segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A História de Um Amor

A construção do Fórum de General Salgado se achava concluída há algum tempo, com todos os cartórios instalados e no início do ano de 1977, para aproveitar a presença de uma autoridade governamental na cidade, promoveram a cerimônia de inauguração oficial da obra.

Era um feriado e a fanfarra do Colégio "Tonico Barão" homenageava as autoridades e os cidadãos que assistiam à cerimônia defronte ao prédio. Naquele tempo a fanfarra salgadense era uma das mais requisitadas da região.

O sol causticante do meio-dia molestava a todos, manchas de suor podiam ser vistas rompendo o azul dos uniformes dos músicos. Por força da ocasião as autoridades sofriam com a quentura e com a sufocação provocada por fatiotas e gravatas.

Seguia a cerimônia até que uma das instrumentistas, assolada pelo calor, sentiu-se mal, perdeu os sentidos. Foi imediatamente socorrida e verificada a gravidade de seu estado, encaminhada para Rio Preto. Horas depois chegou à cidade a notícia infeliz de que ela não sobrevivera. Seu nome: Rosemary Gabriel. Acometeu-lhe um mal fulminante, um aneurisma cerebral ou algo parecido.

Rose Gabriel era uma jovem estudante do Colégio "Tonico Barão", tinha uns quinze, dezesseis anos; filha do Sr. Remualdo Gabriel, namorava Walcir Mendonça, filho do Sr. Lau Mendonça e de Dona Rosalina (a mais famosa confeiteira que a cidade conheceu).

Walcir também era um dos instrumentistas da fanfarra salgadense e, ainda bastante jovem, tinha uns vinte anos de idade. Trabalhava no Banco Real junto com o irmão Vande. Era mais novo que Mick, Vande, Banana e Wanda, mais velho que Vânia e Valéria.

Acostumei-me a vê-lo jogando no gol da equipe de futebol de salão do Banco Real, que participava dos campeonatos de férias do Salgadense Esporte Clube. Também jogava nos aspirantes do time de futebol de campo do Grêmio Desportivo Salgadense.

Tínhamos relativa amizade, apesar de eu ser um pouco mais novo e companheiro de classe de sua irmã Vânia. Às vezes freqüentávamos o mesmo grupo de amigos que se reunia para tocar violão e cantar. Ele tocava e cantava, eu só assistia. Sua personalidade gentil e pacata o diferenciava dos demais irmãos, num contraste que se situava entre as molecagens de Vande e Mick e a seriedade aparente de Banana.

A morte repentina da namorada foi um choque pesado para o jovem Walcir, a tristeza tisnou-lhe o jeito de ser. Os amigos mais próximos acreditaram que com o tempo ele se acostumaria com a perda, partiria para outra, tocaria a vida adiante. Mas, apesar de demonstrar certa serenidade, se deixou entristecer. Quando se animava em participar das rodas de violão com os amigos, fazia questão de cantar uma música que lhe trazia à mente a amada que se fora:

"Sei que na vida perdi a minha felicidade / ficou somente a amargura, paixão, tristeza e saudade. / lá num cantinho do céu, sei que está me esperando / aquele alguém que foi meu, por quem eu vivo chorando / a noite quando eu rezo, eu imploro ao Senhor / que lá num cantinho do céu, olhai pelo meu amor / Hoje eu sigo meu caminho, de amargura e espinho / andando e vagando ao léu, quando o Senhor me chamar / contente eu vou encontrar um amor lá num cantinho do céu”


Na época a música era um estrondoso sucesso da dupla sertaneja Caçula e Marinheiro e foi assimilada pelo tristonho Walcir. Era comum ouvi-lo diariamente cantarolando a melodia. Dizem que por vezes se encerrava no quarto e tomava do violão para repetir inúmeras vezes a canção.

Menos de um ano depois que Rose partiu Walcir foi ao seu encontro, inexplicavelmente acometido de doença grave, invencível. Por incrível que pareça a vida imitou a arte, aquele que ficou anunciando a tristeza e a vontade de rever o amor perdido logo seguiu para reencontrá-lo.

A cultura humana é materialista e dramatiza a morte ao extremo. Fixa-se na decomposição física, na transformação da matéria, sem atentar para o fato de que a matéria não é nada sem o espírito. Muitos entendem, no entanto, que a morte é um momento de transformação, faz parte da vida e a vida é manifestação divina de perfeição e bondade. Acreditam que se Deus sempre faz o melhor, a morte só pode ser um bem que em nossos acanhados limites de percepção ainda não conseguimos avaliar.

Acredito que esta compreensão se faz crível se analisarmos histórias como a destes dois adolescentes, que se conheceram desde muito cedo, se amaram precocemente e se foram daqui praticamente juntos. Os fatos acontecidos entre as duas partidas denunciam, no meu modesto modo de ver, que ambos cumpriram pequena missão terrena como um necessário precedente a alicerçar missões mais importantes do outro lado. E tanto aqui como lá, unidos.

