quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Receita de Felicidade

No início dos anos 60, tio Ademázio de Almeida arreou um matungo na beira do Córrego do Lajeado e foi parar em Cassilândia, às margens do Rio Aporé, que divide o Estado de Goiás com o atual Estado de Mato Grosso do Sul. Casou-se e fincou os pés no lugar.

Quando moço em General Salgado, Ademázio foi jogador de futebol dos mais habilidosos e clássicos. Atraía o marcador para a beira do gramado, dominava a bola e avisava a alguma moça bonita que assistia ao jogo nas proximidades:

- Esse drible é pra você!

E saia fintando toda a defesa adversária. Depois de concluída a jogada ainda voltava e perguntava à moça se tinha gostado. Os times da região, Major Prado, Fazenda Almeida Prado, Frigorífico T. Maia, Nova Castilho, concorriam para convencê-lo a disputar os campeonatos amadores da época.

Em 1984 eu cursava o segundo ano da Faculdade de Direito de Araçatuba quando resolvi visitá-lo em Cassilândia, durante a Festa do Peão. Naquele tempo o rodeio era à tarde, hábito da época em que a cidade não tinha luz elétrica.

De noite só havia agito: festa, cachaça, mulher bonita, paquera, namoro e show de música caipira (ainda estávamos livres desse romantismo popularesco, rançoso e imbecil que tomou conta da música sertaneja).

Foram praticamente quatro dias em claro, pois as festas se emendavam e eu queria aproveitar todas.

No terceiro ou quarto dia da festa fomos almoçar num restaurante próximo ao recinto, uma comidinha caseira daquelas que não se dispensa. Na mesa ao lado observei um senhor avançado nos anos, aparentando mais de 60 anos, acompanhado de uma morena muito bonita e vistosa, pouco mais de 20 anos.

Terminado o almoço tio Ademázio me conduziu às proximidades da mesa do casal e dirigiu-se ao velho:

- Seu João, quero lhe apresentar meu sobrinho, filho do Domingos. O senhor conheceu o pai dele moço ainda!

Ele me cumprimentou e indicou a mocinha ao lado:

- Esta é minha esposa!

Na década de 1960, meu avô Álvaro Rodrigues de Almeida formava uma comitiva de peões em General Salgado e ia comprar gado no Mato Grosso; dessas viagens surgiu a amizade com o seu João que me estava sendo apresentado.

Mas havia alguma coisa diferente no ar - eu suspeitava - e então tio Ademázio me esclareceu que o seu João estava em lua-de-mel, havia recentemente se casado com a moça, uns 40 anos mais nova.

Disfarçadamente me deu um cutucão com a ponta do cotovelo e perguntou para o amigo:

- E aí seu João, como é que vai o casamento?

O velho soltou uma gaitada, manteve o sorriso e, sem atentar para o olhar de timidez da esposa, deu a receita da felicidade:

- Êêê Damázio, 32 dias de casado, 28 metida!

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