sexta-feira, 20 de julho de 2007

Bar do Okuyama

Nova Castilho (meados dos anos 1970) - Marinaldo Cornélio (Preto), Gumercindo Pereira, José Voltair Marques (Zé do Braz), José Jacinto Alves Filho (Zé Prego) e José Giamatei (Jaburu).
(foto: Álbum do blogueiro)

Defronte a Praça da Matriz, onde atualmente existe o prédio do Banco do Brasil, entre os anos 70 e 80 existiu um bar de grande movimento, e que teve vários proprietários: Okuyama, Eliseu Bernabé, Zé Bolão, Pedrinho Giamatei. Seus freqüentadores renderam várias histórias.

No tempo do Sr. Toshiteru Okuyama, durante um carnaval, a turma do Jaburu (José Giamatei, que já viajou "fora-do-combinado") praticamente acampou lá no bar. Era uma turma da pesada (só para citar alguns dos membros: Zé do Braz, Preto Cornélio, Zé do Leite, Orlando Ascêncio, William Zancaner, Zé Prego, Tonho Branco, Cabo Onório), que costumava promover festas que ficaram na história da cidade.

No terceiro dia do carnaval, com intervalos que permitiam ao dono fechar o bar por poucas horas enquanto a turma se refrescava na represa municipal, o japonês perdeu a paciência e perguntou quando é que eles iriam embora de vez. Na parede havia um quadro que mostrava uma cena do interior: uma estrada que levava a uma casinha com quintal. No início da estrada uma carroça puxada por cavalos e antes da casa uma pequena ponte sobre um regato. Quando o dono do bar insistiu na pergunta eles responderam apontando o quadro:

- Nós só vamos embora depois que a carroça atravessar a ponte!

O carnaval acabou e a turma continuou bebendo e festejando por mais uns dias. Quando alguém resolvia dormir usava o porta-malas do carro como cama.

No tempo em que o bar pertencia a Eliseu Bernabé, era freqüentado por torcedores de futebol. Os irmãos Batata, Maninho, Pio e Mané Bernabé costumavam reunir os amigos para assistir os jogos pela TV. Ali assisti a todos os jogos da Copa do Mundo de 1978e muitas finais de Campeonatos Paulista e Brasileiro. Era o ponto de partida das carreatas.

A maior e mais festejada aconteceu quando o Corinthians foi Campeão Paulista em 1977, quebrando um jejum de 24 anos sem títulos. Lembro-me que Tigueis (Norival Fernandes, também no andar de cima) um gozador emérito, apesar de corintiano assistiu aos três jogos da final vestindo uma camisa da Ponte Preta só para atazanar os companheiros. Até que, no último jogo, durante as comemorações ele mesmo se encarregou de por fogo no uniforme do adversário.

Depois o bar foi comprado por Pedrinho Giamatei, outro gozador de mão cheia. Ele tinha um cliente especial, um representante comercial que vinha semanalmente à cidade e depois de visitar os clientes ia até o bar tomar cervejas e comer ovos cozidos. Ficava encostado no balcão batendo papo com o atendente, tomava uns goles, pedia um ovo, quebrava o ovo na quina do balcão, retirava a casca, salgava e ia petiscando. Comia uns quatro ou cinco.

Freqüentador assíduo do local e conhecedor dos hábitos do viajante o saudoso Cabo Honório (José Olímpio de Moraes) resolveu aprontar. Chegou minutos antes ao bar, aproveitou um descuido do Pedrinho, levantou o vidro da estufa de salgadinhos e enfiou um ovo cru entre os demais. Sentou-se numa mesa com outros amigos que sabiam da armação e ficou esperando o resultado.

O vendedor chegou no horário habitual e cumpriu o ritual de sempre: tomando cerveja, papeando, quebrando o ovo, etc. Lá pelo terceiro o ovo explodiu no balcão. Enquanto Pedrinho pedia desculpas, limpava a sujeira da camisa do rapaz e prometia enforcar a cozinheira, Cabo Honório e os amigos rolavam pelo chão de tanto rir.

De outra vez, avançados na noite, dois conhecidos pés-de-cana - pai e filho – estacionaram na beira do balcão e se afundaram na cachaça. De repente enveredaram para uma conversa sobre caçadas, tiros, pontaria, espingardas, patos. Um dizia:

Ô pai, você lembra aquele dia que fomos caçar lá no Talhadinho? Acertei um pato no ar e ele veio cambaleando até o chão!

O outro respondia:

- Mas eu dei um tiro muito mais bonito aquela vez lá na Lagoa do Tutu, bem na cabeça, o pato caiu reto, quase nos meus pés!

E por aí foram. Um dizia que tinha matado mais patos, o outro retrucava. Pedrinho assistindo. Enfim, resolveram ir embora, pediram a conta e quando foram receber o troco o balconista ficou sério:

- Olha! Podem ir embora, mas antes façam o favor de limpar essa sujeira de pato morto que vocês deixaram aí no chão!

Um comentário:

Tereza disse...

Na época do "seu kuyama", lá pelos idos de 65, é que chegou a televisão em Salgado. Ele foi um dos primeiros a comprar o aparelho, que ficava pendurado no alto da parece.
A meninada saía de fininho no início da noite e se sentava nos bancos pra assistir às novelas da época. Mais parecia uma igreja, cheia de bancos voltados para a TV ligada a todo volume. O povo ficava ali, horas e horas prestando uma atenção quase religiosa. A TV do seu kuyama era o terror das nossas mães naquela época.