sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Bloco das Piranhas

Na década de 1970 quase não havia brincadeiras de rua durante o carnaval salgadense. Os foliões preferiam festejar apenas nos salões do Salgadense Esporte Clube.

De vez em quando a turma do Zé do Braz e do Jaburu inventava alguma coisa, como num ano em que construíram um boneco de boi, tipo bumba-meu-boi, e saíram pelas ruas chifrando os transeuntes.

No início dos anos 80, um grupo de amigos liderado por Pote e Batata Bernabé começou a se vestir de mulher para brincar no meio da rua. A cada ano o cordão aumentava um pouco mais, mas não tinha dia e horário certos, saíam no começo da noite e emendavam a festa nos salões do clube.

Para tentar animar a segunda-feira, que sempre foi o dia mais desanimado do carnaval, em 1983 os foliões dos blocos Maluko e Tô-Que-Tô decidiram ingressar no grupo, fazendo surgir o Bloco das Piranhas, que ao longo desses anos todos, tornou-se o mais famoso evento do carnaval salgadense.

Naquele ano decidiu-se que o bloco sairia todos os anos por volta das 17:00 horas da segunda-feira, e que qualquer folião poderia dele participar, sem a necessidade de estar filiado a algum bloco.

A bateria do Tô-Que-Tô assumiu a batucada e as mulheres foram convocadas para maquiar os foliões. Nesse mesmo ano o bloco ganhou uma madrinha, que sempre foi chamada de Rainha das Piranhas: o folião José Antonio Pereira da Silva, o famoso Pitanga.

Como a grana de todo mundo era muito curta, e aproveitando que naquele horário o comércio ainda se achava de portas abertas, decidimos “invadir” os bares pedindo a doação de bebidas.

A maioria dos comerciantes entendeu a brincadeira e passou a contribuir com o bloco doando litros de Conhaque Presidente, Cinzano ou Martini.

Aqueles amigos que não tinham coragem de ingressar no grupo e ficavam meio de lado observando, passaram a ser sistematicamente perseguidos pelas piranhas, que para incentivá-los a aderirem ao grupo, enchiam o medroso de abraços e beijos lambuzados de batom.

Nos primeiros anos o grupo dava umas duas voltas na praça e depois se dispersava. Durante alguns anos o encerramento aconteceu com um jogo de futebol entre as piranhas.

Em 1987 fizemos uma passarela com as mesas do Bar Pereka´s, do amigo Eduardo Fernandes, e as piranhas tinham que fazer strip-tease para o público.

Nesse ano aconteceu um pequeno incidente. O Pitanga escorregou na passarela e no tombo bateu a cabeça na quina de uma mesa. Eu e o Marcelo Cruzeiro (Tiela) imediatamente prestamos socorro e o levamos à Santa Casa. Para nossa surpresa, não havia médico de plantão, apenas duas enfermeiras.

Inconformados com a falta de médico e assustados com o tamanho do corte que o Pitanga trazia na testa, pressionamos as enfermeiras para que dessem um jeito. Uma delas começou então a suturar o ferimento, com muita dificuldade.

Vendo a falta de jeito da moça, que não conseguia perfurar as bordas do ferimento com a agulha, o que só fazia aumentar o sofrimento do coitado do Pitanga, Marcelo tomou a ferramenta da mão da enfermeira e me pediu para segurar a cabeça do ferido.

As enfermeiras não acreditavam naquilo que assistiam: dois sujeitos de sunga (já tínhamos deixado as fantasias para trás), aparentemente embriagados (não era aparentemente, era profundamente), costurando a testa de um outro mais bêbado ainda.

Garanto que o serviço foi de primeira. Quem olhar para a cicatriz na testa do Pitanga vai pensar que o Tiela fez medicina.

Em 1992 apareceu um carro de som para acompanhar o bloco, e alguém teve a idéia de apresentar o show. Em 1998 o bloco fez um desfile especial para comemorar 15 anos de existência e me convidaram para contar, no palco, a história do grupo. A partir daí me tornei o narrador oficial do evento, com muita honra.

A cada ano o bloco se renova, mas muita gente dos primeiros tempos ainda continua. Com o advento do carnaval de rua e o imenso palco montado defronte a Praça da Matriz, a segunda-feira passou a ser o dia mais esperado do carnaval salgadense. Às cinco da tarde a arquibancada está lotada e a rua entupida de gente, que já dá início ao festejo esperando as piranhas.

Em todos esses anos, aconteceram muitas histórias engraçadas.

Na época em que o Salão de Beleza mais freqüentado da cidade era o de dona Alivina, as piranhas gostavam de lá entrar e pedir atendimento.

Num dos primeiros anos, após ganhar uns litros de conhaque dos comerciantes, uma piranha mais embriagada que as outras entrou num açougue e gritou:

- Queremos lingüiça!

A partir daí, além de gritar conhaque, os foliões também passaram a pedir lingüiça na porta dos açougues da cidade.

Mas o grito de guerra da turma, até hoje, é em homenagem ao Pitanga:

- Inha, inha, inha, Pitanga é a Rainha!

Mas a situação mais engraçada aconteceu com um amigo que eu trouxe de Araçatuba, o Jamil Mansur.

Em 1992 ainda não existia palco, apenas uma aparelhagem de som montada sobre uma carreta de trator, estacionada na esquina da Avenida Diogo Garcia com a Rua José Desidério.

Ao final do desfile, o apresentador da época (infelizmente não me recordo quem era), passou a entrevistar as piranhas. Quando foi entrevistar o Jamil, ele tomou o microfone da mão do repórter e assumiu o show.

Com uma peruca ruiva, saia cor-de-rosa e blusa azul, totalmente embriagado, Jamil passou a usar o microfone para dar uma aula de sexo oral para as outras piranhas.

O pessoal precisou se sentar no meio da rua para dar risada, de tão engraçada foi a cena.

Na tarde do dia seguinte fomos convidados por Alessandra e Paula Mendonça para tomar lanche na casa delas. Estava todo mundo esparramado na sala curtindo a ressaca e assistindo televisão, quando alguém apareceu com uma fita de vídeo e colocou para rodar. Era o vídeo do desfile.

Conosco na sala estavam dona Alexandrina e seu Toninho Mendonça, que ficaram assistindo as peripécias das piranhas, dando muita risada. De repente, surge na tela o Jamil dando aula de sexo oral com o microfone.

Olhei de lado e ele tinha se escondido atrás do sofá, de tanta vergonha.

Um comentário:

Anônimo disse...

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