segunda-feira, 3 de março de 2008

Torcedores e Carreatas

Em Nova Castilho quase todos os meus amigos eram são-paulinos. Eu pensava que a torcida do São Paulo F.C. era a maior do Brasil. Meus primeiros amigos foram os irmãos tricolores Alecindo Júnior, Marcos e Ulisses Barbosa.

O amigo Zezé Toledo (assim como seu irmão Paulo Sérgio, o Potó) foi são-paulino até os dez, doze anos, depois, não sei se por influência do primo Kiko Righi, bandeou-se para o pequeno grupo de palmeirenses. Corintianos só dois: Negão Righi e Pedrinho Arruda. Ainda havia outros tricolores: Zé Antonio, Eduardo Rosa, e outros que me fogem à memória.

Mudei-me para General Salgado e levei um susto. No meu bairro não havia um único torcedor do tricolor paulista. Meus primeiros vizinhos citadinos Celso Cardoso, Serginho Guimarães (Mão Branca), Zé Henrique Fantini, Airton Poloni, Élio de Freitas, Cássio de Vergílio, Marcos Ondei Nunes, formavam um enorme grupo de palmeirenses, ao qual, depois de algum tempo, se somaram Zé Antonio Fernandes, Mané Bernabé e Zé Roberto Iannela.

Conheci os primeiros santistas: Leandro dos Santos (Kaluzinho), Vilmar Prado e Renato Fantini; e um outro grupo de corintianos: Mineirinho, Paulinho Giamatei, Nelson Seraphim Júnior. Nada de são-paulinos.

Até que um dia me convidaram para jogar futebol num campinho que havia onde hoje se acha construída a Escola Ângelo Scarin, e que ficava bem defronte a Delegacia de Polícia. Era um campo de areia, com traves de ferro, muito movimentado nos finais de tarde. Lá conheci cinco são-paulinos de uma só vez, mas havia um detalhe estranho para mim: eram todos descendentes de orientais, dois grupos de irmãos: Kenzo e Shizuo Yano; Leandro, Carlos e Fabiano Otsuki. Pensei comigo, "será que aqui na cidade não tem são-paulino brasileiro?".

Demorou algum tempo pra que eu conhecesse outros: o Nera (Laurico de Almeida) e seus irmãos Toninho e Ditinho (os dois infelizmente, já no andar de cima), tricolores como o pai deles, seu Benedito de Almeida. Os outros irmãos - Paulo Pateta e Serginho - desgarraram-se para as bandas do Corinthians.

Também tinha o Saracura, ex-motorista da Prefeitura, que partiu para o andar de cima no mesmo acidente que vitimou os irmãos do Nera.

Os corintianos fizeram pelas ruas da cidade uma passeata histórica na conquista do título paulista de 1977. Eufóricos depois de 24 anos sem títulos, fecharam o quarteirão da Rua Diogo Garcia entre as Ruas Nadir Garcia e José Desidério, defronte a Lanchonete do Zé Frota. Foi foguetório e carnaval até de madrugada, pois o jogo final foi numa quarta-feira. Nino Giamatei, Pedro Maron, Tigueis, Diogo Ferraz, Eliseu Bernabé, Joaquim Fernandes - para lembrar os mais velhos - estavam entre os foliões mosqueteiros.

Os santistas também fizeram muita festa no Paulista de 1978. Partiram do Bar do Eliseu em cima do caminhão do Caçapa Fernandes sob o comando dos irmãos Batata e Maninho Bernabé, com imensas bandeiras alvinegras. Dentre os festeiros estavam: Cabo Honório, Edmar e Gilmar Prado, Amauri Cruzeiro, Vande Mendonça, Zezola Cardoso, e muitos outros que a memória não mais alcança.

Pois quando o São Paulo foi campeão brasileiro em 1977 não houve passeata, não havia torcida em número suficiente, apesar da existência, à época, de vários salgadenses tricolores como Zé Frota, Tião Pelé, Chico Inocêncio, João Cunha, Professor Yano, Roberto Japonês, Dr. Joãozinho Moreira, Dr. Nelson Seraphim. Apenas em 1980, com a conquista do Campeonato Paulista tive a honra de participar da primeira carreata tricolor da cidade. Inauguramos a era de comemorações públicas. Mas o desfile ainda era modesto.

Puxava a fila o fusquinha vermelho do João Cunha, seguido pela Brasília branca do Professor Yano. Depois um Corcel verde do Zé Frota e um Corcel bege do seu Domingos, meu pai. Fechando o cortejo o caminhão do Roberto Japonês. O corso era reduzido, mas muito barulhento, pois a buzina do caminhão era ensurdecedora. Enquanto isso o Tião Pelé ia se animando, tomando umas geladas e mexendo com todo mundo que passava defronte a lanchonete do Frota.

Depois disso sei que a torcida foi aumentando e se tornou imensa. Depois de tantas conquistas, sei que os tricolores salgadenses são equivalentes ao número dos demais, mas para mim foi uma honra participar do primeiro festejo, com um grupo reduzido, mas bastante ilustre.

Além disso, tenho que ressaltar que apesar da rivalidade existente entre as torcidas, nestas ocasiões sempre houve excelente convivência entre todos os salgadenses, o que, hoje em dia, diante da situação calamitosa que vemos nos estádios, deve ser considerado como exemplo a ser divulgado e seguido.

Um comentário:

Dulcimar Cunha disse...

Carlos, demais!!! Infelizmente não me lembro do fusca vermelho do meu pai, acredita?
Hoje, apesar do número bem maior de sãopaulinos, a carreata ainda é pequena se comparada aos demais times, mas... nós é que somos hexacampeões né?
Abração.