segunda-feira, 31 de março de 2008

Memória 33 (Feira de Ciências 1982)

EE Tonico Barão (1982)
Durante feira de ciências comemorativa do 25º Aniversário da Escola. Em pé: Profa. Bel Negreiros Souza, Profa. Nely Cera, Guilhermina Iannela, Cláudia Cunha, Ângela Cavenage, Profa. Maria Antonia Castilho, Rosângela Desidério e Vilmar Prado. Em baixo: Elane Arruda, Ademir Fantini, Pedro Arruda e Carlos José de Almeida.
(foto: Acervo do Cinquentenário da EE Tonico Barão)

Saudades da Professorinha

Fiz o curso primário (assim eram conhecidas as quatro primeiras séries escolares) em Nova Castilho. Dirigia a escola o Professor Paulo Ricoy de Camargo, um nome que a meu ver, deve ser eternizado na história da cidade. Soube que atualmente a escola é dirigida pela filha dele, Célia Marta.

Nos dois primeiros anos minha professora se chamava Marlene, não guardei o sobrenome, sei que morava numa cidade vizinha, acho que em Monte Aprazível. Durante outros dois anos fui aluno de dona Sofia Garcia, esta sim salgadense, esposa de Naé Prado.

Na pequena escola de Nova Castilho tive companheiros de sala cujas amizades ainda guardo com carinho: Chiquinho, Eduardo Nascimento, Cássia Marques, Ângela Cavenage, Kiko Righi, Claudinei dos Anjos, Tigrinho, os gêmeos José e Manoel Garcia, Miguelzinho Feitosa (que há tempos subiu ao andar de cima, vitimado no mesmo acidente que levou Isabel Honorato).

Outros desapareceram e nunca mais tive notícias, são nomes que ao lado de trêmulas fisionomias ficaram na memória: Nelson Gasolina, João Batista, Aparecido, Quinalha, Adevair, Lurdinha, Carlos De Grande, Shodi, Cidinho, Quinha Siqueira.

O inspetor de alunos era José Garcia Junior, o Zé Martelo, que tempos depois faleceu num acidente estranho. Montado a cavalo conduzia algumas cabeças de gado pela estrada municipal, quando, nas proximidades da ponte do Ribeirão Açoita Cavalos, no Bairro do Gabriel, foi atropelado com cavalo e tudo por um ônibus.

Para que eu ingressasse na 5ª Série do então chamado primeiro grau, nos mudamos para General Salgado. Fui matriculado na EEPG Ângelo Scarin, que funcionava no prédio que hoje abriga a Escola Azilio Antonio do Prado, próximo ao Fórum.

Merece destaque o fato de a cidade ter duas escolas agraciadas com os nomes de seus antigos zeladores. São fatos significativos, homenagens mais do que justas.

Fiquei surpreso com o grande número de professores. Estava acostumado a um único docente o ano todo e ali passei a ter mais de meia dúzia: Maria Izaltina Castilho, Nely Cera, Marlene Barnabé, Maria Rosa, Leny Caseli, Adilson Dib, Lúcia Helena Castilho, Adelino Longui, Célia Possetti Marzocchi, Degene May, Luzia Rodrigues, Beto Scarin, são alguns que me vêm à memória. A inspetoria de alunos cabia ao Zé Frota.

Cursando as quatro últimas séries do 1º grau no Ângelo Scarin, firmei algumas das mais profundas amizades que conservo na cidade: Zé Antonio Fernandes, Mané Bernabé, Vilmar Prado, Leandro dos Santos, Regina Cervantes, Suzana Marques, Vânia Mendonça, Mineirinho.

Outros companheiros daquelas salas – alguns nunca mais deram notícias, outros ainda na cidade - são lembrados com carinho: Cláudia Gossn, Gislaine Bazela, Célia Desidério, Marli Graça, Roberto Tabareli, Pepê, Rosângela Desidério, Ariene Silva, Olga Franzin, Zé Luiz Fantini, Newton Leandro, Carlos Galhardo, Ivan de Moraes, Carlinhos Rodrigues, Ivone Vieira, Dedeca Longo, Elena e Zé Carlos Zocal, Sueli Castilho, Jecir Cardoso, Ilídio Martins, João Santana (este último, anos depois Prefeito de S. J. Iracema).

Não posso deixar de registrar que havia no Ângelo Scarin uma patotinha feminina que atraia a atenção de todo mundo por conta da beleza e simpatia das moças. Dentre elas: Eliane Sirotto, Cássia Veschi, Ariene Silva, Valéria Poloni, Dina e Dirce Gossn, Silvia Tabareli e Marli Tavares.

As três séries do segundo grau cursei no Colégio Tonico Barão, onde concluí a preparação para alcançar a Faculdade. Dirigida pelos Professores Erotides de Paulo e Kimiko Okuda, a escola mantinha outras atividades de muito interesse, como a fanfarra, grupos de teatro, coral, campeonatos esportivos internos e intermunicipais.

