terça-feira, 25 de maio de 2010

O Antídoto

Como sempre digo, muitos amigos colaboram para a sobrevivência do nosso Proseando, enviando fotos e causos. A maioria conta o fato principal e eu dou um trato no desenvolvimento do enredo. No entanto, o salgadense Leonço Barbosa de Alencar, que há muitos anos vive em Santos (SP), me mandou uma história pronta e muito bem contada, que merece ser reproduzida na íntegra.

A narrativa é do próprio Leonço:

"Fazia um calor medonho naquela tarde de domingo. Nas andanças pelos bares da vida, acabamos nos encontrando: eu, Marcola, Marçal e João Gato. Para dar um basta ao suor, decidimos tomar um banho refrescante no córrego Talhados.

Embarcamos em minha Brasília amarela (que não era só minha, pois fora comprada em sociedade com outros amigos) e rumamos para o local, não sem antes dar uma passadinha pela padaria da Vila Maria para comprar algo que nos ajudasse a refrescar a alta temperatura.

Pensamos em sorvete, água gelada, pedras de gelo e coisas tais e, na dúvida, optamos por uma quantidade razoável de latinhas de cerveja. Para completar compramos também alguns pães, uma boa porção de mortadela e, por pura precaução, caso a água do córrego estivesse muito fria, pensamos em algo para esquentar e aí veio a “boa idéia” de levar também um litro de 51.

Conseguimos uma caixa de isopor emprestada e na hora de embarcar, o Marçal cismou de comprar algumas garrafinhas de guaraná. Não entendemos nada daquele desatino, mas ele nos explicou que decidira tornar-se um homem sério, estava pensando em se casar, constituir família, e portanto havia parado de beber. Jurou por tudo o que era de mais sagrado de que falava a mais pura verdade e se não fora o grande número de pecados outrora cometidos, dir-se-ia que doravante teríamos um amigo franciscano.

Chegamos finalmente ao ribeirão, botamos calção de banho e, literalmente, mergulhamos de cabeça. Depois de algumas braçadas e muita brincadeira na água partimos para cima da munição que trouxéramos.

Eu e o Marcola, irmamente, dividimos o litro de pinga. O João Gato tomou conta da cerveja e o Marçal.... como prometera, dá-lhe guaraná !

O papo transcorria animado, passamos uma tarde agradável e melhor não foi por conta do verdadeiro enxame de borrachudos que nos atacava o tempo todo, o que nos obrigava a tomar um trago, dar uma mordida no sanduba e um mergulho na água.

Hora de voltar para casa. Recolhemos tudo e tomamos o caminho de volta.

No dia seguinte, segunda-feira, o trabalho nos aguardava. Naquela época eu o Marçal trabalhávamos na Prefeitura, eu na Contabilidade e ele no Gabinete do Prefeito Dr. Norival.

Tomei o maior susto quando o vi chegando para trabalhar. Manquitolando, com a dor estampada no rosto, os poucos cabelos em desalinho e um dos pés descalço. Se tivesse sido atropelado, provavelmente estaria com uma expressão melhor.

Perguntei o que aconteceu e ele mostrando-me o pé respondeu que o seu estado deplorável decorria por obra e graça dos borrachudos que nos atacaram no dia anterior. Realmente, dava medo olhar para o pé do rapaz. Estava totalmente vermelho, inchado e redondo, parecendo a pata de um elefante. Mesmo assim insistiu em trabalhar e como não apresentava melhora do longo do dia, resolveu ir ao hospital.

Parece piada de mau gosto, mas o fato é que a emenda ficou pior do que o soneto. Voltou de lá com a cara ainda mais feia, mancando agora das duas pernas num bailado feio e desengonçado, pois tomara uma cavalar dose de injeção na bunda.

Final do expediente, rumamos para o “point” da cidade, a lanchonete do Frota. Chegando lá quem encontramos ? Eles mesmos, o Marcola e o João Gato. Ambos bem humorados e com boa aparência ficaram espantados ao saber do ocorrido ao pobre Marçal que, apesar dos pesares, já estava bem melhor, a injeção do Dr. Kleber fora um santo remédio.

Não foi preciso muita filosofia de botequim para chegarmos à conclusão de que o álcool que havíamos ingerido ao misturar-se ao nosso sangue, servira como um verdadeiro antídoto contra o veneno dos borrachudos.

Então perguntei:

- E aí Marçal, o que você vai fazer ?

Ao que ele prontamente me respondeu:

- Caro amigo Léo, depois dessa.... SÓ TOMANDO UMA !"

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