Pouco antes de ser acometido pela doença Walcir treinava com dedicação para ser titular do gol do Grêmio Desportivo Salgadense, que se preparava para estrear um uniforme novo, muito bonito, azul e branco. Todos os atletas ansiavam e concorriam à oportunidade de vestir pela primeira vez as novas camisas. Para homenageá-lo os amigos decidiram que ele deveria ser sepultado vestindo a camisa nº 1 que ele sonhava estrear, o que realmente aconteceu.

A história de amor dos dois jovens também foi reconhecida e sensivelmente homenageada pela municipalidade: a Biblioteca Municipal de General Salgado chama-se "Walcir e Rosemary".

Esta é, a meu ver, uma bela história de amor que não pode ser esquecida.

Memória 16 (Hipólito Marques)

Hipólito Ludgero Marques - Filho do casal João Luiz Marques e Maria Madalena Diniz, nasceu em Carmo do Rio Claro-MG em 1900 e chegou à região em 1922, na companhia do tio Luiz José Marques. Casou-se com Izaltina Cândida de Jesus, descendente do pioneiro João Cândido da Silva. O casal teve 16 filhos: José Marques, João Marques (casou-se com Maria Zoccal), Ambrósio Marques (Lázara Francisca), Sebastião (Odila Fonseca), Maria (Juvenal Castilho), Brás, Izaltina (Raimundo Lima), Hipólito (Aparecida Navarro), Apparecida (Messias Moreira), André (Maria Regina Ferreira), Manoel, Manoelina, Adolares, Efigênia (Osvaldo Araújo), Simão (Suely Rodrigues) e Wagmar Marques.
(foto: Álbum da Família Marques)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Memória 15 (Luiz Firmino e Rita Marques)

Luiz Firmino Marques e Rita Marques de Jesus - Ambos nasceram em Carmo do Rio Claro (MG). Luiz (filho mais velho de Firmino e Maria, nascido em 16/07/1904) chegou à região em 1906. Rita veio com os pais Luiz José e Laurinda em 1922. O casal não teve filhos e, por testamento, deixou seu patrimônio para ser dividido entre alguns sobrinhos e empregados.
(foto: Álbum da Família Marques)

Coronel Salgado

Coronel Julio Marcondes Salgado Filho

Curioso a respeito do militar que deu nome à cidade, decidi pesquisar um pouco sobre o personagem. Descobri que quando faleceu sua patente era de Coronel e não de General. Interessante não? Se não fosse a merecida promoção póstuma, a cidade se chamaria Coronel Salgado!

Sua história está intimamente ligada ao povo paulista. A Revolução de 1930 guindou Getúlio Vargas à chefia do Governo Federal Provisório e setores da elite oligárquica de São Paulo, derrotados na revolução, passaram a cobrar as promessas assumidas após a tomada do poder pelos revolucionários. A principal delas: a instalação de uma Assembléia Constituinte. Outras alas da sociedade urbana estadual, defendendo a tradição liberal democrática também se juntaram aos reclamantes.

Ao passo em que protelava o cumprimento das promessas, Getúlio Vargas se deixou cercar e influenciar pelos militares. Por influência desse grupo, que passou a ser conhecido como “Tenentes”, o país assistiu a instalação de tribunais de exceção, prisões arbitrárias e clandestinas, perseguições políticas, além de outros abusos praticados contra aqueles que “contrariavam” os interesses revolucionários. Os tenentes, dizia-se à época, estavam arrastando Getúlio e seu governo para posições nacionalistas e esquerdistas. Davam a entender que pretendiam deixar a redemocratização do país para as calendas gregas, ou seja, para o Dia de São Nunca.

Chegou-se a um ponto em que até mesmo alguns setores revolucionários, antigos aliados de Vargas, começaram a pressionar o ditador para que convocasse a Constituinte. No início de 1932 partidos políticos paulistas formaram a Frente Única Paulista e lançaram nas ruas uma forte campanha pela constitucionalização do país e o fim da intervenção federal nos estados. A repercussão popular foi grande, os atos públicos se multiplicaram e as manifestações tornaram-se fortes e organizadas.

O jornalista Assis Chateaubriand, dono da rede de jornais Diários Associados, farejando o alto teor explosivo do movimento que se formava em reação ao excessivo poder dos tenentes, manifestou sua preocupação ao ditador Vargas, argumentando que a única maneira de evitar um confronto com os paulistas era atender pelo menos uma reivindicação: a de que o interventor federal em São Paulo fosse “civil e paulista”. Ao ouvir tal comentário o ditador reagiu com tranqüilidade:

- Calma Chateaubriand. Vou esperar a cobra paulista botar a cabeça para fora, para poder esmagá-la...

