quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Prefeitos e Vereadores

A história política da região de General Salgado é fértil em personagens e situações cômicas. Um destes personagens foi João Batista Botelho, o famoso João Cuiabano, por duas vezes Prefeito de Araçatuba, fazendeiro em Vicentinópolis, e que tinha muitos amigos em General Salgado. Arcídio Castilho e João Cuiabano foram lançados candidatos às Prefeituras de General Salgado e Araçatuba na mesma época, incentivados principalmente pelos amigos salgadenses.

Os compadres Alvino Seixas (fazendeiro em Major Prado) e Álvaro de Almeida (vizinho daquele, mas já em solo salgadense) estavam entre os principais incentivadores da dupla. Diziam aos candidatos para que fossem fazer campanha em outros lugares, sem necessidade de virem visitá-los durante a corrida, pois eles cuidariam de arrebanhar os votos necessários:

- Venham apenas para o churrasco de comemoração das vitórias! O que realmente aconteceu.

Eleitos, um auxiliava o outro na administração, pois até então General Salgado não dispunha de máquinas para obras de abertura e conservação de estradas e o Prefeito Arcídio Castilho as conseguiu com o compadre Cuiabano. Em troca, a Prefeitura salgadense atendia no que fosse possível, as necessidades dos araçatubenses que tinham propriedades do lado de cá do Rio Tietê.

Bons tempos aqueles em que os políticos preocupavam-se apenas com os benefícios à cidade e à população sem tomar nada em troca. Arcídio Castilho deve ser considerado um exemplo positivo de administrador. Quando deixou a Prefeitura depois do segundo mandato seu patrimônio era inferior ao que possuía quando assumiu o cargo pela primeira vez. Preocupou-se em cuidar mais da coisa pública do que dos bens pessoais.

Em compensação, para infelicidade dos salgadenses, existem outros que ocuparam o mesmo cargo em tempos mais recentes, cujas irregularidades administrativas apuradas pelo Ministério Público formaram processos de vários volumes. Dava para encher uma carriola com os abusos da corriola, se me permitem o trocadilho.

Tive a honra de conviver um pouco e conversar bastante com Arcídio Castilho. Ouvi com prazer suas histórias, seus relatos. Muitos salgadenses reclamam que ele deveria ser homenageado pela municipalidade, foi um homem simples e honrado que marcou seu nome na história da cidade com muito trabalho e dedicação. Qualquer homenagem seria mais do que justa, como, por exemplo, dar seu nome ao prédio da Prefeitura. Estou certo de que estampado naquele pórtico, mais do que incentivo, seu nome serviria de advertência aos atuais e futuros administradores para que defendam intensiva e exclusivamente os interesses do povo salgadense.

Não conheci João Cuiabano, mas conheci sua mulher, dona Sebastiana, e também os filhos e netos do casal. Conta-se que durante as campanhas eleitorais ele protagonizava situações muito engraçadas, até hoje narradas de pai pra filho.

Antigamente existia um bairro rural chamado Cupim, próximo a Vicentinópolis e lá aconteceu um dos primeiros comícios da disputa, iniciado pelo candidato da seguinte maneira:

- Povo do "Cupim tudo", é a primeira vez que eu falo trepado! Peço o voto de vocês porque somos tudo amigo! Desde os tempos que nóis trabaiava na roça; que nóis dormia em cima da sacaria e acordava com a boca cheia de pêlo de saco!

Mais adiante, tentou demonstrar familiaridade com o bairro desde antes da existência do arruado, quando ainda era campo de caçadas:

- Aqui onde hoje é essa praça eu já comi muito veado!

Anos depois lançou D. Sebastiana candidata à Prefeitura de Nova Luzitânia. Num dos comícios resolveu repudiar os adversários que vinham fazendo uma campanha difamatória contra a candidata:

- Ocês vivem metendo o pau na Bastiana por detrás, eu quero ver ocês meter o pau na frente dela!

Numa reunião da Câmara de Vereadores de um município da região de General Salgado, há muitos anos, um dos edis apresentou um projeto polêmico, que provocou apartes e discussões. Diz-se que aconteceu o seguinte diálogo:

- Nobre vereador, eu sei que o município tem muitos pobrema, a nossa situação tá pecuária, mas eu acho que nóis deve de fazer outra reunião pra discutir o projeto da caixa d'água!

- Tudo bem Insolência, o senhor quer renuir nóis renói!

- Veja bem Excelência, eu acho que nóis deve de consultar alguém mais aperparado para saber o melhor lugar da cidade pra instalação da bicha!

- Mas Insolência, o que tem a ver o lugar de construção da caixa d'água?

- É que a gente temos que considerar a Lei da Gravidade.

- Deixa de ser burro homem, se for preciso nóis revoga essa lei!

- O senhor não pode falar anssim comigo desse jeito, sua Excelência tá ofendendo minha Excelência! Se não pedir desculpas eu abro um processo e o senhor pode ser preso!

- Processa se for homem! Fique sabendo que se o senhor me processar eu contrato um adevogado e entro com um Habeas-cobras!

- Não é habeas-cobras, seu gonorante, é Corpus-Christi!

O presidente da mesa teve que intervir para por fim à contenda:

- Peço aos nobres vereadores que parem imediatamente com essa discutição, essa demonstração de intolerância. Excelências, essa casa de leis também deve ser uma casa de tolerância!

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