sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Um Dedo de Prosa - 3

Além de muitos salgadenses esparramados pelo mundo, esta nossa prosa também costuma atrair a atenção de visitantes eventuais.

Exemplo disso é uma mensagem que recebi por e-mail, ainda quando nossas crônicas eram publicadas no site oficial da cidade, e que, pelo conteúdo e significância, merece registro:

“Moro em São Paulo e costumava pescar em Pereira Barreto e sempre passei às pressas pelo trevo de General Salgado, até que um tio de minha esposa comprou uma fazenda, hoje chamada São Luiz, a antiga fazenda do Grupo Ultra.

Sou gaúcho, nascido em Guaíba, que no meu tempo era uma cidade pequena e provinciana, e como todo interiorano, que pelos rumos da vida acaba parando em cidade grande, sofro de nostalgia e saudades.

Gosto muito do interior de São Paulo e me identifiquei muito com General Salgado, onde costumo passar pelo menos duas semanas por ano. Por curiosidade busquei na internet algo sobre a cidade e encontrei o site que você escreve semanalmente.

Confesso que os contos que você escreve, os quais leio às sextas-feiras, me fazem viajar aos meus dias de menino, ou guri como se diz no Sul, bate uma saudade, meus olhos enchem de lágrimas e devoro cada linha.

Admiro a forma como você escreve e o orgulho que você tem de escrever sobre os prazeres simples e impagáveis da vida, como o conto desta semana. Este orgulho que todo caipira carrega no peito e que poucos mostram, alguns por vergonha de serem taxados de caipiras, outros por quererem estar inseridos nas modernidades dos citadinos.

Como forma de protesto velado, o protesto silencioso, às sextas-feiras venho ao escritório de botas, calça jeans e cinto com fivelão, o que ocasionou um fato curioso: na primeira vez que o pessoal me viu vestido desta maneira, a gozação foi geral, como “perdeu o trem pra roça”, “acabou a liquidação de enxadas”, “o rodeio é em Barretos” e outros tantos.

O tempo foi passando, as sextas-feiras se acumulando e a cada semana chegava um e perguntava: “Sabe, nasci em Araraquara e sempre gostei de botas, onde você comprou a sua?”. Ou então, “Puxa vida, onde você arranjou esta fivela? É que vou para Bauru na casa dos meus pais e queria levar uma lembrança para meu irmão”.

Hoje, a caipirada toda troca figurinhas sobre onde comprar o CD do Teodoro e Sampaio, se chegou novo modelo de bota em tal loja e tudo o mais. A turma do chapéu cresceu de tal forma que estamos pensando em organizar uma festa onde o traje obrigatório seja o de caubói, abrasileirado assim mesmo.

Mesmo morando em São Paulo, faço de tudo para manter as raízes, a chama acesa e o espírito rural. E tenho a obrigação de lhe dizer que você tem uma participação muito grande neste resgate, apesar de sentir-me tragado pelas obrigações, mastigado pela massa de cimento e asfalto, engolido pela poluição e pelo mar de carros, tenho mais um motivo para sorrir: hoje é sexta-feira e o Carlos tem mais um conto para eu ler!!!

Saio do escritório mais leve, mais disposto, ponho Tonico e Tinoco no som do carro e encerro a semana. Feliz.

Há muito tempo eu li na revista Globo Rural um verso, que diz tudo:
“Saudade é uma dor que dá, mais num é dor de doê.
É vontade de alembrá, cum vontade de esquecê,
É uma dor de dentro e machuca, e onde dói ninguém vê.
E a gente pega e catuca, pra num dexá de doê”.

Parabéns pela iniciativa. Um grande abraço e que Deus lhe abençoe.
Daniel Albrecht”


Mais uma vez registramos nossos sinceros agradecimentos ao Daniel e a todos aqueles que prestigiam esta página com suas visitas.

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