segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Memória 6 (Firmino Luiz Marques e filhos)

Fazenda Açoita-Cavalos - 1938 - Firmino Luiz Marques, Wilson Gonçalves, Olegário de Paula Castilho, João de Paula Castilho, Manoela de Paula Castilho, Fermina de Paula Oliveira, Izaura Marques Castilho, Julieta Castilho Marques, João Firmino Marques, Aparecida Castilho de Carvalho e Braz Firmino Marques. Firmino e seu primo Norberto Luiz Marques foram os primeiros Marques a chegar à região, em novembro de 1906. A casa que se vê na foto ainda existe, é a sede da Fazenda Guanabara, de dona Arandira Seixas Marques, em Nova Castilho.
(foto: Álbum do Cal)

Memória 5 (Anos 50)

General Salgado - Anos 50 - Esquina da Avenida Diogo Garcia Carmona com a Rua Euflauzino Teodoro Castilho. O sobrado da esquerda foi construído por Reinaldo Soligo no início dos anos 50. A foto foi tirada da torre da Igreja da Matriz, que foi construída entre 1946 e 1948. Os jardins da praça foram construídos na administração do Dr. Bruno Martins (1952/1955). Na mesma administração houve o asfaltamento das principais ruas da cidade.
(Foto: Álbum de Rita Colombo / Jornal A Gazeta - G. Salgado)

Gregório

Sempre ouvi contar que Gregório Giamatei foi o mais folclórico contador de histórias que existiu em General Salgado. Suas mentiras e invencionices ficaram famosas, correram de boca em boca e até hoje permanecem vivas pelas ruas, esquinas, botecos e em qualquer rodinha de amigos que se forme para contar velhas histórias.

No início dos anos 60, quando poucas casas salgadenses dispunham de aparelhos receptores de televisão, encontraram-no sentado num banco da Praça da Matriz, olhando fixamente para a antena de TV que havia sobre o telhado da casa do Sr. José Desidério. Ficou por longo tempo mirando o estranho aparelho, sério, compenetrado. Alguém percebeu e quis saber o quê de interessante havia sobre a residência do comerciante. E ele demonstrando elucidação:

- Pois agora foi que eu descobri uma coisa. Está vendo aquele fio preto ligado na antena da TV que entra pelo telhado? Por ali que os artistas descem para aparecer na televisão!

Gostava de contar aos amigos histórias do tempo em que jogou futebol nas adjacências do Córrego do Gabriel. Alardeava qualidades de craque, dizendo que num torneio em Nova Castilho fora escalado para cobrar um pênalti. Era época de seca e atrás do gol havia um pasto ressecado pelo sol e pelos ventos frios da temporada. Deu um chute tão forte, mas tão forte que além da bola furar as redes foi se arrastando pelo capim com força e velocidade suficientes para atear fogo a pastaria. E finalizava dizendo que o jogo teve que ser interrompido para que os jogadores ajudassem na contenção do incêndio.

N'outro jogo foi novamente escolhido para cobrar uma penalidade máxima, mas teve o pior instante de sua carreira futebolística. Repetiu o chute potente, uma patada, mas a bola traiçoeira acertou o travessão, atravessou todo o campo, encobriu o goleiro do seu time e foi parar nas redes: gol contra! E arrematava dizendo:

- Ainda bem que o meu time estava ganhando de cinco a zero. Eu tinha feito cinco "golo"!

Tinha um cachorro de estimação, um paqueiro. Com ele corria as baixadas do Ribeirão Açoita Cavalos, do Córrego do Gabriel, caçando pacas, capivaras, perdizes e codornizes.

Para sua infelicidade o cachorro adoeceu e um amigo recomendou que o deixasse amarrado para observação. A doença poderia ser a tal da raiva canina, incurável e transmissível aos humanos. Prendeu o perdigueiro ao pé de uma mangueira no quintal e, dias depois, confirmou-se o terrível diagnóstico. Nas suas crises raivosas o animal babava, gania e mordia desesperadamente o tronco da árvore. Poucos dias mais durou e o dono, dolorido pela perda, até providenciou o enterro do amigo. E explicava:

- O pior é que um ano depois a mangueira começou a dar mamão, melancia, jabuticaba, jaca, laranja; foi contaminada e também ficou louca!

