segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Advogado Sem Diploma

A turma de amigos do Jaburu (José Giamatei) da qual faziam parte Zé do Braz, Orlando Ascêncio, Zé do Leite, Preto Cornélio, Tonho Branco, Zé Prego, William Zancaner e outros, era fértil em festas e armações.

Num carnaval em meados dos anos 70 eles construíram um boneco de boi, parecido com esses que se usam nos folguedos do Bumba-meu-boi, e saíram pelas ruas da cidade. O condutor do boi era o Preto Cornélio, que saia chifrando todo mundo na rua. Enquanto isso os demais iam desfilando a aprontando brincadeiras com os transeuntes.

A turma costumava se reunir nos finais de tarde na loja de produtos veterinários que o Jaburu tinha na Avenida Diogo Garcia, ao lado da antiga Farmácia do Marino Secches. Dali combinavam festas, churrascos e troças.

Num sábado à noite estavam tomando umas cervejas na ZBM (zona do baixo meretrício). Naquele tempo, final de semana sem baile era final de semana sem vida noturna na cidade, pois os bares fechavam cedo.

Todos bebiam e se divertiam quando ouviram um barulho estranho lá fora, um carro chegou a toda velocidade, levantando poeira, e dele desceram dois desconhecidos bastante embriagados, no estilo "cercando frango".

Ocuparam uma mesa e deram a entender, pela conversa, que se tratava de pai e filho. Começaram a botar banca, se mostrando arrogantes, dando ordens aos presentes, garganteando, ofendendo as moças do local.

Notando a empáfia dos forasteiros, Orlando Ascêncio foi até o quintal e voltou em seguida, dirigindo-se ao mais velho de forma educada:

- Por favor, o senhor é o dono daquele carro verde estacionado lá fora?

Diante da resposta positiva prosseguiu:

- Por gentileza, venha aqui fora ver o que o senhor fez!

Os dois se levantaram e se dirigiram até os veículos. Orlando mostrou que ao lado do carro verde havia um outro carro com a porta amassada. Indicou o estrago aos dois:

- Olha só o que vocês fizeram! Chegaram de qualquer jeito, fazendo bagunça, cantando pneu, levantando poeira e acertaram a lataria do meu carro.

Foi uma confusão danada, os dois negavam, diziam que não tinham amassado carro nenhum. Os demais incentivavam o Orlando e ele prosseguiu:

- Eu não posso ficar no prejuízo só porque vocês dois saíram por aí fazendo bagunça! Vocês é que sabem, ou me pagam o conserto ou eu vou devolver o estrago para vocês.

Apossou-se de um pedaço de pau e fez menção de quebrar o pára-brisa do outro automóvel.

- E tem mais - avisou - depois que eu quebrar o carro eu quebro vocês dois na pancada! Seus bêbados vagabundos!

Nisso os dois pediram calma, se desculparam pelo acidente, chamaram o Orlando e os amigos para dentro, pagaram uma rodada de cerveja, o mais velho sacou do talão de cheques e pagou o prejuízo. O cheque era de mil cruzeiros, que na época correspondia ao famoso “barão”. Dava pra comprar uma porta nova e ainda sobrava um troco.

Os salgadenses saíram imediatamente do local e foram para a Lanchonete do Zé Frota, onde eu estava. Eu tinha meus quinze, dezesseis anos. Sem que eu entendesse o motivo, tio Zé do Braz tirou do bolso o cheque de mil cruzeiros e me deu, dizendo para gastar como quisesse. Um barão era o meu salário de quatro ou cinco meses. Na mesma hora troquei o cheque com o Frota e então eles resolveram contar a história de como tinham recebido a grana.

O detalhe é que o carro amassado não era do Orlando, era do Zé do Braz, e o estrago na porta tinha acontecido no mesmo dia lá em Nova Castilho, quando ele, vindo para a cidade, passara correndo sobre um mata-burro quebrado.

Terminado o relato, Zé do Braz cumprimentou o Orlando:

- Vai ser advogado bom assim lá adiante! Melhor do que eu! Pode ir lá em casa amanhã buscar o meu diploma!

2 comentários:

Breno disse...

Cal - utilizo esse conto para elogiar todos os demais, sem qualquer exclusão. Muitos me emocionaram. Sucesso amigo.

Breno Giamatei

Carlos José Reis de Almeida (Cal) disse...

Breno, vc é suspeito, rsrsrs. Obrigado, volte sempre. Abração.
CAL