sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Memória 61 (Mauro Castilho)

Mauro Castilho - a foto é dos anos 1980.
(foto: Acervo da Família Castilho)

Mauro Castilho 2

Aproveitando algumas histórias contadas pelos familiares e amigos na Comunidade “Passagens de Mauro Castilho” criada no site de relacionamentos Orkut, registro aqui algumas situações engraçadas acontecidas com o saudoso Mauro Castilho.

Arcídio Castilho viajava constantemente a Araçatuba e ás vezes prometia levar o filho, que tinha imensa vontade de conhecer a cidade grande. A promessa nunca era cumprida, o pai acreditava que a presença do menino poderia atrapalhar seus afazeres.

Certo dia, ouvindo o pai comentar sobre outra viagem Mauro cobrou a promessa e obteve novo compromisso:

- Amanhã o papai te acorda cedo então!

De madrugada seu Arcidio se levantou procurando fazer pouco barulho, não queria acordar o garoto. Despediu-se de dona Ana, pegou uma pequena maleta que sempre carregava, e quando saía pela porta afora ouviu o filho gritando:

- Peraí que eu também vou!

Mauro havia amarrado um barbante na maleta e a outra ponta no seu pé.

Quando eu era criança pequena lá em Nova Castilho era vítima constante de suas brincadeiras, que dizia que eu tinha a voz muito fina. Eu devia ter 2 ou 3 anos. A vida inteira ele passou me dizendo que eu deveria tomar chá de bambu para engrossar a voz. Essa história continuou em todas as vezes que nos encontrávamos. Antes mesmo de me dar um abraço ele vinha com a conversa do chá.

Passaram-se muitos anos, a gente se via muito pouco e, em 1988 eu estava ajudando organizar um rodeio no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. De dentro da arena eu o vi sentado num dos camarotes, bem perto da grade. Na primeira oportunidade fui lá cumprimentá-lo. Pela primeira vez ele não se lembrou do chá de bambu. Pensei que tinha escapado das suas gozações. Quando fui voltar para a arena, ele me abraçou e cochichou no meu ouvido:

- Acho que você não está mais precisando daquele chazinho!!!

Por conta dessa história do chá de bambu, quando criança eu fugia dele, sabia que não escaparia de suas brincadeiras. Eu tinha uns 4 ou 5 anos, era muito tímido, menino caipira criado em Nova Castilho, tinha ido poucas vezes à cidade grande.

Num certo dia eu caminhava por uma calçada da Rua Floriano Peixoto em Araçatuba, indo pra casa do tio João Firmino. Distraído com o movimento da rua meti a cara numa árvore. Caí de costas na calçada, minha mãe correu para me socorrer. Não chorei porque fui macho! Mas ficou um galo na testa.

Deu aquela baita vergonha, fiquei torcendo para que minha mãe não contasse a ninguém. Para minha infelicidade, quando entramos na casa do tio João dei de cara com o Mauro, que ficou sabendo da história, esparramou para todo mundo e nunca mais esqueceu.

De outra vez Mauro deu carona para uma moça de Nova Castilho. Quando alcançaram a rodovia com destino a Araçatuba foram parados numa blitz da polícia rodoviária. Antes que o guarda se aproximasse do veículo ele disse pra moça:

- Xi, esqueci os documentos, vou ter que dar um jeito. Não se assuste não, fique firme aí.

O guarda pediu os documentos e ele disse pra moça:

- Ô mulher, me dê aí os documentos que eu mandei você pegar lá em casa.

A mulher disse que não tinha documentos e ele começou a gritar com ela, muito bravo:

- Mas mulher, eu te disse pra pegar, você não tem jeito mesmo! - e passou a ofender a moça com todos os palavrões possíveis e imagináveis.

O policial, pensando que se tratava da mulher dele e para impedir que o "marido" agredisse a "esposa" resolveu deixar barato:

- Moço, pode ir embora, não fique nervoso com a sua senhora não, isso acontece.

Outra do tempo de criança. A irmã Lucia Elena precisava estudar para uma prova de História e pediu ajuda ao irmão, que prontamente passou a orientar os estudos a irmã. No retorno das aulas a mãe encontrou a filha chorando por que tinha tirado zero:

- Mas como foi isso? O Mauro não te ensinou a matéria? – quis saber a mãe.

