sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Luísa e as pitangas









Luísa e as pitangas

A estação das frutas sempre foi minha preferida.
Cresci numa fazenda, em Nova Castilho, em meio a pomares repletos das mais variadas frutas. A grande maioria dos colegas que frequentavam comigo a escola do pequeno distrito vinha da zona rural. Era muito comum levarmos frutas para a hora do recreio, ou para presentear as professoras. Aqueles que não tinham pomar no quintal de casa, procuravam nas árvores que beiravam as estradas.
Jatobás, macaúbas, guabirobas, pitangas, mangas, goiabas, jabuticabas e jambos eram as preferidas.
Ao construir nossa casa em Chapadão do Sul, eu e Samanta planejamos um quintal com muitas árvores frutíferas. Minha sogra Adenair Ramos providenciou as mudas e o plantio.
Temos assistido, com imensa satisfação, nossa pequena Luísa se afeiçoar a todas elas, como vocês podem conferir.
As pitangueiras carregadas me fazem voltar à infância e lembrar das margens do Ribeirão Açoita Cavalos, onde eu vivia colhendo pitangas e guabirobas.

Ai Que Fome

“Uma das sedes de nostalgia da infância, e das mais profundas, é o céu da boca. A memória do paladar recompõe com precisão instantânea, através daquilo que comemos quando meninos, o menino que fomos. O cronista, se fosse escrever um livro de memórias, daria nele a maior importância à mesa de família, na cidade de interior onde nasceu e passou a meninice. A mesa funcionaria como personagem ativa, pessoa da casa, dotada do poder de reunir todas as outras, e também de separá-las, pelo jogo de preferências e idiossincrasias do paladar — que digo? Da alma, pois é no fundo da alma que devemos pesquisar o mistério de nossas inclinações culinárias”.
(Carlos Drummond de Andrade)

Nesta crônica o poeta Drummond ressalta o que se pode chamar de memória do paladar. Você já parou para pensar nos sabores experimentados há muitos anos, durante a sua infância? Já percebeu que no mais das vezes aqueles sabores são impossíveis de serem novamente alcançados?

Eu, por exemplo, adoro sanduíche de mortadela. Nos escaninhos de minha memória há um sanduíche de mortadela inesquecível: o que eu devorava diariamente, durante o recreio do meu primeiro ano escolar em Nova Castilho, lá pelos idos de 1972.

Naquele tempo não existia cantina na escola e nem carrinho de cachorro-quente pelas esquinas. Poucos alunos dispunham de lancheira, a maioria levava uma marmita de comida ou um pequeno farnel, um embornal com frutas da região (macaúba, pitanga, manga, jatobá, guabiroba).

Da fazenda onde eu morava até a escola havia uma distância de mais de quilômetro, não dava para ir almoçar em casa. Na hora do recreio a escola liberava os alunos para irem até em casa ou até os bares e empórios da pequena vila. O preferido era o pequeno armazém de secos e molhados do seu João Careca.

Sobre o pequeno balcão ele abria um pão bengala e enchia de mortadela. Mortadela pura, não havia maionese, catchup e estas outras besteiras a que estamos mal acostumados. Custava trinta centavos de cruzeiro e com os outros vinte da moeda de cinqüenta centavos que papai me dava todas as manhãs, eu comprava um guaraná Cotubaína. A moeda de cinqüenta centavos era comumente chamada de Quinhentão.

Ai que delícia! As febres de fast-food, as multinacionais de alimentos jamais foram capazes – ao menos para mim – de igualar o sabor do sanduíche de mortadela do João Careca, mesmo depois de décadas. De vez em quando ainda me assalta a estranha vontade de voltar ao local e pedir à Dona Hilda, esposa do seu João, que me prepare outro daqueles.

Por volta do terceiro ano mamãe achou que eu não devia mais comer sanduíches no recreio, mas eu não gostava da merenda escolar, umas sopas de gostos sofríveis, e passei a levar para a escola uma refeição completa num pequeno caldeirão com a tampa amarrada por um guardanapo de pano.