Segundo o escritor e jornalista Fernando Morais, biógrafo de Chateaubriand (“Chatô, o Rei do Brasil”, Editora Companhia das Letras), naquele momento o jornalista acreditava que Vargas se perdia ao incorrer em dois erros graves e que por certo lhe custariam o poder: 1. ignorar os políticos mais experientes (gaúchos e mineiros, principalmente), mantendo sua base de apoio no esquerdismo tenentista; 2. humilhar os paulistas.

No dia 23 de maio de 1932 a polícia de Vargas reprimiu violentamente um comício na Praça da República (SP), matando quatro estudantes: Cláudio Bueno Miragaia (cuja família é de Birigui), Mario Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Souza e Américo Camargo de Andrade. As iniciais de seus nomes – MMDC, de Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo – transformaram-se na sigla que denominaria a partir de então a sociedade secreta paulista que preparava a guerra contra Getúlio Vargas.

O Coronel Julio Marcondes Salgado Filho era o comandante da Força Pública, antiga denominação da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Quando da criação do Comitê Revolucionário, o General Isidoro Dias Lopes foi designado para o Comando Geral; Bertoldo Klinger ficou com a chefia das Forças Revolucionárias. O comando da divisão paulista coube ao Coronel Euclides Figueiredo (que viria a ser pai do Presidente João Figueiredo), a quem o Coronel Salgado, que era tido como um dos mais fervorosos defensores da causa paulista, colocou à disposição todo o seu efetivo.

Dando início ao movimento armado, no dia 9 de julho o Coronel Figueiredo tomou o Quartel General do Exército e, pelo telégrafo, mobilizou todo o Estado, inclusive a população, que não negou seu apoio. Trabalhadores comuns abandonaram suas ocupações habituais para se alistarem como soldados constitucionalistas. Havia um bom contingente, mas faltavam armas.

No dia 10 de julho o comando revolucionário proclamou Pedro de Toledo como Governador do Estado de São Paulo. Ao comparecer à janela do Palácio para receber a saudação dos paulistas, ladeavam o governador os principais líderes do movimento: Isidoro Lopes, Francisco Morato, Pádua Sales e o Coronel Marcondes Salgado.

No decorrer dos combates, grupos políticos mineiros tentaram estabelecer uma participação ativa nos acontecimentos em socorro aos paulistas, mas não lograram êxito. Fugindo da polícia de Vargas, o jornalista Chateaubriand partiu em direção à Zona da Mata mineira a fim de encontrar-se com o ex-presidente Artur Bernardes, que colocara seu grupo político em defesa dos ideais revolucionários. No meio do caminho auxiliares de Bernardes conseguiram encher de armas e munição um dos compartimentos do trem. Mas na estação de São Geraldo, em solo mineiro, o jornalista foi reconhecido e preso pelas forças federais, o que minou a tentativa mineira de aderir ao movimento.

O governo mineiro, por sua vez, adotou uma posição de indefinição política. Uma das colunas revolucionárias, no entanto, avançou sobre Minas e de São Paulo o comandante Marcondes Salgado enviava mensagens à Força Pública Mineira, exortando-a a combater a ditadura, o que ele considerava como condição de vida ou morte para a existência das milícias estaduais, ameaçadas pelo regime discricionário.

A esperada vinda de armas do exterior não aconteceu e a compra de armamento não poderia ser feita legalmente. Nas hostes paulistas a proporção era de uma arma para cada 50 combatentes. Esse conjunto de fatores desfavoráveis levou os paulistas a promover um enorme esforço de guerra, centrado na utilização de indústrias para improvisar armamentos.

O parque manufatureiro paulistano transformou-se, repentinamente, em produtor de armamentos, apesar da ausência de afinidades. Técnicos e Engenheiros da Escola Politécnica começaram a dirigir as metalúrgicas, oficinas mecânicas e fundições, que passaram a produzir cerca de 200 mil tiros por dia, granadas de mão, bombardes, capacetes e lança-chamas.

Porém, a produção de guerra não chegou a atender as necessidades reais das tropas, persistindo até o fim da luta a gritante desigualdade de armas. Num dos testes realizados com o armamento fabricado, o lançamento de bombas, uma delas explodiu dentro do canhão, matando, quase que instantaneamente o comandante Marcondes Salgado. Era o dia 23 de julho de 1932.

O comando da Força Pública passou ao Coronel Herculano Silva, que no dia 27 de setembro resolveu, sem consultar o governo civil, abandonar a luta. As humilhantes condições impostas para a rendição foram aceitas por Herculano, que como “prêmio” recebeu do governo ditatorial a nomeação para o governo militar do estado. Esta atitude de Herculano fixou-se no ideário do Comando Revolucionário como traição.

Apesar da derrota a revolução fez com que o governo ditatorial atendesse aos ideais constitucionalistas. Em agosto de 1933 Vargas nomeou interventor em São Paulo, Armando Sales de Oliveira, “civil e paulista”, como queriam os democráticos. E teve que dar o braço a torcer quando enviou ao novo governante a seguinte mensagem: “Quero que compreenda em toda a sua amplitude o significado de meu ato: com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 1932”.

