segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Gregório

Sempre ouvi contar que Gregório Giamatei foi o mais folclórico contador de histórias que existiu em General Salgado. Suas mentiras e invencionices ficaram famosas, correram de boca em boca e até hoje permanecem vivas pelas ruas, esquinas, botecos e em qualquer rodinha de amigos que se forme para contar velhas histórias.

No início dos anos 60, quando poucas casas salgadenses dispunham de aparelhos receptores de televisão, encontraram-no sentado num banco da Praça da Matriz, olhando fixamente para a antena de TV que havia sobre o telhado da casa do Sr. José Desidério. Ficou por longo tempo mirando o estranho aparelho, sério, compenetrado. Alguém percebeu e quis saber o quê de interessante havia sobre a residência do comerciante. E ele demonstrando elucidação:

- Pois agora foi que eu descobri uma coisa. Está vendo aquele fio preto ligado na antena da TV que entra pelo telhado? Por ali que os artistas descem para aparecer na televisão!

Gostava de contar aos amigos histórias do tempo em que jogou futebol nas adjacências do Córrego do Gabriel. Alardeava qualidades de craque, dizendo que num torneio em Nova Castilho fora escalado para cobrar um pênalti. Era época de seca e atrás do gol havia um pasto ressecado pelo sol e pelos ventos frios da temporada. Deu um chute tão forte, mas tão forte que além da bola furar as redes foi se arrastando pelo capim com força e velocidade suficientes para atear fogo a pastaria. E finalizava dizendo que o jogo teve que ser interrompido para que os jogadores ajudassem na contenção do incêndio.

N'outro jogo foi novamente escolhido para cobrar uma penalidade máxima, mas teve o pior instante de sua carreira futebolística. Repetiu o chute potente, uma patada, mas a bola traiçoeira acertou o travessão, atravessou todo o campo, encobriu o goleiro do seu time e foi parar nas redes: gol contra! E arrematava dizendo:

- Ainda bem que o meu time estava ganhando de cinco a zero. Eu tinha feito cinco "golo"!

Tinha um cachorro de estimação, um paqueiro. Com ele corria as baixadas do Ribeirão Açoita Cavalos, do Córrego do Gabriel, caçando pacas, capivaras, perdizes e codornizes.

Para sua infelicidade o cachorro adoeceu e um amigo recomendou que o deixasse amarrado para observação. A doença poderia ser a tal da raiva canina, incurável e transmissível aos humanos. Prendeu o perdigueiro ao pé de uma mangueira no quintal e, dias depois, confirmou-se o terrível diagnóstico. Nas suas crises raivosas o animal babava, gania e mordia desesperadamente o tronco da árvore. Poucos dias mais durou e o dono, dolorido pela perda, até providenciou o enterro do amigo. E explicava:

- O pior é que um ano depois a mangueira começou a dar mamão, melancia, jabuticaba, jaca, laranja; foi contaminada e também ficou louca!

Numa viagem a São José do Rio Preto, contava ele, perdeu a carteira com todos os documentos. Retornou a Salgado desvalido, desconsolado. Apesar do registro da ocorrência e da procura em alguns postos de achados e perdidos, nada conseguiu.

Depois de quase um ano empreendeu nova viagem a Rio Preto, que, à época já era um grande centro regional. Na volta para Salgado sentiu uma dor de barriga danada, talvez efeito de uma salsicha "boiadeira" que ingerira na Rodoviária. Boiadeira é aquela salsicha de aquário, que fica meses e meses boiando na conserva, exposta nos balcões dos bares de rodoviária.

Com a ameaça de emporcalhar o ambiente conseguiu convencer o motorista do ônibus a fazer uma parada de emergência no meio do caminho. Entrou numa roça na beira da estrada, ajeitou-se por detrás de um pé de café e aliviou-se.

Passado o desespero lembrou-se de um ingrediente essencial: papel. Olhou em derredor e visualizou debaixo do pé de café, por sorte, um pedaço de jornal. Tentava dobrar o jornal para deixá-lo no tamanho adequado quando enxergou um quadro de aviso no qual estava escrito: "AVISO: Sr. Gregório Giamatei, seus documentos se encontram à sua disposição na Delegacia de Polícia de Monte Aprazível".

Ai de quem dele duvidasse!

Um comentário:

Anônimo disse...

Cal, vamos armar um queima e convidar o Roberval, ele com certeza sabe de outras inusitadas, e com umas brahma na cabeça sai muita coisa....

Um abraço.

Alex Marques Galhardo