Numa viagem a São José do Rio Preto, contava ele, perdeu a carteira com todos os documentos. Retornou a Salgado desvalido, desconsolado. Apesar do registro da ocorrência e da procura em alguns postos de achados e perdidos, nada conseguiu.

Depois de quase um ano empreendeu nova viagem a Rio Preto, que, à época já era um grande centro regional. Na volta para Salgado sentiu uma dor de barriga danada, talvez efeito de uma salsicha "boiadeira" que ingerira na Rodoviária. Boiadeira é aquela salsicha de aquário, que fica meses e meses boiando na conserva, exposta nos balcões dos bares de rodoviária.

Com a ameaça de emporcalhar o ambiente conseguiu convencer o motorista do ônibus a fazer uma parada de emergência no meio do caminho. Entrou numa roça na beira da estrada, ajeitou-se por detrás de um pé de café e aliviou-se.

Passado o desespero lembrou-se de um ingrediente essencial: papel. Olhou em derredor e visualizou debaixo do pé de café, por sorte, um pedaço de jornal. Tentava dobrar o jornal para deixá-lo no tamanho adequado quando enxergou um quadro de aviso no qual estava escrito: "AVISO: Sr. Gregório Giamatei, seus documentos se encontram à sua disposição na Delegacia de Polícia de Monte Aprazível".

Ai de quem dele duvidasse!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Bugrinho

Bugrinho era um peão de fazenda que quando vinha à cidade promovia um verdadeiro desfile. Era um tipo meio enjoado, só andava bem trajado: bota do cano comprido até no joelho com umas fivelinhas laterais no alto do cano; guaiaca de couro também cheia de fivelas e abotoamentos; camisa aberta no peito; lenço de boiadeiro atado no pescoço; chapéu preto atolado na cabeça; cigarro de palha espremido no canto da boca; invariavelmente, uma faca na cintura.

Montava uma mula preta toda enfeitada: peiteira de doze argolas, arreio mexicano com um baita pelego tingido de vermelho e mais alguns penduricalhos. Era metido a domador de burro bravo e sempre alardeava em rompantes os seus dotes de peão. Tinha jeito de briguento, arreliento, mas era boa gente.

Ouviu dizer que a melhor maneira de guardar dinheiro era ter uma conta no banco. Juntou uns trocados e foi até o Banco Real. O gerente autorizou, recolheu o depósito e entregou o talão de cheques na mão do novo cliente. Semanas depois o bancário avistou o peão desfilando pela rua, montado no mulão e fez sinal para ele se aproximar.

- O senhor precisa ir ao banco fazer um depósito, sua conta está descoberta. O dinheiro que o senhor depositou já acabou!

E o Bugrinho, surpreso:

- Acabou nada, o senhor tá muito enganado, ainda tem uma meia dúzia de folhas no talão!

Naquele tempo não existia vida noturna com bares abertos até a madrugada, todos fechavam por volta da meia-noite. Havia uma turma de amigos que usava Bugrinho para impedir o fechamento. Ficavam aproveitando o bar mais movimentado e mandavam o domador para o outro, com menos gente. Diziam: "Vá tomando cerveja lá e não deixe o homem fechar o boteco, depois nós pagamos a sua conta".

Nestas ocasiões se dava ar de importância quando o botequeiro queria mandá-lo embora:

- Não vou e você não vai fechar enquanto eu estiver bebendo e pagando!

E segurava a peteca até a chegada da turma.

Anos depois se mudou para São José do Rio Preto, abandonou a vida de peão, arrumou um emprego público. Depois de muito tempo na cidade grande a saudade bateu forte, ele tirou a tralha do baú, calçou as botas de cano comprido, enterrou o chapéu na cabeça, lenço no pescoço, montou num Opala preto e se mandou para a Festa do Peão de General Salgado.

Reencontrou os amigos, festejou todos os dias, tomou umas cachaças e no domingo à noite pegou a rodovia de volta para casa. No meio do caminho foi parado por uma blitz da Polícia Rodoviária. Entregou os documentos, o policial pediu para ele descer e analisou a situação: um negrão trajado de peão, dirigindo um Opala incrementado, e pior, com documentos duvidosos. O Bugre ainda tentou argumentar:

- Olha seu guarda eu sou o Bugre, sou trabalhador, o carro é meu mesmo, tá aqui o documento!

