segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Memória 54 (Nova Castilho, 1974)

Nova Castilho (1974) - Cal, Marco Antonio Barbosa, Ulisses Barbosa e Cleber de Almeida. Agachados: Alecindo Barbosa Junior, Cleire de Almeida e Claudia Maria de Almeida.
O troféu e a capa vermelha representam a vitória do trio de Nova Castilho, Domingos de Almeida, Aristides Garcia e Zé do Braz, numa tourada organizada para arrecadar fundos para as escolas do município.
(foto: Álbum do blogueiro)

Zé das Vacas

O compadre Alecindo Barbosa Junior é salgadense, nativo de Nova Castilho assim como eu. Crescemos juntos e quando me mudei para Salgado ele se mudou para Araçatuba, onde nos encontramos anos mais tarde.

Mais de trinta anos de convivência e amizade fraterna foram mais do que sacramentados quando batizei Gabriela, filha dele e de Sandra Padovan. Gabriela forma, com o salgadense Carlos Henrique Godoy e meu sobrinho dracenense Tiago Almeida Beretta, um trio de afilhados queridos.

No tempo da nossa infância criança só ganhava presente em duas oportunidades: Aniversário e Natal. Em casa, por exemplo, quando pretendíamos que o Papai Noel nos trouxesse um presente melhorzinho, mais caro, tínhamos que juntar as quotas e pedir um único presente para os quatro.

Era uma boa diversão contar entre os amigos o que é que a gente ia ganhar. Num dia de congraçamento das famílias começamos a conferir o que viria no próximo fim de ano: Ulisses ia ganhar o primeiro relógio; Marcos, assim como eu e meu mano Cleber, um Forte-Apache; as meninas, Leda, Claudia e Cleire, como sempre, bonecas. Quando chegou a vez do Junior ele avisou:

- Eu quero um cavalo!

Ninguém entendeu nada. Um cavalo? Então nos demos conta que o meu futuro compadre realmente adorava cavalos, vivia filando passeios e garupas pelas ruas do vilarejo. Não podia ver passar um cavaleiro que pedia uma voltinha. Seu pai tentou desviar a idéia: escolhe outra coisa! Mas ele não arredou o pé:

- Ou um cavalo ou nada!

A partir desse dia todos davam como certos os presentes escolhidos, menos o Junior. Quando perguntado, dizia que tinha pedido um cavalo, mas como não havia jeito de receber o presente escolhido, preferia não ganhar nada.

Na manhã do dia 25 os irmãos acordaram, correram para abrir os presentes e ele ficou na cama. Os pais entraram no quarto escuro e avisaram:

- Nós compramos um presentinho para você não ficar sem nada!

E ele, com a cabeça debaixo do travesseiro, meio choroso, refugava.

- Levanta e abre a janela pra você ver o que é.

A contragosto ele destravou as folhas da janela e encontrou, no corredor lateral da casa, uma surpresa: um cavalo baio, arreado e com todos os apetrechos possíveis. Dali mesmo pulou a janela, subiu no potro e saiu andando pelas ruas da povoação. Mais feliz impossível.

Quando o pessoal do vilarejo viu que ele não desmontava por nada, vivia o dia todo trajado de peão e esfolando o traseiro, colocaram-no o apelido de Zé das Vacas que era o nome de um peão meio doido que havia morado em Nova Castilho anos antes, e também quase não apeava da montaria.

Como o seu Alecindo ainda não tinha aonde deixar o cavalo, tio João Firmino autorizou que o animal vivesse num piquete da Fazenda, cuja porteira, naquele tempo, ficava praticamente dentro da cidade, onde hoje é a esquina da Rua Sete de Setembro com a Rua Santo Antonio.

Junior morava em frente ao Bar do João Careca. E fazia questão de todos os dias ir a cavalo para a escola.

Andava cinqüenta metros a pé, arreava o cavalo, montava e cavalgava outros cinqüenta metros até a escola!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Memória 53 (Instalação)

Marcelo Cândido Pereira - O famoso Instalação aparece com os irmãos Mário e Mariene, os pais João Cândido Pereira e Elena Marques Pereira, e avós maternos Benta Faria Marques e João Norberto Marques.
(foto: Álbum da Família Marques)

Instalação

Em dezembro de 2004, num acidente automobilístico acontecido nas proximidades de Magda, a cidade perdeu um de seus personagens mais folclóricos: Marcelo Cândido Pereira, o famoso Instalação.

Neto de João Norberto Marques, ele assimilou o linguajar típico de mineiro que o avô herdou do pai Norberto Marques, o Berto Mineiro, um dos pioneiros do Noroeste Paulista.