Com muita honra recebi ensinamentos de Maria Antônia Castilho, Ivete Fiorussi, Yassushi Yano, Procópio Prata, Bugio (depois Prefeito de Floreal), Isabel Negreiros Souza, José Barnabé, Téia (que também já nos deixou), Dioracy, Ercílio, Bellini, Léia, Marilei e muitos outros.

Antonio Carlos e Marli Crivelari cuidavam da secretaria, a inspeção dos alunos cabia a Dílson Santana e Darcisa Tomaz de Aquino, mas a dedicação do seu Cido Prado como zelador do colégio não pode deixar de ser lembrada.

Algumas experiências me marcaram positivamente. A primeira foi ocupar a presidência do Centro Cívico, eleito em escrutínio direto. Meu amigo Leandro dos Santos ocupava a vice-presidência, e os demais membros da diretoria eram: Ariene Silva, Giane Rodrigues, Zé Antonio Fernandes, Mauro Bertochi, Elena Zoccal, Adriana Ribeiro, Zete Fernandes e Dulcimar Cunha.

Dentre os eventos que promovemos alguns marcaram pelo ineditismo, como um Festival do Sorvete, em abril de 1982, com a distribuição de 400 litros de sorvetes Kibon e sorteio de prêmios para os participantes.

No mesmo ano lançamos um jornalzinho interno, o Folhetim Estudantil, coordenado pela Professora Ivete Fiorussi e dirigido por mim com o auxílio dos amigos Mauro Bertochi, Elena Zoccal, Cláudia Afonso e Sônia Veschi.

O folhetim tornou-se um grande sucesso na escola, pois além de notícias e debates de assuntos curriculares, trazia poesia, literatura, aniversários, fofocas e muito humor. Sob minha direção aconteceram nove edições, todas ainda guardadas com muito zelo.

Em agosto de 1982 a Associação de Pais e Mestres da escola, presidida pelo Professor Yano e auxiliada por uma comissão de pais de alunos, promoveu no Campo da Creche a 8ª Festa do Peão de Boiadeiro. O Centro Cívico foi responsável pela principal barraca do evento e como grande novidade servimos chopp, bebida até então inexistente nos bares e lanchonetes da região.

Os campeonatos interclasses de futebol de salão também eram um grande evento da escola, atraindo populares que lotavam as arquibancadas da quadra esportiva. As finais quase sempre eram disputadas entre os turnos da manhã e da noite.

Uma das mais acirradas envolveu a 3ª Série Matutina: Pedrinho Arruda, Vagner Longhini, Zezé Toledo, Pelé e Valdir Cardoso; contra a 3ª Noturna: Leandro dos Santos, Carlos José, Zé Antonio Fernandes, Mineirinho e Vilmar Prado.

O embate ficou na história como um dos mais disputados. Lembro-me que marquei o primeiro gol do jogo, logo nos primeiros minutos. O time deles era muito bom, Zezé Toledo era um craque, sabia tudo de bola. Pelé era um mulato forte, também de Nova Castilho, habilidoso, driblador. Vagner Longhini tinha um petardo.

Faltando uns dez minutos para o encerramento, vencíamos por 3x2, num jogo apertadíssimo, muito corrido. Mineirinho provocou tanto os juízes que acabou expulso, ficamos com quatro jogadores para segurar a reação dos matutinos, sob o maior sufoco.

A torcida – bastante dividida – empurrava os dois times, até que, faltando uns dois minutos para o término roubamos uma bola e conseguimos marcar o quarto gol, matando o jogo e arrebatando a taça. Pura emoção.

Aliás, preciso contar aqui que quem fez o gol decisivo foi o Vilmar Prado, senão ele briga comigo! Aquele baixinho adora ser reconhecido como artilheiro matador! Façamos justiça então.

Naquele tempo, num dos campeonatos de férias do Salgadense Esporte Clube, dirigi um time de alunos para representar a escola, na categoria mirim. O time se chamava Tubarão e sagrou-se campeão. Tenho guardada a relação dos – então pequenos – atletas: Altino Fornazari, Dilo Xavier, Eduardo Spadácio, Roberval Cunha, Adevair Lopes, Luiz Antonio, Tadeu Alves e Tacilinho Ferraz.

Nestes tempos em que o ensino público anda tão desprestigiado e que, em contrapartida, as escolas particulares afloram e passaram a ser sinônimo de boa preparação para o futuro, pensar que fui educado em escolas públicas e que consegui passar em vigésimo lugar no único vestibular que prestei, sem qualquer outro tipo de curso preparatório – o que também aconteceu com muitos outros salgadenses - é para mim tão gratificante quanto agora e sempre dizer a todos os mestres: muito obrigado!

No Colégio Tonico Barão o grande Professor Yano sempre foi tido como o mais sério, severo, exigente e formalista de todos. Coitado do aluno que não trouxesse em dia o caderno, não passasse a limpo os pontos ou não mantivesse em ordem capa, fitinha, bolão, estrelinha... Tinha mania de chegar de repente na sala e dar uma ordem: “tirem uma folha, vamos fazer uma provinha...”. Pegava todo mundo de surpresa, era um sufoco.

