreiro, carreei muito com Jeremias, João Firmino, João Luiz; seu avô Braz era mais moço, mas o conheci bem. Depois que vim embora nunca mais encontrei ninguém.

Conto-lhe detalhes sobre cada um deles, o que fizeram, como viveram, filhos, netos, e noto que aos poucos minhas informações vão nele preenchendo lacunas de muitos anos sem notícias. Ele me revela histórias passadas na companhia dos amigos, conta detalhes da vida simples que levava quase que totalmente resumida ao trabalho árduo. Esta volta ao passado parece levá-lo de novo à cidade que praticamente viu nascer. Por fim me pergunta:

- Me diga doutor, ainda estão todos vivos?

Ele recebe a notícia de que todos já se foram e mais uma vez lamenta ter ficado tanto tempo sem notícias.

- A gente tinha uma amizade muito boa, seu doutor.

Por fim, voltamos ao tema da consulta e garanto-lhe que posso lavrar o documento necessário à regularização de seus terrenos, pondo fim às suas preocupações. Ele me fita:

- Doutor, quanto vai me custar? É que os poucos recursos que me restavam eu usei para construir duas pequenas casas sobre os lotes.

Percebo que em alguns minutos de conversa eu havia recebido muito mais do que me custaria para lavrar o documento. Ele me havia contado coisas sobre a juventude de homens que sempre admirei e respeitei, os quais só vim conhecer no zênite da vida adulta. E sua saudosa narrativa só me fizera acreditar mais ainda naquilo que com eles aprendi sobre respeito, caráter, amizade, trabalho, honestidade...

- Não vai lhe custar nada, fica tudo em nome da amizade que o senhor teve com meu avô e meus tios.

Seus olhos marejam e ele me abraça:

- Deus o abençoe doutor.

Na saída, a esposa me chama de um lado:

- Doutor, me desculpe lhe pedir, mas faça o favor de providenciar o documento com urgência. De uns dias pra cá ele tem estado muito preocupado dizendo que vai morrer e que não quer me deixar desamparada.

No dia seguinte, como prometi, entrego-lhe o documento e peço que não mais se preocupe com o assunto. Cerca de quinze dias depois recebo consternado a notícia de seu falecimento. Todos na cidade lamentam, pois se tratava de um morador antigo, ilustre e considerado.

Cá no meu canto fico remoendo nosso encontro, pensando na vida, nas histórias que ele me contou da General Salgado juvenil e dos amigos que lá deixou. Também de como ele se apercebera da morte próxima, cuidando para que a inexorabilidade do evento não lhe impedisse de afastar prováveis obstáculos à sobrevivência da querida companheira.

Naquele dia, em minhas orações agradeci a Deus por tê-lo conhecido e aprendido um pouco mais sobre amizade, saudade, consideração. Também por ter renovado o respeito e a admiração para com meus antepassados, e por fim, pedi que, onde todos os amigos salgadenses agora se acham, lhes fosse concedido um reencontro fraterno, em nome da saudosa, porém eterna juventude.

Memória 8 (Hipólito, Isidoro e Luiz José Marques)

Hipólito Ludgero Marques e Isidoro Luiz Marques (1921)

Luiz José Marques

Familia Marques - G. Salgado - Em 1921 os irmãos Luiz José Marques e João Luiz Marques, que viviam em Carmo do Rio Claro (MG) vieram conhecer a região onde os sobrinhos Firmino e Norberto estavam instalados. Em 1922 Luiz José mudou-se para a região trazendo os filhos. No mesmo grupo veio seu sobrinho Hipólito Ludgero Marques (filho de João Luiz).
Todos são pioneiros de General Salgado.
(fotos: Álbum da Família Marques)

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Amigos e Companhia Ilimitada

Assim como muitos salgadenses que foram embora e não conseguem ficar longe por muito tempo, me acostumei a trazer outros amigos para a cidade, especialmente em eventos comemorativos: carnaval, festa do peão, bailes, etc. Todos, sem exceção, adoraram a cidade e os salgadenses.

Já tentei descobrir, mas não sei o que tem essa gente salgadense, tão amistosa, tão festeira, tão receptiva. Os amigos de fora vão firmando amizade com os amigos da cidade, tomam vida própria, quando você nota nem dependem mais de você para outros retornos.