A perda de Marcelo deixou entristecida e inconformada uma grande legião de amigos, conquistada com seu jeito simplório e amistoso de falar e agir, principalmente pelas situações cômicas em que se envolveu, sempre fazendo rir aqueles que o rodeavam.

Era sempre o maior incentivador da turma para os principais eventos festivos na região, como bailes e festas do peão.

Certa vez pretendia levar alguns amigos a uma festa em Valentim Gentil. O caminho mais curto é uma estrada de terra que se inicia no trevo de Magda. Depois de tomar as preliminares, saíram de Salgado por volta da meia-noite. Saindo de Magda pegaram a estrada errada e entraram num canavial da Companhia Inglesa. Por algum tempo rodaram perdidos no meio de 800 alqueires de cana até que conseguiram sair em São João de Iracema. O Instalação animou-se:

- Agora a gente chega na festa rapidinho.

Olharam para o relógio: 4:00 horas da matina.

Era proprietário de um Fiat 147 marrom que ficou famoso na cidade. Numa ocasião todos queriam ir para Auriflama, mas ele era o único motorizado da noite.

- Tem um problema! - ele disse. Meu carro tá sem a barra do câmbio. Vamos ver o que dá pra fazer.

Entrou em casa, vasculhou um quartinho de badulaques e apareceu trazendo um pedaço de cano no qual havia uma torneira na ponta. Encaixou o cano no câmbio e seguiram viagem. O motorista trocava as marchas agarrado na torneira. Ficou tão bom que ele usou a peça por uns 6 meses.

Meses depois, retornando na companhia de Rogério Gabriel de uma festa em Santa Fé do Sul, perdeu a direção e chocou-se com um ônibus de trabalhadores rurais. O Fiat capotou e foi parar no meio do mato. Rogério conseguiu sair do carro e ouviu o companheiro gemendo no interior do veículo: Ai! Ai! Ai!

- Que foi Instalação? Você tá machucado?

- Ai, ai, meu Deus do céu, será que meu carro ainda vale uns quinhentos?

O vereador Aricê Silva viajou com a família e o deixou tomando conta da casa. Na garagem ficou uma pick-up Fiat bem antiga que o Aricê usava para ir ao sítio. Era praticamente uma peça de estimação.

Fim de noite sem muito movimento na cidade, de repente surgiu a notícia de que tinha acontecido um acidente na rodovia. Depois de alguma resistência a turma o convenceu a levá-los até o local com a pick-up do Aricê. Lá chegando se desentenderam com o policial rodoviário, que insistia para que todos fossem embora, pois estavam atrapalhando o atendimento da ocorrência. Quando o policial perdeu a paciência, pediu os documentos da pick-up.

O Aricê rodou com aquela picapinha durante uns 15 anos e nunca lhe pararam numa blitz. Quando retornou da viagem, descobriu que o veículo tinha sido apreendido pela polícia justamente no único dia em que o Instalação havia saído com ela.

De outra vez a turma foi passar o dia em Rio Preto. Emendaram no boliche por umas três horas e depois ainda foram a uma pizzaria. Pagas as contas, ninguém mais tinha um tostão no bolso. Na volta, perto de Nhandeara o carro do Instalação apagou: acabou a gasolina!

Ficaram no mato sem cachorro. Tarde da noite, tanque vazio e todo mundo duro. De repente ouviram o Instalação falando ao telefone:

- Se você não vier aqui agora, eu te mato!

Dez minutos depois encostou um automóvel, uma moça abaixou o vidro e estendeu 10 reais para ele, que repassou o dinheiro para a turma e avisou:

- Podem ir embora com o meu carro que eu vou ficar! – e embarcou no carro da moça.

Só apareceu na cidade uns dois dias depois e quando a turma se reuniu para dar risada do acontecido ele se justificou:

- Viu só como é bom a gente ter umas namoradinhas escondidas por aí...

Outra façanha aconteceu na festa de aniversário de Helô Almada, em São Paulo. A aniversariante fez questão de convidar um grande grupo de salgadenses. Festa chique, gente bonita e muita bebida, ele não economizou, entornou todas. Altas horas alguém comentou:

- Acho que o Instalação nem sabe onde está mais, de tão bêbado!

Resolveram fazer um teste:

- Ô Instala, vamos sair daqui! Vamos à boate em Auriflama?

- Você acha que eu sou tonto de sair daqui da Boate Calypso em Araçatuba, com esse monte de mulher bonita e ir pra Auriflama?

