quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Lembranças do Álvaro Rodrigues e família

  • Texto do salgadense Manoel Afonso (especialmente para o Proseando)

"Esse Carlos José é danado! Com seu blog acabou derrubando minha resistência em não abrir o baú da saudade dos tempos de menino. Toda vez que vejo aquela foto emblemática – de boiadeiros - voltam as imagens vividas na fazenda da sua família, do patriarca Álvaro Rodrigues, conhecido por todos como simplesmente “véio Arvo”.

Essa relação começou quando meu pai – o Nelo Afonso - comprou a chácara do velho Álvaro e em seguida foram parceiros na lida do gado, como sócios inicialmente. Depois essa parceria continuou com o sistema de arrendamento de pastagens daquela propriedade situada na região do “Córrego Lambari”.

Eu adorava ir até lá com meu pai. Tudo ali encantava a gente: aquela casa com muitos quartos, o enorme fogão, o mangueirão, o chiqueiro de porcos, o curral, o barulho da desnatadeira e todo aquele movimento dos filhos, peões e visitantes. Como esquecer essa fantástica figura do Sr. Álvaro? Quem o conheceu pode confirmar: falante, gestos largos, de grande ascendência sobre os filhos e de um coração generoso. Às vezes comento com minha mãe: “quantas refeições a dona Maria e a Áurea prepararam na fazenda!” Aliás, o doce de leite e o biscoito que faziam eram o sonho de consumo de qualquer menino da minha idade.

Ambas não tinham descanso! Se durante a semana tinham que alimentar a família enorme e a “peonada”, aos domingos cuidavam da alimentação que era servida ao pessoal que vinha atrás das fortes orações que o velho Álvaro fazia em sua capelinha. Ele tinha poderes especiais: presenciei cenas fortes de exorcismo, como nos filmes. Gente rica e pobre vinha de longe em busca de cura de parente que chegava ali em estado desesperador, às vezes até amarrado para evitar agressões. A reza dele era de arrepiar na luta contra os maus espíritos. Rezador como ele, sem truques, comuns atualmente por aí, jamais encontrei.

Meus irmãos José e Toninho contam episódios interessantes que envolvem o sr. Álvaro. Fatos que retratam bem sua coragem, simplicidade e despojamento nas situações mais inusitadas. Acho que a vida dele daria um bom livro, mostrando sua garra numa época de dificuldades, sem estradas, assistência médica e outros recursos hoje disponíveis.

A Fazenda do sr. Álvaro pode ser considerada realmente “Meu Reino Encantado”, porque reunia todos os elementos agregadores de família e amizade. Ela tinha fartura, carro de boi, tropa de lida nota 10, porcos no chiqueiro, vacada gir de leite berrando de madrugada, galinhada no quintal e muita energia positiva no ar.

Como esquecer a festa de chegada da Folia de Reis naquela fazenda? Religioso e organizado, o “sr. Arvo” não deixava faltar nada. Do violino afinado aos doces e biscoitos servidos ao pessoal que vinha de longe.

De vez em quando, para matar a saudade, indo de Salgado para Araçatuba, paro para abraçar os pais do Carlos José, que resistem bravamente num pedaço da velha e inesquecível fazenda. Gente de estirpe, de uma teimosia rara e invejável, que não arreda pé de seu chão.

E prometo voltar ao blog, para contar causos e falar de gente de um tempo que não volta mais. Até!

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