quinta-feira, 22 de julho de 2010

Gappa no bingo

Em meados dos anos 90, como prêmio à conquista de um campeonato regional de futebol amador, o dirigente João Venâncio - o famoso João Gordo - levou os atletas salgadenses para curtirem uma semana na praia.

Um ônibus lotado ancorou na praia de Pitangueiras e os boleiros se esparramaram pelas areias do Guarujá. Gappa e Instalação (Wilians de Castro e Marcelo Pereira, figurinhas repetidas aqui da nossa prosa) fizeram uma aposta: os dois teriam que sair do Morro do Maluf e ir até a praia de Astúrias (aproximadamente dois quilômetros de orla) parando em todas as barraquinhas. Em cada uma delas teriam que dividir uma cerveja e uma caipirinha. Quem arriasse primeiro perderia a aposta e teria que pagar um prêmio ao outro.

Saíram de manhã marchando pelas areias e um grupo seguiu a dupla para conferir o cumprimento do acordo. Horas depois, mais de metade do caminho percorrido, os dois trançavam as pernas mas não entregavam a rapadura. Prosseguiram até o fim e sacramentaram um empate técnico. Combinaram de deixar o desempate para outro dia.

De volta ao alojamento improvisado numa escola atacaram uma imensa panela de vaca atolada. Decidiram descansar um pouco antes de voltar à praia. Minutos depois de se deitar num colchonete, Instalação não consegiu se levantar a tempo de alcançar o banheiro. Uma mistura de caipirinha, cerveja, costela e mandioca cobriu colchões, lençóis e travesseiros da turma. O coitado do Tião Pelé teve que jogar o colchão fora e dormir o resto da semana por cima de uns panos...

No dia seguinte o Gradella convidou a turma para ir a um bingo, mas todos queriam conferir um pagode que aconteceria nas proximidades. Gradella se arrumou e saiu sozinho. Pouco tempo depois voltou rindo e exibindo ao grupo um pacote de notas. Com poucas rodadas havia embolsado um prêmio de mil reais. Ao verem o maço de dinheiro os demais se animaram e decidiram também tentar a sorte no bingo.

Minutos depois todos estavam instalados no local pedindo cartelas. O problema é que a maioria estava acostumada com o bingo da quermesse anual na Praça da Matriz de General Salgado, onde os locutores sempre cantavam as pedras com enorme paciência. Desde a época de Melentino Cardoso, Norival Cabrera, Fominha, e outros cantadores, cada número era anunciado de quatro a cinco vezes, e se algum atrasadinho reclamasse, conseguia que todos fossem mais uma vez conferidos.

No bingo guarujaense tudo era diferente, as pedras saíam em abalada carreira, não havia repetição e o apostador tinha que manter um olho na cartela e outro numa imensa tela onde a imagem das bolas sorteadas era projetada. Isso sem falar que todos estavam de cara cheia, mal compreendendo o que se passava ao redor. Depois de mais ou menos uma dúzia de bolas sorteadas o Gappa levantou as mãos e deu um grito.

Paralisou-se o sorteio, todas as atenções se voltaram para os salgadenses, uma gentil atendente se aproximou, colocou sobre a mesa um troféu indicador de prêmio, sorriu para o Gappa e perguntou:

- O senhor bingou?

- Que nada! Manda cantar tudo de novo que até agora não consegui marcar nenhuma...

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