Num dos bailes da região os amigos testemunharam quando ele arrumou uma namorada e sumiu. Só voltou quando o dia clareava. Durante o retorno à cidade narrou sua conquista, dizendo que havia conhecido a menina e, dez minutos depois, tinha conseguido levá-la para o carro. Um dos amigos falou sério:

- Você usou camisinha?

- Eu não! Na hora do vamo-vê nem deu tempo de pensar nisso!

- Mas Instalação, você é louco? Você transa sem camisinha com uma menina que você nem sabe quem é?

- Ué! Mas ela também não sabe quem eu sou!!!

Tempos depois, no retornou de outro baile ele desmaiou no banco traseiro enquanto os dois companheiros conversavam para espantar o sono e narrar as aventuras da noite.

- Saí com uma moreninha - disse um - levei pro carro e só depois vi que não tinha trazido camisinha. Deu um trabalho danado pra convencer ela a transar sem. Fiquei meio desconfiado depois...

- Desconfiado por quê? – perguntou o outro. Ela tinha cara de sem-vergonha?

- Um pouco, mas acho que não era puta não. Ela até chorou...

Num salto ele se pôs sentado no banco traseiro para advertir o amigo:

- Rapaz, as putas são as que mais choram!


(Aqui tem outras histórias do Instalação).

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Memória 52 (EE Tonico Barão)

EE Tonico Barão (Anos 1980) - Edson Constantino, Adriana Ribeiro, Fernando, Amauri Pelarin, Marli Cardoso, Adriana Haidê, Rosângela Matos, Cacilda Giamatei, Teber Marques, Claudia Vieira, Élio de Freitas e Carlos José de Oliveira (Negão).
Élio de Freitas auxiliou na identificação dos retratados. Sivone Constantino do Prado esclareceu a dúvida que surgiu entre Teber e Esquisito.
(foto: Acervo do Cinquentenário da EE Tonico Barão, clique na foto para ampliar)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Um Dedo de Prosa - 3

Além de muitos salgadenses esparramados pelo mundo, esta nossa prosa também costuma atrair a atenção de visitantes eventuais.

Exemplo disso é uma mensagem que recebi por e-mail, ainda quando nossas crônicas eram publicadas no site oficial da cidade, e que, pelo conteúdo e significância, merece registro:

“Moro em São Paulo e costumava pescar em Pereira Barreto e sempre passei às pressas pelo trevo de General Salgado, até que um tio de minha esposa comprou uma fazenda, hoje chamada São Luiz, a antiga fazenda do Grupo Ultra.

Sou gaúcho, nascido em Guaíba, que no meu tempo era uma cidade pequena e provinciana, e como todo interiorano, que pelos rumos da vida acaba parando em cidade grande, sofro de nostalgia e saudades.

Gosto muito do interior de São Paulo e me identifiquei muito com General Salgado, onde costumo passar pelo menos duas semanas por ano. Por curiosidade busquei na internet algo sobre a cidade e encontrei o site que você escreve semanalmente.

Confesso que os contos que você escreve, os quais leio às sextas-feiras, me fazem viajar aos meus dias de menino, ou guri como se diz no Sul, bate uma saudade, meus olhos enchem de lágrimas e devoro cada linha.

Admiro a forma como você escreve e o orgulho que você tem de escrever sobre os prazeres simples e impagáveis da vida, como o conto desta semana. Este orgulho que todo caipira carrega no peito e que poucos mostram, alguns por vergonha de serem taxados de caipiras, outros por quererem estar inseridos nas modernidades dos citadinos.

Como forma de protesto velado, o protesto silencioso, às sextas-feiras venho ao escritório de botas, calça jeans e cinto com fivelão, o que ocasionou um fato curioso: na primeira vez que o pessoal me viu vestido desta maneira, a gozação foi geral, como “perdeu o trem pra roça”, “acabou a liquidação de enxadas”, “o rodeio é em Barretos” e outros tantos.

O tempo foi passando, as sextas-feiras se acumulando e a cada semana chegava um e perguntava: “Sabe, nasci em Araraquara e sempre gostei de botas, onde você comprou a sua?”. Ou então, “Puxa vida, onde você arranjou esta fivela? É que vou para Bauru na casa dos meus pais e queria levar uma lembrança para meu irmão”.

Hoje, a caipirada toda troca figurinhas sobre onde comprar o CD do Teodoro e Sampaio, se chegou novo modelo de bota em tal loja e tudo o mais. A turma do chapéu cresceu de tal forma que estamos pensando em organizar uma festa onde o traje obrigatório seja o de caubói, abrasileirado assim mesmo.