Os principais historiadores ao analisarem a vexatória retirada de Herculano Silva, a proposta de suspensão do conflito com o estabelecimento de paz em separado, sem consulta ao governo revolucionário, e ainda, a sua nomeação para o governo militar do estado, quase que como uma barganha, consideram que isto não teria acontecido se à frente da Força Pública Paulista ainda estivesse o bravo Coronel Salgado: “que falta fazia o grande paulista Julio Marcondes Salgado Filho à frente da Força Pública de São Paulo”, dizem os estudiosos daquele período histórico.

Podemos dizer, então, que nossa cidade recebeu o nome de um homem honrado e valente, que morreu em defesa de sua gente e de seu ideário.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Isto É Um Assalto...

Certa vez assisti de perto o cometimento de um assalto. O fato se deu em General Salgado, por volta das quatro horas da manhã de um sábado, mês de julho, o ano deve ser 1989 ou 1990.

Num dos bancos da Praça da Matriz, atrás do Ponto de Táxi, estavam sentados dois indivíduos, que se dirigiram para a Rodoviária assim que encostou um ônibus vindo da capital. Um deles era coxo, puxava de uma perna, deu para perceber que usava um aparelho corretor. O outro era bem alto, espadaúdo e meio troncho. O ônibus rompeu e na calçada ficou uma jovem que aparentava uns vinte anos, segurando duas mochilas.

De repente os dois se aproximaram da moça; o grandão levantou a camisa mostrando o cabo de uma pistola e anunciou com voz grave, cavernosa:

- Não fale nada. Isto é um assalto.

Agarraram as mochilas e saíram correndo pelo meio da praça. Apesar de tétrica a cena era muito engraçada: o homem alto não sabia se corria ou se ajudava o coxo que arrastava, além da perna, uma das mochilas. Quase defronte a Prefeitura entraram num carro e sumiram.

A moça ficou num desespero de causar dó. Nunca tinha vindo à cidade antes, não conhecia ninguém, não atinava como buscar socorro.

Assim que os assaltantes sumiram, um carro parou em frente ao Ponto de Táxi e dele desceu Eduardo Inocêncio, que era amigo da vítima, tinha feito o convite para que ela viesse passar as férias na cidade. Informado do ocorrido mostrou-se muito espantado, pois nunca antes houvera notícia de um crime dessa natureza por estas bandas.

Levou a vítima até a casa dele, onde um grupo de amigos promovia um churrasco esperando a visita para lhe dar boas-vindas. Todos receberam a notícia com surpresa:

- Não é possível, isso nunca aconteceu por aqui.

A menina chorava muito e dizia:

- Ainda bem que eu guardei uma parte do dinheiro no bolso e eles não levaram, buáááá...

Alguém perguntou como eram os bandidos:

- Um deles era grandão, muito feio e cabeçudo, o outro parece que era aleijado, mancava de uma perna, buáááá...

Depois de meia hora de água com açúcar e consolo, promessas de que a polícia tomaria providências, aquele papo de que os bandidos não deviam estar longe, etc, a coitada foi se acalmando. Enquanto isso a turma seguia no churrasco.

De repente a moça olhou por debaixo de uma mesa na varanda e reconheceu uma mochila. Resolveu prestar mais atenção nas pessoas que estavam no local e deparou-se com a dupla Celso Trovão e Chico Manco sentados tranqüilamente no sofá da sala, como se nada tivesse acontecido. Deu um pulo no sofá e destampou novo berreiro:

- Foram esses aí que me assaltaram... Buáááá...

E imediatamente, compreendendo que havia caído num engodo, cobriu o Eduardo de tapas e palavrões.

Não sei por que, mas o seu desespero aumentou; foi preciso, em meio à gargalhada geral da moçada, nova remessa de agrado e água doce. Sei que dias depois, quando voltou à capital ela disse ter adorado a cidade e o pessoal, mas prometeu que nunca mais cairia noutra, principalmente se o convite partisse do Eduardo, um trocista de talento.

Na verdade tudo foi armado desde o princípio pelo anfitrião Eduardo, a fim de pregar uma peça na amiga paulistana que pela primeira vez viajava ao interior. Para que tudo funcionasse a contento houve até ensaio antes da chegada do ônibus. Os assaltantes foram escolhidos a dedo para que ela pudesse reconhecê-los depois, a arma era de brinquedo.

Enquanto os bandidos agiam, o "amigo da onça" assistia tudo da esquina da Rua Diogo Garcia e esperou o momento certo para chegar à Rodoviária, dando a entender que havia se atrasado.

Ocultados pela fonte da Praça da Matriz, eu e Marcelo Cruzeiro assistimos tudo com muita pena da garota e ao mesmo rindo muito da cena em que o Celso Trovão arrastava as malas e o comparsa Chico Manco até o carro; demos fuga aos “meliantes”.

