sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Negão

Aspirantes do Grêmio Salgadense (1982) - Aderson Ferreira, Zé Picinha, Negão, Geninho, Japonês, Valdir Avequi e Maurício.
Agachados: Marquinhos Nunes, Mauro Santos, Márcio Teixeira, Nei Constantino, Cido Borracheiro, Anésio, Edinho e Jorge. Outros craques desse time que não aparecem: Becinha Prado, Mauro Bertochi e David Cristoni.
(foto: Acervo de José Eustáquio de Carvalho)

Por volta de 1977 o nosso time de garotos (Paulinho Futebol Clube, leia a história clicando aqui), passou a ser orientado por Márcio Teixeira da Rocha, com o auxílio de Zezinho Soldado e de um dentista chamado Josafá Barcelos, que tinha alguma noção de Educação Física.

Os treinos ocorriam no Estádio Paulo Possetti em dois períodos: 5 horas da manhã e 6 da tarde. Como era preciso juntar um grande número de garotos, toda a molecada da cidade foi convidada para participar do time. Aqueles que se destacaram formaram o time principal. Os demais, incluindo alguns que não tinham idade suficiente, formaram o time de aspirantes, o famoso “cascudo”.

No time de aspirantes havia um pequeno garoto que se destacava e chamava a atenção. Primeiro, pelo tamanho: era muito baixinho, apesar de contar apenas 11 anos de idade enquanto a maioria da turma ia pelos 13, 14. Depois, pela qualidade técnica: dominava a bola e encarava sem medo os seus marcadores, mostrando habilidade e facilidade para o drible.

O nome do baixinho era Carlos José de Oliveira, mas todo mundo o conhecia como Negão, que era como seu pai, o Policial Militar José Carlos de Oliveira (Zezinho Soldado) o chamava. Sei dizer que, ao ver aquele pequenino atleta enfrentando com bravura os grandes marcadores, todo mundo dizia: vai ser craque!

Além do convívio durante os treinos, viagens e jogos, eu e ele fomos convidados por Márcio Teixeira para tomarmos aulas de violão. Juntos, tentávamos decifrar as dificuldades do instrumento. Ele, com certeza, aprendeu muito mais do que eu.

O tempo passou, o time se desfez, me mudei para Araçatuba e em 1987 assisti, com grata surpresa, uma reportagem da TV Globo de São José do Rio Preto que mostrava os juvenis do América Futebol Clube recém chegados do Japão, onde haviam vencido um torneio da categoria. Entre os garotos entrevistados reconheci um que tocava violão e comandava a festa: Negão.

Japão 1987 - Juvenis do América conquistam a Taça SBS de Juniores no Japão. Dentre eles, o salgadense Negão.

Algum tempo depois ele já estava dentre os profissionais. Seguiu-se, então, uma carreira brilhante que o transformou num dos maiores ídolos da história do clube, e que chegou ao ápice em 1994 quando o time ficou em 5º lugar no Campeonato Paulista. Naquela época chegou a ser sondado por times grandes como Flamengo e Palmeiras, que queriam contar com seu futebol. Ele, no entanto, preferiu manter a vida gostosa do interior a aventurar-se nas grandes cidades.


1994 - Time que terminou campeonato paulista na 5º posição - Em pé: Neneca, Edinan, Serginho Carioca, Davi, Renato Carioca e Dedé. Agachados: Cleber Arado, Roberto Alves, Edson Pezinho, Negão e Cacaio.

Jogando como volante Negão conquistou o respeito e a condição de ídolo da torcida americana, pois dentro de campo mostrava forte poder de marcação e intensa dedicação ao time. Dividia todas as bolas e jamais deixava de lutar pela equipe. Chegou a ser comparado com Dunga, capitão da Seleção Brasileira Campeã Mundial em 1994.

11/06/1995 - América 1 x 0 Ferroviária - Em pé: Édson Pezinho, Serginho Carioca, Davi, Marcelão, Roberto Alves e Williams. Agachados: Negão, Dílson, Cléber Arado, Edinan e Élder.

Um dos fatos mais marcantes de sua carreira, no entanto, foi ter sido o autor do milésimo gol do clube, fato que ficará para sempre anotado na história americana. Durante os treze anos em que atuou como profissional, porém, nunca perdeu a simplicidade do garoto que todos conhecemos nos aspirantes do Grêmio Salgadense. Em todas as vezes que os salgadenses foram a Rio Preto assistir aos jogos do América contra os times grandes, foram por ele recepcionados de maneira festiva e amistosa.

1996 - Em pé: Neneca, Serginho Carioca, Marcelão, Leonardo, Bira e Carlinhos. Agachados: Negão, Luciano Araújo, Edson Pezinho, Cacaio e James.

Eu mesmo tive oportunidade de encontrá-lo várias vezes nessas situações. Em todas parecia que o tempo não havia passado para nós, e que ainda éramos aqueles dois jovens amigos que dividiam a atenção do professor de violão. Sempre sorridente, simpático e popular, muito querido pela torcida, um dos seus maiores prazeres era saber que nas arquibancadas do estádio havia torcedores salgadenses.

Encerrada a carreira (reduzida em dois ou três anos por conta de uma lesão no joelho), voltou à terra natal para atuar como Secretário Municipal de Esportes, desenvolvendo importantes projetos esportivos para crianças e adolescentes.

Além de ser o mais importante esportista da cidade, primeiro atleta salgadenses de destaque no futebol profissional, Negão é, certamente, um dos mais ilustres salgadenses de todos os tempos. Merece, por isso, todas as homenagens.

Voltar a General Salgado e reencontrá-lo é sempre motivo de festa. Sua chácara é famosa por reunir os amigos, inclusive aqueles com quem ele estabeleceu grande proximidade durante sua carreira como Luizão, Clóvis e Marco Antonio Boiadeiro.

Em dezembro de 2009 conseguimos reunir lá um pequeno grupo de amigos que participou desde o primeiro instante dos times formados por Márcio Teixeira no final dos anos 70, e foram testemunhas do talento que Negão mostrava desde os primeiros dribles.

Márcio, inclusive, nos deu a honra de sua presença e acabou sendo a principal estrela do encontro. Foi mais uma oportunidade para agradecer-lhe os bons conselhos que ele deu àquele grupo de adolescentes.

Chácara do Negão (Dezembro de 2009) - Negão, Zé Picinha, Vilmar Prado, Marquinhos Secches, Carlos José, Márcio Teixeira e Mané Bernabé.

Veja também neste blog: Carta aberta a um amigo salgadense (homenagem a Márcio Teixeira): CLIQUE AQUI.
Negão no time do Raé de Moraes em 1975: AQUI.
(fotos do América FC extraídas do site do clube: http://www.america-sp.com.br/).

Um comentário:

Anônimo disse...

Cal...muito legal a história que conta a vida do Negão, sem dúvida uma grande pessoa, um cara fora de série como amigo e parceiro..
Com certeza o maior esportista que Gal Salgado já teve e merece a homenagem mais ainda pelo cara que é..
Um abraço...Alex Marques Galhardo (Tabóka)