Mesmo morando em São Paulo, faço de tudo para manter as raízes, a chama acesa e o espírito rural. E tenho a obrigação de lhe dizer que você tem uma participação muito grande neste resgate, apesar de sentir-me tragado pelas obrigações, mastigado pela massa de cimento e asfalto, engolido pela poluição e pelo mar de carros, tenho mais um motivo para sorrir: hoje é sexta-feira e o Carlos tem mais um conto para eu ler!!!

Saio do escritório mais leve, mais disposto, ponho Tonico e Tinoco no som do carro e encerro a semana. Feliz.

Há muito tempo eu li na revista Globo Rural um verso, que diz tudo:
“Saudade é uma dor que dá, mais num é dor de doê.
É vontade de alembrá, cum vontade de esquecê,
É uma dor de dentro e machuca, e onde dói ninguém vê.
E a gente pega e catuca, pra num dexá de doê”.

Parabéns pela iniciativa. Um grande abraço e que Deus lhe abençoe.
Daniel Albrecht”


Mais uma vez registramos nossos sinceros agradecimentos ao Daniel e a todos aqueles que prestigiam esta página com suas visitas.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Memória 51 (Juvenal Castilho)

Juvenal Castilho e Maria Antonia Marques Castilho - Oriundo de José Bonifácio, Juvenal era filho de Iria e Antonio Elias de Castilho. Maria Antonia é filha de Izaltina e Hipólito Ludgero Marques. Tiveram dois filhos: Milton (casou-se com Fátima) e Elza Maria (Amelvi Telles).
(fotos: Álbum de Miltinho Castilho)

Bailes de Gala

O Salgadense Esporte Clube foi fundado no dia 24 de junho de 1957. A primeira diretoria eleita teve como presidente Lineu Simonetti, sendo vice o advogado Adaltio José João. A secretaria coube a Antonio Bernabé, Nelson Thomé Seraphim e Nelson Bechelli. Os tesoureiros: Prof. Umbelino Alves da Costa, Reinaldo Antonio Soligo e Cristobol Ortega.

Membros do primeiro Conselho Deliberativo: Luiz Zoccal, Miguel do Carmo Lisboa, José Desidério Fernandes, Pedro Ricardo Netto, Anibal Martins Felício, Astoril Tomaz, Vitoriano Pedro de Mattos, Vicente Rodrigues Mendonça, Antonio Zoccal, José Sanches, Geraldo Monteiro e Antonio Mendonça Filho. Suplentes: Décio Castilho Cheida e Alvino Manoel Dias.

Em 28 de maio de 1978 a Diretoria presidida por Roosevelt Jesus Vasconcelos tomou a polêmica e até hoje mal digerida decisão de mudar o nome da entidade para Clube de Regatas Salgadense.

A decisão deveu-se tão somente, ao fato de o citado presidente ser torcedor do Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro, pois, como se sabe, em toda a região noroeste paulista nunca existiu um clube de regatas, muito menos em General Salgado.

O clube foi, durante muitos anos, sede dos maiores e melhores eventos festivos da cidade.

O Baile de Aniversário da Cidade e o das Debutantes, por exemplo, eram os mais esperados do ano. Num deles enverguei – aos quinze anos – meu primeiro terno. E me senti o mais importante dos humanos, pois não havia quem comparecesse ao evento sem o rigoroso traje.

Outra atração dos bailes de debutantes era os artistas da televisão. Num deles veio dançar a valsa com as moçoilas salgadenses o então famoso Mário Cardoso, que estrelava a novela global das dezenove horas.

Num dos intervalos em que ele gentilmente ficou pelos jardins do clube batendo papo com os salgadenses, nossa turma o cercou com uma inquietação comum, praticamente o colocamos contra a parede até que atendesse à nossa solerte curiosidade sobre seu par romântico na novela:

- Fale a verdade Mário, a Miriam Rios é tão gostosa quanto aparenta na TV ?

As grandes atrações reservadas para os bailes de aniversário da cidade eram as bandas. Duas delas eram as preferidas de todos os salgadenses: Cassino de Sevilha e Leopoldo de Tupã. A primeira porque trazia um show de danças e a segunda não só pela qualidade como também por um atrativo à parte: o crooner Manga era salgadense.

Era um mulato forte, alto, que vivia por aqui, adolescente contemporâneo de Pedrinho Giamatei e Pedro Maron. Certa vez a banda Leopoldo e sua Orquestra Tupã veio tocar na cidade e o cantor principal adoeceu. O dono saiu procurando na cidade alguém para substituí-lo e conheceu Manga, possuidor de um vozeirão. O maestro ficou tão impressionado com o novato que o contratou imediatamente.