Enquanto ela choramingava no quintal da casa, as mochilas estavam à vista, debaixo da mesa e os assaltantes assistiam TV na sala, esperando serem reconhecidos.

Dias depois o Eduardo convidou outro amigo paulistano para conhecer a cidade e estava organizando seu seqüestro, tinha inclusive tudo combinado com o Mão Branca (Serginho Guimarães), que seria o chefe da quadrilha, arrumou local para o cativeiro e tudo o mais.

Talvez desconfiado ou avisado pela outra vítima o amigo telefonou um dia antes dizendo que imprevistos de última hora o impediam de vir.

Mal sabe a aventura que perdeu.

domingo, 14 de outubro de 2007

Memória 14 (Altina Marques)

Altina Marques - Dos filhos do casal Maria e Firmino Luiz Marques, Altina foi a primeira a nascer no interior paulista, no dia 02 de julho de 1908. Em 1928 casou-se com o primo Izidoro Luiz Marques, filho de Laurinda e Luiz José Marques (no alto, à esquerda), e que faleceu no ano seguinte. Pouco mais de um ano depois, ela se casou com o irmão dele, João Luiz Sobrinho (embaixo, à direita). Altina e João Luiz tiveram os seguintes filhos:
Luiz Marques Neto (casou-se com Leonilda Guerra), Genézio (Iraci Alves), Alzira (Waldemar Marques), Fermino Neto (Hilda Cândido), Ilda (Orestes Fantini) e Osmar (Xantipa Segard).
(foto: Álbum da Família Marques)

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A Mulinha do Gregório

Das façanhas alardeadas por Gregório Giamatei e repetidas por anos e anos entre os salgadenses, a melhor, em minha opinião, é a da mulinha estimada, um animal de montaria de muito apreço e serventia.

Dizia ele que morava num sítio próximo ao Córrego do Gabriel e tinha uma mula petiça alazã muito boa e marchadeira, dócil de boca e de toada; o mulão era um colosso, feita pra desfilar na cidade e arrancar suspiros das moças casadoiras. Não dava, não emprestava e não vendia por dinheiro nenhum.

Certa vez havia assumido um compromisso em Magda e lá deveria chegar ao amanhecer. Prevenido e para evitar atrasos quando fosse encontrar e arrear a mulinha de madrugada, no entardecer do dia anterior fechou-a no barracão das vacas leiteiras. Em seguida, conferiu as tralhas de montaria, os aperos, as correias engraxadas de sebo bovino, pelego novo, estribos, tudo no jeito.

Levantou-se antes do despertar do galo, noite escura, mal dava para enxergar mesmo acendendo as lamparinas de querosene. Ao sair para o quintal certificou-se de que a ausência de luar havia transformado a madrugada em puro breu. Foi com muita dificuldade, mediante apalpadelas que localizou o cabresto, o freio e a arreata.

Não fosse o conhecimento que possuía, o hábito formado por longos anos abrindo porteiras, atravessando cercas e colchetes, não teria encontrado sequer a curralama e o barracão das leiteiras, onde o aguardava a montaria de predileção. Seguindo o senso de direção armazenado na memória e praticamente tateando na busca de tramelas e engates, entrou no barracão chamando pela mula e, visualizando o seu vulto sonolento num canto do curral jogou-lhe o cabresto por sobre o pescoço.

Mesmo no escuro conseguiu colocar a cabeçada do freio, jogou os trastes no lombo do animal e apertou as barrigueiras. Mas quando levou o pé esquerdo no estribo estranhou a reação da mula. Antes mansa e pacífica, agora a montaria dava de tirar o corpo, negando o lado e o dorso.

Imaginou o peão que a danada estava de manha, contrariada por ter sido obrigada ao recolhimento do pouso. A mulinha adorava pousar no piquete dos bezerros onde pastorejava à vontade e havia abundante aguada. Sem o capinzinho verde e macio e também sem o de beber, a mula devia ter remoído um azedume a noite inteira e agora se achava no direito de descontar no patrão.

- Vou te mostrar que sou peão de respeito, mula teimosa!

Foi o que disse Gregório antes de ganhar o lombo. Talvez provocada pelo rompante do patrão a tinhosa deu de regatear. Cosquenta, deu de tentar tirar o peão de cima, negaceando para os lados; boca dura, endurecia o pescoço e não aceitava o comando das rédeas. A muito custo, valendo-se dos seus extensos conhecimentos de doma, e do uso conjugado de tala e espora, o peão conseguiu fazer a mulinha tomar tento, acatar as rédeas e se alinhar no rumo da trilha.

Por mais estranha que fosse a reação da montaria Gregório acreditava que poderia ser efeito do recolhimento, do pouso forçado dentro do barracão, coisa que nenhum animal aprecia. Até que compreendia a reação exagerada da mula. No caminho para Magda ia repassando mentalmente os exageros da danada e principalmente, os corretivos aplicados até que ela aceitasse os aperos ainda que a custo de espora nos vazios, do rabo de tatu nas ancas, dos trancos de rédea e bridão.

