sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Memória 113 (Josi Mara e Filó, Carnaval 1995)


Carnaval 1995 - A repórter Josi Mara, da Rede Globo, entrevista a salgadense Filó Iannela no carnaval de 1995. Josi, que enquanto trabalhava na Globo visitou a cidade em diversas oportunidades, deixou o jornalismo e atualmente vive na Califórnia (EUA).
(foto: Álbum de Filó Iannela)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Trinta Anos

No início do ano de 1982 formávamos um grupo de adolescentes salgadenses ávidos por um pouco de diversão, por descobertas e aprendizado. Nosso contato com o mundo exterior se dava, como normalmente acontecia nas pequenas cidades interioranas, principalmente pelo noticiário de televisão e jornais. Mas, tínhamos especial apreço pelas informações e novidades contadas pelos salgadenses que haviam deixado a cidade algum tempo antes em busca de melhores condições vida, estudo e trabalho.

O retorno destes amigos à cidade era motivo de festas, reuniões e muita curiosidade de nossa parte. Ouvíamos com atenção e profundo interesse o que contavam do mundo lá fora. Isso acontecia de um modo muito natural, pois sabíamos que, logo chegaria a nossa hora de experimentar tudo aquilo, tomar decisões pessoais importantes, que assinalariam todo o nosso futuro. Olhando hoje para trás e ao meu redor, notando tudo o que aconteceu conosco ao longo desses anos, percebo o quanto aquele período influenciou positivamente os nossos preparativos para o que nos aconteceria.

Havíamos adentrado a puberdade e ainda sentíamos as consequências naturais dessa fase em que o desenvolvimento físico nos aproximava dos adultos, criando um ambiente emocional repleto de sentimentos oscilantes. Relações com o sexo oposto, cobranças do meio social, escolhas profissionais, formação de identidade e independência intelectual, formavam a matéria prima que a vida nos disponibilizava para que moldássemos, cada um a seu modo, o nosso desenvolvimento humano, a nossa maturidade social. O alvorecer da juventude nos impelia a dar início às nossas próprias aventuras, aceitar as mudanças psicofisiológicas, enfrentar os desafios do nosso meio, pensar em possibilidades... agir. 

Em fevereiro de 1982, porém, não estávamos muito preocupados com o que acontecia no resto do Brasil e no mundo. Dávamos pouca atenção às notícias que diziam que o país se preparava para dar adeus às belezas naturais de Sete Quedas; que teríamos eleições estaduais no final do ano; e que a censura perseguia sem descanso os meios de comunicação, a música e as artes. Por um lado, estávamos tristes pela perda precoce e inexplicável da adorada Elis Regina, o maior talento artístico do país naquele momento, e por outro, alegres e esperançosos com os resultados do time que Telê Santana preparava para disputar a Copa do Mundo da Espanha.

Um dia alguém sugeriu a criação de um bloco de carnaval para frequentar os bailes do Salgadense Esporte Clube e abraçamos a idéia. No dia 19 de fevereiro de 1982 saímos pelas ruas da cidade mostrando nossa corajosa opção pela alegria de viver. Os homens vestiam camisetas negras com um palhaço estampado nas costas, as mulheres vestiam vermelho e mostravam uma pantera negra. Sobre as estampas um nome festivo e descompromissado: Maluko. Na frente todos traziam os sinais da identidade que buscávamos formar: os próprios nomes.

Mostrar nossa alegria reunindo os amigos, cantando pelas ruas, brindando cerveja e festejando nos salões do clube, ainda era muito pouco para tudo o que queríamos da vida. Mas era o primeiro passo, era o que estava ao nosso alcance e o que bastava para revelar nosso espírito, nossa intensidade emotiva, nossa coragem para enfrentar os desafios que viriam. E fizemos isso com tanta intensidade e paixão, que contagiamos os amigos que decidiram não participar do bloco no primeiro ano, o que acabou culminando no surgimento, nos anos seguintes, dos blocos Tô-Que-Tô, Toloko, Balacobaco, PB!, Babilake e outros que a memória não alcança.

O bloco Maluko desapareceu em meados dos anos 90, no entanto, seu espírito ressurge nos meses de fevereiro, penetra em cada um dos recantos da cidade, anima a alegria dos foliões que cantam e dançam pelas ruas e se alimenta da vibração e energia dos abraços saudosos dos amigos que, trinta anos depois, mais uma vez se reencontram para celebrar a amizade e a arte de viver.

"...e a noite não tem fim é uma criança, em que se bebe e se embalança, e machuca o coração. Pega, vira, vira, roda, deixa a loira levantar, tem Maluko, ai que beleza , e cachaça pra tomar”.

E viva a vida!