sexta-feira, 16 de maio de 2008

A História do Noroeste Paulista - 2

Imagem Rara - São José do Rio Preto em 1909, quando possuía aproximadamente 100 imóveis e um pouco mais de 1.000 habitantes.

Por volta de 1800 a província de São Paulo contava com apenas 48 municípios, distribuídos ao longo da faixa litorânea e numa pequena parte do leste. O restante era praticamente constituído de terras devolutas.

As terras interioranas paulistas passaram a ser ocupadas a partir de 1850, primeiramente por criadores de gado vindos de Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso. Depois, por mineiros que fugiram da Guerra do Paraguai (1864-1870), preferindo correr os riscos da vida no sertão a sujeitar-se ao alistamento militar.

Em 1866, quando regressava da Retirada da Laguna (episódio da Guerra do Paraguai), o militar e escritor Alfredo D´Escragnolle de Taunay, futuro Visconde de Taunay, utilizou-se da única rota existente no interior paulista, que hoje corresponde ao traçado da Araraquarense.

No ano seguinte registrou no livro Viagens de Outrora, sua passagem pelo pequeno povoado que depois passou a chamar-se São José do Rio Preto.

“Pousamos, por causa da grande tormenta, na única casa do arraial coberta de telha, pertencente ao Sr. João Bernardino de Seixas Ribeiro. A povoação consta de meia dúzia de palhoças abandonadas, na ocasião do recrutamento, por todos os habitantes que, com exceção do subdelegado, que era o próprio recrutador, haviam fugido para as matas e pontos em que se tornasse possível a exigência do serviço de armas. Há uma igrejinha em construção, e cremos que por muitos anos fique neste estado, quando não se arruíne totalmente”.

A partir de 1900, com aberturas de novas e imensas fazendas de café chegaram os imigrantes estrangeiros. Assim se deu a ocupação do interior paulista.

A vasta região localizada no sentido do oeste paulista era totalmente desabitada até 1800. Era um latifúndio que compreendia quase metade do território do Estado, sem qualquer traço de civilização. Em 1850 o interior paulista servia apenas de passagem para o gado criado no Mato Grosso, com destino a Minas Gerais e depois às populações litorâneas e principalmente aos grandes centros urbanos do sudeste do país. Não havia ligação entre São Paulo e Cuiabá.

Em 1892 o Coronel Carlos Ferreira de Castro, o Capitão José Maria e o Padre Ferraz, vigário da Vila de Santana do Paranaíba, no Mato Grosso, fizeram o trajeto do Rio São José dos Dourados (em São Paulo) e chegaram a Viradouro, ultimo reduto povoado ao norte de São José do Rio Preto.

Lá organizaram um grupo de foiceiros e machadeiros para abrir uma trilha pelo mato, que chegou à barranca do Rio Paraná. Por esta trilha passaram as primeiras boiadas vindas do Mato Grosso para São Paulo e Minas Gerais.

Do Porto do Tabuado (Rio Paraná) o trajeto seguia paralelamente orientando-se pelo curso natural do Rio José dos Dourados até São José do Rio Preto. Para chegar a Barretos passava por sobre o Rio Turvo, para alcançar Uberaba e Uberlândia, em Minas Gerais, cruzava o Rio Grande. Às margens da Estrada surgiram fazendas de criação de gado, o que fez aumentar o povoamento da região.

A Estrada Boiadeira era a ligação da região matogrossense criadora de gado aos importantes entrepostos, com intensas atividades na pecuária, abate e comercialização de carne, cuja produção demandava ao consumo das populações das principais cidades do sudeste brasileiro.

O escritor Euclides da Cunha (1866-1909), autor da grande obra Os Sertões, visitou a região e fez um importante e profético registro:

“A Estrada Boiadeira é a mais importante do Brasil. Tem um caráter continental tão frisante que em pouco tempo duplicará a vitalidade nacional”.

