segunda-feira, 9 de junho de 2008

Briga de Vizinhos

Se existe uma coisa que eu não gosto nem de estar por perto se chama briga. Tenho especial aversão pelo fato de duas pessoas medirem esforços por coisa pouca.

Por minha iniciativa jamais troquei petelecos com ninguém. Na minha modestíssima opinião, a ignorância de qualquer um que provoque confusão com o emprego de força não vale o esforço físico desprendido em resposta.

No meu tempo de adolescente em General Salgado existia uma antiga pendenga entre os jovens salgadenses e auriflamenses. Ouvíamos com certa surpresa os relatos das brigas e confusões que envolviam os grupos rivais, tanto lá como cá.

Uma turma não podia colocar os pés na cidade vizinha que a confusão se armava. Em Auriflama existia uma determinada família cujos taludos, em número de quatro ou cinco, lideravam o bloco dos briguentos. Por aqui havia também um grupinho de pessoas que insistia em tirar eventuais diferenças no tapa.

A verdade é que nossa turma estava chegando naquela fase em que se divertir na cidade vizinha era uma possibilidade das mais atrativas, mas a antiga rixa nos punha medo. Os amigos um pouco mais velhos, vez por outra, relatavam as confusões e exibiam-nos arranhões e curativos decorrentes dos encontros com os auriflamenses.

No mais das vezes as brigas eram justificadas pelo fato de que uma turma visitava a cidade da outra para paquerar, tentar conquistar as mulheres, mas em muitos casos, bastava colocar o pé na cidade vizinha para provocar as reações, que redundavam em duas hipóteses básicas: ou fuga ou pega.

Acho que Wirlei Marques foi um dos salgadenses mais perseguidos em toda a história da rixa entre as duas cidades. Os vizinhos chegaram ao cúmulo de furar, à faca, os quatro pneus do seu carro, obrigando-o a fugir a pé rodovia abaixo. Não teve sossego em nenhum dos muitos anos em que namorou sua esposa, a auriflamense Solange Conde.

Do lado salgadense ainda havia outros que se envolveram nas contendas: Batata, Maninho, Pote Barnabé, William Zancaner, Chiquinho Cervantes, Grilão, Pereca e Lúcio Fernandes, Nenê do Prado, Marquinhos Secches, Dinoel Marques, e muitos outros.

Mas havia uma tônica geral no nosso grupo, a de que estávamos mais interessados na diversão e na amizade dos auriflamenses do que na troca de sopapos que marcava, até então, as relações entre as duas cidades. Eu, por exemplo, contava com o fato de ter muitos parentes por lá, pois a maioria dos meus tios do lado paterno se tornou auriflamense. Resolvemos arriscar.

Assim como existem hoje os nossos grupos de amigos oriundos dos blocos de carnavais – PB, Babilake, Toloko, Toquetô – em Auriflama havia dois grupos desse tipo: a Reba e a Renca. A Reba reunia os briguentos, enquanto o pessoal da Renca era mais sociável.

Naquela época (final dos anos 70) havia dois pontos de animação na cidade: o Clube Guarani e a Lanchonete Chacrilongo, ambos na Rua João Pacheco de Lima.

A Lanchonete quase na esquina do Banco Itaú, enquanto o Clube ficava um quarteirão depois da praça. Eram os pontos de reunião dos auriflamenses nas noites de sexta e sábado.

Começamos a freqüentar – com certo receio – os finais de semana da cidade vizinha, tentando estabelecer alguma amizade. A princípio foi tudo tranquilo, mas por conta do fato de que não tínhamos condução própria, dependíamos de carona dos mais velhos e éramos vistos na companhia destes, acabávamos sofrendo as mesmas retaliações a eles destinadas.

Estabeleceu-se a seguinte situação: tínhamos bom relacionamento com a turma da nossa idade, éramos convidados para as festinhas, brincadeiras dançantes e quando eles por aqui apareciam também eram bem recebidos. Mas os mais velhos nos olhavam com desconfiança e achavam que também merecíamos o tratamento dispensado aos demais.

A principal regra da nossa defesa era andar sempre em grupo o que costumava evitar os atritos, mas algumas situações fugiram ao nosso controle e nos vimos quase agredidos. Numa delas, eu e Nelson Seraphim Junior estávamos na Lanchonete Chacrilongo quando fomos cercados pelos briguentos da Reba, a agressão foi anunciada e a reação era praticamente impossível. Fomos salvos por José Luiz Matarézio, auriflamense de coragem, que se interpôs diante dos arrelientos e avisou:

- Eu conheço os meninos, ninguém vai bater neles!