Mas no fundo, seu Yano sempre foi um gozador de mão cheia, não perdia oportunidade de pregar peças em colegas e alunos. Presidente da APM com sisudez no controle de gastos, convenceu-se de que deveria comprar novos jogos de xícaras para o café dos professores, sem dizer nada a ninguém. Quando se preparava para dar fim nas xícaras velhas e abrir o pacote das novas, foi procurado pelo professor Procópio Prata:

- Yano! Preciso falar com você!

Com aquela cara séria que o caracteriza o professor Yano virou-se para o colega, foi pegando as xícaras velhas e atirando no lixo com força. Os cacos foram se amontoando e ele – ainda destruindo pires e xícaras – inquiriu o colega:

- O que é que você quer?

Procópio, sem entender nada, nem argumentou, entrou na secretaria e pediu socorro:

- Gente o Yano ficou maluco, tá destruindo tudo lá na Sala dos Professores!

Foi uma semana de gozação, seu Yano repetia a história, se lembrava da palidez do assustado Procópio e a cada narrativa ria mais ainda.

Acho que a vítima da troça ficou vários dias descansando lá em Magda antes de aparecer de novo na sala dos professores.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Memória 32 (EE Tonico Barão - Anos 1960)

Colégio Tonico Barão (Início dos anos 1960)
Benedito Fernandes, Norival Cabrera, João Moreira Filho, Wilson Duran Pompílio, Pedro Joaquim de Lima, José Arnaldo e Joaquim Garcia Castilho. Alunos durante intervalo de aulas no Colégio. Ainda era o prédio antigo, perto da atual Santa Casa.
(foto: Acervo do Cinquentenário da EE Tonico Barão)

Miado de Rã

Foi-se o tempo em que a garotada vivia empunhando estilingue e bodoque atrás de passarinhos.

Em Nova Castilho costumávamos reunir uma turma para sair caçando pelas fazendas vizinhas e depois combinávamos um encontro para que a mãe de um dos caçadores preparasse os quitutes: pombas, rolinhas, codornas, nhambus, perdizes e outras aves de apurado sabor, e que devorávamos com prazer.

Depois de mais crescidos alguns caçadores ganharam espingardas de pressão e foram paulatinamente aposentando os estilingues.

Antes de encerrar minha carreira de caçador tive a oportunidade de usar as cartucheiras, especialmente de calibre 40, mais apropriadas para pequenas aves.

Como a vida da gente muda não é? Há muito tempo eu acho um absurdo caçar ou prender passarinhos, mas na minha adolescência tudo isso era visto como uma coisa normal. Nunca gostei de passarinho preso, mas adorava quando papai aparecia em casa trazendo uma codorninha dependurada na cabeça do arreio.

Também era muito normal naquele tempo chegar à casa de alguém e encontrar a mesa posta com algum tipo de caça: tatu, cotia, paca, capivara, preá, jacaré; tudo isso eu experimentei e gostei.

Mas sempre tem aqueles que exageram na dose e passam a experimentar e gostar de umas iguarias estranhas. Conheci um médico em Araçatuba que comia cobra e outro cidadão que adorava comer teiú. Isso mesmo, aquele imenso lagarto comedor de ovos que vive rodeando o poleiro das galinhas.

Quando se fala de comida cada um tem um gosto e também suas manias. Quando criança eu adorava comer o miolo, cérebro de galinha ou de leitoa. Ah! que delícia!

Outra coisa também muito natural na minha infância e para a qual muitas pessoas torcem o nariz é o testículo do boi, que comumente chamamos de bago. Quando vovô Braz Firmino reunia a peonada para a tradicional castração dos bois, a gente ficava na expectativa de que vovó Arandira faria uma bagada de primeira. Comer ela não comia (e nunca comeu), mas preparava tão bem que nunca mais encontrei igual.

O saudoso Jaburu – de tantas e tantas artes - adorava tudo isso, caçar, pescar, preparar algumas comidas diferentes, inclusive bagos de boi. De certa vez descobriu que nuns banhados próximos ao Córrego do Gabriel abundavam gordas rãs.

A partir daí passou a caçá-las e prepará-las para os amigos. A cada quinze, vinte dias, fazia uma visita aos brejos e açudes da região e avisava a turma. Cada dia preparava um tipo diferente de prato e todo mundo adorava a sessão de degustação.

Quem ainda não experimentou não deve perder a oportunidade quando ela surgir. A carne de rã além de saudável é deliciosa. E não pense que você vai ver o bicho no prato e se espantar com a aparência. É a mesma de um frango em pedaços, as coxas da rã se assemelham em tamanho e forma à coxinha da asa de frango. O gosto é muito próximo do peixe.