Com o advento da cafeicultura, as boiadeiras viriam ainda servir para que a produção cafeeira chegasse às cidades chamadas pontas de trilhos. Outra trilha, no lado mineiro, ligava Santana do Paranaíba (Mato Grosso) a Uberaba (Minas Gerais), sobrepondo o rio Paranaíba, através do Porto Alencastro.

Em 1894 São José do Rio Preto possuía menos de 100 imóveis e cerca de 1.000 habitantes. Seu território compreendia imensa área de terras que confrontava: a Oeste – Rio Paraná; ao Sul – Rio Tietê; a Leste – Rio Turvo; e ao Norte – Rio Grande.

Entre 1900 e 1950 o território paulista passou a ser efetivamente ocupado, contribuindo para isto não só as riquezas que seriam obtidas com o café, mas principalmente pela conclamação na ocupação do interior do país, denominada Marcha para Oeste, promovida por Getúlio Vargas nas décadas de 30 a 50.

Primeira Estação Ferroviária de Araçatuba, construída por volta de 1908. A cidade foi construída no entorno da Estação.

Em 1911, o Governo do Estado começou demarcar as terras devolutas no interior, aliviando o processo de ocupação territorial, facilitando a compra e venda, a regularização de posses, fixando critérios para os negócios e as relações sobre a terra.

Este ato contribuiu para evitar as especulações e grilagens, para estimular as relações de trabalho, com o surgimento das figuras do proprietário, do arrendatário, do meeiro, do empreiteiro e do colonato. Eliminaram-se assim os conflitos de posseiros que expulsavam os índios e a indústria da posse.

As Comissões de Demarcação nomeadas pelo governo paulista adentraram o interior demarcando ou discriminando terras do Estado e terras particulares, estipulando prazo para que os ocupantes comprovassem a posse por pelo menos 5 anos, a existência de áreas de cultivo e o uso do local para moradia familiar.

Os possuidores de imóveis rurais que demonstraram o preenchimento destes requisitos se tornaram proprietários definitivos das terras, com a homologação do Governo do Estado.

As comissões que mapearam a região existente entre Bauru e São José do Rio Preto eram chefiadas pelo Engenheiro Gregório Mascarenhas. A demarcação conferiu valor de mercado às terras, mas também obrigou os proprietários ao recolhimento de impostos.

A região da Alta Araraquarense, nos territórios onde surgiriam os municípios de Votuporanga, Fernandópolis, Jales e Santa Fé do Sul, tinha muitos problemas de grilagens, terras estas encravadas entre as margens dos rios Grande, ao norte, São José dos Dourados, ao sul, e Paraná, a oeste.

Demarcadas constituíram doze fazendas e algumas glebas: Marimbondo, Ranchão, Iagora, São Pedro, Voador, Prata, Marinheiro, Pádua Diniz, Água Vermelha, Santa Rita e Ponte Pensa.

A Estrada Boiadeira cortava estas fazendas e ficou sendo a via de acesso para os sertanejos vencerem as inóspitas florestas, plantarem as cidades e povoarem a região, facilitando as relações comerciais entre Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais.

Na região mais próxima da margem do Rio Tietê surgiram as glebas nomeadas de Fazenda Talhados, Fazenda Carrilho e Fazenda Limoeiro

Habitação típica dos pioneiros da região Noroeste Paulista, casas de pau-a-pique abertas em meio ao extenso matagal.

Nestas imensas fazendas surgiram povoados, vilas, novas cidades e novos municípios, impulsionados pela expansão da cafeicultura, atividade econômica que, atrelada à imigração italiana, levou à expansão das estradas ferroviárias para transporte da produção.

Estrada Boiadeira do Taboado - Imagem atual, colhida por Evandro Ferreira, descendente de salgadenses residentes em Nova Castilho, turismólogo e encarregado do setor de Museus e Patrimônios Históricos de Votuporanga (SP), cujo importante levantamento sobre a Estrada do Taboado pode ser conferido AQUI, e que gentilmente contribuiu para as nossas pesquisas sobre o tema.

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