Não teve jeito, acabou na Delegacia às duas da manhã. Também tentou argumentar com o Delegado:

- Seu dotô, eu sou o Bugre, não sou qualquer um não, sou funcionário da Prefeitura de Rio Preto, o senhor pode ligar pro meu chefe que ele vai confirmar pro sinhô que eu sou gente boa.

O Delegado deu uma analisada:

- Mas e essa roupa de peão?

- É que eu já fui domador lá em Salgado, fui ao Rodeio encontrar uns amigos e tô voltando pra casa.

O Delegado ficou muito desconfiado, entrou em outra sala e telefonou para Rio Preto, localizando o chefe do Bugrinho. Soube que era boa pessoa. "Ele é meio nervoso, mas é inofensivo doutor, pode liberar que tá tudo bem com o rapaz", disse o patrão.

O Delegado voltou à sua sala, onde o Bugre aguardava impaciente. Devolveu-lhe o documento e disse:

- Seu Bugrinho, eu falei com o seu chefe e o senhor está liberado!

O ex-peão olhou bem sério para o Delegado, meteu a mão em tudo o que se achava em cima da mesa e jogou no chão:

- Então o senhor duvida da minha palavra, me faz passar essa vergonha e agora vem me dizendo que tô liberado? Eu sou o Bugre, agora o senhor vai saber quem é o Bugre! Pode me prender, já que o senhor tá pensando que eu sou bandido! Agora o senhor vai saber quem é o Bugre!

Quase três horas da manhã, depois de um final de semana de cansativo plantão, o Delegado não sabia se ria ou se chorava diante daquela figura plantada na sua frente. Precisou usar de muita paciência para convencer o Bugrinho a ir embora para casa e deixar de confusão.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

A História do Noroeste Paulista

São José do Rio Preto - Catedral de São José - Construída em 1852, a capela deu início à cidade, sendo considerada o seu marco zero. Em 1973 foi substituída pela atual catedral.
(fonte: www.riopreto.sp.gov.br)
A primeira cidade paulista surgiu no Século XVIII, a Vila de São Vicente, fundada por Martim Afonso de Souza no dia 21 de janeiro de 1532. Tempos depois um grupo de jesuítas liderado por Manoel de Nóbrega e José de Anchieta escalou a Serra do Mar chegando ao planalto de Piratininga, onde surgiu, por volta de 1560, a cidade de São Paulo.

Na segunda metade daquele século as bandeiras começaram a se aventurar pelo interior da província, aprisionando índios, procurando pedras e metais preciosos. Em 1861 São Paulo era considerada a cabeça da capitania, e, em 1822, quando da declaração da Independência, existiam lavouras de cana-de-açúcar no litoral norte e na região entre Itu e Sorocaba.

Na entrada do século XIX as plantações de café começaram a substituir a cana-de-açúcar, e São Paulo passou a ocupar o primeiro plano da economia nacional. A expansão da cultura do café exigiu a multiplicação das estradas de ferro.

A abolição da escravatura, em 1888, provocou a chegada dos imigrantes, alternativa para o problema da falta de mão-de-obra na lavoura cafeeira. A chegada dos estrangeiros permitiu maior ocupação do interior do Estado, que se integrou ao cenário do rápido crescimento da província paulista, obrigando à construção de novas estradas.

No primeiro período republicano (1889) o governo do país ficou sob controle das oligarquias de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Tendo se tornado a economia mais dinâmica da república, São Paulo era tido como um verdadeiro Estado dentro da federação.

Em 1867, ao retornar da Guerra do Paraguai atravessando a província paulista, o escritor Visconde de Taunay narrou que pernoitara num pequeno vilarejo interiorano, que havia sido levantado por João Bernardino de Seixas às margens do Rio Preto, cuja construção teve início em 19 de março de 1852, em terras doadas por Luiz Antonio da Silveira.

O bairro era conhecido como Araraquara e o vilarejo chamado de Patrimônio de São José. A partir de 20 de março de 1855 o distrito passou a ser chamado de São José do Rio Preto. O escritor registrou em seu diário que no local existia meia dúzia de palhoças e uma capela em construção.

Em 1894 foi elevado à categoria de município. Seu extenso território, na região noroeste do Estado, confinava com o Rio Paraná no oeste, o Rio Tietê no sul, Rio Turvo no leste e Rio Grande no norte.