Em se tratando desses pratos diferentes a maioria das pessoas não se atreve nem a experimentar, torcem o nariz de cara e ainda brigam com quem ofereceu. Por isso sempre acontece de as pessoas experimentarem enganadas para depois reconhecerem a delícia do petisco.

Recebi em Araçatuba a visita de três amigas salgadenses: Fabíola Belletti, Uta Garcia e Ana Luzia Cândido. Iam prestar uma prova ou algo assim e me deram a honra de hospedá-las. Com os amigos Zé das Vacas e Preto Cornélio, saímos no fim da tarde para tomar uns chopes, fomos a um dos mais tradicionais restaurantes da época, o Esconderijo.

Elas não sabiam, mas além do melhor chope da cidade o Esconderijo tinha a melhor porção de rãs da região. Fiz o pedido sem que elas percebessem e atrevidamente mentimos dizendo que era um peixe qualquer. Cientificadas da realidade em meio a uma enxurrada de chope, a estranheza acabou passando batido e elas não só adoraram como ainda pediram mais.

De outra vez aconteceu com minha irmã Cláudia e algumas amigas que a visitavam. Havia outro barzinho que preparava – só para a diretoria, ou seja, para os freqüentadores mais assíduos – uma bagada de boi daquelas especiais. Convidamos as moças para experimentarem um filé de piapara justificando que se tratava de um peixe do Rio Tietê, tradicional na região. Só depois que elas consumiram duas generosas porções foi que contamos a verdade. Até minha irmãzinha queria me bater.

Mas em matéria de prato exótico e gente enganada ninguém aprontou melhor que o velho Jaburu, o grande caçador de rãs de General Salgado.

As reuniões periódicas que os amigos promoviam na sua casa ficaram famosas, as notícias sobre os diversos pratos com rãs correram à boca pequena e muita gente queria ser chamada para os encontros. Tanto comentavam que muitas pessoas se interessaram em experimentar. Um seleto grupo de amigas avisou o anfitrião pedindo para que fossem convidadas na próxima oportunidade.

Num dia de semana as moças saíam da escola quando foram avisadas de que o Jaburu estaria preparando rãs especialmente para elas. Lá chegando perceberam que a turma estava festejando havia horas, já tinham comido uma porção e o cozinheiro preparava outra, esta reservada para as visitas especiais.

O prato foi servido e os demais disseram que estavam satisfeitos; a segunda remessa fora destinada exclusivamente às garotas. Depois do jantar elas reconheceram e confessaram que a carne de rã era realmente muito saborosa, especialmente se acompanhada de uma cervejinha glacial, como foi o caso.

No dia seguinte uma coisa estranha começou a acontecer com as meninas, o telefone tocava e ficava mudo, ao fundo se ouvia uma voz estranha: “Miau!”.

Uma delas passou defronte à loja veterinária do Jaburu e lá de dentro ouviu alguém gritando: “Miaaaaaaaau”. Com as outras a mesma coisa. De desconfiadas passaram ao desespero, do desespero ao nojo, do nojo ao ódio e só não partiram para a agressão porque os gozadores davam tanta risada que elas não criaram coragem suficiente.

A verdade é que dias antes Jaburu havia matado a tiros um gato que teimava em perseguir os passarinhos que viviam no quintal de sua casa. Morto o animal, resolveu limpá-lo e guardá-lo no freezer, por certo apareceria alguma coisa para aprontar com o bichano.

Como naquele dia a turma chegou mais cedo para a festa e comeu toda a rã que estava realmente sendo preparada para as moças, o jeito foi levar o felino para a panela e oferecê-lo às convidadas Sônia Costa, Filó Iannela, Rosa e Lúcia Lopes.

Sei dizer que esta história correu mundo e é repetida há muitos anos com alguns detalhes diferentes, inclusive com a incorreta identificação das vítimas. A verdade é nua e crua como estou contando aqui e posso garantir que por muito tempo as moças não puderam sequer avistar um bichano atravessando a rua sem sentir revirar o estômago.

Hoje em dia – tantos anos depois – acho que suportam ouvir miado de gato novamente.

Só não podem sentir o cheiro!

segunda-feira, 17 de março de 2008

Novas Gerações 1

Dylan Henrique Marques - Nasceu no dia 15.03.2008, nos Estados Unidos, mais um descendente do pioneiro Oswaldo José Marques. Dylan é filho de Allison e Bruno Marques (filho de Maria Helena e Euclides Marques), que vivem nos EUA.
Inauguramos hoje neste blog a seção "Novas Gerações" com a intenção de mostrar as novas gerações de salgadenses e, com isso, também olhar para o futuro.
Mandem fotos e informações para o nosso embornal.
(foto: Álbum de Bruno Marques)

Nos Bares da Vida

Durante um carnaval – 1985 ou 1986 – aconteceu a inauguração do melhor boteco que já existiu em General Salgado: o Pereka’s.

Naquele tempo o movimento noturno estava centralizado na Lanchonete do Zé Frota, então sob a responsabilidade de Dona Maria Giamatei e filhos: Júnior, Cláudia e Roberval Cunha.

