segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Bailes de Gala

O Salgadense Esporte Clube foi fundado no dia 24 de junho de 1957. A primeira diretoria eleita teve como presidente Lineu Simonetti, sendo vice o advogado Adaltio José João. A secretaria coube a Antonio Bernabé, Nelson Thomé Seraphim e Nelson Bechelli. Os tesoureiros: Prof. Umbelino Alves da Costa, Reinaldo Antonio Soligo e Cristobol Ortega.

Membros do primeiro Conselho Deliberativo: Luiz Zoccal, Miguel do Carmo Lisboa, José Desidério Fernandes, Pedro Ricardo Netto, Anibal Martins Felício, Astoril Tomaz, Vitoriano Pedro de Mattos, Vicente Rodrigues Mendonça, Antonio Zoccal, José Sanches, Geraldo Monteiro e Antonio Mendonça Filho. Suplentes: Décio Castilho Cheida e Alvino Manoel Dias.

Em 28 de maio de 1978 a Diretoria presidida por Roosevelt Jesus Vasconcelos tomou a polêmica e até hoje mal digerida decisão de mudar o nome da entidade para Clube de Regatas Salgadense.

A decisão deveu-se tão somente, ao fato de o citado presidente ser torcedor do Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro, pois, como se sabe, em toda a região noroeste paulista nunca existiu um clube de regatas, muito menos em General Salgado.

O clube foi, durante muitos anos, sede dos maiores e melhores eventos festivos da cidade.

O Baile de Aniversário da Cidade e o das Debutantes, por exemplo, eram os mais esperados do ano. Num deles enverguei – aos quinze anos – meu primeiro terno. E me senti o mais importante dos humanos, pois não havia quem comparecesse ao evento sem o rigoroso traje.

Outra atração dos bailes de debutantes era os artistas da televisão. Num deles veio dançar a valsa com as moçoilas salgadenses o então famoso Mário Cardoso, que estrelava a novela global das dezenove horas.

Num dos intervalos em que ele gentilmente ficou pelos jardins do clube batendo papo com os salgadenses, nossa turma o cercou com uma inquietação comum, praticamente o colocamos contra a parede até que atendesse à nossa solerte curiosidade sobre seu par romântico na novela:

- Fale a verdade Mário, a Miriam Rios é tão gostosa quanto aparenta na TV ?

As grandes atrações reservadas para os bailes de aniversário da cidade eram as bandas. Duas delas eram as preferidas de todos os salgadenses: Cassino de Sevilha e Leopoldo de Tupã. A primeira porque trazia um show de danças e a segunda não só pela qualidade como também por um atrativo à parte: o crooner Manga era salgadense.

Era um mulato forte, alto, que vivia por aqui, adolescente contemporâneo de Pedrinho Giamatei e Pedro Maron. Certa vez a banda Leopoldo e sua Orquestra Tupã veio tocar na cidade e o cantor principal adoeceu. O dono saiu procurando na cidade alguém para substituí-lo e conheceu Manga, possuidor de um vozeirão. O maestro ficou tão impressionado com o novato que o contratou imediatamente.

Já ouvi outras versões de como Manga entrou para a banda, uma delas inclusive, exclui a doença do titular. Uma coisa é certa, no entanto, assim que ouviu a voz do salgadense, Leopoldo ficou muito impressionado e não perdeu tempo em contratá-lo.

Num daqueles bailes fui testemunha do quanto era um grande cantor. Além da banda de Tupã a diretoria do clube contratou um show com o famoso cantor Francisco Egídio, que também era um mulato forte, alto, careca e dono de uma voz trovejante.

Na época fazia sucesso com uma música que tocava na abertura de uma das novelas da Rede Globo. No meio do baile a banda fez um intervalo e o showman deu início à sua apresentação. Quase ao final cantou a música de sucesso. Acho que era mais ou menos assim: “Ontem na tarde formosa / um céu cor de rosa / longe, longe...”.

Encerrado o show a banda voltou a embalar os casais e, alguns minutos depois Manga cantou a mesma música com a qual Francisco Egídio havia encerrado seu espetáculo. Então todos puderam verificar que o salgadense era tão bom cantor (ou melhor) do que o artista consagrado e famoso por sua voz forte e aveludada.

Hoje em dia ninguém mais dança num baile, apenas balança, cada um a seu modo e muito distante uns dos outros. Será que a garotada de hoje sabe o que é dançar agarradinho? Pelo menos nos últimos bailes que eu freqüentei não ouvi uma música lenta, nem casais se movimentando lentamente pelo salão em clima romântico, trocando sussurros e confidências ao pé do ouvido.

E samba? No nosso tempo a gente ficava o baile todo na expectativa de duas seleções: a de música lenta e a de samba. É que durante a seleção de lentas a gente saía procurando uma parceira para uns achegos, e durante a seleção de sambas assistíamos, embevecidos, o show do melhor casal de dança de salão que existia naqueles tempos: Marli Crivelari e Batata Bernabé.

Não posso falar no velho Salgadense Esporte Clube sem lembrar de um dos personagens da época, o seu Adriano, antigo zelador do clube, que já partiu para o andar de cima. A garotada se divertia com ele, não só porque trocava o nome de todo mundo, chamava, por exemplo, o Gappa de Gaspa e a Fabíola Beletti de Varíola, mas também porque era um sujeito singular, simplório e muito gentil. Mesmo quando dava broncas nos pequenos que teimavam em nadar na parte funda da piscina, ou quando desligava as luzes da quadra de futebol de salão às dez da noite porque era o único modo de fazer nossa turma deixar de correr atrás da bola.

Num dos bailes colocaram seu Adriano na portaria, para receber os ingressos. Alguém notou que ele segurava um saquinho de papel na mão e ao invés de pegar o bilhete, estendia o saco para que o ticket fosse colocado diretamente em seu interior. Lá pelas tantas da madrugada, quando foram conferir o número de pagantes deram conta que o saco tinha poucos ingressos e um monte de papel em branco. Alguns mais espertos percebendo que ele não conferia os bilhetes, providenciaram papeizinhos com a mesma cor dos tickets e entraram sem pagar.

A sede social do Clube foi construída utilizando-se de um prédio que nos anos 50 era o Grupo Escolar da cidade, papai estudou lá. Para ser aproveitado como sede do novel Salgadense Esporte Clube, houve grande reestruturação, com a construção do palco, portaria, secretaria, sanitários, duas saídas laterais e o bar.

Quando foi inaugurado era uma novidade na região, até então os bailes eram realizados em barracas improvisadas ou pequenos salões comerciais. Nos distritos e povoados então, muitas vezes os bailarinos arrastavam os pés no chão de barro batido, raramente cobertos de palha ou sapé.

Um fazendeiro das bandas de São João do Iracema veio à cidade para conhecer o novo clube e trouxe um peão da fazenda. Quis mostrar a novidade para o empregado. Adentraram aos jardins, então imponentes, repleto de árvores sombrosas e bancos de concreto e chegaram ao salão que recendia tinta fresca.

O peão que poucas vezes tinha vindo à cidade, pouco conhecia além das cercanias do Ribeirão Talhado, ficou embasbacado com a novidade e perguntou ao patrão:

- É aqui que vocês dançam baile?

Diante da resposta positiva do fazendeiro ele não titubeou em satisfazer outra curiosidade:

- E onde é que fica o sanfoneiro?

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