segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Uma Aventura Chamada Maluko

Maluko - Parte dos fundadores do Bloco Maluko durante o carnaval de 1982.
Em pé: Zé Iannela, Susiê Yano, Elane Arruda, Regina Cervantes, Lezir Cardoso e Miriam Lacerda. Agachados: Tino Sorroche, Birolinho, Carlos José, Valdir Cardoso, Alexandre Sorroche, Beto Ráo, Junior Seraphim, João Duran e Zé Antonio Fernandes.
Birolinho e Alexandre Sorroche nunca participaram do bloco, apenas saíram na foto.
(foto: Álbum do blogueiro)

Depois que alcançamos idade suficiente, começamos a freqüentar os bailes carnavalescos noturnos do Salgadense Esporte Clube e percebemos que os blocos fantasiados haviam perdido o ânimo. Apenas o Vira-Copo, formado basicamente por salgadenses que moravam na capital, resistia com muita animação e uma fórmula muito simples e barata: camiseta, embalo e copo.

No início de 1982 começamos a pensar em formar um bloco no mesmo sistema. Os veteranos bebedores do Vira-Copo eram quase profissionais do carnaval e nós estávamos apenas começando.

Faltando poucos dias para o primeiro baile, grande parte da turma ainda estava indecisa sobre aderir ou não ao novo cordão. Rabiscamos os nomes dos mais animados numa lista e despachamos dois amigos para Rio Preto a fim de conseguir as camisas. Havia um requisito básico estabelecido: o uniforme teria os nomes dos foliões, coisa inédita.

A escolha do nome foi fácil e surgiu de uma historinha curiosa. Alguns meses antes, um sujeito meio louco conhecido como Mosquitão, salgadense que vivia em São Paulo, (e que de vez em quando aparecia por aqui para aprontar umas artes), estava tomando umas cachaças na Lanchonete do Frota acompanhado de um grupo de garotas. Lá pelas tantas ele se desentendeu com as meninas, tirou da cinta e mais por farra do que por qualquer outra coisa, passou o couro nas moças. Enquanto batia ia dizendo: “toma maluca, toma maluca”.

A palavra pegou entre os que ficaram sabendo da história, que começaram a se chamar de maluco (ainda bem que a moda que pegou foi a palavra e não o couro). Daí para colocar o nome no bloco foi um pulo. Para diferenciar, pois era carnaval, mudamos a grafia para “maluko”.

Consegui com o Professor Erotides de Paulo, Diretor da Escola Tonico Barão, onde eu era Presidente do Centro Cívico, o empréstimo de alguns instrumentos da fanfarra e botamos o bloco fazendo barulho na rua.

Era ano de eleições municipais e depois de algumas voltas na praça, formamos uma grande mesa na Lanchonete do Zé Frota e passamos a exigir rodadas de cerveja dos candidatos a vereador. Fazíamos um batuque danado gritando: “fulano 82, fulano 82”, até que o candidato patrocinasse a remessa.

Acreditem, até o Professor Yano pagou cerveja para a gente!

Depois desse aquecimento de primeira partíamos para o Clube com uma única determinação: pular a noite inteira e tentar acompanhar o embalo dos “velhinhos” do Vira-Copo.

A partir da primeira noite do carnaval daquele ano os fundadores do Maluko mudaram a história do carnaval salgadense. Tomara que eu não tenha me esquecido de ninguém: Beto Ráo, Fabíola Belletti, Lezir Cardoso, Nelson Seraphim Júnior, Elane Arruda, João Duran, Eliana Marques, Zé Antonio Fernandes, Carlos Dadona, Ângela Cavenage, Tino Sorroche, Carlos José de Almeida, Miriam Lacerda, Cássia Giamatei, Cláudia Cunha, Regina Cervantes, Susiê Yano, Zé Roberto Iannela e Valdir Cardoso.

Logo no primeiro dia, entre a saída da casa do Júnior Seraphim e a entrada no salão do clube o bloco ganhou mais um folião: Vande Mendonça. A nossa iniciativa, juventude e animação fizeram com que ele se agregasse imediatamente ao grupo e passasse, dali por diante, a ser um dos principais símbolos dos nossos festejos carnavalescos.

Com o sucesso do bloco – recebemos a premiação do clube – tínhamos que solucionar um problema: muitos amigos que haviam ficado em cima do muro queriam fazer parte do grupo no ano vindouro. A minha opinião era de que deveríamos acolher a todos e fortalecer a idéia de uma reunião da turma antes dos bailes, com churrasco e bebida. A idéia da reunião e da festa pegou, mas na votação que se estabeleceu para permitir a entrada dos outros amigos fui voto vencido.