- Ensinou tudo errado! Olha só: Pedro Álvares Cabril descobriu o Brasal no dia 22 de abral.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Memória 60 (Bar do Ponto)

Bar do Ponto - salgadenses no Bar do Toninho Mendonça, antigo Bar da Rodoviária. Atrás do balcão estão Joaquim de Freitas (o famoso Joaquim Gordo) e Laudelino Mendonça.
O primeiro à esquerda é Aristides Barbeiro. O último à direita (de paletó e gravata) é Antonio Rodrigues Mendonça.
Colaboraram para a identificação: Miltinho Castilho e Vilmar Prado. Mande um e-mail para identificar os demais retratados. A foto é do início dos anos 1960.
(foto: Jornal A Gazeta da Região)

Quequé

Antonio Luiz Cavenage Filho, salgadense atualmente radicado no Tocantins, é também cria de Nova Castilho, nos conhecemos ainda no Grupo Escolar do vilarejo.

Ao lado de seu irmão Ângelo e dos amigos Zezé Toledo, Ulisses Barbosa, Chiquinho, Maurício Carvalho (este há muitos anos vivendo em Rondônia), vivíamos percorrendo pastarias empunhando estilingues ou então batendo lagoas e açudes atrás de cascudos.

Anos depois, fomos companheiros de bailes e festas na região, puxando na guia de um grupo muito festivo e animado do qual eu, com uns dezesseis, dezessete anos era o mais novo.

Tonho era o maior namorador da paróquia, tanto que foi apelidado pelos amigos de Quequé, nome do protagonista da mini-série global “Rabo-de-Saia” que então fazia sucesso na telinha com o ator Ney Latorraca. O personagem mantinha três mulheres simultaneamente e nosso amigo não ficava atrás, costumava ter meia dúzia de namoradas ao mesmo tempo.

Ficávamos espantados com sua capacidade de administrar tais situações, pois uma namorada não sabia da outra e algumas freqüentavam o mesmo grupo de amigos. Às vezes ele levava duas para algum baile na região e dava um jeito de dividir o tempo entre elas sem que uma estragasse o namoro com a outra.

É lógico que algumas, principalmente quando aceitavam manter o caso sem tanta aparência, sabiam que ele namorava outras, sem se importar com isso. O que nos impressionava era sua capacidade de manter sigilo para as que de nada sabiam.

Sei dizer que o tempo foi passando e o Tonho sempre promovendo aquele grande rodízio de namoradas. Os amigos mais próximos se casaram, tiveram filhos e ele foi ficando para trás. Na família então, acabou ficando como o último dos celibatários. Numa das festas familiares em Neves Paulista, com a reunião daqueles parentes próximos e distantes que há tempo não se viam, as tias mais velhas cercaram-no, preocupadas com seu solteirismo.

- Toninho, porque é que você não se casa?

- Ah! Tia, as moças não dão certo comigo e acabam me fazendo de bobo! – fingiu-se de vítima.

- Mas como é que não dão certo? Você é um menino bonito, está na idade de se casar!

- Pois é tia, idade eu tenho, só não tenho experiência!

As tias quase choraram de pena do malandro pobre coitado.

E o danado seguiu com seu rol de pretendentes até que achou pela frente a Renata, que lhe botou a arreata, armou-se de rebenque, espantou a concorrência e se firmou no lombo do arredio Antonio Luiz. Já passava da hora, disseram os amigos. O casal foi viver em Gurupi, no Tocantins.

Dentre tantas festas e aventuras que vivemos, muitas situações engraçadas aconteceram dignas de registro. Uma delas aconteceu no interior da Igreja Matriz, durante o casamento de um dos nossos amigos.

Depois que cursou o catecismo em Nova Castilho, no início dos anos 70, Antonio Luiz poucas vezes voltou a uma igreja, apesar da insistência de dona Ninfa, sua mãe.

De certa vez eu, ele, Gustão Cervantes e Alcir Marques fomos a Santa Albertina no casamento do amigo Tuim, antigo morador de Nova Castilho. Na esquina da praça da matriz havia um boteco e nem preciso dizer que o Tonho só viu a cor do vestido da noiva na festa, pois durante a cerimônia recusou-se a entrar na igreja, ficou tomando as primeiras do dia no botequim.

Algum tempo depois estamos sentados lado a lado num dos bancos da Igreja salgadense, acompanhando o casamento de um amigo, quando o padre conclamou os presentes a uma oração pela união do casal. Olhei para o lado e avistei o Tonho murmurando a reza. Parecia até que o danado sabia de cor a oração, possivelmente guardada na memória desde as lições de catecismo do Padre Vitorino.

De repente o vigário começou outra oração iniciada com o “Pelo Sinal”. Como todos devem saber, o “Pelo Sinal” deve ser dito acompanhado da formação de cruzes do polegar direito por sobre o rosto. Olhei para o Tonho e ele estava dizendo corretamente a ladainha (“pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus Nosso Senhor, dos nossos inimigos...”) só que mantinha a mão fixa na testa. Quando mostrei inquietação com a cena ele se explicou:

- Falar eu sei! Só não sei esparramar na cara!