Para criar um ambiente alternativo, nosso amigo Eduardo “Pereca” Fernandes instalou um trailer no quintal de casa (na esquina das Ruas Diogo Garcia e Dr. Bruno Martins), fez uma cerca de madeira na esquina e passou a oferecer bebidas e quitutes até então nunca vistos na cidade.

Como a inauguração aconteceu durante um carnaval imediatamente o local se tornou o ponto principal da cidade. Pela primeira vez, inclusive, os foliões puderam tomar canja de galinha na madrugada, antes de refestelarem-se no necessário descanso preparatório para outra noite dos embalos do Rei Momo.

Na madrugada do primeiro dia, depois do último sopro do piston nos salões do Salgadense, juntamos a turma na calçada do Pereka’s. Uns aguardavam a canja, uns tomavam as penúltimas cervejas, outros esperavam carona e todos ainda animados.

Eu e o Vande Mendonça, para não perder o jeito, ainda tomávamos um dos últimos uísques da noitada. De repente alguém olhou para cima e conseguiu enxergar uma luzinha vermelha muito longe, para os lados da rodovia: “Puxa, mas aquela torre da Rede Globo é alta hein!”. Aí retrucou o nosso amigo Gappa (Willians Carlos de Castro), já em aparente estado letárgico depois de uma noite inteira de bebedeira:

- É alta, mas eu subo nela mesmo assim! Se vocês pagarem uma rodada de cerveja para todo mundo eu subo agora...

O pessoal ainda discutia se teria ele coragem e quem pagaria ou cobraria a aposta quando o Gappa já dobrava a esquina, seguido por um ou dois, no rumo do Jardim TV. Minutos depois, incrédulos, assistimos da esquina do Pereka’s a luz de sinalização da antena da TV Globo se apagar, desprendida pelas mãos do maluco do Gappa.

Na madrugada do dia seguinte, a mesma turma ocupando uma das mesas, todo mundo com o dinheiro meio curto, Vande se lembrou da aventura do dia anterior e da rodada de cerveja que correu patrocinada pelos curiosos e saiu pelas outras mesas:

- Se vocês pagarem uma caixa de cerveja o meu amigo Gappa vai apagar a lâmpada da torre da Globo!

Durante a Copa do Mundo de 1986 a turma se reunia no Pereka’s para assistir aos jogos do Brasil. Eu vinha de Araçatuba para não perder os festejos.

Muitas foram as vezes em que, altas horas da noite, bar fechado, a turma resistia bravamente no quintal atrás do trailer, churrasqueira acesa, freezer congelando a cerveja, violão e cantoria madrugada adentro.

Lá pelo final dos anos oitenta o dono não agüentou o rojão e vendeu o Bar para Leônidas dos Santos, o nosso amigo Boinha. Veterano freqüentador dos bares da vida, Boinha pela primeira vez na vida se meteu por detrás de um balcão.

Nos primeiros dias achou que sozinho dava conta do recado, não contratou ajudantes. Sábado à noite, movimento intenso nas ruas, todas as mesas tomadas, chega um grupo desconhecido, de alguma cidade vizinha, ocupa uma mesa e o Boinha corre para atendê-los. Vai anotando os pedidos: uma cerveja, um whisky, uma vodca, e o último soou estranho: um raifái.

Raifái? O botequeiro ficou matutando sobre o pedido, mas não deixou transparecer o desconhecimento: Trago tudo já. Levou a cerveja, o uísque e a vodca e avisou o quarto freguês: calma que o teu pedido já vem!.

Começou a procurar por detrás do balcão e pelas prateleiras: Meu Deus do céu, eu tenho mais de vinte anos de boteco e só agora me dei conta que nunca vi esse tal de raifái! Como será o rótulo desta porqueira?, vaticinava.

Vasculhou o depósito, procurou garrafa por garrafa e nada. A única saída foi voltar à mesa e improvisar uma desculpa:

- Meu amigo, me desculpe, mas a última garrafa acabou ontem, eu pedi e ainda não chegou. Escolhe outra coisa...

O rapaz olhou o copo do companheiro cheio de vodca e gelo e retrucou:

- Acabou a vodca?

- Não! Vodca tem bastante! – avisou o atendente.

- Então me traga uma vodca e uma Fanta. Misturou as bebidas na frente do Boinha e avisou: Moço, isso aqui é raifái!

Foi assim que o Velho Leônidas ficou sabendo da existência de um drinque de vodca com suco de laranja (ou refrigerante) chamado “Hi-Fi”, nome emprestado da abreviatura pela qual eram conhecidas as antigas vitrolas importadas dos EUA.