Já ouvi outras versões de como Manga entrou para a banda, uma delas inclusive, exclui a doença do titular. Uma coisa é certa, no entanto, assim que ouviu a voz do salgadense, Leopoldo ficou muito impressionado e não perdeu tempo em contratá-lo.

Num daqueles bailes fui testemunha do quanto era um grande cantor. Além da banda de Tupã a diretoria do clube contratou um show com o famoso cantor Francisco Egídio, que também era um mulato forte, alto, careca e dono de uma voz trovejante.

Na época fazia sucesso com uma música que tocava na abertura de uma das novelas da Rede Globo. No meio do baile a banda fez um intervalo e o showman deu início à sua apresentação. Quase ao final cantou a música de sucesso. Acho que era mais ou menos assim: “Ontem na tarde formosa / um céu cor de rosa / longe, longe...”.

Encerrado o show a banda voltou a embalar os casais e, alguns minutos depois Manga cantou a mesma música com a qual Francisco Egídio havia encerrado seu espetáculo. Então todos puderam verificar que o salgadense era tão bom cantor (ou melhor) do que o artista consagrado e famoso por sua voz forte e aveludada.

Hoje em dia ninguém mais dança num baile, apenas balança, cada um a seu modo e muito distante uns dos outros. Será que a garotada de hoje sabe o que é dançar agarradinho? Pelo menos nos últimos bailes que eu freqüentei não ouvi uma música lenta, nem casais se movimentando lentamente pelo salão em clima romântico, trocando sussurros e confidências ao pé do ouvido.

E samba? No nosso tempo a gente ficava o baile todo na expectativa de duas seleções: a de música lenta e a de samba. É que durante a seleção de lentas a gente saía procurando uma parceira para uns achegos, e durante a seleção de sambas assistíamos, embevecidos, o show do melhor casal de dança de salão que existia naqueles tempos: Marli Crivelari e Batata Bernabé.

Não posso falar no velho Salgadense Esporte Clube sem lembrar de um dos personagens da época, o seu Adriano, antigo zelador do clube, que já partiu para o andar de cima. A garotada se divertia com ele, não só porque trocava o nome de todo mundo, chamava, por exemplo, o Gappa de Gaspa e a Fabíola Beletti de Varíola, mas também porque era um sujeito singular, simplório e muito gentil. Mesmo quando dava broncas nos pequenos que teimavam em nadar na parte funda da piscina, ou quando desligava as luzes da quadra de futebol de salão às dez da noite porque era o único modo de fazer nossa turma deixar de correr atrás da bola.

Num dos bailes colocaram seu Adriano na portaria, para receber os ingressos. Alguém notou que ele segurava um saquinho de papel na mão e ao invés de pegar o bilhete, estendia o saco para que o ticket fosse colocado diretamente em seu interior. Lá pelas tantas da madrugada, quando foram conferir o número de pagantes deram conta que o saco tinha poucos ingressos e um monte de papel em branco. Alguns mais espertos percebendo que ele não conferia os bilhetes, providenciaram papeizinhos com a mesma cor dos tickets e entraram sem pagar.

A sede social do Clube foi construída utilizando-se de um prédio que nos anos 50 era o Grupo Escolar da cidade, papai estudou lá. Para ser aproveitado como sede do novel Salgadense Esporte Clube, houve grande reestruturação, com a construção do palco, portaria, secretaria, sanitários, duas saídas laterais e o bar.

Quando foi inaugurado era uma novidade na região, até então os bailes eram realizados em barracas improvisadas ou pequenos salões comerciais. Nos distritos e povoados então, muitas vezes os bailarinos arrastavam os pés no chão de barro batido, raramente cobertos de palha ou sapé.

Um fazendeiro das bandas de São João do Iracema veio à cidade para conhecer o novo clube e trouxe um peão da fazenda. Quis mostrar a novidade para o empregado. Adentraram aos jardins, então imponentes, repleto de árvores sombrosas e bancos de concreto e chegaram ao salão que recendia tinta fresca.

O peão que poucas vezes tinha vindo à cidade, pouco conhecia além das cercanias do Ribeirão Talhado, ficou embasbacado com a novidade e perguntou ao patrão:

- É aqui que vocês dançam baile?

Diante da resposta positiva do fazendeiro ele não titubeou em satisfazer outra curiosidade:

- E onde é que fica o sanfoneiro?