segunda-feira, 26 de maio de 2008

Mineirada Boa

Cada um dos povos que formam esse nosso imenso Brasil tem lá suas características pessoais, suas origens e costumes, seus acentos e linguagens próprias.

O português falado na região Norte é diferente daquele adotado pelos sulistas; a fala encontrada no Centro-Oeste é muito diferente daquela praticada no Nordeste, e assim por diante.

O interior paulista então, é deveras diferenciado, agregou um pouco do modo de falar, pensar e agir de outras regiões do país. O modo de agir de cada povo acaba transmitido para seus descendentes, os costumes são ensinados e difundidos.

A exemplo de muitos outros salgadenses, descendo de mineiros e conservo comigo muito dos caracteres deste povo, especialmente aqueles referentes à cultura, à culinária, à música, ao modo de se comportar e falar. Sou um puro interiorano, caipira mesmo. Andei por muitos cantos, conheci muita coisa diferente, mas nunca abri mão destes predicados.

Em contrapartida, cresci ouvindo histórias da caipirice dos mineiros. Tanto do lado paterno quanto materno, meus ascendentes que deixaram o estado de Minas Gerais no início do século 20 para se aventurar por estas bandas paulistas, eram gente muito simples, vinda de regiões pobres e até inóspitas. Jogaram mulheres, crianças e badulaques dentro de carros de boi e tocaram adiante para os rumos da terra prometida.

Se aqui na terra dos bandeirantes a vida já era difícil, dura, trabalhosa, muito mais dificultosa era a situação deixada para trás lá nas Alterosas.

No início dos anos 60 tio Azenclever Almeida (que já nos deixou) voltou à terra mineira para se casar com Dulce, sua prima. Na caravana de salgadenses, além dos irmãos (papai e mamãe recém-casados) alguns amigos próximos, como Arsênio Colombo e João Assato.

Depois de conhecer a região deixada para trás por vovô Álvaro, vendo aquela gente sofrida com jeito de abandonada, enfim, analisando aquele fim-de-mundo, seu Domingos filosofou com o irmão Ademázio:

- Foi Deus quem tirou meu pai daqui!

Naquele tempo havia gente morando nas cercanias de cidades, que nunca tinha deixado o quintal do sítio sequer para conhecer o vilarejo, jamais tinha visto uma rua calçada.

Tio Azenclever contava que numa das vezes em que retornou a Igaratinga para rever os parentes, isso há mais de vinte anos, conheceu um mineiro dos mais caipiras possíveis, daqueles que se assustavam com o progresso e com as modernidades.

Um dia lhe ofereceram sorvete e ele se agradou por demais da novidade, resolveu comprar o confeito para levar aos parentes que moravam no sítio. Comprou uma meia dúzia de picolés, enfiou numa pequena capanga e guardou tudo num dos bolsos da baldrana (para quem não sabe, baldrana é uma manta de couro que se coloca por sobre o pelego e os arreios).

Deu mais umas voltas pela cidade e, horas depois resolveu ir embora, mostrar a novidade aos parentes. Antes de retomar a montaria foi conferir o bolso da baldrana.

Para seu susto encontrou apenas os palitos e, raciocinando a seu modo, comentou com alguns presentes:

- Mas menino de Vila é danado, arteiro demais da conta sô! Chuparam o meu sorvete e ainda deixaram o palito dentro da capanguinha...

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