Meio desconcertado, ainda tentou se justificar:

- Não liga não, é que eu sou meio novo no negócio, tô aprendendo agora...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Memória 31 (Uma data, duas fotos)



1975 - Uma data, duas fotos - Israel de Moraes (Raé) promoveu um mini-campeonato de futebol com a garotada salgadense, no Estádio Paulo Posseti. A primeira foto pertence a Mané Bernabé, a segunda nos foi enviada por Ivone Fantini, irmã de Zé Henrique Fantini (ambos ajudaram na identificação dos garotos). Duas fotos do mesmo momento, tiradas há mais de 30 anos.
Em pé: Cartolina, Baianão, Tico, Zé Carlos Rodrigues, Mané Bernabé, Nelson Seraphim Junior (segurando a taça), Leta Pereira da Cunha e Israel de Moraes.
Segunda fila: Fabiano Otsuki, (segundo não identificado), Zé Henrique Fantini, Pimbinha, Adriano Garcia e Negão.
Sentados: Bráulio Gualda, (não identificado), Kenzo Yano e Nei Gordo. Na primeira foto aparece alguém antes do Bráulio, que também não foi identificado.
Ajude a identificar os demais, mande um e-mail pra gente.
(fotos/colaboração: Mané Bernabé e Ivone Fantini)

sábado, 8 de março de 2008

Um Dedo de Prosa

Parte destas memórias foi publicada na internet entre 2001 e 2002, quando os irmãos Acir e Emerson Vieira criaram o primeiro website sobre General Salgado. Naquela ocasião publiquei aproximadamente 70 crônicas.

Ao retomar o projeto neste blog, além das anteriores - algumas reescritas, aditadas ou atualizadas – tenho produzido novos textos, alguns com base em anotações antigas, outras a partir de novas pesquisas, e muitas com o auxílio dos internautas, amigos que me socorrem com gentileza e talento.

O blog teve início em julho de 2007, mas somente em janeiro de 2008 acrescentei um contador de visitas. Em dois meses recebemos mais de duas mil visitas, um número surpreendente para um pequeno blog sobre uma cidadezinha interiorana. Fiquei muito surpreso e feliz, pois achava que minhas histórias atraíam apenas uma meia dúzia de amigos.

O excelente número de visitas, no entanto, ainda não me permite dizer se estou certo quanto ao conteúdo, não sei se achei o tom, o fio da meada, fico acreditando, às vezes, que falo mais de mim do que deveria. Mas seguindo nesse rumo, acho que estou conseguindo resgatar grande parte do folclore salgadense sem fugir da idéia que originou o projeto.

A participação dos leitores é o que há de mais importante, recebo com muito prazer cada comentário. Por e-mail ou por registros na página, recebo apoio, críticas e notícias de amigos que não sabia por onde andavam, além de outros tantos que sequer conhecem a cidade, mas acabaram atraídos pelo conteúdo.

A maior e mais grata surpresa foi a indicação pelo jornalista Ricardo Noblat, do Jornal O Globo, na sua relação de páginas que vale a pena acessar.

Desde maio de 2001, quando as primeiras histórias foram para a grande rede, muitos amigos correram a se manifestar e, especialmente, incentivar o intento. A grande maioria, para nossa satisfação, não deixou de elogiar a iniciativa e de nos contar como buscaram amenizar as saudades da terrinha através das nossas crônicas.

Vejam o que me contou Lara Castilho:

“Um dia um conhecido fez um comentário dizendo que era vergonha ser de um lugar tão pequeno, desconhecido. Então eu expliquei do orgulho que eu tinha de ser ‘de Salgado’, de como eu aproveitei minha vida, da minha família, meu avô, enfim minhas origens que amo. Ele ficou surpreso com tudo que falei, e foi um alerta para mim. Agora eu falo ‘sou de General Salgado’, uma cidadezinha maravilhosa que fica perto de...’. Agora com a Internet já podemos divulgar mais a terrinha né?”.

Para quem não sabe, Lara é neta de um dos salgadenses mais notáveis que conheci, o ex-prefeito Arcídio Castilho. Vive em Santa Catarina, é fonoaudióloga e professora universitária.

Assim que contei algumas de suas aventuras em solo salgadense meu amigo paulistano Maurício Galhanone passou a fazer propaganda do site para os amigos. Fez questão de parabenizar este escriba:

“Meu grande amigo CJ, eu que sempre achei que assim como as onças pintadas e os amansadores de burro brabo, os contadores de causo também estivessem em extinção neste planeta terra. E não é que você está se saindo um com contador de causos, mas bão, bão mesmo!!!”.

Minha estimada amiga Filó Iannela desde o primeiro instante colaborou com as histórias e, mais do que isso, nunca deixou de se manifestar sobre a minha prosa. Seus e-mails serviram-me de norte, de alento e, por que não dizer, muitas vezes me renovaram as forças, trazendo-me novas aragens. Digo isso porque foi através da primeira mensagem que dela recebi foi que percebi o quanto é incomum a sensação de poder emocionar as pessoas.