Ao longe cintilavam reflexos das últimas luzes acesas pelo casario de Magda, no rumo do horizonte foi surgindo vistoso o arrebol, os primeiros raios solares davam o ar da graça por detrás da mataria. Os pássaros noturnos, corujas e curiangos retornavam para seus alojamentos, a tímida luminosidade ia aos poucos destampando a manhã, fazendo subir o grosso véu da escuridão noturna.

Quando a manhã, com bocejos e espreguiçamentos se espraiou por inteira e a sua claridade tomou conta do dia, somente nesse instante foi que Gregório entendeu o desassossego da montaria, o comportamento marroaz e arreliento que custara corretivo de taca e de espora: estava montado numa onça!

A onça invadiu o curral, matou e comeu a mulinha indefesa, e por algum motivo tinha ficado presa no barracão.

Ah! Se não fosse bom peão e domador!

Memória 13 (Jeremias Marques)

Fazenda Marques - Reunião de família na Fazenda de Jeremias Luiz Marques (filho de Luiz José Marques), no início dos anos 40. Da esquerda para a direita: Conceição Marques (esposa de Antonio Aureliano), Adélia Josina (casou-se com Carolino dos Santos), Rita (esposa de Jeremias), Regyna Marques (casou-se com Mário Marques), Claudina (no fundo, casou-se com Wilson Gonçalves), Jeremias Luiz Marques, Antonio Aureliano, Pedro Chico e Jonas Pereira de Carvalho (esposo de Aparecida Castilho de Carvalho).
(foto: Álbum da Família Marques)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Prefeitos e Vereadores

A história política da região de General Salgado é fértil em personagens e situações cômicas. Um destes personagens foi João Batista Botelho, o famoso João Cuiabano, por duas vezes Prefeito de Araçatuba, fazendeiro em Vicentinópolis, e que tinha muitos amigos em General Salgado. Arcídio Castilho e João Cuiabano foram lançados candidatos às Prefeituras de General Salgado e Araçatuba na mesma época, incentivados principalmente pelos amigos salgadenses.

Os compadres Alvino Seixas (fazendeiro em Major Prado) e Álvaro de Almeida (vizinho daquele, mas já em solo salgadense) estavam entre os principais incentivadores da dupla. Diziam aos candidatos para que fossem fazer campanha em outros lugares, sem necessidade de virem visitá-los durante a corrida, pois eles cuidariam de arrebanhar os votos necessários:

- Venham apenas para o churrasco de comemoração das vitórias! O que realmente aconteceu.

Eleitos, um auxiliava o outro na administração, pois até então General Salgado não dispunha de máquinas para obras de abertura e conservação de estradas e o Prefeito Arcídio Castilho as conseguiu com o compadre Cuiabano. Em troca, a Prefeitura salgadense atendia no que fosse possível, as necessidades dos araçatubenses que tinham propriedades do lado de cá do Rio Tietê.

Bons tempos aqueles em que os políticos preocupavam-se apenas com os benefícios à cidade e à população sem tomar nada em troca. Arcídio Castilho deve ser considerado um exemplo positivo de administrador. Quando deixou a Prefeitura depois do segundo mandato seu patrimônio era inferior ao que possuía quando assumiu o cargo pela primeira vez. Preocupou-se em cuidar mais da coisa pública do que dos bens pessoais.

Em compensação, para infelicidade dos salgadenses, existem outros que ocuparam o mesmo cargo em tempos mais recentes, cujas irregularidades administrativas apuradas pelo Ministério Público formaram processos de vários volumes. Dava para encher uma carriola com os abusos da corriola, se me permitem o trocadilho.

Tive a honra de conviver um pouco e conversar bastante com Arcídio Castilho. Ouvi com prazer suas histórias, seus relatos. Muitos salgadenses reclamam que ele deveria ser homenageado pela municipalidade, foi um homem simples e honrado que marcou seu nome na história da cidade com muito trabalho e dedicação. Qualquer homenagem seria mais do que justa, como, por exemplo, dar seu nome ao prédio da Prefeitura. Estou certo de que estampado naquele pórtico, mais do que incentivo, seu nome serviria de advertência aos atuais e futuros administradores para que defendam intensiva e exclusivamente os interesses do povo salgadense.

Não conheci João Cuiabano, mas conheci sua mulher, dona Sebastiana, e também os filhos e netos do casal. Conta-se que durante as campanhas eleitorais ele protagonizava situações muito engraçadas, até hoje narradas de pai pra filho.

