sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Mauro Castilho

João Batista Sérgio Murad nasceu em 1937 na cidade de São José do Rio Preto. Nas brincadeiras de criança sonhava ser o Zorro brasileiro e trabalhar num parque de diversões. Foi entregador de leite e vendedor de limão.

Mau aluno do Ateneu Riopretense, foi enviado pelo pai para o Colégio Interno de Monte Aprazível, onde estudou ao lado do famoso estilista Clodovil Hernandes e do salgadense Leumar Sirotto.

Tentou a carreira de cantor de música sertaneja, arriscou-se como radialista e vendedor de anúncios. Certo dia um circo se instalou nas proximidades de sua casa e ele fez amizade com um garoto da família circense chamado Dedé Santana. Muitos anos depois Dedé se tornaria um dos mais famosos humoristas da televisão brasileira.

Depois de se arriscar como empresário de shows de humor pelo interior mudou-se para São Paulo, conseguindo algum sucesso na comercialização de publicidades. Chegou a ser o maior vendedor de anúncios do Jornal Folha de São Paulo. Anos depois abriu uma agência de publicidade em Blumenau (SC), com o que alcançou sucesso financeiro e profissional.

Para participar de um pequeno elenco circense, João Batista Sérgio Murad criou um personagem chamado Beto Carrero.

Certa ocasião, quando já havia alcançado sucesso no mercado publicitário, Beto encontrou uma amiga rio-pretense e quiz obter notícias sobre os colegas de infância. Perguntou sobre a irmã dela, Zilma Fernandes:

- Está morando em Araçatuba, com cinco filhos, o marido tinha uma olaria que foi destruída num vendaval, tentou a sorte na política, mas não se elegeu. Estão passando por dificuldades.

- Peça a Zilma e o marido que me visitem em Piçarras, talvez eu tenha uma proposta de trabalho para eles - disse o amigo.

Nesse encontro em Piçarras (SC), num distante mês de janeiro de 1983, surgiu uma amizade que transformou a história do entretenimento no Brasil: o multiempreendedor Beto Carreiro e o salgadense Mauro Garcia de Castilho, filho do ex-prefeito Arcídio Castilho.

Mauro mudou-se de General Salgado para Araçatuba no final da década de 1970. No verão de 1983 aceitou a proposta de emprego feita por Beto Carrero, colocou toda a família num fusca e mudou-se para Santa Catarina. Em pouco tempo transformou-se no seu braço direito.

O jornalista Marcos Losekann, repórter da TV Globo que iniciou a carreira na RBS TV do Rio Grande do Sul, em seu livro “O Ronco da Pororoca – Histórias de um repórter na Amazônia” (1999, Editora Senac), narra que em 1984 encontrou uma equipe circense em Cruz Alta (RS). Durante a reportagem conheceu Mauro Castilho e através deste se tornou amigo de Beto Carrero. Losekann fala da amizade mantida com os dois, relatando um encontro ocorrido em Manaus pouco tempo antes de seu retorno a São Paulo para se tornar repórter especial do Jornal Nacional.

Além de administrar o Circo do Beto Carrero, Mauro participou ativamente do projeto de criação do Parque Beto Carrero World. Tudo começou num show no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. O treinamento era feito numa fazenda em Gaspar (SC). Os primeiros atores foram os peões da fazenda. Os ensaios noturnos eram feitos sob as luzes dos faróis de alguns carros.

O sucesso do show alavancou toda a aventura. Beto montou mais circos e os esparramou pelo Brasil. Um deles passou a ser administrado por Pecos Castilho, filho de Mauro. Nos shows que faziam pelo Brasil afora a equipe viajava com cerca de 120 pessoas, 400 toneladas de equipamentos, 20 cavalos, carruagens, jaulas com animais e outras atrações.

Um dia Beto decidiu montar tudo num lugar só e escolheu a pequena cidade de Penha (SC). Comprou 176 pequenas áreas de terras contíguas e deu início à construção do maior parque temático da América Latina, o Beto Carrero World.

Depois de 20 anos de cumplicidade e companheirismo, a relação entre os dois terminou apenas quando, em dezembro de 2003, enquanto acompanhava o circo de Pecos na Bahia, Mauro Castilho nos deixou de repente. Tinha vivido 68 anos com a mesma alegria, o mesmo jeito simplório de interiorano contador de causos e estórias, emérito piadista e gozador, profundamente apegado à família.

Em fevereiro de 2008 partiu Beto Carrero, que contava 70 anos de idade. Os dois deixaram, no entanto, um indiscutível legado na história do entretenimento brasileiro.

Beto Carrero era o showman, o astro, o mágico da trupe. Mauro Castilho era o carregador do piano, o arranjador, o faz-tudo para permitir a continuação do show.

Na revista que fez editar para comemorar os 15 anos de existência do parque, Beto Carrero prestou uma homenagem ao amigo salgadense, nela registrando a seguinte mensagem:

“Mauro Castilho. Amigos para sempre.

Nossa vida parece diminuída sem a sua generosidade, a sua alegria, a sua graça, a sua grandeza, a sua devoção a tudo que fazia.

Sim, hoje nos vemos mais pobres sem seu jeito cativante, seus gestos expressivos, seu olhar brilhante daquela felicidade de fazer as pessoas mais felizes.

Mauro, meu velho, de minha parte posso afirmar que conviver com você me enriqueceu profundamente. E agora estou aqui, falando de nossa saudade a você, à Zilma, à Pity, à Lígia, à Lara, à Luciana e ao querido Pecos, esta família que é seu maravilhoso patrimônio.

A eles você deu o exemplo de viver e um legado de amor que seus netos aproveitarão para aprender a serem grandes seres humanos, como você”
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