terça-feira, 6 de março de 2012

Pinga-Fogo 4

Sidnei Constantino trabalhava no antigo bar do Pedrinho Giamatei, o mesmo que havia pertencido a Okuyama e Eliseu Bernabé. Muito moleque ainda, vivia pedalando uma bicicleta Monareta pelas ruas da cidade e cantando uma famosa música do Tião Carreiro: "Oh! vida amargurada / quanta dor que sinto nesse momento em meu coração / Oh! que saudade dela / não aguento mais vou lá na vendinha tomar um pingão...". A constante repetição da história do pingão logo virou apelido: Pinga-Fogo.

Certa vez Pedrinho decidiu investir noutro ramo e abriu uma pequena fábrica de cuecas tipo 'samba-canção'. Como o movimento do bar andava meio parado, convenceu o empregado a tentar a sorte como representante comercial do empreendimento. O moleque estranhou a proposta, pois as únicas vendas a que estava acostumado eram de doses de cachaça para os frequentadores do bar, quase todos bem conhecidos na cidade. Porém, para não desagradar o patrão decidiu encarar a timidez. Juntou uma sacola cheia de amostras, foi até o Bar do Toninho Mendonça e montou num ônibus com destino a Nhandeara.

Durante a viagem matutava sobre a nova empreitada, ensaiando formas de abordar os lojistas e oferecer os produtos. Desceu do ônibus e assim que entrou na primeira loja de roupas que avistou foi imediatamente atendido por duas moças muito bonitas e atenciosas. Quando uma delas perguntou se podia ajudá-lo, tentou falar sobre a mercadoria que trazia, mas não encontrou as palavras.

- Tô dando só uma olhadinha... - sussurrou...

Mexeu numas prateleiras, virou umas camisas para lá e para cá, e a coragem não veio. Na mão, a sacola cheia de amostras de cuecas. Olhou de novo para as moças e nada de atitude; o caipirismo falou mais alto. Saiu de cabeça baixa e voltou à rodoviária, onde soube que a próxima jardineira para General Salgado só sairia dali duas horas, teria que esperar.

Na volta reencontrou o patrão, ansioso por boas notícias sobre as vendas.

- E aí Pinga-Fogo, vendeu bem?

- Que nada Pedrinho, tá todo mundo com o estoque lotado... Ninguém quis comprar!

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