Antigamente existia um bairro rural chamado Cupim, próximo a Vicentinópolis e lá aconteceu um dos primeiros comícios da disputa, iniciado pelo candidato da seguinte maneira:

- Povo do "Cupim tudo", é a primeira vez que eu falo trepado! Peço o voto de vocês porque somos tudo amigo! Desde os tempos que nóis trabaiava na roça; que nóis dormia em cima da sacaria e acordava com a boca cheia de pêlo de saco!

Mais adiante, tentou demonstrar familiaridade com o bairro desde antes da existência do arruado, quando ainda era campo de caçadas:

- Aqui onde hoje é essa praça eu já comi muito veado!

Anos depois lançou D. Sebastiana candidata à Prefeitura de Nova Luzitânia. Num dos comícios resolveu repudiar os adversários que vinham fazendo uma campanha difamatória contra a candidata:

- Ocês vivem metendo o pau na Bastiana por detrás, eu quero ver ocês meter o pau na frente dela!

Numa reunião da Câmara de Vereadores de um município da região de General Salgado, há muitos anos, um dos edis apresentou um projeto polêmico, que provocou apartes e discussões. Diz-se que aconteceu o seguinte diálogo:

- Nobre vereador, eu sei que o município tem muitos pobrema, a nossa situação tá pecuária, mas eu acho que nóis deve de fazer outra reunião pra discutir o projeto da caixa d'água!

- Tudo bem Insolência, o senhor quer renuir nóis renói!

- Veja bem Excelência, eu acho que nóis deve de consultar alguém mais aperparado para saber o melhor lugar da cidade pra instalação da bicha!

- Mas Insolência, o que tem a ver o lugar de construção da caixa d'água?

- É que a gente temos que considerar a Lei da Gravidade.

- Deixa de ser burro homem, se for preciso nóis revoga essa lei!

- O senhor não pode falar anssim comigo desse jeito, sua Excelência tá ofendendo minha Excelência! Se não pedir desculpas eu abro um processo e o senhor pode ser preso!

- Processa se for homem! Fique sabendo que se o senhor me processar eu contrato um adevogado e entro com um Habeas-cobras!

- Não é habeas-cobras, seu gonorante, é Corpus-Christi!

O presidente da mesa teve que intervir para por fim à contenda:

- Peço aos nobres vereadores que parem imediatamente com essa discutição, essa demonstração de intolerância. Excelências, essa casa de leis também deve ser uma casa de tolerância!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Memória 12 (Álvaro Almeida e Alvino Seixas)

Maria José e Álvaro Rodrigues de Almeida - Chegaram à região no final da década de 1920. Ele oriundo de Itaúna-MG, ela de Pará de Minas-MG. Todos os filhos do casal são salgadenses: Zeca (casou-se com Antonia Navarro), Losa (Otávio Vítrio), Tereza (Arnaldo Dias), Odilon (Conceição Desidério), Azenclever (Dulce Silva), Agostinho (Ângela Zanovelli), Domingos (Aparecida Seixas Marques), Ademázio (Adélia Dias), Álvaro Filho (Tereza) e Áurea (Lázaro Francisco).

Família Seixas - Os filhos mais velhos do casal Seixas: Arandira (casou-se com Braz Firmino Marques), Alzira (João Rodrigues), Lica (João Firmino Marques), Alcides (Valda Novaes, depois Dê), Nina (João Teodoro Castilho) e Nair (José Malagoli). Depois nasceram Adilson (Célia Terra), Alceu (Marinês Fatori, depois Lúcia Alioti) e Béba (Joaquim Garcia Sobrinho).

Alvino Bernardino de Seixas - Aparentado de João Bernardino de Seixas, fundador de São José do Rio Preto, Alvino e a mulher Andrelina viviam em Irapuã-SP e chegaram à região em 1939. Na foto: Braz Firmino, Arandira, Andrelina e Alvino.
(fotos: Álbuns das Família Marques e Almeida)

Laços de Família

Meu avô paterno Álvaro Rodrigues de Almeida foi um dos pioneiros de General Salgado. Veio de Minas Gerais no final da década de 1920 para trabalhar como peão de boiadeiro na Fazenda Almeida Prado, no atual município de Santo Antonio do Aracanguá.

Depois de juntar uns cobres comprou um pedaço de terra na região do Córrego do Lajeado, também conhecida como Lambari, onde se dividem os municípios de General Salgado e Auriflama. Ali onde ele viveu por quase setenta anos ainda vivem os meus pais: Domingos e Cida.

Os meios de transportes existentes à época eram montarias e carros-de-bois e o asfalto ainda estava muito longe, só existia estrada de terra e muito mato. As primeiras fazendas começavam a ser abertas, os primeiros povoados surgiam. As construções eram abastecidas por olarias e cerâmicas. Conduzindo carro-de-bois, vovô Álvaro buscava tijolos e telhas nas olarias de Vicentinópolis (conhecida como Olaria da Paula) e Buritama, destinadas à construção das primeiras casas de Auriflama e Salgado.

