segunda-feira, 2 de junho de 2008

Dona Alivina

O Clube da Terceira Idade é, a meu ver, uma das entidades que mais devem ser prestigiadas pela sua função social, pela sua importância.

Faça uma visita ao Asilo de Idosos, passe um dia com aqueles velhinhos que necessitam ajuda diária para a grande maioria das atividades, e logo em seguida vá conhecer um dos bailes do Grupo da Terceira Idade.

Você vai perceber e sentir de cara a diferença. Talvez se o segundo existisse há mais tempo, não existiriam tantos idosos morando no primeiro.

Dona Alivina Silva, por exemplo, avó de minha amada Samanta, de quem já falei por aqui, é um dos mais interessantes exemplos. Aproxima-se dos oitenta e não perde um festejo do grupo.

Diz, ainda por cima, que enquanto outras amigas gastam tempo e dinheiro com remédios e mezinhas, ela usa o seu única e exclusivamente para a diversão, pois não necessita de nenhum tratamento médico. Dança, desfila, viaja e ainda trabalha.

Mas falando na animação dessa turma me vêm à mente algumas histórias protagonizadas por alguns dos seus componentes.

Em Nova Castilho – eu ainda menino – existia uma senhora bastante idosa, Dona Jerônima, que tinha mania de entendida, gostava de mostrar conhecimento. Mas não tinha boa capacidade para compreender e armazenar as palavras corretamente. Certo dia chamou a vizinha por cima do muro:

- Dona Maria, a senhora nem imagina o que aconteceu! O Zezinho, filho da Tonha sofreu um incidente, tá estacionado na Penitência Portuguesa de Rio Preto. Diz que tá em estado de conga.

O acidentado Zezinho, internado em estado comatoso no Hospital da Beneficência Portuguesa de São José do Rio Preto deve ter se salvado, mas o português da dona Jerônima...

Certo dia, no circo, alguém lhe corrigiu o uso da palavra palhaço, a quem ela se referia dizendo “paiaço”. Ao tomar conhecimento da pronúncia correta, passou a adotar a regra para todas as palavras com o mesmo encontro de vogais:

- Lá em casa tem um pé de golhaba que tá carregado!

Voltando à Dona Alivina, há alguns anos começou a manifestar problemas de audição: atendia ao telefone sem compreender nada do que diziam do outro lado; conversava com as pessoas coisas desconexas do tema enfocado.

As filhas - Adenir, Adenair e Aldair - decidiram que estava na hora de consultar um médico e, se necessário, adotar um daqueles aparelhos auditivos.

Com certa resistência lá foi Dona Alivina ao especialista. Depois dos exames e da verificação de grave deficiência auditiva o doutor decidiu fazer uns testes de uso do aparelho. Instalou a peça e orientou a paciente:

- Dona Alivina, a senhora está ouvindo melhor? Tá ouvindo alguma coisa diferente?

- Tô ouvindo bem, mas tá um zumbido na orelha! – respondeu.

O especialista retirou o aparelho, fez alguns ajustes e recolocou no lugar: E agora?

- Ainda tô ouvindo um barulhinho estranho, informou a paciente.

Novos ajustes e Dona Alivina ainda reclamava do chiado.

- Dona Alivina, me diga como é esse zumbido.

- É assim ó: zuuuuuuummmmmm...

O médico matutou um pouco, desligou o aparelho de ar condicionado e arriscou:

- Ainda continua o zumbido?

- Agora parou!

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