sexta-feira, 3 de abril de 2009

Um Homem do Interior

Visual do site em homenagem a José Fortuna, um dos maiores compositores da música caipira (clique aqui para visitar).

No dia 2 de outubro de 1923 nasceu na cidade de Itápolis, no interior paulista, um dos maiores artistas de todos os tempos: José Fortuna. Desde pequeno escrevia versos e poemas. Em 1944 compôs sua primeira música, chamada Moda das Flores, gravada pela dupla Raul Torres e Florêncio.

Daí em diante deu início a uma produção musicial que se aproximou de duas mil músicas, algumas delas com mais de 50 regravações. Em 1952 compôs Índia, a versão de uma guarânia paraguaia que talvez seja sua mais célebre composição, gravada até pela musa da MPB Gal Costa (Índia teus cabelos nos ombros caindo / Negros como a noite que não tem luar...).

Por muitos anos formou com o irmão Pitangueira (Euclides Fortuna) e o sanfoneiro Zé do Fole, o trio Os Maracanãs, gravando mais de 50 discos entre LPs e 78 rotações. Os grandes sucessos do trio foram regravados pelas principais duplas sertanejas do país. São alguns exemplos:

Lembrança: "Lembrança por que não foges de mim / Me ajude arrancar do peito esta dor / Afasta meu pensamento do seu / Porque vamos reviver este amor" - regravada por Milionário e José Rico.

A Mão do Tempo: "Na solidão do meu peito o meu coração reclama / Por amar quem está distante / E viver com quem não ama / Eu sei que você também da mesma sina se queixa / Querendo viver comigo mas o destino não deixa" - gravada por Tião Carreiro e Pardinho.

Cheiro de Relva: "Cheiro de relva traz do campo a brisa mansa / Que nos faz sentir criança a embalar milhões de ninhos / A relva esconde as florzinhas orvalhadas quase sempre abandonadas nas encostas do caminho / A juriti madrugadeira da floresta com seu canto abre a festa revoando toda a selva / O rio manso caudaloso se agita parecendo achar bonita a terra cheia de relva" - gravada por Dino Franco e Mouraí e as Irmãs Galvão.

Manteve ainda um grupo de teatro que viajava o país lotando circos, teatros e praças públicas. Escreveu 42 peças, algumas delas com os mesmos temas de seus grandes sucessos, como Paineira Velha, Esteio de Aroeira, Lenda da Valsa dos Noivos.

A partir de 1975 deixou de cantar, dedicando-se integralmente à composição. Surgiram então outras canções inesquecíveis que foram sendo gravadas pelos principais artistas da música sertaneja. Em 1979 participou de um Festival de Música promovido pela TV Record e alcançou a histórica marca de obter os três primeiros lugares.

1º lugar com a canção Riozinho: "Meu rio pequeno, braço líquido dos campos / Rodeado de barrancos, corroído pelos anos / Vai arrastando folhas mortas de saudade / Por-do-sol de muitas tardes, ilusões e desenganos / Cruzando vales, chapadões e pantanais bebedouro de pardais, branco espelho de luar / O seu roteiro não tem volta só tem ida, pra findar a sua vida na amplidão azul do mar" - regravada por Lourenço e Lourival e Irmãs Galvão. Talvez uma das mais lindas letras de autoria do compositor.

2º lugar com Berrante de Ouro: "Nesta casinha junto ao estradão faz muito tempo eu parei aqui / Vem minha velha vamos recordar quantas boiadas eu já conduzi / Fui berranteiro e ao me ver passar, você surgia me acenando a mão / Até que um dia eu aqui fiquei preso no laço do seu coração" - regravada por Liu e Léu e Tião Carreiro e Pardinho.

3º lugar com Brasil Viola: "Meu Brasil o seu formato, com um coração se parece / Seu litoral feito esse margeando o mar azul/ É o bojo de uma viola, no estojo do continente / Bem na vitrine da frente desta América do Sul" - interpretada pelo Duo Ciriema.

As músicas que mais fizeram sucesso, porém, foram Terra Tombada (gravada por Chitãozinho e Xororó), O Ipê e o Prisioneiro (Liu e Léu, Chrystian e Ralf, Mococa e Paraíso), Raízes do Amor (Tião Carreiro e Pardinho, Nalva Aguiar) e Avenida Boiadeira (Joaquim e Manuel, Nalva Aguiar).

Avenida Boiadeira foi composta para agradecer a cidade de Itápolis que deu seu nome a uma rua que, na infância do compositor, era usada para a passagem das comitivas de gado.

Ao falecer em 10.11.1983, depois de receber as mais diversas homenagens, ainda deixou cerca de 900 composições inéditas, que passaram a receber melodia do genro Paraíso, casado com Iara Fortuna e parceiro musical de Mococa. Não há um único fã de música sertaneja que não saiba de cor alguns versos de autoria do imortal compositor.

O site através do qual a família (a esposa Durvalina e as filhas Iara e Marlene) homenageiam sua memória, é visita obrigatória a todos os que apreciam a música do interior.

Sérgio Reis, Chitãozinho e Xororó, João Paulo e Daniel, Leandro e Leonardo, Cezar e Paulinho, dentre outros, regravaram sucessos de Zé Fortuna.

A lápide de sua sepultura no Cemitério do Morumbi, na capital paulista, cita um trecho de uma canção chamada O Silêncio do Berranteiro:

Aqui estou meus velhos companheiros,
Olhem pra cima, pra me ver passando
Em meu cavalo Raio de Luar
Pelo estradão de estrelas galopando.
O meu berrante hoje são trombetas
Que os anjos tocam chamando a boiada
De nuvens brancas no sertão do espaço,
Vindo ao curral azul da madrugada
”.

Zé Fortuna, Pitangueira e Zé do Fole

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