Foi o que aconteceu com a crônica Reencontro sobre a qual me escreveu o seguinte:

“Traduzir a emoção que senti na sua narrativa de hoje fica difícil. As lágrimas rolaram pelo meu rosto. Uma emoção de saudade de tantas pessoas, não gosto de viver do passado e sim viver o presente, mas o passado nos mostra esses valores tão importantes em nossas vidas. Amigos são o bem mais precioso que pode existir em nossas vidas. Realmente essa história vai ficar em minha memória com muito carinho. Que a cada dia Deus possa inspirá-lo para mais histórias como essa. E que todos os adolescentes que venham a ler possam ter a honra e a dignidade de serem homens de bem como tantos cidadãos Salgadenses. O país realmente precisa dessas histórias para ser um pouquinho melhor. Parabéns”.

Ah! amiga Filó, ainda bem que você me conhece o bastante para saber o quanto a tua mensagem me encheu de orgulho e de satisfação. A mesma crônica mereceu confetes de Magda Bertochi, Eliani Benzatti, Elaine Marques, Antonio Carlos Marques.

De repente foram surgindo mensagens de salgadenses que há tempos eu não via, não tinha notícias. Marilete dos Santos Souza (com quem trabalhei no antigo Escritório Presidente lá no final dos anos 70), esposa de Antonio Carlos “Cabrália”, antigo funcionário da Nossa Caixa, me escreveu para contar que estão residindo em Sorocaba e que, por acaso, descobriram por lá um médico que tem origens em Nova Castilho.

Por falar no Antonio Carlos me lembrei que sua irmã Norma dos Santos, é uma salgadense que deve orgulhar nossa gente. Há muitos anos trabalha no Ministério do Planejamento, em Brasília, como analista de orçamento, cargo para o qual foi aprovada em concurso. E por sinal, não deixa de acompanhar as novidades da terra pela internet.

O casal Saponga e Deonília enviou comentários junto com uma fotografia da filhota Gabriella, “que apesar de paulistana considera-se salgadense”. Minha madrinha Ivani Cabrera também deu o ar da graça.

Lafaiete Ramos, de quem não tinha notícias havia anos, fez questão de registrar sua visita ao site: “viajando pelo site dos salgadenses vi sua crônica, me fez lembrar de nossa infância e bateu saudades. Bom saber que nossa memória se encontra viva. Valeu!”.

Após visitar a página, conhecer as histórias narradas e verificar a existência de uma fotografia de seu pai na seção Memória, a Professora Fátima Castilho (filha do Sr. João Castilho) residente em Sinop (MT), me mandou uma mensagem de Porto Alegre (RS), onde cursava Mestrado na UFRGS:

“Quero parabenizá-lo pelo trabalho que você vem desenvolvendo no sentido de resgatar aspectos históricos da gente dessa terra e de municípios circunvizinhos. Trata-se de uma iniciativa demasiadamente significante, para os familiares e para a população jovem salgadense. Muito mais que isso, este seu projeto de cunho sócio-histórico traz o significado de que a história de um povo é a história de seus homens. É o homem o produtor e o construtor de sua própria história e da história de sua gente. Quero, sobretudo, agradecer em nome de toda minha família sua iniciativa em ter divulgado a foto, na qual aparece meu falecido pai entre aqueles muitos homens batalhadores e dignos que escreveram a história de General Salgado, e por isso merecem ser lembrados e estarem vivos na nossa memória”.

Mais do que um prêmio para mim estas mensagens revelam a importância da página e de nela se registrar a nossa história, a nossa gente.

Para encerrar esta primeira parte deste breve resumo do que aconteceu por aqui, preciso registrar que uma das primeiras pessoas a me cumprimentar foi Uta Garcia, também uma boa amiga de longa data, e que há tempos deixou Araçatuba, onde viveu por muitos anos, para se fixar em São José do Rio Preto.

Logo nas primeiras semanas recebi sua mensagem:

“Oi Cal! Li todas as suas crônicas e quase morri de rir com a do Pitocão procurando o Lilico de Salgado... Muito legal, parabéns!”.

Dois minutos depois chegou um segundo e-mail com uma única frase:

“Lilico? Será que era Lilico?”.

Não Uta, não era Lilico, era Titico. Mas assim mesmo valeu!

A todos os que visitam o blog, aos que contribuem, registrando ou não as visitas, muito obrigado. Vocês são o motivo principal de tocarmos o projeto adiante.

Voltem sempre e que Deus os abençoe.

Memória 30 (Festa de Reis - 1989)

Festa de Reis no Córrego do Lajeado (1989)
João Castilho, Orlando Garcia, Luiz, Oplínio Cândido Alves, Ricardo e Alexandre Bonetto.
Agachados: Domingos de Almeida, Nelito Dias e Nêgo Colombo.
(foto: Álbum de Lósa Rodrigues Vítrio)

segunda-feira, 3 de março de 2008

Torcedores e Carreatas

Em Nova Castilho quase todos os meus amigos eram são-paulinos. Eu pensava que a torcida do São Paulo F.C. era a maior do Brasil. Meus primeiros amigos foram os irmãos tricolores Alecindo Júnior, Marcos e Ulisses Barbosa.

