quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Boiadeiro Apaixonado

Existem muitos fazendeiros salgadenses que começaram do nada e ganharam bastante dinheiro, ficaram ricos com muito trabalho e esforço.

Um deles se tornou figura bastante folclórica pelo seu jeito rústico e espontâneo, seu humor, e também suas patacoadas. Ainda por cima, tomava todas. Depois de ganhar muito dinheiro e comprar várias fazendas, ainda andava num carro velho. Um amigo recomendou:

- Compre uma camioneta nova, você não pode mais andar nesse carro velho aí!

Convencido, foi até uma das concessionárias da região. Como tinha saído da fazenda direto para a cidade vizinha não se preocupou com a aparência. Desceu dum carro velho na frente da loja, bota suja de terra, calça esgarçada na bunda, camisa puída e para fora da calça, aberta no peito, chapéu velho quebrado na testa, bem no estilo "marreteiro de boi".

Entrou na loja e ficou apreciando uma camioneta zero quilômetro, brilhando, novinha em folha. O vendedor veio atendê-lo com desdém, não acreditando que aquele sujeito que mais parecia um peão pudesse tornar-se cliente da empresa. Mesmo a contragosto lhe deu informações sobre o veículo, deixou que se sentasse ao volante e escutasse o ronco do motor. Satisfeito, o fazendeiro arrancou do talão de cheques e foi avisando o vendedor:

-Vê se me faz um preço bom que eu vou comprar essa bichona; faço o cheque agora e já saio montado na danada.

O comerciante torceu o nariz:

- O senhor vai me desculpar, mas nós não aceitamos cheques. Assim não posso vender a camionete para o senhor.

A reação foi irritada:

- Ara sô, será então que eu não sou homem procê duvidar da minha palavra, pois liga pro gerente do banco lá em Salgado e pergunte se o meu cheque não vale nada!

Constrangido o vendedor telefonou para o banco indagando se aquele peão tinha dinheiro para comprar uma camionete nova.

- Se ele quiser comprar toda a sua loja com as portas fechadas pode vender que ele tem dinheiro mais do que suficiente. Foi o que disse o bancário.

Com o rabo entre as pernas voltou ao comprador dizendo que aceitaria seu cheque. O fazendeiro rabiscou o documento e lhe entregou, não sem protestar contra o tratamento recebido:

- Olhe aqui, vagabundo, vê se aprende a tratar melhor as pessoas; a não duvidar da palavra de homem. E procê não pensar que eu sou algum cachorro miserável, eu fiz o cheque em valor a mais, que é pra te sobrar um troco. Quem sabe você compra um pé-de-bode!

Pé-de-bode, para quem não sabe, era o apelido do Fusca.

Outra do mesmo fazendeiro, muito tempo depois. Sempre no mesmo estilo: calças para dentro do cano da bota, camisa aberta no peito e chapéu quebrado na testa, o boiadeiro desceu da camioneta, entrou na Lanchonete do Zé Nelson, deu um tapa no balcão e pediu para a garçonete:

- Bote aí uma jurubeba para mim!

A garçonete era uma mocinha muito bonita, de vez em quando usava umas saias curtas. Era um dos motivos do intenso movimento da lanchonete nos finais de tarde. Sorrindo, aproximou-se a bonita atendente para atender o cliente e reconheceu o boiadeiro:

- Oi! Tudo bem? Escuta! Será que lá na tua fazenda não tem uma represa, uma lagoa, ou um lugar assim bem tranqüilo...?

O boiadeiro coçou a cabeça, ajeitou o chapéu e mirou fixamente a mocinha já com o pensamento pra lá das terceiras intenções: loira, boas pernas, corpo atraente. Valia a pena.

- Claro que tem! Lá na minha fazenda tem uma prainha que eu mandei fazer, está à disposição!

Entusiasmada, a mocinha foi se convidando, dizendo que pretendia passar um final de semana diferente, longe da cidade. Quem sabe não dava para programar um churrasquinho à beira d'água... O coração do boiadeiro deu um pulo.

- Ara sô! A hora que "ocê" quiser nós vamos pra lá. Tem um carneiro no mangueirão, o churrasco e as bebidas vão por minha conta!

Deu mais uma estudada na menina, pediu outra jurubeba e enquanto bebia sentiu que o peixão estava fisgado. Até que a mocinha arrematou, ingênua:

- Então vamos neste final de semana, você aproveita e convida a tua mulher, teus filhos, eu quero conhecer a tua família...

Num súbito, quase engasgando com o último gole, o boiadeiro enfiou a mão no bolso, botou uma nota de cinco no balcão e saiu apressado:

- Ih! Acontece que ontem deu uma chuvarada na cabeceira do rio e acabou com a prainha; o carneiro pulou o mangueirão e a enchente levou embora, vamos deixar isso pra outra hora...

Nenhum comentário: