segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Zé das Vacas

O compadre Alecindo Barbosa Junior é salgadense, nativo de Nova Castilho assim como eu. Crescemos juntos e quando me mudei para Salgado ele se mudou para Araçatuba, onde nos encontramos anos mais tarde.

Mais de trinta anos de convivência e amizade fraterna foram mais do que sacramentados quando batizei Gabriela, filha dele e de Sandra Padovan. Gabriela forma, com o salgadense Carlos Henrique Godoy e meu sobrinho dracenense Tiago Almeida Beretta, um trio de afilhados queridos.

No tempo da nossa infância criança só ganhava presente em duas oportunidades: Aniversário e Natal. Em casa, por exemplo, quando pretendíamos que o Papai Noel nos trouxesse um presente melhorzinho, mais caro, tínhamos que juntar as quotas e pedir um único presente para os quatro.

Era uma boa diversão contar entre os amigos o que é que a gente ia ganhar. Num dia de congraçamento das famílias começamos a conferir o que viria no próximo fim de ano: Ulisses ia ganhar o primeiro relógio; Marcos, assim como eu e meu mano Cleber, um Forte-Apache; as meninas, Leda, Claudia e Cleire, como sempre, bonecas. Quando chegou a vez do Junior ele avisou:

- Eu quero um cavalo!

Ninguém entendeu nada. Um cavalo? Então nos demos conta que o meu futuro compadre realmente adorava cavalos, vivia filando passeios e garupas pelas ruas do vilarejo. Não podia ver passar um cavaleiro que pedia uma voltinha. Seu pai tentou desviar a idéia: escolhe outra coisa! Mas ele não arredou o pé:

- Ou um cavalo ou nada!

A partir desse dia todos davam como certos os presentes escolhidos, menos o Junior. Quando perguntado, dizia que tinha pedido um cavalo, mas como não havia jeito de receber o presente escolhido, preferia não ganhar nada.

Na manhã do dia 25 os irmãos acordaram, correram para abrir os presentes e ele ficou na cama. Os pais entraram no quarto escuro e avisaram:

- Nós compramos um presentinho para você não ficar sem nada!

E ele, com a cabeça debaixo do travesseiro, meio choroso, refugava.

- Levanta e abre a janela pra você ver o que é.

A contragosto ele destravou as folhas da janela e encontrou, no corredor lateral da casa, uma surpresa: um cavalo baio, arreado e com todos os apetrechos possíveis. Dali mesmo pulou a janela, subiu no potro e saiu andando pelas ruas da povoação. Mais feliz impossível.

Quando o pessoal do vilarejo viu que ele não desmontava por nada, vivia o dia todo trajado de peão e esfolando o traseiro, colocaram-no o apelido de Zé das Vacas que era o nome de um peão meio doido que havia morado em Nova Castilho anos antes, e também quase não apeava da montaria.

Como o seu Alecindo ainda não tinha aonde deixar o cavalo, tio João Firmino autorizou que o animal vivesse num piquete da Fazenda, cuja porteira, naquele tempo, ficava praticamente dentro da cidade, onde hoje é a esquina da Rua Sete de Setembro com a Rua Santo Antonio.

Junior morava em frente ao Bar do João Careca. E fazia questão de todos os dias ir a cavalo para a escola.

Andava cinqüenta metros a pé, arreava o cavalo, montava e cavalgava outros cinqüenta metros até a escola!

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