segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Quequé

Antonio Luiz Cavenage Filho, salgadense atualmente radicado no Tocantins, é também cria de Nova Castilho, nos conhecemos ainda no Grupo Escolar do vilarejo.

Ao lado de seu irmão Ângelo e dos amigos Zezé Toledo, Ulisses Barbosa, Chiquinho, Maurício Carvalho (este há muitos anos vivendo em Rondônia), vivíamos percorrendo pastarias empunhando estilingues ou então batendo lagoas e açudes atrás de cascudos.

Anos depois, fomos companheiros de bailes e festas na região, puxando na guia de um grupo muito festivo e animado do qual eu, com uns dezesseis, dezessete anos era o mais novo.

Tonho era o maior namorador da paróquia, tanto que foi apelidado pelos amigos de Quequé, nome do protagonista da mini-série global “Rabo-de-Saia” que então fazia sucesso na telinha com o ator Ney Latorraca. O personagem mantinha três mulheres simultaneamente e nosso amigo não ficava atrás, costumava ter meia dúzia de namoradas ao mesmo tempo.

Ficávamos espantados com sua capacidade de administrar tais situações, pois uma namorada não sabia da outra e algumas freqüentavam o mesmo grupo de amigos. Às vezes ele levava duas para algum baile na região e dava um jeito de dividir o tempo entre elas sem que uma estragasse o namoro com a outra.

É lógico que algumas, principalmente quando aceitavam manter o caso sem tanta aparência, sabiam que ele namorava outras, sem se importar com isso. O que nos impressionava era sua capacidade de manter sigilo para as que de nada sabiam.

Sei dizer que o tempo foi passando e o Tonho sempre promovendo aquele grande rodízio de namoradas. Os amigos mais próximos se casaram, tiveram filhos e ele foi ficando para trás. Na família então, acabou ficando como o último dos celibatários. Numa das festas familiares em Neves Paulista, com a reunião daqueles parentes próximos e distantes que há tempo não se viam, as tias mais velhas cercaram-no, preocupadas com seu solteirismo.

- Toninho, porque é que você não se casa?

- Ah! Tia, as moças não dão certo comigo e acabam me fazendo de bobo! – fingiu-se de vítima.

- Mas como é que não dão certo? Você é um menino bonito, está na idade de se casar!

- Pois é tia, idade eu tenho, só não tenho experiência!

As tias quase choraram de pena do malandro pobre coitado.

E o danado seguiu com seu rol de pretendentes até que achou pela frente a Renata, que lhe botou a arreata, armou-se de rebenque, espantou a concorrência e se firmou no lombo do arredio Antonio Luiz. Já passava da hora, disseram os amigos. O casal foi viver em Gurupi, no Tocantins.

Dentre tantas festas e aventuras que vivemos, muitas situações engraçadas aconteceram dignas de registro. Uma delas aconteceu no interior da Igreja Matriz, durante o casamento de um dos nossos amigos.

Depois que cursou o catecismo em Nova Castilho, no início dos anos 70, Antonio Luiz poucas vezes voltou a uma igreja, apesar da insistência de dona Ninfa, sua mãe.

De certa vez eu, ele, Gustão Cervantes e Alcir Marques fomos a Santa Albertina no casamento do amigo Tuim, antigo morador de Nova Castilho. Na esquina da praça da matriz havia um boteco e nem preciso dizer que o Tonho só viu a cor do vestido da noiva na festa, pois durante a cerimônia recusou-se a entrar na igreja, ficou tomando as primeiras do dia no botequim.

Algum tempo depois estamos sentados lado a lado num dos bancos da Igreja salgadense, acompanhando o casamento de um amigo, quando o padre conclamou os presentes a uma oração pela união do casal. Olhei para o lado e avistei o Tonho murmurando a reza. Parecia até que o danado sabia de cor a oração, possivelmente guardada na memória desde as lições de catecismo do Padre Vitorino.

De repente o vigário começou outra oração iniciada com o “Pelo Sinal”. Como todos devem saber, o “Pelo Sinal” deve ser dito acompanhado da formação de cruzes do polegar direito por sobre o rosto. Olhei para o Tonho e ele estava dizendo corretamente a ladainha (“pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus Nosso Senhor, dos nossos inimigos...”) só que mantinha a mão fixa na testa. Quando mostrei inquietação com a cena ele se explicou:

- Falar eu sei! Só não sei esparramar na cara!

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