sexta-feira, 13 de julho de 2007

Muita História pra Contar...

Contar histórias é uma arte. Contar boas histórias então, é mais do que isso, envolve certa sabedoria que muito provavelmente não possuo.

Acredito ser um bom ouvidor de histórias, não sei se aprendi a contá-las. Os contadores de história que considero especiais são aqueles que conseguem transformar um simples causo em algo extremamente engraçado, cheio de vida, de detalhes, de graça, de veneno e de sarcasmo.

General Salgado sempre teve bons exemplares. Dentre aqueles que conheci destaco Orlando Ascêncio como o melhor, dono de uma característica pessoal capaz de transformar pequenos detalhes em circunstâncias muito engraçadas. Uma narrativa rica que vai revelando caracteres dos personagens, dando-lhes circunstâncias especiais para emoldurar o fato. Tem ainda o dom de prender a atenção dos ouvintes, e o principal: é capaz de dar ao fecho da narrativa vernizes muito pessoais, com gestos, acentos e trejeitos característicos dos personagens envolvidos.

Existem outros que conseguem imitações quase perfeitas, com gestos e vozes, como Sidnei Constantino, o Pinga-Fogo.

Gosto também dos contadores da história. Geralmente pessoas mais velhas que guardam um grande rol de acontecimentos e sabem narrá-los com precisão. Muito aprecio as narrativas dos tempos de antanho, fatos históricos e pitorescos sobre a vida da cidade e dos cidadãos de outros tempos.

Tio Zeca Rodrigues foi um destes, sabia muita coisa dos moradores mais antigos de toda a região, das festas, dos bailes, das comitivas de boiada.

Arcídio Castilho era outro narrador incomparável. Fi-lo muitas vezes relembrar os primeiros dias de General Salgado, de Nova Castilho que ele viu nascer, e também das campanhas que o levaram a ocupar o comando da Prefeitura salgadense por três vezes.

Antonio Maron, Melentino Cardoso, Orlando “Rolinha” Crivelari, João Marques, também ouvi com atenção e prazer.

Talvez eu não seja um bom contador de histórias, mas faço aqui uma tentativa de registrar fatos interessantes que envolvem a história da cidade e seus personagens mais folclóricos.

Criança Não Mente!

O amigo Orlando Ascêncio conta que este fato se deu há muitos anos, lá pelas bandas de São Luiz do Japiúba, entre dois compadres, vizinhos de cerca, proprietários de pequenos sítios.

Um deles era dono de uma junta de bois de arado e foi solicitado pelo outro para que, quando das primeiras chuvas da temporada, preparasse um pequeno terreno para o plantio.

Passou-se algum tempo e as primeiras chuvas vieram pesadas, começaram numa tarde em que, de repente tudo escureceu, nuvens carregadas foram grassando, se ajuntando, e desaguaram torrenciais. As águas rolaram por toda a noite, formaram fortes enxurradas e foram carregando objetos, desbastando plantas e pequenos animais.

No romper da manhã, passado o temporal, em meio aos respingos das árvores e a cantoria dos pássaros, o compadre atou os bois ao arado e tocou para os lados do sítio do amigo a fim de cumprir com o prometido.

Ao passar pela casa, foi avisado que quando o sol marcasse a hora as crianças levariam seu almoço até o local do trabalho.

O aguaceiro deixara a terra bem molhada e os bois, sob o comando de boas rédeas, iam puxando o arado e desenhando no terreno os sulcos destinados ao cultivo das sementes. Por certo dali sairia boa safra, vaticinava.

O sol já estava alto quando o compadre percebeu vindo lá adiante um casal de crianças, filhos do amigo. Traziam um caldeirão envolto num guardanapo de pano e uma pequena garrafa arrolhada com a ponta de um sabugo de milho. Sentou-se num toco e já foi sentindo a quentura, o aroma da comida, o cheiro do café coado ainda há pouco. Tinha especial apreço pelos quitutes da comadre. Seria o único pagamento pelo serviço, já que era comum entre vizinhos servirem-se graciosamente.

Enquanto isso as crianças ficaram por ali olhando os bois pastoreando, saltitando por entre as pequenas poças d'água que se formaram em derredor.

Nisso, percebeu que o menino, mais novo, não tirava os olhos dele. Foi aí que se deu conta da comida que a comadre lhe havia mandado: arroz, feijão, ovo frito e algo que lhe pareceu, à primeira vista, uma caça. Talvez uma perdiz ou codorna, abundantes na região e muito apreciadas pelo compadre, que vivia empunhando estilingue e bodoque por aquela pastaria, por certo teria ido à caça naqueles dias.

Saboreava o petisco lambendo os beiços; a comadre tinha uma boa mão para a cozinha. Até que não agüentou mais o olhar inquieto do garoto e arriscou:

- Escuta menino, teu pai andou caçando por esses dias, matou alguma perdiz?

A resposta veio de imediato, direta e sincera como sempre acontece nestes casos:

- Não senhor, foi a mãe que cozinhou o "fanguinho" que morreu na "suva"!

3 comentários:

Unknown disse...

Oi Carlos, você tem dúvida se é um bom contador de histórias?
Vou te dizer que você é ótimo........dá gosto ler e o mais legal que a gente até consegue mesmo "vizualizar" o causo.........rsrss
Parabéns, ótima iniciativa e pode crer que daí sairão muitos livros.
Laíde

Unknown disse...

oi Cal, vc realmente eh o cara ideal para divulgar os causos....
adorei sua idéia e iniciativa conte comigo e parabéns!

Agora no semestre que estah para se iniciar na faculdade teremos como matéria de português/literatura: " A arte de contar histórias" veja soh a coincidência....... se eh que seja coincidência.... rs rs rs..
Parabéns e boa sorte.
bjs
D. Lourdes e Delminda

Unknown disse...

Cal, mamãe foi convidada para participar de um concurso de causos,aqui em são Caetano; estah sua tia não eh fraca não......
se tiver me envie alguns para que ela possa escolher e decorar para a apresentação, ok?
bjs nossos.