Minha salvação foi dona Delvina Pereira do Nascimento, cozinheira da escola que gentilmente mantinha minha marmita sobre a chapa do fogão à lenha, para que na hora do recreio a refeição ainda guardasse a quentura e o sabor.

Depois que me mudei para a cidade me tornei mais um alegre refém dos hábitos alimentares que os vendedores ambulantes proporcionavam à garotada.

Sei de gente que até hoje não se esquece da pipoca com molho de pimenta do seu João Lara. Por muitos anos a diversão da garotada nos finais de semana – e depois da missa do sábado à noite - era ir até a Praça da Matriz para experimentá-la. Não me esqueço que depois de receber o nosso dinheiro seu João enfiava a mão no bolso da calça para guardar a nota ou buscar algum troco e o braço dele praticamente desaparecia dentro do bolso. Acho que ele guardava o dinheiro no joelho.

Quem não se lembra com saudade do suco que seu João Barulho vendia nos finais de semana, especialmente nas tardes de domingo lá no Estádio Paulo Possetti? Era um suco de groselha, daqueles mais simples, artificiais, mas era uma delícia principalmente porque seu João era uma figura rara. O carrinho sobre rodas tinha uma manivela na tampa, através da qual se bombeava o suco para o copo. E enquanto ia tingindo de vermelho a língua da molecada ele aproveitava o tempo para gritar com os jogadores à beira do alambrado, ou xingar o juiz.

Os queijos do seu Maçu também devem ter ficado na memória de muita gente, tinha ele um rol de clientes fiéis que não ficavam uma semana sem renovar o estoque. Vivia pelas ruas carregando pelo braço uma pequena cesta da taquara. A todo mundo que avistava inquiria com voz retumbante e forte sotaque baiano:

- Vai queijo, menino?

Dona Angelina de Souza também deve estar no imaginário daqueles que experimentaram de seus quitutes e salgados. Todas as tardes ela enchia uma grande cesta de alumínio com muitas delícias e botava os filhos (Ana Lúcia e Zezé) a percorrer firmas e repartições públicas da cidade. À determinada hora da tarde todo mundo ficava de olho na esquina esperando para socorrer os reclamos da fome. Viúva desde muito cedo, dona Angelina lutou contra muitas dificuldades para criar e educar os filhos e como fomos vizinhos, sou testemunha do quanto ela trabalhou fabricando e vendendo salgados.

Minha adolescência salgadense também foi marcada pelos campeonatos de férias do Salgadense Esporte Clube, especialmente os de futebol de salão. A cidade toda se movimentava para freqüentar os jardins do clube que naquele tempo eram bastante arborizados, havia arquibancadas para os torcedores.

A garotada gostava de assistir aos jogos, mas gostava mais ainda das guloseimas vendidas no local. Os irmãos Leta e Nei Gordo carregavam um enorme tambor de lata recheado de beijus cuja tampa trazia uma espécie de roleta. A gente rodava a roleta na possibilidade de pagar um e levar dois e ficava a noite inteira tentando esvaziar aquele latão cheio de delícias.

Pagode era outro vendedor ambulante que a garotada adorava. De dia vendia picolés pelas ruas da cidade e se fazia anunciar soprando uma barulhenta gaitinha de boca. À noite vendia amendoim torrado nas dependências do Clube.

O creme do seu Jamil Padeiro era outra guloseima que atiçava a garotada, que quando avistava sua charrete verde circulando pelas ruas saía correndo atrás. Depois surgiu o sorvete do Gabriel, até hoje considerado um dos melhores da região. Tenho amigos que saem de Auriflama para tomar sorvete em Salgado.

Hoje em dia a cidade tem outros vendedores de delícias, existem novas guloseimas daquelas que não se pode dispensar. Alguns bares e lanchonete fazem churrasquinho nos finais de tarde e tem gente que não vai embora para casa sem antes experimentar um espetinho no ponto. Mas, me desculpem os amigos novatos, eu ainda morro de saudades das iguarias do meu tempo. É uma saudade que jamais vou recuperar.

Ouvi dizer que a idade interfere no paladar. Com o passar dos anos a pessoa perde papilas gustativas, responsáveis pela identificação dos sabores. Então justifico a minha saudade no fato de que jamais vou experimentar aqueles sabores novamente. Ficaram todos naqueles idos da minha infância e adolescência salgadenses.

Para finalizar uma historinha gastronômica.

No final dos anos 70 o Salgadense Esporte Clube promoveu uma gincana e dentre as provas havia uma para escolher o maior glutão da cidade. Mandaram encher uma mesa com comida e mais comida, e o vencedor seria aquele que ingerisse maior quantidade de alimentos.

As equipes buscaram os mais obesos e aparentemente mais esganados, Joaquim Gordo, João Gordo, Anísio Constantino, Joaquim Dourado, para enfrentar a parada. Afinal eram pratos e mais pratos, guloseimas e quitutes esperando serem devorados pelos esfomeados.

De repente, do nada apareceu um sujeito magrelo, esquelético, que morava para os lados do Cachorro Sentado, o distrito de Prudêncio e Morais. Durante a disputa os barrigudos foram parando, empanturrados com a comilança e o magrelo foi comendo pelas beiradas, prato em cima de prato, garfada sobre garfada.

Os gorduchos foram se entristecendo de tanto comer e o magrelo cada vez mais animado. Ninguém acreditava no que via, os bons-de-garfo da cidade foram humilhados por um caipira com cara de palito.

Meia hora depois da prova, as equipes se movimentavam para o cumprimento de outras tarefas e encontraram o campeão do garfo encostado ao balcão da Cantina do Mauro Cruzeiro. Perguntaram-lhe o estava fazendo, alguns pensando que ele aguardava um sal-de-fruta para ajudar na digestão. A resposta surpreendeu todos:

- Estou esperando um sanduíche que eu pedi. Eu moro no Cachorro Sentado e vou embora a pé. Até chegar lá dá uma fome!

Uns mais exaltados com a situação e com a cara-de-pau do sujeito queriam lhe dar uns petelecos.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Memória 57 (Praça NS das Dores)

Praça N. Sra. das Dores (Anos 1960) - No centro da Praça da Matriz havia um grande espelho d'água (que se vê atrás das fotografadas), e que no final da década de 1970 foi substituído pela fonte.
Ainda não identificamos a primeira moça da esquerda. A segunda é a Professora Maria Antônia Castilho. A terceira também não sabemos quem é. A última é a Professora Kimiko Okuda.
Contribuições para a identificação devem ser enviadas para o nosso EMBORNAL, ou através de mensagem na caixa ao lado.
(foto: Acervo do Cinquentenário da EE Tonico Barão)
(clique na foto para ampliar)

A Aposta

Conto o milagre sem revelar os nomes dos santos.

Acompanhei os preparativos do evento mas não assisti aos finalmentes. Garanto apenas a veracidade do acontecido, que se deu há muitos anos atrás.

Um amigo freqüentava General Salgado com assiduidade, participava das melhores reuniões festivas da nossa turma e teve várias namoradas salgadenses. Certo dia apontou uma garota que não conhecia pessoalmente pedindo informações, perguntou se tinha namorado, essas coisas comuns entre homens.

- É que eu só vejo essa menina sozinha, sem companhia, parece que tem poucos amigos - justificou.

A garota era bonita, mas pouco atraente, meio arredia, até então ninguém a tinha visto namorando ou beijando alguém em público, não havia notícia de que havia namorado alguém conhecido. Estava um pouco adiantada na idade em relação às demais mulheres da turma, mas não fazia parte do nosso grupo, habituado às mesmas reuniões e festas. Pois o meu amigo declarou no meio da roda:

- Eu vou namorar essa menina!

Ninguém acreditou, pensando que se tratava de brincadeira. Chegaram até a dizer, maldosamente, que nem adiantava ele tentar, pois havia comentários de que ela não gostava da coisa. Não havia na frase nenhuma conotação de inversão sexual, coisa rara naquele tempo, apenas se queria dizer que a garota era muito tímida, retraída.

