quarta-feira, 2 de março de 2011

Professora Julieta Farão

  • Manoel Afonso (especial para o Proseando)

Elegante no vestir, lábios carnudos adornados com batom, cabelos pretos e um corpo de violão. Essa era a professora Julieta Farão, natural de Itajobi (SP), que durante alguns anos foi professora no curso Primário – ainda quando o Grupo Escolar funcionava no prédio que hoje abriga a sede social do Clube de Regatas Salgadense. Dela guardo boas recordações: era acessível no relacionamento com os alunos e zelosa quanto à redação, da qual herdei muitos ensinamentos na 4ª. Série, em 1958.

Nos eventos sociais da cidade ela era paparicada pela sua beleza carismática e postura simpática. Essas manifestações de carinho eram freqüentes também na escola, com os alunos presenteando-a com flores, frutas e quitutes preparados em casa. Aliás, naquela época, professora era vista como a “segunda mãe”, mais que respeitada: reverenciada até.

Pois bem! Agora vem a parte interessante do texto. No ano de 2006, bateu uma saudade danada da professora Julieta. E fiquei matutando: “onde ela estará?”. Recorri ao Suplemento Feminino do jornal “O Estado de São Paulo”, que trazia uma seção de relacionamento pessoal. Mandei uma carta dizendo apenas que tinha sido seu aluno, que ela tinha familiares residindo em Itajobi e que gostaria de saber notícias suas.

Pois bem! O anúncio foi publicado no Domingo e nunca imaginei que a repercussão fosse tamanha e tão rápida. Naquela mesma noite, recebi vários telefonemas de professoras residentes na capital paulista que tinham sido colegas e amigas da Julieta. Todas ficaram impressionadas com o objetivo do meu anúncio e questionaram as razões do mesmo. Algumas até interpretaram minha iniciativa segundo a doutrina espírita, alegando que talvez “ela estivesse precisando de orações”. Mas aqui não cabe discutir esse aspecto, concordam?

E agora vem a parte ruim dos telefonemas: a professora Julieta havia falecido há alguns anos, vítima de um aneurisma cerebral. Tudo leva a crer, segundo as conclusões, de que ela – morando sozinha num apartamento – tivesse caído e batido a cabeça. O corpo da mestra querida foi sepultado na sua pequena Itajobi, sendo que as colegas de escola alugaram um ônibus e estiveram presente no funeral.

Nos dias seguintes ao anúncio recebi também várias cartas belíssimas postadas por ex-colegas dela. Além da caligrafia belíssima, de inconfundível característica professoral, todas continham promessas de orações em intenção a alma de Julieta.

Inesquecível também o telefonema que recebi de um dos dois irmãos de Julieta. Comerciante antigo em Itajobi, falou emocionado da irmã e fez a “intimação” para que eu o visitasse. Promessa eu fiz, mas até aqui não consegui concretizá-la, por comodismo e falta de oportunidade.

Vale anotar que – em reconhecimento aos seus excelentes serviços prestados à educação, o Governo do Estado de São Paulo, por decreto, denominou oficialmente a escola da Vila Cardoso, na capital paulista, como “Escola Estadual Professora Julieta Farão”.

Assim, estou resgatando aqui a figura desta professora que passou pela nossa General Salgado, mostrando um pouco mais de sua trajetória entre nós e certamente provocará comentários e reflexões entre aqueles que a conheceram. Assim, a professora Julieta merece ficar incrustada por todo e sempre em nossos corações saudosos. Até...

Manoel Afonso (mcritica@terra.com.br)

Um comentário:

Izilda disse...

Sou natural de Itajobi-SP e quando criança conheci a professora Julieta Farão. Atualmente moro no MT. Fiquei emocionada com o texto. Jamais será esquecida! Deus a tenha. E hoje é Dia do Professor...
Parabéns pelo lindo texto!