segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Um Jogo Inesquecível

O website do Jornal "A Gazeta Esportiva" premiou as melhores narrativas contando o jogo de futebol inesquecível dos torcedores. Para minha surpresa e contentamento a história que contei sobre o meu time, o São Paulo FC, foi classificada entre as dez melhores do país, e inclusive recebi prêmio.

Como tudo aconteceu em General Salgado, vou repetir aqui a história. Os fatos foram sintetizados porque o site limitou o número de palavras, mas tudo o que contei realmente aconteceu, nada havendo de ficção.

"Eu tinha 12 anos, morava em General Salgado e era o único são-paulino da turma. Os demais eram palmeirenses ou corintianos e também havia um único santista. O São Paulo havia sido campeão paulista em 1975, mas não ganhara mais nada até então. Depois de altos e baixos, principalmente por ter perdido Serginho, suspenso, o time foi para a final contra a melhor equipe da disputa, o Atlético Mineiro.

Na véspera os torcedores dos outros times já comemoravam a vitória do Atlético, como fizeram os atleticanos em BH. Na minha casa não tinha TV colorida, e a turma assistia a todos os jogos na casa do Mané, palmeirense, que tinha três irmãos mais velhos: dois santistas e um corintiano.

Umas 15 pessoas assistiam ao jogo lá e eu era o único tricolor. Alguns esparramados pelo chão, outros aboletados no sofá e eu numa poltrona, ouvindo o tempo todo o diálogo daqueles que não acreditavam numa vitória paulista.

Começou o jogo, Zé Sérgio fora deslocado para a ponta direita e o meio campista Viana jogava na esquerda. Mais uma dificuldade, pensava eu. Mas após alguns minutos de jogo, achei que o time estava tranqüilo, tinha a experiência de Waldir Peres, Chicão, Getúlio, e principalmente, a competência de Rubens Minelli no banco.

Encolhido na poltrona passei o maior sufoco da minha vida, a cada ataque eu não podia sequer torcer, pois todos pegavam no meu pé. No último minuto de jogo um zagueiro atleticano evitou um gol certo ao tirar uma bola em cima da linha. O jogo terminou empatado.

Na hora dos pênaltis, quase morri do coração, pois Getúlio e Chicão erraram suas cobranças. Só um milagre nos salvava e ele aconteceu. Waldir Peres começou a catimbar e provocar os atleticanos que foram, um de cada vez, chutando os demais pênaltis para fora, inclusive o grande Toninho Cerezo. Na última cobrança, o zagueiro mineiro chutou para fora e eu tentei comemorar. Mas eu estava travado, com os braços adormecidos e doloridos, de tanto que torcera imobilizado, por dentro, apenas com o coração e os olhos.

Só depois de alguns minutos consegui me mover, gritar e dizer que o meu time, finalmente, era o campeão brasileiro de 1977.

Corri dois quarteirões até em casa, revirei o cesto de roupas sujas e encontrei meu tesouro, uma camisa número 10 do São Paulo, a única que existia na cidade até então. Amarrotada e meio suja, mas fiz questão de vesti-la mesmo assim. Saí correndo para comemorar na Lanchonete do Zé Frota, um dos poucos tricolores da cidade. Dei um abraço no Frota, sentei defronte ao balcão e disse:

- Vamos comemorar! Manda aí uma vitamina com bastante leite!

Até então foi o dia mais feliz da minha vida".

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