Para surpresa de todos, minutos depois ele foi visto puxando conversa com a moça; alguns dias mais e começou a levá-la em casa; bastaram poucas semanas e o casal desfilava de mãos dadas. Ninguém acreditava no que via. E ele ali, firme, fazendo o papel de apaixonado. Perdoem-me as feministas de plantão, mas é a pura verdade.

Não sei se as mulheres sabem, mas papo de homem é muito machista. Conversa de botequim então, só trata de mulher: quem está namorando quem; quem está saindo com quem; qual é a mulher mais gostosa da cidade; quais as promessas da próxima safra feminina; esse tipo de coisa o tempo todo.

Durante semanas a dúvida que rolava na turma era até onde o nosso amigo já tinha conseguido avançar com a moça, se ainda estava nas preliminares ou já tinha chegado às vias-de-fato. Para sanar a dúvida geral colocaram-no contra a parede:

- Conte aí, ela gosta ou não gosta da coisa?

Descarado gozador, o danado não só contou que ela adorava como revelou outros detalhes.

- A única coisa que ainda não aconteceu foi sexo oral, mas aposto com quem quiser que vai ser hoje!

Um dos presentes duvidou e aceitou a aposta:

- Eu acho que você está mentindo. Aposto que ainda não conseguiu nada. Pago três caixas de cerveja se você conseguir, mas eu tenho que ver para acreditar!

Surpreendendo mais uma vez, o apaixonado aceitou o desafio, incluindo o fato de que a cena deveria ser assistida pelos demais. Formou-se uma comissão para fiscalizar a aposta.

Altas horas da noite os membros da comissão estacionaram um carro nas proximidades da casa da moça e ficaram imóveis, ocultados pela escuridão que reinava sob uma frondosa árvore.

Minutos depois o carro do casal parou defronte a casa, com a frente voltada para o outro automóvel, mas numa distância que impedia revelar a presença dos fiscais no interior daquele veículo.

Na madrugada do mesmo dia os apostadores e mais um grupo de amigos beberam - juntos - três caixas de cerveja.

Adivinhem quem pagou!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Outras do Vande

Vande Mendonça, personagem de outras histórias já contadas aqui, trabalhou por muito tempo na Destilaria Generalco. Colocaram-no para trabalhar logo na portaria, como balanceiro, pesando e conferindo os caminhões que chegavam para a descarga de cana.

Como todos os que chegavam ao local passavam pelo seu departamento, ninguém escapava de suas piadas e gozações. Tinha tanto talento para tiradas e observações sarcásticas que não perdoava ninguém.

De certa vez fomos pescar no sítio do amigo Vando Colombo, perto de Nova Palmira. Desde que pôs os pés no local o danado não parou de brincar com todos do local, especialmente a mãe do Vando, dona Yolanda. Chegou a ponto de fingir uma dor no ombro dizendo que havia quebrado algo. Quando ela perguntou se não seria a clavícula, ele não perdeu a deixa:

- Não, quebrei a alça do sutiã!

Depois da pescaria nos sentamos à mesa para saborear a peixada, todos se serviram e ele ficou olhando para a imensa vasilha com os peixes, perguntando aos demais:

- Mas vocês vão comer só isso?

- Só isso porque? – alguém respondeu – veja o tanto de peixe que tem na panela!

Ele segurou a vasilha de peixes e derramou por sobre seu próprio prato, mostrando a panela vazia aos demais:

- Agora não tem mais!

Não é preciso dizer que ele devorou a montanha de peixes que juntou no próprio prato.

Na Generalco adorava aprontar com os caminhoneiros, fazendo piadas de todos os gêneros. Mas mesmo os passantes e viajantes que por lá apareciam não escapavam de suas troças.

Certo dia um carro parou defronte ao portão, na beira da rodovia. Desceu um senhor grisalho, dando mostras de não saber bem por onde andava. Chegou-se na portaria e perguntou ao Vande:

- Moço, essa estrada vai para Fernandópolis?