Minha cunhada Agnes Ramos trouxe de São Paulo para conhecer a Festa do Peão um amigo que nunca tinha saído da capital. O rapaz se esbaldou, festejou, bebeu, dançou. De volta para casa o pai - também caipira da cidade - o inquiriu:

- Me diga meu filho, como é o interior, como é essa tal de General Salgado?

A resposta do paulistano:

- Pai! É uma cidade pequena onde todos se vestem de peão e em cada esquina tem um carro com som alto tocando e todo mundo cantando assim: "eu me amarrei, eu me amarrei, eu me amarrei no seu coração..."

Tenho amigos que até hoje quando me encontram perguntam da cidade, dos amigos que aqui fizeram, das festas e bagunças. Todos saudosos e dizendo: "Como é boa aquela terra". Todos se surpreendem ao serem bem recebidos, bem tratados por gente que nunca viram antes.

Bruno Marques vivia convidando amigos paulistanos para virem conhecer a cidade. Até que num carnaval convenceu a Renata Sandoval, que vinha resistindo à idéia achando que seria a maior roubada. Depois de aceito o convite ele se mandou na frente e avisou que ela teria que vir com dois amigos dele.

Ela me narrou sua experiência: "Peguei carona com a Neila Aguiar e o Mauro Bertochi e viemos trocando idéias o tempo todo, achava o máximo, aqueles dois nunca tinham me visto e me tratavam como se fosse uma amiga de anos! Cheguei e não conhecia uma alma, mas logo me arrastaram para a Lanchonete Zero Grau, começamos a beber e conversar. Sei que dali pra frente fiz muitos amigos e foi o melhor carnaval que já havia passado na minha vida, amei!".

Tanto gostou que se tornou freqüentadora assídua da cidade, e acabou se casando com o salgadense Marcelo Cruzeiro.

Em quase todos os carnavais eu trouxe amigos para a cidade. Num deles veio o Jamil, um louco de quase dois metros de altura, policial civil. No primeiro dia fez amizade com tudo mundo. De madrugada, depois de uma chuva pesada, na portaria do Clube começaram uma brincadeira de jogar água nos foliões. Para devolver o banho Jamil pegou o Birolinho (Edson Luís Alves) e arrastou até a enxurrada, começou a enfiar a cabeça dele na água, brincando de ‘caldo’. Um PM que estava na porta do Clube estranhou a cena e chegou mais perto:

- O que é que tá acontecendo aí, que brincadeira é essa?

E Jamil, segurando a cabeça do Birolinho dentro da água:

- Olha meu amigo, você pode não acreditar, mas eu também sou policial!

Noutro carnaval veio Maurício Galhanone, paulistano do interior, morador da capital e fazendeiro em Braúna. Um amigo do peito, estimado, daqueles que a gente não gosta de ficar muito tempo sem ver. Tempos depois conseguiu a proeza de tornar-se abstêmio, não beber mais. Na época, no entanto, tomava todas. Gostou tanto da cidade que voltou na Festa do Peão.

Durante o rodeio, arrumou uma namorada salgadense e sumiu. Lá pelas cinco da matina ainda não tinha retornado. Parei a viatura da Polícia Militar e aproveitando que eles estavam rondando por todos os cantos pedi para que tentassem localizar o seu carro, dei as características. Depois de uns vinte minutos os policiais retornaram:

- Achamos o seu amigo numas quebradas aí, mas quando fizemos sinal ele se assustou e sumiu no mundo!

Menos de cinco minutos chega o Maurício esbaforido:

- Vamos s'embora que a polícia tá atrás de mim. Não sei nem porquê!