Por conta do pioneirismo, do caráter forte, da personalidade e principalmente, da amizade que se foi fortalecendo com os demais pioneiros, passou a ser tido como homem sério, correto e respeitado.

Naquele tempo se exercitava e se valorizava a palavra de um homem. Por vezes, autoridades cediam a argumentos de um cidadão de respeito na comunidade. Os serviços públicos eram prestados por pessoas nomeadas, sem preparo técnico suficiente.

Meu avô foi, naquele tempo, advogado de muita gente sem nunca ter freqüentado escola. Quando algum parente ou empregado de vizinhos de fazenda era preso por qualquer motivo, todos o procuravam pedindo ajuda. Ele arreava um cavalo, ia até a cidade e trazia o detido de volta. Quando faltavam argumentos convencia a autoridade no grito.

De certa feita foi chamado à Delegacia de Polícia de Monte Aprazível, então sede da comarca. Todo respeitoso o Delegado o chamou em sua sala e disse:

- Sr. Álvaro, nós o conhecemos como boa pessoa, mas recebemos uma denúncia de que o senhor possui um arsenal em sua casa. Estão dizendo que o senhor só anda armado!

Ele respondeu à autoridade:

- É verdade doutor, tenho muitas armas em casa. Se o senhor quiser pode ir conferir. Mas vá desarmado e enfrente no braço as onças que aparecerem no caminho!

O Delegado pediu desculpas, disse que ele podia manter as armas que quisesse e que, se fosse possível, da próxima vez que viesse à cidade lhe trouxesse de presente um couro de onça para fazer tapete!

Nos anos 50, para que para que os filhos mais novos freqüentassem a escola, comprou casa e tornou-se morador de General Salgado. Depois retornou à Fazenda e, nos anos 70 fixou residência em Auriflama, onde viveu até 1979, ano de seu falecimento.

Vindo da paulista Irapuã em 1939, Alvino Bernardino Seixas, descendente de João Bernardino de Seixas (fundador de São José do Rio Preto em 1852), arrendou terras em General Salgado, nas proximidades de Nova Castilho. Anos depois comprou uma grande fazenda na região de Major Prado para onde se mudou com a família. Já tinha estabelecido fortes laços de amizade com o vizinho Álvaro.

Duas das filhas, Arandira e Ataíde (Nina) comandavam os trabalhos na fazenda: tiravam leite, campeavam o gado, conduziam boiadas. Quando os patrões mandavam buscar ou levar gado para o Sr. Alvino, os peões das fazendas vizinhas relutavam em aceitar as ordens, pois costumavam passar vergonha diante das filhas do fazendeiro, cujas façanhas sobre as montarias e na lida com o gado corriam a região.

Álvaro de Almeida e Alvino Seixas viraram compadres, os filhos - dez Almeida, nove Seixas - estreitaram amizades. Fizeram votos de que houvesse um casamento entre eles. Zeca namorou Alzira e flertou com Araydes Seixas (Lica); Odilon namorou Anadir, mas nenhum destes namoros chegou ao altar.

Passaram-se alguns anos até que Domingos de Almeida começou a namorar Aparecida, filha de Arandira e Braz Firmino Marques, neta de Alvino, e os compadres renovaram os votos: agora vai! E para satisfação dos dois amigos, em 1964 o casal compareceu ao altar da Igreja de Nova Castilho onde recebeu as bênçãos do ainda moço Padre Vitorino. Dessa união surgiu este que vos escreve e mais Claudia, Cleber e Cleire.

Como a presença feminina praticamente dominava o ambiente familiar dos Seixas, os três filhos homens, Alcides, Adilson e Alceu cresceram à sombra das mulheres, que comandavam todos os trabalhos na fazenda, por mais árduos que fossem. Depois que as mulheres foram se casando e deixando o local, o serviço recaiu sobre os homens, que obviamente, não davam conta do recado. Nestas ocasiões Alvino costumava reclamar com o compadre Álvaro:

- Compadre Álvaro! Comprei uma vaca muito boa de leite, mas meus meninos, aqueles bananas, não estão dando conta de tirar leite, acham ela "muito dura"!

E o amigo Álvaro resolvia o problema:

- Amanhã eu mando os meus meninos levarem uma vaca "mole" para lá compadre, e a gente troca.

E no dia seguinte lá iam os meninos Almeida fazer a troca, que acontecia sem que um visse com antecedência o animal do outro, na pura confiança.

Ou então Alvino reclamava de uma mula mal domada, impossível de ser montada pelos "bananas". Dias depois lá iam os meninos Almeida buscar a redomona, deixando para os Seixas uma montaria mansa. De seu lado, se Álvaro reclamasse ajuda era prontamente atendido pelo compadre.

Assim como os patriarcas de outras tradicionais famílias salgadenses, Alvino Seixas e Álvaro de Almeida fizeram história, legaram para os sucessores nomes de respeito e consideração, e mais do que isso, a importância da amizade, do companheirismo, do compadrio.

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