O jornal Folha da Região, de Araçatuba, publicou na edição do dia 02 de novembro de 2011, em alusão ao feriado de Finados, reportagem sobre o cemitério de Nova Castilho. Eis o teor da matéria:
"ABERTO HÁ 60 ANOS, CEMITÉRIO DE NOVA CASTILHO TEM APENAS 406 CORPOS
Menor cidade da região, Nova Castilho também tem um dos menores cemitérios. O espaço funciona oficilamente desde 1956, época em que a cidade ainda era distrito de General Salgado. O primeiro registro de enterro que se tem é o de Maria Quioveta, em fevereiro de 1956. Mais de 60 anos de funcionamento se passaram e apenas 406 corpos foram enterrados no local. O valor representa pouco mais de 30% do total de mortes registradas em Araçatuba no ano de 2009 (1.342 óbitos).
Com poucas mortes ocorrendo ao ano, não é de se admirar que os velóriso se tornem verdadeiros eventos públicos. "Quando alguém morre, um vai ligando para o outro. O povo comparece demais da conta. A vila é pequena, o povo é humilde e as pessoas estão muito juntas, é como se fosse uma única família", explica a responsável pelo cemitério municipal, Aparecida Tamborlin de Souza. No Dia de Finados, esta cena se repete.
Os túmulos de Nova Castilho, contam a história de pessoas conhecidas e anônimas que deram sua contribuição para o município. Uma das personagens é Izabel Honorato da Silva, que morreu em 1997, aos 25 anos. Eleita vereadora na primeira eleição municipal que a cidade teve, ela morreu num acidente de trânsito 12 dias após tomar posse do cargo. "Foi uma morte que marcou. Todo mundo na região conhecia ela", afirma o secretário municipal do Executivo, Benedito Aleixo Costa."
Aparecida, responsável pelo cemitério: "Quando alguém morre, um vai ligando para o outro".
"EM NOVA CASTILHO, MORRER ESTÁ FORA DE MODA; SAIBA MAIS SOBRE A HISTÓRIA
Se depender da longevidade da população de Nova Castilho, município a 65 quilômetros de Araçatuba, o cemitério municipal ainda terá tumulos vazios pelas próximas duas décadas. Na região de Araçãtuba, a população nova-castilhense é a que registra menos casos de morte e, no Estado, é a terceira com menor quantidade de óbitos. Com número reduzido de velórios, a cidade não tem nem coveiro.
De acordo com as últimas estatísticas do Registro Civil, divulgadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a primeira posição no ranking das cidades que menos registram mortes é ocupada por Borá (SP), o menor município do Brasil, quie em 2009 registrou quatro mortes. Na sequência, aparece o município de Uru (SP), com sete mortes. Nova Castilho vem em seguida, com oito óbitos.
O nova-castilhense Roberto Carlos Silveira morreu de câncer aos 37 anos de idade, cinco dias antes do Natal de 2004. Coube ao pai dele, o ex-coveiro Sílvio Antonio Silveira, 73, a tarefa de enterrar o corpo do filho. Ele diz que, apesar de ter sentido saudade como pai, executou de maneira profissional a função de sepultar Roberto.
Sentado no túmulo do filho, o último coveiro de Nova Castilho lembra o motivo que deu a Roberto o apelido de "campeão", escrito na lápide. "Ele jogava bola, por isso o pessoal o chamava de campeão". Sílvio ficou na função por 33 anos, se aposentando há três anos. "Além do cemitério, eu mexia com encanamento, roçava beira de estrada, limpava esgoto. Se fosse só enterro, eu não trabalhava", explica, destacando a quantidade pequena de velórios registrada na cidade."
Sentado no túmulo do próprio filho, que ele mesmo enterrou: o último coveiro de Nova Castilho.
O que a matéria publicada no jornal araçatubense não esclarece, porém, é que 406 é o número de sepultamentos lançados nos registros oficiais, ou seja, a partir de 1956. A fundação de Nova Castilho consta como sendo em 1923, porém, sabe-se que em 1914/1915 já havia um pequeno arruado no local, sendo bastante lógico admitir que o cemitério tenha surgido nesse período. Além disso, até 1928, quando surgiu a cidade de General Salgado, era o único cemitério da região.
Alguns membros da família Marques (que chegou ao local em 1906) e faleceram nos anos 20/30, foram sepultados em Nova Castilho, como por exemplo, Luiz José Marques (falecido em 1930) e seu filho Izidoro Luiz Marques (falecido em 1929). Maria Cândida Marques, esposa de Firmino Luiz Marques, faleceu em 1930 e também foi sepultada no local. Se o repórter araçatubense tivesse observado melhor o local, teria encontrado diversos túmulos com datas de sepultamento anteriores a 1956.
Os mortos eram levados ao cemitério em carroças e até mesmo na garupa de montarias. Segundo relatam antigos moradores, naquele tempo o cemitério era um campo aberto, sem muros, os cadáveres eram embrulhados em mantas de tecido e depositados em valas abertas no chão. Meu avô Braz Firmino Marques contava que em 1930, quando sua mãe faleceu, ele e o irmão João Firmino tiveram que passar diversas noites no cemitério vigiando e impedindo - a balas de carabina - que o cadáver fosse atacado por animais.
É certo dizer, portanto, que a quase centenária Nova Castilho tem muito mais gente sepultada no cemitério do Município.