O amigo Zezé Toledo (assim como seu irmão Paulo Sérgio, o Potó) foi são-paulino até os dez, doze anos, depois, não sei se por influência do primo Kiko Righi, bandeou-se para o pequeno grupo de palmeirenses. Corintianos só dois: Negão Righi e Pedrinho Arruda. Ainda havia outros tricolores: Zé Antonio, Eduardo Rosa, e outros que me fogem à memória.

Mudei-me para General Salgado e levei um susto. No meu bairro não havia um único torcedor do tricolor paulista. Meus primeiros vizinhos citadinos Celso Cardoso, Serginho Guimarães (Mão Branca), Zé Henrique Fantini, Airton Poloni, Élio de Freitas, Cássio de Vergílio, Marcos Ondei Nunes, formavam um enorme grupo de palmeirenses, ao qual, depois de algum tempo, se somaram Zé Antonio Fernandes, Mané Bernabé e Zé Roberto Iannela.

Conheci os primeiros santistas: Leandro dos Santos (Kaluzinho), Vilmar Prado e Renato Fantini; e um outro grupo de corintianos: Mineirinho, Paulinho Giamatei, Nelson Seraphim Júnior. Nada de são-paulinos.

Até que um dia me convidaram para jogar futebol num campinho que havia onde hoje se acha construída a Escola Ângelo Scarin, e que ficava bem defronte a Delegacia de Polícia. Era um campo de areia, com traves de ferro, muito movimentado nos finais de tarde. Lá conheci cinco são-paulinos de uma só vez, mas havia um detalhe estranho para mim: eram todos descendentes de orientais, dois grupos de irmãos: Kenzo e Shizuo Yano; Leandro, Carlos e Fabiano Otsuki. Pensei comigo, "será que aqui na cidade não tem são-paulino brasileiro?".

Demorou algum tempo pra que eu conhecesse outros: o Nera (Laurico de Almeida) e seus irmãos Toninho e Ditinho (os dois infelizmente, já no andar de cima), tricolores como o pai deles, seu Benedito de Almeida. Os outros irmãos - Paulo Pateta e Serginho - desgarraram-se para as bandas do Corinthians.

Também tinha o Saracura, ex-motorista da Prefeitura, que partiu para o andar de cima no mesmo acidente que vitimou os irmãos do Nera.

Os corintianos fizeram pelas ruas da cidade uma passeata histórica na conquista do título paulista de 1977. Eufóricos depois de 24 anos sem títulos, fecharam o quarteirão da Rua Diogo Garcia entre as Ruas Nadir Garcia e José Desidério, defronte a Lanchonete do Zé Frota. Foi foguetório e carnaval até de madrugada, pois o jogo final foi numa quarta-feira. Nino Giamatei, Pedro Maron, Tigueis, Diogo Ferraz, Eliseu Bernabé, Joaquim Fernandes - para lembrar os mais velhos - estavam entre os foliões mosqueteiros.

Os santistas também fizeram muita festa no Paulista de 1978. Partiram do Bar do Eliseu em cima do caminhão do Caçapa Fernandes sob o comando dos irmãos Batata e Maninho Bernabé, com imensas bandeiras alvinegras. Dentre os festeiros estavam: Cabo Honório, Edmar e Gilmar Prado, Amauri Cruzeiro, Vande Mendonça, Zezola Cardoso, e muitos outros que a memória não mais alcança.

Pois quando o São Paulo foi campeão brasileiro em 1977 não houve passeata, não havia torcida em número suficiente, apesar da existência, à época, de vários salgadenses tricolores como Zé Frota, Tião Pelé, Chico Inocêncio, João Cunha, Professor Yano, Roberto Japonês, Dr. Joãozinho Moreira, Dr. Nelson Seraphim. Apenas em 1980, com a conquista do Campeonato Paulista tive a honra de participar da primeira carreata tricolor da cidade. Inauguramos a era de comemorações públicas. Mas o desfile ainda era modesto.

Puxava a fila o fusquinha vermelho do João Cunha, seguido pela Brasília branca do Professor Yano. Depois um Corcel verde do Zé Frota e um Corcel bege do seu Domingos, meu pai. Fechando o cortejo o caminhão do Roberto Japonês. O corso era reduzido, mas muito barulhento, pois a buzina do caminhão era ensurdecedora. Enquanto isso o Tião Pelé ia se animando, tomando umas geladas e mexendo com todo mundo que passava defronte a lanchonete do Frota.

Depois disso sei que a torcida foi aumentando e se tornou imensa. Depois de tantas conquistas, sei que os tricolores salgadenses são equivalentes ao número dos demais, mas para mim foi uma honra participar do primeiro festejo, com um grupo reduzido, mas bastante ilustre.

Além disso, tenho que ressaltar que apesar da rivalidade existente entre as torcidas, nestas ocasiões sempre houve excelente convivência entre todos os salgadenses, o que, hoje em dia, diante da situação calamitosa que vemos nos estádios, deve ser considerado como exemplo a ser divulgado e seguido.