Nos anos seguintes este imenso território passou a sofrer inúmeros desdobramentos, fazendo surgir a região Noroeste Paulista.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Memória 4 (Leoncio Viana)

Bodas de Prata - 1946 - Família do pioneiro Leôncio da Cunha Viana. Em pé: Geraci , Leôncio Filho, Guerina e o marido Geraldo Dias do Vale. Sentados: Guerina Viana e o marido Leôncio da Cunha Viana, ao lado do Padre Luís.
(Foto: Álbum de Nelito Dias / Jornal A Gazeta - G.Salgado)

Memória 3 (Greminho)

Grêmio Desportivo Salgadense - 1980 - Grilão, Carlos José, Paulo Padeiro, Zé Antonio Fernandes, Alexandre Sbroggio, Mineirinho, Mané Bernabé, Moraes e Renato Fantini. Agachados: Mauro Petronil, Zé Carlos Rodrigues, Vilmar Prado, Zé Roberto Lopes e Edemilso Lanfredi. O técnico era Márcio Teixeira da Rocha.

A Turma do Funil

Dentre os diversos tipos de personagens folclóricos eu tenho especial predileção pelos bêbados. São os mais engraçados, provocam um tipo de fascínio, possuem certas circunstâncias que os tornam diferentes dos demais. São alegres, criativos, alguns se mostram gênios do improviso.

É lógico que a eles me refiro sob ângulo estritamente cômico, folclórico. Cumpre-me deixar o problema social a quem de direito, aqui trato exclusivamente do burlesco.

Adoro piada de bêbados, são as melhores, as que causam melhor efeito. E notem, para criar ou se envolver numa situação engraçada não é necessário que o personagem seja um daqueles bebuns crônicos, contumazes. Mesmo aqueles que se entregam à dieta líquida apenas nos finais de semana, acabam, vez por outra, criando ou participando de situações hilariantes. É comum que pessoas normais durante o dia, trabalhadoras, depois do expediente se juntem ao time dos pés-de-cana com dedicação ímpar.

Em Nova Castilho, há muitos anos atrás, existia o Armando. Era um tipo que a princípio assustava as crianças: negro, descalço, com um embornal a tiracolo, roupas velhas, freqüentador assíduo do Bar do João Careca. Tinha voz grave e forte sotaque nordestino. Olhava para as pessoas com olhos salientes e inquisidores, pedindo uma pinga. Quando lhe negavam ensaiava um choro.

Por uns dez anos o Armando foi o personagem principal das ruas de Nova Castilho. Apesar da aparência deplorável e penosa, todos os moradores procuravam ajudá-lo. Além de roupa e comida ofertavam trabalho, mas o batente ele não aceitava. Era cômico ouvi-lo chamar as pessoas, mesmo as desconhecidas de "compadre", pedindo para pagar uma dose para o "compadre" Armando. Depois de muitos anos, ouvi dizer que se regenerou, pegou firme no trabalho e não bebeu nunca mais.

Em Salgado, o antigo Bar do Nino Giamatei (que também já nos deixou) era um ponto de figuras típicas, pois envolvia além dos "amigos do alambique", os jogadores de bocha, sinuca e bilhar. O Lebrão era daqueles que trabalhava o dia todo e depois do expediente ancorava no balcão. Tarde da noite, depois que o pessoal da sinuca encerrava o serão, Nino fechava as portas do bar e entrava no carro para ir embora. Quase sempre encontrava Lebrão desmaiado no banco do passageiro. Ao primeiro cutucão o dorminhoco dava o endereço da entrega:

- Rua Rio Branco, sem número!

O comerciante resmungava, contestava, pedia para ele descer, mas não tinha jeito, continuava repetindo:

- Rua Rio Branco, sem número!

Para que os mais novos se localizem: a antiga Rua Rio Branco passou a chamar-se Rua Guilherme Veschi.

Ovídio Marcelo era outra figura típica dessa turma. Ficava trinta, quarenta dias trabalhando pesado no Mato Grosso como operador de máquinas. Recebia o pagamento e se mandava para a terrinha. Começava a beber nos botecos da Vila Maria e ia descendo de bar em bar até chegar ao antigo “Zé do Péto”. No meio do percurso demorava uma semana entre a Lanchonete do Zé Frota, o Bar do Delicio, o do Toninho Mendonça. Encostava-se ao balcão e pedia:

- Bota uma "querosena" aí!

Quando entrava um conhecido no bar ele corria cumprimentar convidando com a voz pastosa, quase sussurrante:

- Vamo tomá u'a querosena aí; eu pago!

Se o convidado recusasse era motivo para briga. Quando o outro nada respondia, encarava o sujeito e disparava um grunhido:

- Hein!?.

Fincava os pés na Lanchonete do Zé Frota, ao lado da estufa de salgadinhos tomando suas querosenes. À noite ainda estava no mesmo local convidando os amigos. No dia seguinte estacionava no Bar do Delicio e assim por diante, até chegar ao Bar do Zé do Péto. Em uma semana na cidade gastava o salário dos quarenta dias de trabalho pagando cachaça para os amigos.

Certa vez o Marinaldo “Preto” Cornélio quebrou uma garrafa de cerveja na cabeça do Ovídio, que ficara o dia inteiro assistindo e dando palpite no jogo de bilhar, num bar de Nova Castilho. Perdeu a paciência de tanto que ele insistia em oferecer suas ‘querosenes’ e depois disparava "hein!" contra o silêncio dos jogadores.

No dia seguinte, com curativo na cabeça e tudo, o bêbado voltou ao bar e insistiu o dia inteiro: "Hein!".

Mariona Preta era outra componente do grupo, também muito engraçada, dona de uma risada solta, rouca e retumbante. Vivia de boteco em boteco filando umas branquinhas, de vez em quando entoava em altos brados a versão de uma moda-de-viola do Tião Carreiro, "O Mineiro e o Italiano". O original dizia: "Um mineiro e um italiano viviam às barras dos tribunais / numa demanda de terra que não deixava os dois em paz / só em pensar na derrota o pobre caboclo não dormia mais / o italiano roncava, nem que eu gaste alguns capitais / vou fazer esse mineiro voltar a pé pra Minas Gerais". Na versão da Mariona a briga era entre genitália feminina e masculina e a última frase era gritada: "vou fazer esse c... virar de cara pra trás". O resto, infelizmente, é praticamente impublicável.

Havia uma turma de zombeteiros que, como antecedente justificativa ao "patrocínio" das branquinhas exigia que ela se apresentasse aos mais jovens que lhe eram apontados. Pois ela não titubeava, se aproximava do garoto, segurava-o pela braguilha e disparava:

- Maria Olímpia Borges, sua criada!

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Humorista de Verdade

Em minha opinião o maior e melhor humorista salgadense foi Vandenir Mendonça, o Vande, que infelizmente partiu muito cedo para o andar de cima.

Foi com certeza o mais criativo, espontâneo e satírico dos piadistas. Na adolescência já aprontava das suas, coadjuvado pelo irmão gêmeo Valmick. Em sua homenagem, vamos lembrar algumas boas que ele aprontou.

Na escola as professoras se habituaram a diferenciar os gêmeos porque vestiam blusas de cores diferentes. De vez em quando eles trocavam as blusas só para fazer confusão. Quando cada um tinha que levar três fotografias para a matrícula no colégio um deles tirava meia dúzia - muito mais barato - e dividia.

Chegaram ao ponto em que um começou a aprontar com o outro. Mick arrumou uma namorada em Auriflama, estava apaixonado e contou para o irmão. Semanas depois Vande foi com a turma para a cidade vizinha. Estavam numa lanchonete e de repente foi abraçado por uma moça:

- Oi amor, tudo bem?

E ele de imediato:

- Tudo bem por quê? Eu nem te conheço!

A moça se assustou e considerou que estava levando um fora. Na semana seguinte o Mick foi namorar e chegou dono e senhor da situação:

- Oi benzinho!

E ela irritada:

- Benzinho??? Depois do fora que você me deu a semana passada vem com a maior cara-de-pau me chamar de benzinho???

Devolveu ao Mick o fora que tomou do Vande.

Vande era muito criativo, tinha rapidez de raciocínio para responder em cima qualquer provocação, sempre deixando o interlocutor sem defesa. Estava sentado defronte ao balcão da Lanchonete do Zé Frota coçando as costas com um garfo. Alguém de imediato o repreendeu:

- Vande, onde já se viu coçar as costas com um garfo?

- Dizem que é melhor coçar com pão, mas um velho ditado diz que "quem não tem pão coça com garfo!”.

Na mesma lanchonete, estava no meio de uma rodinha onde uma das garotas falava de sua própria beleza e ele resolveu elogiar:

- Realmente você está uma verdadeira BB.

A moça gostou do agrado:

- BB de Brigitte Bardot? (a mais famosa atriz de cinema da época) Muito obrigada!

- Não, BB de Belém-Brasília (a rodovia): Feia e mal-acabada.

Foi apresentado a uma garota de outra cidade, que deu a entender que não havia se simpatizado com ele. Chegou todo amistoso para a moça:

- Eu quero te dizer que achei você uma moça muito bonita, simpática e atraente. Tive muito prazer em conhecê-la.

Demonstrando certa irritação a menina reagiu dizendo:

- Muito obrigada, sinto muito em não poder dizer o mesmo a seu respeito!

- Então faça como eu: minta!

Existem diversas piadas que correm na cidade, em todas as rodinhas de amigos, principalmente entre aqueles que privaram da sua amizade, que foram inventadas, criadas pelo Vande. Certa vez o levaram a um salão de humor promovido pelo Banespa, do qual participaram humoristas de todos os cantos do Estado, profissionais inclusive. Pois ele voltou com o primeiro lugar.

Foi um dos fundadores do Bloco de carnaval "Maluko" e premiado em três anos consecutivos como o melhor folião do Clube de Regatas Salgadense. Adorava o carnaval e fazia questão de tomar todas com os diversos amigos.

No carnaval de 1988 saímos juntos do clube por volta de quatro da matina e convidamos alguns amigos de outros blocos para tomar mais umas na sede do Maluko. Depois de muitas a mais resolvemos enxugar outras na Cantina do Mauro Cruzeiro: eu, ele, Dinoel Marques, Pioio (José Cunha Júnior), Marcelo Cruzeiro e Nera (Laurico de Almeida). Ficamos bebendo até o dia amanhecer.

Depois das dez da manhã voltamos à cidade e combinamos novo encontro para depois do descanso, por volta das quatro e meia da tarde, no barzinho do clube. Chegamos no horário combinado e ele já estava lá, ferrado no truco e com a cara de quem tinha tomado todas de novo. Perguntei ao botequeiro a que horas ele tinha chegado:

- O Vande chegou aqui logo depois das dez horas da manhã!

Ele foi para casa, mas como morava em frente ao clube e viu o barzinho movimentado, passou direto e emendou. Acho que só foi dormir uns dois dias depois.

São muitas as histórias, as brincadeiras, as piadas. Vande tinha o espírito brincalhão, galhofeiro, zombeteiro, mas com o único intuito de divertir, de animar os amigos. Nunca o vi fazer uma maldade ou uma brincadeira que passasse dos limites.

Para finalizar. Não nos víamos há uns seis meses e fiquei sabendo que ele havia se casado. Algum tempo depois nos encontramos na Boate Dromedárius. Depois dos abraços e daquele papo inicial, perguntei:

- Fiquei sabendo que você se casou. Como vai a vida conjugal?

Ele me olhou sério:

- A minha mulher me colocou na parede e disse, "ou você para de beber ou nós vamos nos separar!”.

- E então? - perguntei - quer dizer que você parou de beber? O casamento tá firme?

Como se esperasse a minha deixa ele me abraçou e falou:

- Vamos tomar umas ali no boteco que a gente ganha mais!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Boiadeiro Apaixonado

Existem muitos fazendeiros salgadenses que começaram do nada e ganharam bastante dinheiro, ficaram ricos com muito trabalho e esforço.

Um deles se tornou figura bastante folclórica pelo seu jeito rústico e espontâneo, seu humor, e também suas patacoadas. Ainda por cima, tomava todas. Depois de ganhar muito dinheiro e comprar várias fazendas, ainda andava num carro velho. Um amigo recomendou:

- Compre uma camioneta nova, você não pode mais andar nesse carro velho aí!

Convencido, foi até uma das concessionárias da região. Como tinha saído da fazenda direto para a cidade vizinha não se preocupou com a aparência. Desceu dum carro velho na frente da loja, bota suja de terra, calça esgarçada na bunda, camisa puída e para fora da calça, aberta no peito, chapéu velho quebrado na testa, bem no estilo "marreteiro de boi".