Aqueles que foram impedidos de ingressar no Maluko resolveram formar um outro bloco no ano seguinte, e foi assim que em 1983 surgiu o Tô-Que-Tô. Apesar da amizade fraterna existente entre os componentes de ambos os grupos, o surgimento do Tô-Que-Tô fez nascer a maior rivalidade que já existiu no carnaval salgadense. É lógico que esta rivalidade esteve sempre restrita ao campo da disputa de blocos nos salões do clube pelo prêmio de melhor animação. Os atritos que existiram foram periféricos, jamais partiram dos núcleos centrais que sempre mantiveram o apreço e a fraternidade.

Em 1984 o Maluko inovou mais uma vez. Um primo do Júnior Seraphim - o Juca - era dono de uma banda de música em Piquete (SP), uma das melhores do Vale do Paraíba, chamava-se “Grupo Terra”. A banda tocou na festa de casamento de Walkíria Seraphim e Ângelo Cavenage e foi contratada para o carnaval. Encomendamos aos músicos um samba-enredo para o bloco. Foi a primeira vez que se ouviu sambas de enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval salgadense.

Parte da letra do samba-enredo do Maluko falava mais ou menos assim: “Maluko traz e encanta com jeitinho / belo gesto do copinho / de cachaça com limão / e a noite não tem fim é uma criança / em que se bebe e se embalança / e machuca o coração / pega vira, vira, roda / deixa a loira levantar / tem Maluko, ai que beleza / e cachaça pra tomar”.

Neste mesmo ano criamos uma ala de crianças chamada Malukinho. A gurizada não ia para o salão, mas brincava nas matinês e freqüentava o churrasco. Priscila Cabrera, Bruno Marques, Ivan Fernandes, Juliana Salla, Alessandra e Paula Mendonça, Luciana Secches, Breno Giamatei, Tiozinho, todos foram malukinhos.

Como não havia fantasia a disputa dos blocos no salão ficava restrita à animação, ao agito. Por isso a entrada tinha que ser triunfal, os foliões podiam subir algumas vezes ao palco e durante os intervalos não ficavam parados para não perder o pique e a competição.

Resolvemos lançar mão da criatividade de novo. Em 1985 fizemos gravuras brilhantes nos rostos e cada um dos foliões entrou no clube portando uma pequena vara de bambu que trazia na ponta três balões coloridos. Quando o bloco entrou no salão e tomou toda a circunferência da pista furamos os balões com palitos de dente. Dentro havia talco misturado com confete e todo o salão ficou envolto numa grande e perfumada nuvem colorida. Foi de arrepiar.

Havia um detalhe muito importante nessa época que contribuía para a sobrevivência dos bailes no clube, e que a meu ver, a partir do instante em que deixou de ser observado pelos demais blocos, acabou matando o carnaval do clube. Todos os blocos tinham o compromisso de fechar as portas até 1:00 hora da manhã, e a obrigação de incentivar todos para irem ao clube. O Maluko sempre cumpriu essa regra, mesmo nos anos em que não participou da disputa de prêmios.

Além dos fundadores outros amigos se tornaram Malukos históricos nos anos seguintes: Marquinhos Secches, Piau (marido da Claudia Cunha, que partiu precocemente para o andar de cima), Paulo e Beto Sales, Vilmar Prado, Grilão, Gappa, Pereca e Lúcio Fernandes, Ecléia Fantini, Luciana Salla, Claudia Oliveira, Cristiane Neves, Paulinho Giamatei, Lucelena Prado, Vando Colombo. Também havia um grande contingente de paulistanos que adotou a cidade para brincar o carnaval: Bacana, Mingo, Hidrante, Lepô, Tim Tones, Menudo, Tremendo, Papel e Maurinho. Este último gostou tanto que ficou por aqui, casou-se com Marli Cardoso.

Como eu morava em Araçatuba ficava hospedado na casa dos amigos até que, a partir de 1986 fui adotado por Dona Lúcia e seu Marino Secches; passei a ser o “filho carnavalesco” deles. De madrugada D. Lúcia deixava preparada uma canja muito especial, daquelas de levantar a moral de qualquer folião.

E como eu gostava de dormir um pouquinho até mais tarde para descansar a contento, todas as manhãs o Marquinhos arrumava uns ajudantes para me jogar na piscina e recomeçar a folia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cal,
Que surpresa agradável ver estas fotos da época do Maluko.
Muitas lembranças e muitas saudades. Na medida em fui lendo, foi passando um "filminho" de tudo aquilo.
Parabéns, mais uma vez voce foi fundo e nos deixa emocionado.
Qualquer dia apareço.
Abraços a todos,

DAVID

Carlos José Reis de Almeida (Cal) disse...

Amigo David, obrigado pela visita, volte sempre. Estamos com saudade de vc, perdido aí nesse mundão das Minas Gerais. Fique com Deus. Abração. CAL