Ele coçou a cabeça, olhou bem sério para o viandante e não perdeu a oportunidade:

- Se vai eu não sei, mas se for vai ficar fazendo uma falta danada pra Salgado!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Memória 56 (Lau Mendonça)

Família Mendonça (1964) - Valmick, Vandenir, Vladimir (Banana), Wanda e Walcyr Mendonça, com os pais Rosalina e Laudelino Mendonça. Ainda não haviam nascido as irmãs Vânia e Valéria.
(foto: Álbum da Família Mendonça)

A Morte de Tonico Barão

O carreiro Bento Barbosa havia levantado muito cedo naquele dia, atrelado os animais ao carro-de-bois e tomado o caminho da Macaúba Velha, como era conhecido o povoado que depois passou a chamar-se Vicentinópolis.

Incumbia-lhe buscar um carro de milho.

Ao deixar o pequeno vilarejo de Nova Castilho o horizonte começava a mostrar os primeiros raios de sol que se apresentavam para iluminar mais aquele dia de labuta.

O velho Bento vinha desatento pelo caminho, os bois conheciam bem o rumo a seguir. Logo alcançaria a Olaria da Paula, onde muitos carreiros buscavam tijolos e telhas para vender na região. Naquela época o interior paulista se havia enchido de desbravadores e muitos vilarejos surgiam, demandando grande quantidade de material de construção.

O dia já se mostrava por inteiro quando o velho carreiro tomou um susto. Os bois da guia refugaram num repente, obrigando o condutor a juntar forças para estancar a marcha.

Numa primeira observação avistou dois cavalos arreados, amarrados a uma cerca. Ao descer do carro para melhor observar, o susto redobrou: tombados à margem da estrada havia dois corpos ensangüentados.

Um deles tinha um ferimento na boca; o outro tinha o braço decepado. Só depois de atentar bem para a cena foi que identificou os mortos: o carpinteiro Chico Lobo e o fazendeiro Tonico Barão.

Antonino José de Carvalho, conhecido como Tonico Barão, provinha de uma família de fazendeiros de Barretos. Em 1928 adquiriu terras no município de Monte Aprazível, numa região compreendida entre os Rios Tietê e São José dos Dourados, conhecida como Pau Ferrado ou Fazenda Limoeiro.

Com o passar dos anos foi adquirindo e tomando posse de outras áreas de terras. Era um homem rude que, na ânsia de expandir seus domínios angariou diversos inimigos. Os conflitos pela posse da terra alastraram-se.

Em meados de 1928 escolheu uma área e deu início a um pequeno povoado que recebeu o nome de Palmira, nome de sua filha. O Padre Missionário Jorge Germeinder celebrou a primeira missa no vilarejo, no local onde se ergueu um cruzeiro e, em 1936 surgiu a primeira igreja. Palmira pertencia ao antigo distrito de Paz de Sebastianópolis, no município de Rio Preto, hoje São José do Rio Preto, e foi elevada a categoria de Vila em 05 de dezembro de 1928.

No início dos anos 30 os moradores da região fizeram um mutirão para desmatar e expandir a área reservada para a construção de casas, em face do aumento do número de moradores.

Em 7 de janeiro de 1937, quando a sede do distrito de Paz de Sebastinópolis foi transferida para Vila Palmira, já se podia dizer que ali existia uma pequena cidade.

O decreto lei que regulamentou a transferência deu-lhe a denominação de General Salgado, em homenagem ao General Júlio Marcondes Salgado morto na revolução de 1932.

Francisco Lobo era carpinteiro, fazedor de cercas, porteiras e currais. Desentendeu-se com o fazendeiro dizendo ter sido desapossado de uma área de terras que adquirira. Remoeu por vários meses o desentendimento dizendo ter sido enganado. Narrou detalhadamente o desacerto para o pioneiro Firmino Luiz Marques, contando-lhe o desapreço que nutria pelo desbravador.