Entrou na loja e ficou apreciando uma camioneta zero quilômetro, brilhando, novinha em folha. O vendedor veio atendê-lo com desdém, não acreditando que aquele sujeito que mais parecia um peão pudesse tornar-se cliente da empresa. Mesmo a contragosto lhe deu informações sobre o veículo, deixou que se sentasse ao volante e escutasse o ronco do motor. Satisfeito, o fazendeiro arrancou do talão de cheques e foi avisando o vendedor:

-Vê se me faz um preço bom que eu vou comprar essa bichona; faço o cheque agora e já saio montado na danada.

O comerciante torceu o nariz:

- O senhor vai me desculpar, mas nós não aceitamos cheques. Assim não posso vender a camionete para o senhor.

A reação foi irritada:

- Ara sô, será então que eu não sou homem procê duvidar da minha palavra, pois liga pro gerente do banco lá em Salgado e pergunte se o meu cheque não vale nada!

Constrangido o vendedor telefonou para o banco indagando se aquele peão tinha dinheiro para comprar uma camionete nova.

- Se ele quiser comprar toda a sua loja com as portas fechadas pode vender que ele tem dinheiro mais do que suficiente. Foi o que disse o bancário.

Com o rabo entre as pernas voltou ao comprador dizendo que aceitaria seu cheque. O fazendeiro rabiscou o documento e lhe entregou, não sem protestar contra o tratamento recebido:

- Olhe aqui, vagabundo, vê se aprende a tratar melhor as pessoas; a não duvidar da palavra de homem. E procê não pensar que eu sou algum cachorro miserável, eu fiz o cheque em valor a mais, que é pra te sobrar um troco. Quem sabe você compra um pé-de-bode!

Pé-de-bode, para quem não sabe, era o apelido do Fusca.

Outra do mesmo fazendeiro, muito tempo depois. Sempre no mesmo estilo: calças para dentro do cano da bota, camisa aberta no peito e chapéu quebrado na testa, o boiadeiro desceu da camioneta, entrou na Lanchonete do Zé Nelson, deu um tapa no balcão e pediu para a garçonete:

- Bote aí uma jurubeba para mim!

A garçonete era uma mocinha muito bonita, de vez em quando usava umas saias curtas. Era um dos motivos do intenso movimento da lanchonete nos finais de tarde. Sorrindo, aproximou-se a bonita atendente para atender o cliente e reconheceu o boiadeiro:

- Oi! Tudo bem? Escuta! Será que lá na tua fazenda não tem uma represa, uma lagoa, ou um lugar assim bem tranqüilo...?

O boiadeiro coçou a cabeça, ajeitou o chapéu e mirou fixamente a mocinha já com o pensamento pra lá das terceiras intenções: loira, boas pernas, corpo atraente. Valia a pena.

- Claro que tem! Lá na minha fazenda tem uma prainha que eu mandei fazer, está à disposição!

Entusiasmada, a mocinha foi se convidando, dizendo que pretendia passar um final de semana diferente, longe da cidade. Quem sabe não dava para programar um churrasquinho à beira d'água... O coração do boiadeiro deu um pulo.

- Ara sô! A hora que "ocê" quiser nós vamos pra lá. Tem um carneiro no mangueirão, o churrasco e as bebidas vão por minha conta!

Deu mais uma estudada na menina, pediu outra jurubeba e enquanto bebia sentiu que o peixão estava fisgado. Até que a mocinha arrematou, ingênua:

- Então vamos neste final de semana, você aproveita e convida a tua mulher, teus filhos, eu quero conhecer a tua família...

Num súbito, quase engasgando com o último gole, o boiadeiro enfiou a mão no bolso, botou uma nota de cinco no balcão e saiu apressado:

- Ih! Acontece que ontem deu uma chuvarada na cabeceira do rio e acabou com a prainha; o carneiro pulou o mangueirão e a enchente levou embora, vamos deixar isso pra outra hora...

A Fundação de General Salgado

Primeira igreja de General Salgado, construída em 1936
O prédio branco ao fundo onde se lê "Restaurante" é o atual Bar do Toninho Mendonça.
(foto: Álbum de Rita Colombo/Jornal A Gazeta - Gen. Salgado)

Há tempos venho pesquisando a história da cidade de General Salgado. Encontrei depoimentos de alguns dos primeiros moradores publicados na imprensa ao longo dos anos; lembrei antigas conversas de familiares; entrevistei Wilson Gonçalves e Pedro Chico, filhos adotivos da Família Marques que, ainda garotos ajudaram na abertura das primeiras ruas do povoado. Juntei fragmentos que me permitem, ainda que pretensiosamente, narrar um pouco dos primeiros dias do vilarejo.