Memória 7 (Firmino e Norberto Marques)

Norberto Luiz Marques

Firmino Luiz Marques

Família Marques - General Salgado - No dia 25 de setembro de 1906, os primos Firmino Luiz Marques e Norberto Luiz Marques deixaram Carmo do Rio Claro (MG) e, 60 dias depois, chegaram à região do Ribeirão Açoita-Cavalos, onde anos depois surgiram Nova Castilho e General Salgado. Os dois são pioneiros da região.
Firmino e Maria Cândida tiveram os filhos: Luiz Firmino (casou-se com a prima Rita Marques), Izaura (Jonas Paula de Castilho), Altina (Izidoro, depois João Luiz Sobrinho), João Firmino (Araydes Seixas), Braz Firmino (Arandira Seixas), Julieta (Angelo Jacomino) e Wilson Gonçalves (filho adotivo, casou-se com Claudina Marques).
Norberto e Narciza tiveram: Augusto, Luiz Norberto (casou-se com Olívia Cândido), Antonio, Braz Norberto (Ovídia Marques), Maria Narciza (Laurindo Marques), João Norberto (Benta Faria), Pedro (Julieta Castilho Marques) e Maria Borges (filha adotiva).
O blogueiro Cal é bisneto de Firmino.
(fotos: Álbum da Família Marques)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Um Jogo Inesquecível

O website do Jornal "A Gazeta Esportiva" premiou as melhores narrativas contando o jogo de futebol inesquecível dos torcedores. Para minha surpresa e contentamento a história que contei sobre o meu time, o São Paulo FC, foi classificada entre as dez melhores do país, e inclusive recebi prêmio.

Como tudo aconteceu em General Salgado, vou repetir aqui a história. Os fatos foram sintetizados porque o site limitou o número de palavras, mas tudo o que contei realmente aconteceu, nada havendo de ficção.

"Eu tinha 12 anos, morava em General Salgado e era o único são-paulino da turma. Os demais eram palmeirenses ou corintianos e também havia um único santista. O São Paulo havia sido campeão paulista em 1975, mas não ganhara mais nada até então. Depois de altos e baixos, principalmente por ter perdido Serginho, suspenso, o time foi para a final contra a melhor equipe da disputa, o Atlético Mineiro.

Na véspera os torcedores dos outros times já comemoravam a vitória do Atlético, como fizeram os atleticanos em BH. Na minha casa não tinha TV colorida, e a turma assistia a todos os jogos na casa do Mané, palmeirense, que tinha três irmãos mais velhos: dois santistas e um corintiano.

Umas 15 pessoas assistiam ao jogo lá e eu era o único tricolor. Alguns esparramados pelo chão, outros aboletados no sofá e eu numa poltrona, ouvindo o tempo todo o diálogo daqueles que não acreditavam numa vitória paulista.

Começou o jogo, Zé Sérgio fora deslocado para a ponta direita e o meio campista Viana jogava na esquerda. Mais uma dificuldade, pensava eu. Mas após alguns minutos de jogo, achei que o time estava tranqüilo, tinha a experiência de Waldir Peres, Chicão, Getúlio, e principalmente, a competência de Rubens Minelli no banco.

Encolhido na poltrona passei o maior sufoco da minha vida, a cada ataque eu não podia sequer torcer, pois todos pegavam no meu pé. No último minuto de jogo um zagueiro atleticano evitou um gol certo ao tirar uma bola em cima da linha. O jogo terminou empatado.

Na hora dos pênaltis, quase morri do coração, pois Getúlio e Chicão erraram suas cobranças. Só um milagre nos salvava e ele aconteceu. Waldir Peres começou a catimbar e provocar os atleticanos que foram, um de cada vez, chutando os demais pênaltis para fora, inclusive o grande Toninho Cerezo. Na última cobrança, o zagueiro mineiro chutou para fora e eu tentei comemorar. Mas eu estava travado, com os braços adormecidos e doloridos, de tanto que torcera imobilizado, por dentro, apenas com o coração e os olhos.

Só depois de alguns minutos consegui me mover, gritar e dizer que o meu time, finalmente, era o campeão brasileiro de 1977.

Corri dois quarteirões até em casa, revirei o cesto de roupas sujas e encontrei meu tesouro, uma camisa número 10 do São Paulo, a única que existia na cidade até então. Amarrotada e meio suja, mas fiz questão de vesti-la mesmo assim. Saí correndo para comemorar na Lanchonete do Zé Frota, um dos poucos tricolores da cidade. Dei um abraço no Frota, sentei defronte ao balcão e disse:

- Vamos comemorar! Manda aí uma vitamina com bastante leite!

Até então foi o dia mais feliz da minha vida".