De outra feita eu estava acompanhado do Gappa. Recém chegado da capital, menino criado em Diadema, os auriflamenses não faziam idéia do que o amigo Wilians de Castro era capaz. Estávamos no Clube Guarani, numa brincadeira dançante e a Reba lá estava defendendo seu território. Não estávamos preocupados com a possibilidade de confusão, queríamos diversão.

Encostamos ao balcão do barzinho pra tomar umas e animar a noite. Dinheiro curto, só dava para tomar umas duas doses de cachaça. O botequeiro tirou detrás do balcão uma garrafa arrolhada contendo um líquido cor-de-rosa, colocou duas doses, fechamos o cenho e encaramos a parada. Antes que a marvada fizesse efeito o Gappa tomou um pontapé no traseiro. Olhamos em volta e vimos que o caldo ia entornar. O companheiro me avisou, acusando o golpe:

- Um japonês chutou minha bunda!

Os outros amigos salgadenses foram saindo, ficamos nós dois encurralados no canto do balcão. Previ o pior e avisei: vamos levar porrada. Um dos mais valentões da Reba tomou a frente do grupo e partiu para o nosso lado, aproximou-se anunciando o linchamento. Nisso o Gappa foi tentando argumentar com o briguento, aproximou-se e sem que ninguém esperasse, deu-lhe uma tremenda cabeçada no meio da testa.

Aqui se faz necessário um parêntese para informar que algum tempo antes, por brincadeira, o Gappa havia dado uma cabeçada numa caixa dos Correios (daquela grande, de plástico, tida como inquebrantável) e ela se partira ao meio. Daí vocês imaginem o resultado na testa do auriflamense. Enquanto o brigão ensangüentado era auxiliado pelos demais, fugimos correndo pelos fundos do clube, pulando muros até alcançar a praça.

De alguma maneira, este fato contribuiu para serenar os ânimos, apesar de que o Gappa ficou muitos anos sem voltar à cidade. Continuei freqüentando Auriflama e nunca mais tive problemas. O fim dos conflitos deveu-se, em grande parte, à atitude dos amigos auriflamenses que fomos fazendo e que serviram para neutralizar a tensão existente. Freqüentávamos as festas deles e eles se sentiam à vontade para vir nas nossas.

Olivar Barbosa Junior, Félix Oliva (o saudoso amigo Perereca, que há anos subiu ao andar de cima num acidente automobilístico), Capacete, Xaxim, Fernando Veschi, Cascão, Rosa Oliva, Carla Garcia, os irmãos Marcelo, Marilis e Marisa Adorno; Estela, Agda, Adalgisa, os gêmeos Alexandre e Ricardo Silva, Miguel Tadeu (que reencontrei anos depois, Promotor de Justiça em Pereira Barreto), Cláudio Lima, Herminho, Garibaldi e Zé Luiz Matarézio, Du, Juliano, Beto Goiaba, foram alguns dos auriflamenses que contribuíram diretamente para que as brigas históricas com os salgadenses fossem deixadas de lado.

Alguns não mais residem por lá, mas a grande maioria ainda nos privilegia com sua amizade.

Mas se não fosse a cabeçada certeira do Gappa acho que ainda hoje estaríamos tendo problemas de relacionamento com os vizinhos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cal, como sempre voce me emocionando, gosto tanto do jeito com que relata os fatos, e sempre procurando algo á acrescentar com sua busca´pelos fatos e sairem com a maior precisão possivel, é interessante como voce tem tamanha capacidade de fazer a gente reviver um belo passado. bjs meu querido primo amigo.hoje tenho uma boa pra te contar... certo vez o jaburu quando tinha uma veterinária em frente o bar do nino, ele e o Orlando Ascencio mataram um gato, e fritaram, e as meninas que trabalhavam lá pelas redondezas, soninha costa, trabalhava no Cesarino Desidério, e a Rosa Lopes , tambem passaram por lá e eles ofereceram a elas carne de codorna frita . passou... no outro dia eles ligavam para elas e não falavam nada só miavam , elas atendiam e eles faziam miauuuuuuu, sem saber direito o motivo pergutaram o porque e logo ficaram sabendo, o que elas tinham comido era gato. só foi nauseas e risadas.