Antonino José de Carvalho, o Tonico Barão, chegou à região em 1928. O único povoado existente era o de Nova Castilho, que havia surgido entre 1910 e 1915 nas terras do fazendeiro José Castilho. No mesmo ano o fundador escolheu uma área destinada à construção da cidade.

Demarcados os lotes surgiram as primeiras moradias. Para homenagear uma filha do fundador, o arruado recebeu o nome de Palmira, passando a ser conhecido como Vila Palmira. No dia 5 de dezembro de 1928 a Lei Estadual nº 21.301 reconheceu a existência do Distrito de Palmira, pertencente à comarca de Monte Aprazível.

No início de 1930 havia no local meia dúzia de casebres de tijolos e taipas, sem luz elétrica e água encanada. Incentivados pelo padre missionário Jorge Geimeinder, que em 1933 havia celebrado a primeira missa, em 1936 os moradores formaram uma comissão e levantaram uma pequena capela onde mensalmente rezavam um terço e promoviam um pequeno leilão de prendas para arrecadar dinheiro.

Dentre os primeiros moradores da região na época, são sempre citados: José Castilho, Firmino Luiz Marques, Norberto Luiz Marques, Hipólito Ludgero Marques, Luiz José Marques e o filho José Luiz Marques Neto, Diogo Garcia Carmona, Candido José da Silva, José Pedro, Deraldo José da Silva, João Garcia, Virginio Borges de Lima e José Pereira da Silva (conhecido como José Rafael). Anos depois Palmira e Orozimbo, filhos de Tonico Barão também se tornaram moradores da cidade.

Deraldo José da Silva foi encarregado por Tonico Barão da venda dos lotes aos interessados, sendo considerado, por isso, um dos maiores incentivadores do povoamento da cidade. Levantada a igreja, José Rafael cedeu uma casa para ser instalada a primeira escola. Os primeiros professores se chamavam Leônidas, Julinha e Lúcia.

Como residia em Barretos, Tonico Barão vinha de tempos em tempos ao vilarejo, hospedando-se na fazenda de Merquides da Rocha, no Córrego do Buriti.

No vilarejo existia uma pequena pensão cujo proprietário se chamava Carlos Van Tol (ou algo parecido). No dia 07 de janeiro de 1937, lei estadual transferiu a sede do distrito de paz de Sebastianópolis para a Vila Palmira, que passou a se chamar General Salgado em homenagem ao General Julio Marcondes Salgado, herói da revolução de 1932.

O primeiro prático de farmácia, Guilherme Sancini, foi o responsável por trazer o primeiro médico, que chegou no dia 20 de junho de 1938. Era o Dr. João Rodrigues Moreira, maranhense de Santa Quitéria. Algum tempo depois chegou outro farmacêutico: Sebastião Gomes de Carvalho.

A pensão de Carlos Van Tol transformou-se em residência e consultório do Dr. João Moreira, que também atendia pelas redondezas montado a cavalo. Não existia policiamento, de tempos em tempos um grupo de soldados da Força Pública de Monte Aprazível passava pelo vilarejo. O Dr. João Moreira foi nomeado sub-delegado.

Em 1938 o engenheiro Feliciano Sales Cunha demarcou o traçado da estrada que ligaria a região a São José do Rio Preto, rodovia que anos depois receberia seu nome. No mesmo ano José Rafael doou um terreno para a instalação do primeiro Cartório, sendo nomeado escrivão o Sr. João Garcia.

Em 1944 o governo paulista nomeou o morador Plínio Ribeiro do Val para administrar o distrito, logo substituído por João Batista Veroneze (45/47). Em 1947 assumiu a função o Sr. Candido Arroio, que no mesmo ano foi substituído pelo primeiro administrador.

Em 1947 houve a primeira eleição direta para prefeito, vencida por João do Carmo Lisboa (48/51). O primeiro Vice-Prefeito foi Nadir Garcia. No mesmo pleito houve a eleição da primeira Câmara de Vereadores, composta pelos moradores: Dr. João Rodrigues Moreira, Dr. Paulo de Souza Lima, Dr. Ricardo Carvalho, José Pereira da Silva (Zé Rafael), Claudimuro Costa, Jaime Nestor de Carvalho e Sebastião Batista.