segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Nova Castilho na imprensa regional

Nova Castilho foi objeto de matéria do jornalista Allan de Abreu publicada no Jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, edição do dia 07 de novembro de 2010, que tomamos a liberdade de republicar.

Tranquilidade
Nova Castilho é a 2ª menor cidade do Estado de SP
Allan de Abreu

Praça matriz de Nova Castilho, região de General Salgado: cidade não registra crimes há sete anos
(foto: Rubens Cardia)

Em Nova Castilho, o tempo é de outra ordem. Lá, relógios correm macios, vagarosos, sob o olhar sossegado das 1.124 “almas” contabilizadas pelo IBGE no último Censo, metade delas na zona rural. Encravada em um extenso planalto entre General Salgado e o rio Tietê, a cidade se orgulha de ser a segunda menor do Estado e a quinta do País. Para efeito de comparação, tem população equivalente a de Talhado, distrito de Rio Preto.

O isolamento é total. Há apenas um acesso por asfalto, 20 quilômetros de estrada sinuosa que separam a cidadela da “capital” Salgado. Para levar pacientes até Araçatuba, as ambulâncias precisam percorrer um trecho de 14 quilômetros de chão batido. Não há Fórum, agência bancária, rodoviária. Muito menos ônibus regulares. Celular, só de uma operadora, e olhe lá.

“Acho que o mundo esqueceu Nova Castilho. Mas é bom assim”, diz o aposentado Aristides Garcia, 69 anos, morador do município desde 1953. Aristides ajudou a povoar a cidade: tem quatro filhos e oito netos, todos orgulhosos castilhenses. “A gente vê tanta violência na cidade grande, prefiro esse sossego aqui.”

O aposentado não exagera. Durante meia hora na última quinta-feira, a reportagem flagrou apenas quatro carros e um trator cruzando a principal rua da cidade, ao lado da igreja matriz. Um exemplo mais do que convincente da “cidadezinha qualquer” de Carlos Drummond de Andrade, onde homens, cachorros e burros vão devagar, sob o “olhar” igualmente vagaroso das janelas. Em uma delas costuma ficar o também aposentado Eurides Francisco do Amaral, 80 anos. Há três décadas ele se vale da tarde quente para observar a igreja e o céu azulado do Centro de Nova Castilho. “Morro nesta terra, e com gosto. Adoro essa tranquilidade.”


Moradores antigos, Eurides Francisco do Amaral e a cunhada Vanda Amaral gostam da tranquilidade.
(foto: Rubens Cardia) 

Nova Castilho é uma cidade de idosos. Porque sobram poucas escolhas na vida dos jovens: ou vai para a roça, lidar com gado ou trabalhar nas lavouras de cana, ou dá um jeito de arrumar vaga na prefeitura, a maior empregadora em uma cidade sem indústrias e onde o comércio se resume a uma padaria, uma farmácia, um restaurante, uma loja de material para construção e um posto de combustível.

“A maioria dos jovens acaba se mudando para Salgado, Votuporanga ou Jales”, diz o prefeito Roberto Lopes, dono do maior salário da cidade, R$ 6 mil. Com orçamento de R$ 8,2 milhões, a cidade depende de recursos da União e do Estado para sobreviver. A receita da cidade, que se resume ao IPTU e Imposto Sobre Serviços (ISS), cobre apenas 20% das despesas. “Se não fosse o FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e o ICMS, Nova Castilho não existiria”, afirma Lopes.

Nenhum advogado, engenheiro ou médico reside no município. O clínico-geral, a pediatra e o ginecologista do único posto de saúde vêm todos os dias de General Salgado. Assim como o padre, que uma vez por semana vai rezar missa na matriz. Mas a cidade comemora avanços. Se há oito anos só uma rua não era de chão batido, hoje todas as 23 quadras contam com asfalto.

A cidade trata todo o esgoto que gera e comemora os altos índices na educação - tirou nota 7,2 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), uma das mais altas da região. Há dois meses, o município ganhou uma agência dos Correios, com direito a banco postal. Um luxo para a esquecida Nova Castilho. “Agora a gente não tem mais de ir até o banco em ‘Sargado’”, comemora Aristides.

Aqui funciona a Delegacia da cidade, com apenas dois funcionários. Em 7 anos, apenas um homicídio.
(foto: Rubens Cardia)

O sossego dos castilhenses se reflete nas estatísticas criminais do município. Desde 2001, houve apenas um homicídio, há sete anos, quando um menino atacou outro com uma faca durante quermesse, além de dois roubos, três furtos de veículos e 41 furtos em geral. O último foi neste ano, quando uma máquina de picar cana sumiu de um sítio. “Aqui é muito tranquilo. O único problema é que, vez ou outra, alguém exagera na bebida no bar e cria alguma confusão”, diz o soldado da PM Ivan Carlo Alves, de plantão na última quinta-feira. Nova Castilho tem apenas um policial militar por turno, com uma viatura.

Na delegacia, são dois funcionários: uma escrivã e um investigador. O delegado responsável fica a maior parte do tempo em General Salgado. Na quinta, quando a reportagem do Diário foi a Nova Castilho, a repartição ficou fechada durante o dia porque a dupla cuidou do caso que chocou a cidade: a PM flagrou uma adolescente de 15 anos deficiente mental seminua na cama de um lavrador, que acabou preso em flagrante. “Ninguém se conforma com o que aconteceu. Nunca houve nada parecido por aqui, que eu me lembre”, afirma a conselheira tutelar Lurdes Aparecida dos Santos.

Nova Castilho é apontada pelo IBGE como a menor cidade da região e a segunda menor do Estado. ‘É melhor que continue pequena’.
(foto: Divulgação)

Fundado em 1925, o povoado de Vila Castilho, assim chamado em homenagem ao sobrenome do fundador, José Antonio de Castilho, permaneceu por sete décadas como um distrito de General Salgado. A emancipação só veio em dezembro de 1995, após um plebiscito que decidiu pela criação do município. Desde então, Nova Castilho é administrada pelo PSDB. “Somos uma cidade de tucanos”, resume o prefeito Roberto Lopes, que se orgulha de ter no gabinete fotos do ex-governador Mário Covas. “Ele nos apoiou no processo de emancipação”, justifica Lopes.

Boi e cana formam o binômio da economia castilhense. Mas não dão conta de absorver toda a população economicamente ativa do município. O prefeito não tem estatísticas, mas admite que o desemprego é grande, principalmente entre as mulheres. “Construímos um barracão para uma fábrica de confecção, e resolver uma parte do problema”, afirma. Ao lado do imóvel, os dez lotes do distrito industrial permanecem vazios.

Ser pequeno é motivo de orgulho para o prefeito. “É melhor que continue assim.” Menor do que Nova Castilho no Brasil, só a paulista Borá (805 habitantes), Anhanguera, em Goiás (1.011 habitantes), Oliveira de Fátima, no Tocantins (1.035 moradores) e Araguainha, Mato Grosso (1.093 moradores).