segunda-feira, 30 de junho de 2008

Família Forense

Aos doze anos de idade, depois de trabalhar uns seis meses no Escritório Presidente sem ganhar praticamente nada, incentivado pelo amigo Mineirinho (Oswaldo Marques Júnior) resolvi pedir emprego no Fórum, para o José Santana Rodrigues, Escrivão do 2º Ofício. Gentilmente ele me explicou que não havia a vaga pretendida.

Eu saía desanimado pela porta afora quando o Mineirinho - que trabalhava no 2º Ofício - me alcançou. Entramos no Cartório do Registro Civil para conversar, sentados numas poltronas grandes que ficavam quase escondidas atrás da porta.

Nisso apareceu o Escrivão do Cartório, Sr. Hésio de Carvalho, e o Mineiro arriscou perguntar se ele não estava precisando de um auxiliar. Ele disse:

- Eu estava precisando, mas hoje arrumei um rapaz que vai começar semana que vem. Eu preferia um mais novo, pra fazer serviço de Banco, Coletoria, mas agora já arrumei outro.

Aí o Mineirinho - político desde criancinha - me apresentou e o foi convencendo a dispensar o rapaz e me contratar. Dez minutos depois eu estava contratado para começar no dia seguinte, e o Sandro Castilho, coitado, perdeu o emprego sem ter trabalhado um dia sequer.

No dia seguinte entrei no ambiente forense e de lá nunca mais saí. Como bem disse o baiano Caetano Veloso, “eu pus os meus pés num riacho e acho que nunca os tirei...”.

Já se vão mais de trinta anos entre o Cartório de Registro Civil de General Salgado, o Terceiro Ofício de Justiça de Araçatuba, e a advocacia, divididos entre Araçatuba e Chapadão do Sul (MS).

Devo ao dileto amigo Mineirinho e sua matreirice, seu poder de convencimento, o emprego mais importante da minha vida, pois me orientou em tudo o mais que comigo aconteceu profissionalmente.

Além dessa, tenho outras dívidas de gratidão que jamais serão pagas senão com a força da amizade, a eterna prontidão dos amigos, o carinho e o reconhecimento para com aqueles que nos são caros. A família forense de General Salgado me acolheu, orientou e incentivou. O Sr. Hésio foi quem pela primeira vez me disse que eu deveria buscar a carreira jurídica. Até então eu sonhava em ser jornalista.

Outros importantes incentivos vieram do Sr. Antonio Maron, um doce de gente, a quem eu sempre recorria em minhas dúvidas, minhas incursões pelas coisas do Cartório. Seu Maron, como o chamávamos, era o decano do Fórum, mesmo depois de aposentado trabalhou por muitos anos no Cartório do 1º Ofício, que legara ao filho Pedro, outro dos meus instrutores. Seu nome hoje ilustra o Salão do Júri, apesar de que, para mim, deveria estar no pórtico de entrada, nominando todo o prédio.

Espero um dia poder homenageá-lo daquela Tribuna da Defesa, a mesma que alimentou um dia, em meus sonhos de adolescente, a vontade de exercer a advocacia, e que conheci brilhantemente ocupada pelos Drs. Nelson Seraphim e Adaltio José João, cujos nomes também estão gravados para sempre na história da cidade.

Luizão Desidério carregou nas costas por muitos anos o 2º Ofício de Justiça. Estou para conhecer outro mais esforçado: morava no sítio, levantava muito cedo, tirava leite, labutava o dia todo no Cartório, à tarde montava no ônibus que o levava à Faculdade de Araçatuba, da qual retornava só no início da madrugada do dia seguinte.

O estimado e saudoso Dr. Waldemar Castilho (Dema) também muito me ajudou. Sabedor que o meu salário no Cartório não era grande coisa, apesar de que eu fazia de tudo, inclusive casamentos, sob as vistas do meu chefe ele convidava:

- Você não quer ir trabalhar comigo? Eu te pago o dobro!

Eu ficava de pensar, coisa e tal. Dias depois seu Hésio aumentava o meu salário, com medo de ficar sem funcionário. Lógico que a oferta do Dema tinha o único objetivo de provocar o aumento, incutindo no patrão o medo de perder o empregado.

De vez em quando o Sr. Melentino Cardoso, que era Juiz de Paz, aparecia no Cartório durante a semana pra verificar os casamentos futuros. Nestas ocasiões eu fazia de tudo para reuni-lo ao seu Maron, pois os dois sabiam (e haviam vivido) muitas histórias engraçadas. Lembro-me de uma muito boa:

Os dois celebravam um casamento e a noiva ia adotar o sobrenome do marido, que era Pinto. A moça assinou o nome de solteira e foi avisada pelo Escrivão:

- Está faltando o Pinto!

Ela verificou que havia ficado um espaço muito pequeno na linha e perguntou:

- Será que cabe aqui?

E o Melentino, olhando sério para o noivo arrematou:

- Não é tão grande assim né!?

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