De certa feita, quando prestava serviços de carpintaria na fazenda de Firmino, foi visto pelo fazendeiro amolando um facão numa grande pedra de amolar; pedra essa, inclusive, que cheguei a conhecer muitos anos depois. Nela amolei meus primeiros canivetes antes de alcançar dez anos de idade.

Quando inquirido sobre o tamanho da arma, não se fez de rogado:

- Desse aqui aquele ladrão não escapa...

O menino Wilson Gonçalves, filho adotivo do bisavô Firmino contava aproximadamente 12 anos de idade no dia em que assistiu a cena em que o carpinteiro jurou de morte o fundador da cidade.

Pouco tempo decorreu entre o diálogo com Firmino e o fatídico final encontrado pelo carreiro Bento Barbosa. Nunca se soube ao certo o que aconteceu entre os dois.

Da cena encontrada entendeu-se que Chico Lobo cercou Tonico Barão na estrada e o ameaçou com o facão. O fazendeiro acertou-lhe um tiro na boca e recebeu, em contrapartida, pesado golpe contra o braço que empunhava a arma.

A força do golpe foi capaz de amputar o membro. O carpinteiro ainda conseguiu desferir outro golpe que atingiu o abdome do oponente. Mortalmente atingidos, não resistiram aos ferimentos.

Tonico Barão foi sepultado em Barretos, Chico Lobo em Nhandeara.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Memória 55 (Touradas)

Zé do Braz e Domingos de Almeida (passando por debaixo da vaca)

Nova Castilho - Fazenda de João Firmino Marques

Nova Castilho - Aristides Garcia, Domingos de Almeida e Zé do Braz, um dos trios que representava Nova Castilho.

Aristides Garcia e Zé do Braz

Nos anos 1970 as escolas do município passaram a organizar touradas para arrecadar fundos. A cada final de semana uma fazenda era escolhida. Prêmios simbólicos eram arrecadados no comércio salgadense para incentivar os participantes. Os toureiros eram inscritos em trios, que normalmente representavam distritos ou fazendas. O gado era fornecido pelo proprietário da fazenda onde se realizava o evento. Grande público prestigiava as reuniões.
Alguns toureiros que se destacavam: Zé do Braz, Domingos de Almeida, Aristides Garcia, Preto Cornélio, Antonio Branco, Waldemar Marques, Edson de Brito, Claudenir Marques, Iaucir Marques.
Depois de vários meses um acidente fez com que as promoções fossem interrompidas. Numa tourada na fazenda do Dr. Kleber Sales, em Nova Palmira, uma vaca se chocou violentamente contra uma tábua do curral, que se partiu e atingiu o espectador José Desidério Fernandes, causando-lhe fratura de uma perna. Por complicações decorrentes da cirurgia a que foi submetido, o comerciante veio a falecer.
(fotos: Álbum do Blogueiro)


Peão Inconformado

Tio Odilon Rodrigues foi por muitos anos administrador da Fazenda Santa Catarina, no Córrego do Lajeado. Certa vez contratou, para a lida do gado, um peão apelidado de Barranco.

Depois de uns meses morando na Fazenda o funcionário pediu uma carona até Auriflama, pretendia visitar a mãe que era viúva, morava sozinha. Chegando à cidade, Odilon parou a camionete na frente da casa e avisou que ia aguardar o término da visita:

- Não precisa ter pressa, eu fico esperando.

O rapaz entrou na casa e, menos de trinta segundos depois montou na camionete de novo. Lívido, com o rosto entre as mãos e exclamando:

- Não conformo, não conformo, não conformo! A mãe não podia fazer isso comigo! Não conformo, não conformo, não conformo!

Preocupado o patrão insistiu com o peão, querendo saber o que havia acontecido, pois a visita sequer acontecera. Ele nada respondia, apenas repetia:

- Não conformo, não conformo, não conformo!

Com jeito foi acalmando o rapaz até que ele se armou de coragens e revelou a cena que encontrou ao abrir a porta de casa:

- Peguei um caboclo namorando a mãe no sofá da sala, seu Dilo. Ela não podia ter feito isso comigo. Não conformo, não conformo, não conformo!